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3. Micologia Ambiental e Sáude Pública

3.2. Modos de transmissão dos fungos

A infecção do Homem por fungos pode ser efectuada por várias vias: contaminacão interpessoal ou através de contaminação ambiental. A transmissão de agentes fúngicos pode ser feita através de contacto directo, por ingestão ou por combinação de ambos. Pode ser efectuada através de aerossóis, por contacto directo com o desenvolvimento fúngico ou por combinação de ambos. Salvo raras excepções, estas infecções micóticas do Homem são adquiridas a partir do meio ambiente, uma vez que os esporos fúngicos são comuns e largamente difundidos, quer nas zonas hurbanas quer nas rurais, e os indivíduos podem estar expostos a números elevados destes componentes em vários locais, como no local de trabalho ou em casa.

Tabela I - Espécies fúngicas valorizáveis em produtos biológicos no diagnóstico clínico de micoses (adapatado de Grillot (1996)).

Espécies Produto biológico analisado

Dermatófitos: Epidermophyton spp., Trichopyton spp., Microsporum spp.;

Outros: Chrysoporium querathinophylum, Scytalidium sp., Aspergillus spp.Fusarium spp., Cândida spp., Alternaria spp.; Malassezia furfur.

Pele, unha e cabelo

Fungos patogénicos: Cryptococcus neoformans, Histoplasma spp. Coccidioides spp., Blastomyces dermatitidis, Penicillium marnefeii

Outros: Aspergillus spp., Fusarium spp., Scedosporium

spp., Mucor spp., Rhizopus spp., Absidia spp., Candida spp.

Vias respiratórias

Candida spp. Orgãos genitais

Candida spp. Aspergillus spp., Fusarium spp Fezes

Fungos patogénicos: Cryptococcus neoformans, Histoplasma spp. Coccidioides spp.

Outros: Candida spp. Urina

Fungos patogénicos: Cryptococcus neoformans, Histoplasma spp. Coccidioides spp.

Outros: Aspergillus spp., Fusarium spp., Scedosporium

spp., Mucor spp., Rhizopus spp., Absidia spp., Candida spp., Rhodotorula, spp.

Hemoculturas

Fungos Demaciáceos: Cladophialophora spp., Exophiala

spp., Fonsecae spp., Cladosporium spp.

Fungos patogénicos: Sporotrix spp., Coccidioides spp., Paracoccidioides spp., Blastomyces dermatitidis

Outros: Aspergillus spp., Fusarium spp., Pseudallescheria boydii.

Existem três tipos de patologias humanas associadas aos microrganismos fúngicos ou aos seus produtos metabólicos e são baseados primariamente na capacidade de provocar alergia, toxicidade e patogenicidade. As fronteiras entre estas categorias nem sempre são claras.

Os factores de virulência ainda não foram completamente definidos entre os fungos patogénicos. As diferenças na virulência podem ser demosntradas entre as estirpes individuais dos fungos, mas como uma regra é a susceptibilidade e a reação do hospedeiro, que determina a severidade e o resultado da infecção.

O número de novos e de fungos emergentes patogénicos está constantemente a aumentar, reflectindo não só um maior conhecimento dos fungos patogênicos, mas também um aumento real no número de pacientes infectados.

A susceptibilidade à infecção resulta quando um ou mais dos factores que controlam o estabelecimento de um fungo patogénico é diminuída ou ausente. Cada micose tende a ter o seu próprio padrão de causas predisponente à infecção referindo com exemplos: a idade, o sexo, nutrição deficiente (Kibbler, 1996).

Em algumas circunstâncias a interação do Homem com os fungos é acidental e a doença seguida da exposição aos elementos infecciosos a partir de uma fonte ambiental ou ingestão das toxinas que são produzidas Kibbler, et al., 1996).

Os hospedeiros humanos saudáveis têm um conjunto de mecanismos de defesa que na sua globalidade asseguram a sua integridade metabólica. Os fungos têm, no entanto, uma extraordinária diversidade e versatilidade, sendo surpreendente a forma como eles exploram as deficências de qualquer tipo, nos tegumentos dos hospedeiros ou nos sistemas autoreguladores, pelo que não é surpreendente que uma vez tendo acesso acidentalmente a tecidos vivos, as células fúngicas possam manipular o ambiente a seu favor. O número de causas reconhecidas como predisponentes para fungos patogénicos oportunistas já é grande e continua a aumentar. No futuro, espera-se que as micoses invasivas oportunistas coloquem sérios desafios aos clínicos e uma ameaça sempre presente à vida dos pacientes infectados.

Cada infecção fúngica tende a ter o seu próprio padrão de causas predisponentes à infecção, embora estes factores não estejam ainda definidos para algumas micoses (Mackenzie in Kibbler, 1996)

Os fungos queratinofílicos formam um grupo de fungos que coloniza vários substratos de queratina e degrada-os em componentes de baixo peso molecular (Gugnani, 2000). Muitos fungos queratinofílicos frequentemente parasitam tecidos com queratina, pele, unhas e cabelo, no Homem e animais. Alguns deles partilham características morfológicas, constituindo um grupo especial chamado dermatófitos (Gugnani, 2000). As dermatomicoses são infecções que devem ser consideradas bastante importantes ao nível da saúde pública pelos prejuízos que acarretam e pelo impacto sócio-económico que provocam (Araújo et al., 2003). Em determinadas profissões a infecção fúngica a nível cutâneo pode ser extremamente dolorosa e causar um desconforto tal que impeça o trabalho. Outro facto que fomenta as dermatofitias é o aumento da sua frequência em espaços para a prática de exercício e a maior participação urbana em actividades desportivas comunitárias (Rosado e Teles, 1989).

Para que uma doença possa completar todas as fases do seu ciclo e causar epidemias, é necessário que existam três elementos para formar o triângulo das doenças: hospedeiro, inóculo de patógeno virulento e ambiente. O Hospedeiro neste caso será o Homem; o Inoculo será o agente patogénico ou esporos fúngicos causadores de patologias. O ambiente é constituído por todas as condições ambientais favoráveis à interacção do agente causador da doença com o hospedeiro.

Na Figura 2 está representado um modelo conceptual que simboliza as interações entre Hospedeiro, Agente Patogénico e Ambiente, no desenvolvimento de uma patologia

Figura 2 - Representação esquemática das interações entre Hospedeiro, Agente Patogénico e Ambiente, no aparecimento da doença ttp://www.geocites.com)

Existem algumas profissões consideradas de risco para o desenvolvimento fúngico no Homem, como agricultores; jardineiros; construção civil; metalúrgicos; pessoas que trabalham em bares ou restaurantes e que estão constantemente sujeitos a microtraumas, prestação em cuidados de saúde, veterinários, empregados de limpeza, que possuem as mãos expostas à água por longos períodos de tempo, causando maceração da pele e das unhas que pode ser agravada pelo uso de detergentes. Os pescadores ou mineiros, pelo uso de sapatos com sola de borracha que provoca abrasão e/ou oclusão do pé.

Para além destes existem os profissionais de piscinas que estão expostos a quantidades de inóculo. A partilha de roupas e toalhas, quer directamente ou por contaminação por lavagem em comum e o extremo cuidado com as unhas é também prejudicial, já que o corte das cutículas as torna vulneráveis (Torres-Rodríguez e López-Jodra, 2002).

Factores predisponentes de dermatomicoses

A integridade da camada córnea da pele e das unhas é fundamental na prevenção da infecção fúngica. Qualquer processo que leve à quebra desta barreira facilita a penetração da mesma por diferentes espécies fúngicas. Estes factores tanto podem incluir agressões físicas como químicas. Em muitos dos casos, a exposição ao microrganismo é também condicionada pela profissão e hábitos do indivíduo. A propagação da infecção pode ocorrer devido à existência de macroconídios, microconídios, artrósporos, escamas de pele ou cabelos infectados que são disseminados para outros locais ou retidos em objectos partilhados por diferentes pessoas, conduzindo à infecção (Torres-Rodríguez e López-Jodra, 2002).

Descrevem-se, também, determinados factores intrínsecos de grande importância ao considerar o nível de resistência que o indivíduo possui em relação a determinada infecção fúngica superficial, factores genéticos; idade; sexo; estado endócrino (ex. Diabetes Mellitus) e nutricional do indivíduo; terapias com corticosteróides, antibióticos e imunossupressores e ocorrência de outras doenças (como a expansão do vírus da SIDA, por exemplo) (Araújo et al., 2003; Torres-Rodríguez e López-Jodra, 2002).

Segundo Sousa et al. (2001) a transmissão de infecções fúngicas pode ser feita através das superfícies de balneários; de piscinas, na areia das praias, nas superfícies de estabelecimentos de ensino e de estabelecimentos hospitalares.

A área de estudo em Saúde Pública engloba os efeitos resultantes da acção que o ambiente exerce sobre o bem-estar físico e bem-estar mental do Homem, como parte integrante de uma comunidade. Actua no controlo sanitário do ambiente, para detectar, identificar, analisar, prevenir e corrigir riscos ambientais actuais ou potenciais, para a saúde, que possam ser originados por fenómenos naturais ou por actividades humanas (Beaglehole et al., 1993). O efeito de um factor ambiental num indivíduo é também muito dependente das características desse indivíduo, tais como, idade, sexo e condição física, factores genéticos, nutrição e patologias (Beaglehole et al., 1993).

Os fungos queratinofílicos encontram-se no ambiente com um padrão de distribuição variável que depende de vários factores, como a presença do Homem ou animais, que são de importância fundamental (Freitas, 2000).

Actualmente verifica-se a ocorrência de lesões superficiais provocadas não só por dermatófitos mas sim por outros fungos considerados até há pouco tempo apenas como ambientais/contaminantes. Pensa-se, assim, que estes fungos possam exercer alguma actividade sobre a queratina, pelo que estes fungos constituim uma preocupação em micologia clínica.