• Nenhum resultado encontrado

O futebol profissional como instituição

5. REFLEXÕS SOBRE A CONSTITUIÇÃO DE GRUPOS NO FUTEBOL

5.1 O futebol profissional como instituição

Conforme já destacamos, Bleger (1980) entende a instituição como conjunto de valores e como organização, ainda que ambos entendimentos também não possam ser abordados de forma rigidamente separada. Ainda assim, algumas características que tem ressonância no processo de formação desses grupos merecem ser apresentadas, pois além de subsidiarem o esclarecimento sobre tal processo, algumas delas tem sido, inclusive, objetos de outros estudos e/ou de preocupação para quem se preocupa com as questões do futebol no Brasil e no mundo.

Tal como apontado por Rubio (1998, p.85), nenhuma equipe do futebol profissional está imune às questões institucionais, pois estas estão pautadas na busca incessante pelo rendimento, pelas conquistas e pela competitividade, motivos pelos quais os clubes oferecem todo o suporte

possível para que se associem à “atletas com bom desempenho e que transfiram para seus produtos essa imagem vitoriosa”. Acrescentaríamos ainda que o objetivo de busca da configuração desta imagem está diretamente relacionado aos ganhos financeiros que pode favorecer/render, já que a compreensão do futebol como uma instituição alicerçada no mercado, comércio, no ganho do capital, tal como já discutido no nosso primeiro capítulo, se faz cada vez mais presente.

Uma destas preocupações neste sentido passa, necessariamente, pelo conhecimento e análise de todo o contexto que envolve a compra/contratação, venda e dispensa/demissão de jogadores do futebol profissional, tarefa à qual nos deteremos nesse momento. Nesse caso, vale retomarmos a discussão já iniciada em nossa introdução acerca do processo de mercadorização e reificação de atletas.

Para nos aprofundarmos em tal empreitada nos valemos, inicialmente, do conceito de “comodificação” trazido por Walsh e Giullianoti (2007, p.12). De acordo com tais autores, o processo de comodificação refere-se à “transformação de um bem ou serviço [neste caso o jogador de futebol profissional] em mercadoria”94, ou seja, em algo passível de ser comercializado. Em outras palavras, trata-se da “transformação de uma coisa que possui somente valor de uso para um bem que possua valor de uso e valor de troca”95 (WALSH & GIULLIANOTI, 2007, p.13).

Segundo Marx (2013), enquanto o valor de uso pode ser determinado pela sua utilidade ou devido sua “determinidade quantitativa”, o valor de troca se refere à relação quantitativa, quando o valor de uso de uma mercadoria é substituído pelo valor de uso de outra mercadoria (de outra espécie). Analogicamente, o valor de uso de um jogador de futebol profissional será determinado pelo seu uso do corpo - e porque não do seu “capital futebolístico”? -, ao passo que seu valor de troca, o preço para adquirir seus direitos federativos, será estabelecido pelas técnicas corporais empregadas em sua prática profissional (GIGLIO & RUBIO, 2013), pela possibilidade de exploração da sua imagem em propagandas, vendas de material esportivo e outras estratégias de marketing, e pela identificação que possui com o clube e torcida. Portanto, se um objeto ou uma pessoa reificada, tal qual o jogador profissional de futebol, pode ser comercializado, é possível afirmarmos, segundo Walsh e Giullianoti (2007), que ele possui um valor de uso e um valor de troca. Portanto,

Devido as rotinas de treinamento, os atletas literalmente trazem incorporado o seu valor de uso e, dessa forma, o valor de troca, que converte o objeto em mercadoria, é

94 Tradução realizada do original em linga inglesa “[...] transformation of a good or service into a commodity”.

95 Tradução realizada do original em linga inglesa “[...] transformation of a thing with only use-value to a good with

traduzido por meio do uso de seu corpo e do que é capaz de produzir enquanto força de trabalho (GIGLIO & RUBIO, 2013, p.389).

Giglio e Rubio (2013, p.389) acrescentam ainda que “o jogador que tiver a sua força de trabalho corporal reconhecida no meio futebolístico aumenta as chances de transformar seu saber corporal em maior rendimento financeiro”.

Com as mudanças pelas quais o futebol passou nas últimas décadas, sobretudo em relação ao modelo de organização e gestão ocorridas em função da economia política e do mercado, instaurou- se uma nova configuração na qual se destaca a comercialização de jogadores, os transformando em produtos e commodities (ANGELO, 2014). Esta nova configuração, que passa por uma transformação cultural,

[...] afeta valores e atitudes, crenças e percepções, normas e regras, compromissos e comportamentos sociais e laborais, identidades e identificações organizacionais e a ética profissional; bem como a responsabilidade social corporativa e as instituições envolvidas no sistema (ANGELO, 2014, p.50).

Mundialmente reconhecido por possuir um alto valor de uso e baixo valor de troca (sobretudo em relação aos atletas que atuam nos grandes centros do futebol europeu), o atleta brasileiro constantemente está envolvido em transações de uma equipe para outra, principalmente de um clube brasileiro para outro estrangeiro. Desde a implementação do novo e padronizado sistema de transferências da FIFA, o Brasil é o país que possui mais registros em movimentação de atletas em todo o mundo, sendo responsável por 13% de todas as transferências registradas. Para que tenhamos maior entendimento sobre o que representa tal porcentagem, o segundo país que mais movimenta atletas no mundo é a Argentina, com 6% das negociações. Ainda segundo informações da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Portugal é o país que mais envia atletas para o mercado futebolístico brasileiro, ressaltando que 98% dos atletas que saem de Portugal para jogar em equipes brasileiras são nascidos em solo brasileiro.96

Em relação ao processo de compra e venda de atletas, Melani e Negrão (1995, p.69) salientam que, a partir do momento em que o jogador passa a não responder pela venda da sua própria força de trabalho, se traveste em objeto se reificando, quase sempre, nas mãos de clubes e,

96 Fonte: site CBF - <http://www.cbf.com.br/noticias/a-cbf/nova-ordem-do-futebol-reduz-numero-de-jogadores-vindos-

cada vez mais, dos agentes, já que “uma parcela muito expressiva dos passes dos principais jogadores está nas mãos dos empresários”. A partir de então, “o jogador assimila sua existência como parte de uma engrenagem subjugada por outros interesses que não os seus” (MELANI & NEGRÃO, 1995, p.67). Cabe ressaltar que esse processo se inicia ainda no momento em que o atleta assina seu primeiro contrato profissional e passa a fazer parte de um contexto que lhe retira a propriedade da força de trabalho, e no qual se estabelece que a relação “mercadoria-jogador é a coisificação do ser humano-atleta” (MELANI & NEGRÃO, 1995, p.67).

Diferentemente de outras pessoas, os jogadores de futebol vendem não apenas sua força de trabalho, senão que eles próprios são comprados e vendidos como coisas. Eles podem ser mercadorias muito apreciáveis, sendo que o preço varia, nestes casos, não apenas pela relação entre oferta e a demanda convencionais, mas por uma lógica especulativa, como no mercado de ações futuras (DAMO, 2007, p.58).

De acordo com Damo (2007, p.58), todos os jogadores profissionais de futebol estão sujeitos a serem convertidos em coisas, pois há um mercado de compra e venda de atletas que se apresenta de modo bastante estruturado, com fluxos preferenciais, tal como acontece com os melhores atletas brasileiros que se dirigem aos grandes centros europeus e os de menor prestígio para outras partes do mundo. Vale destacar, que a atribuição de um valor para a transação se dá segundo diversos atributos dos jogadores, assim como a idade, país de origem, comportamento extracampo, o clube que detém o “passe”, agente/empresário que o negocia entre outros, mas sempre associados à expectativa que se tem em torno da sua possível performance atlética, e mais recentemente, aos retornos decorrentes da exploração da sua imagem em propagandas e campanhas de marketing criadas pelos clubes, patrocinadores e marcas de material esportivo97, sobretudo pelo forte apelo midiático que possuem.

Por sua vez, vale ressaltarmos que atualmente o clube detém, na maioria dos casos, somente uma parte dos direitos federativos, o empresário outra, o atleta outra, sendo que o sócio majoritário tem mais poder na definição da transação comercial. No entanto, sem acordo entre todas as partes, o negócio não se realiza.

97 Em reportagem publicada pelo site especializado Marketing Deportivo <http://www.marketingdeportivomd.com/>,

acessado em 31/05/2016, os três jogadores de futebol mais midiáticos do mundo têm seu valor avaliado em 220, 133 e 99 milhões de euros.

De acordo com Florenzano (1998, p. 152), o futebol moderno está impregnado pelo discurso que associa o jogador a uma máquina, como uma peça de engrenagem e que pode ser tranquilamente reposta/substituída quando vendida ou inutilizada. Dessa forma,

Quando um clube vender o passe de alguns jogadores, tratar-se-á da reposição de peças para a equipe; quando o futebol apresentado por uma equipe estiver aquém das expectativas, tratar-se-á de fazer com que as peças se encaixem; quando a equipe deixar de vencer uma partida, será porque as peças não funcionaram como deveriam (FLORENZANO, 1998, p.152)

Alguns discursos enunciados neste estudo, tanto de dirigentes e comissão técnica, quanto dos próprios atletas, corroboram as considerações de Florenzano (1998), sobretudo quando se refere aos jogadores como peças, que podem ser trocadas/substituídas, repostas e encaixadas para dar “liga na engrenagem”, ou seja, para fazer o grupo de atletas funcionar como uma equipe coesa.

[...] você tem muitos jogos ao longo da temporada e caso você não tenha uma

reposição das peças que venham a sair por alguma razão, seja ela por uma lesão, por uma suspensão ou por até mesmo uma negociação que acontece durante a temporada, você corre o risco de perder rendimento. Então, geralmente você tem aí um, no futebol geralmente a gente trabalha com um grupo que gira em torno de trinta, trinta e cinco... [assim], você tem peças que possam entrar durante a temporada e tentar manter o rendimento da equipe (D1).

Se você pegar no aspecto cultural, até de formação como ser humano, no futebol europeu eles já estão acostumados com as mudanças, com a rotatividade, a troca de peças, né (CT8).

Outras equipes que permaneceram com os treinadores num longo prazo fizeram bons trabalhos, porque eles conhecem o perfil da diretoria, os jogadores que ele precisa e ele consegue perder uma peça ou outra e recompor (J2).

Eu acho que eu tenho essa responsabilidade de ser uma peça importante nesse grupo (J6).

[O time encaixar é ele] dar liga. O time entender o que o treinador quer e as peças se desenvolverem a fazer (J5).

Como possível de ser notado nos parágrafos anteriores, por diversas vezes a expressão “venda do passe” foi apropriada para designar o momento em que um jogador sai de um clube e se transfere para outro. Ainda que em nossa introdução já tenhamos elencado alguns pontos importantes referentes à Lei nº. 9.615, de 24 de março de 1998, mais conhecida como Lei Pelé, vale ressaltar nesse momento que, à época de sua implementação, quando foi criada para substituir a Lei nº. 8.672/93 (Lei Zico), pretendia-se com a extinção do “passe” acabar com o sentimento de

aprisionamento dos atletas em relação aos clubes, já que, até então, mesmo findado o contrato do jogador com o clube, este era impedido de se transferir para outro até que não fosse pago a ele o valor que a lei determinava como devida. Dessa forma, apoiados na legislação, os clubes faziam do passe, ou seja, da compra e venda de atletas, sua principal fonte de renda (GUERRA, 2003) e com o seu fim, os clubes se viram sem a posse daquele que era seu principal patrimônio/mercadoria: o atleta.

Nesse ponto, um profissional da comissão técnica de um dos clubes investigados emitiu opinião que corrobora as afirmações de Guerra (2003), pois para ele, quando tratávamos da finalidade das categorias de base, sendo a principal delas o lucro obtido com a venda do jogador após ele profissionalizar-se e destacar-se, o clube

Funcionava muito bem até ter a mudança da lei, onde o clube era proprietário do jogador. Então o clube conseguia... sabia que ia gastar dinheiro, mas o jogador era propriedade do clube. Então, ele podia colocar no profissional e vendia se quisesse. O jogador era preso no clube, hoje com essa mudança, de direitos federativos do atleta, ele tem procurador e o empresário dele tira ele daqui, põe outro no lugar e vai trocando de clube e fazendo somente o interesse do empresário e do jogador (CT11).

Segundo o artigo 28 da Lei Pelé, em nova redação dada pela Lei 12.395 de 2011,

[...] a atividade do atleta profissional é caracterizada por remuneração pactuada em contrato especial de trabalho desportivo, firmado com entidade de prática desportiva, no qual deverá constar, obrigatoriamente cláusula indenizatória desportiva, devida exclusivamente à entidade de prática desportiva à qual está vinculado o atleta [no caso de] transferência do atleta para outra entidade, nacional ou estrangeira, durante a vigência do contrato especial de trabalho desportivo (BRASIL, 2011).

Embora a Lei Pelé tenha sido elaborada e implementada possuindo como uma de suas prerrogativas proteger e favorecer o atleta - possuidor e detentor da sua força de trabalho - na relação de trabalho com o clube, ao venderem sua força de trabalho (direitos federativos) para os clubes, os jogadores acabam se tornando “reféns” destes ao longo de quase toda sua carreira, pois somente poderão reaver sua liberdade contratual e laboral, e se transferir para outras instituições, mediante o pagamento de valor estabelecido pela cláusula indenizatória desportiva, constituída em grande parte, por valores elevados e desproporcionais (sobretudo se considerado o valor da cláusula compensatória desportiva ) ou quando findado o prazo de vigência do contrato. Isso significa, de acordo com Reis,

Lopes e Martins (2014, p.121), “que essa cláusula ainda atribui ao atleta um valor de troca no mercado de pés-de-obra”.

No entanto, são raros os casos em que o clube cumpre este prazo e dá ao atleta novamente a posse dos seus direitos federativos, pois antes que o prazo para expirar o contrato se aproxime, os clubes se mobilizam para “vender o jogador” e lucrar com a cessão dos direitos trabalhistas a outro clube. De fato, são poucos os atletas que possuem contratos mais duradouros98, aqueles dos grandes clubes, renomados ou “promessas” (jogadores recentemente revelados nas equipes profissionais nos quais se atribuem grandes expectativas de sucesso), mas o tempo maior de contrato se justifica, pois “caso outro clube tenha interesse nele, não será possível esperar que seu contrato chegue ao fim para sair sem pagar uma multa [maior pelo período mais longo de contrato] ao clube ao qual o jogador estaria vinculado” (MARTINS, 2016, p.102).

Estabelecido então o primeiro contrato trabalhista, ou a primeira venda, as transferências se dão, quase sempre, tendo como referência o valor de compra e o valor estipulado pela cláusula compensatória. Ainda que com a implementação da Lei Pelé o atleta tenha ganho, teoricamente, mais voz e poder decisório no momento de transferência entre clubes, assim como destacado acima pelo “CT11”, de fato, esta prática permanece estabelecida, salvo exceções, como um mercado de compra e venda no qual o atleta continua a ser tratado como uma mercadoria/objeto, a partir de uma relação empregatícia na qual o clube é sempre o elo mais forte visto que, dentre outros motivos, “o valor a ser indenizado ao clube é muito superior ao valor indenizado ao atleta no caso de rescisão” (CANI & GODOY JUNIOR, p.1163, 2013).

Importa ressaltar, em contrapartida, que alguns atletas têm se negado a ir para clubes que não sejam de seu desejo - sobretudo quando se tratam daqueles localizados fora dos grandes centros do futebol nacional e/ou mundial ou que não ofereçam boas condições de trabalho-, bem como solicitado aos clubes que o liberem para outro clube, via empréstimo, indenização pela quebra de contrato ou sem compensação financeira, quando estão insatisfeitos no clube atual ou passando por problemas pessoais/familiares.

Tais situações foram observadas no decorrer de nossa investigação. Em um dos clubes analisados nos deparamos com dois casos em que os contratos de jogadores foram rompidos a pedido

98 Segundo Martins (2016), considerada a segunda divisão do Campeonato Paulista de 2013, somente 10,95% dos atletas

dos atletas, visto que não estavam satisfeitos com a posição/papel que vinham ocupando na equipe, ou seja, não vinham sendo escalados e utilizados pelo treinador nas partidas. Estes, a partir da quebra de contrato, em comum acordo conforme um dos dirigentes, ou seja, sem a necessidade de pagamento do valor estipulado pela cláusula indenizatória de seus respectivos contratos, ficaram “livres” para assinar um contrato com outras equipes.

Houve ainda dois casos em outro clube em que a “liberação”, como costumeiramente escutamos dos dirigentes, ou em outras palavras, a quebra de contrato por parte do atleta sem que o clube seja indenizado por isso, aconteceu pelo descontentamento de dois atletas com as condições de trabalho oferecidas, principalmente pela forma como se deu a troca da comissão técnica e devido os seguidos atrasos no pagamento de salários e direitos de imagem. Da mesma forma, em uma transação de troca, via empréstimo, entre dois clubes na qual um jogador viria emprestado para uma das equipes investigadas por nós em troca de outros dois jogadores, também por empréstimo, um dos atletas pretendidos se negou a ser envolvido na negociação, pois não queria sair de um time que estava disputando a série A do Campeonato Brasileiro para outro da série C.

Se tomarmos como referência a crítica ao conceito de coisificação realizada por Chalhoub (1990)99, estas situações que pudemos presenciar, também veiculadas pela mídia esportiva em outros clubes, nos indicam que o jogador de futebol, ao menos em sua totalidade, não é destituído de sua agência, de seu poder contestatório e incapaz de realizar ações autônomas, negando dessa forma a própria associação, ainda que metaforicamente, do atleta como coisa. Entretanto, todos esses processos, ainda que busquem devolver ao atleta o poder decisório e a posse de sua força de trabalho, acabam perpetuando, na prática, a relação desigual de compra e venda de uma mercadoria/objeto.

Nos últimos anos, em decorrência também das alterações na legislação que regulamenta a profissão do jogador de futebol, se por um lado o atleta ganha mais direitos e proteção na relação contratual com o clube, por outro se vê muitas vezes “preso” a outro profissional que, em tese, deve zelar e administrar a carreira do jogador: o empresário. Assim, a relação que era estabelecida entre

99 É preciso ressaltarmos que Sidney Chalhoub, na condição de historiador, se referia em sua crítica à coisificação do

escravo em âmbito jurídico e social, tal como defendido, dentre outros, por Fernando Henrique Cardoso (FHC) em “Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional: O Negro na Sociedade Escravocrata do Rio Grande do Sul”, publicado em 1962, no qual afirmava que os escravos eram destituídos da capacidade de realizar ações autônomas e faziam uma representação de si mesmos como “não-homem”. A defesa de FHC partia do conceito de coisificação trazido um século antes por Perdigão Malheiro, ao entender o escravo como sujeito ao domínio/posse de outro, desprovido de direitos e representação, se reduzindo da condição de humano para a de coisa. Por sua vez, Chalhoub fundamenta sua crítica à Fernando Henrique Cardoso no modo como autor se apropriou das fontes historiográficas e no consequente equívoco conceitual, pois procura provar em sua obra que os escravos eram possuidores de consciência e certa autonomia e agiam com lógicas ou racionalidades próprias, interferindo, por exemplo, nas situações em que eram comprados e/ou vendidos.

jogador e clube, atualmente se estabelece, na maioria dos casos, entre jogador, clube e empresário. Este último, detentor de capital, além de se responsabilizar por gerenciar a carreira do jogador, defender seus direitos e intermediar as negociações com as entidades esportivas, sendo “peça chave fundamental nas transferências de atletas” (MARTINS, 2016, p.101), por vezes adquire do jogador, em contrapartida, parte dos seus direitos federativos recebendo determinada porcentagem nas transações financeiras que o atleta realiza com o clube e/ou vendendo sua parte adquirida aos clubes.

Como característica do futebol modernizado, passou-se a enfatizar uma preocupação, até então pouco evidenciada, e mais presente em clubes de maior expressão e mais estruturados, de contratar um jogador de modo que a ordem/ambiente no grupo de jogadores não fosse abalada. Nesta perspectiva, além do aspecto técnico, fazia-se um “levantamento de sua vida particular, de suas

Documentos relacionados