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Fux quer indexar salário de ministros do STF ao PIB e à inlação

No documento O Supremo em 2015 (páginas 154-166)

Felipe Recondo

U

ma emenda proposta pelo ministro do Supremo Tribunal Fe- deral (STF) Luiz Fux ao novo estatuto da magistratura tira do Legislativo o poder de votar o reajuste salarial dos integrantes do STF. A alteração sugerida pelo ministro ainda vincularia a “atuali- zação monetária”, como deine, ao crescimento da economia, às per- das inlacionárias e às projeções de inlação, somada “à necessidade e de valorização institucional da magistratura”.

A emenda Fux propõe que o valor do subsídio mensal do ministro seja atualizado por “ato” do Supremo até o inal de novembro de cada ano para que entre em vigor no início do ano seguinte. Seria aplicar para o maior funcionalismo público os mesmos parâmetros aplicados para o reajuste do salário mínimo.

“O subsídio mensal dos magistrados, observadas as disposições constitucionais sobre o teto remuneratório, constitui-se de parcela úni- ca, ressalvadas as parcelas previstas nesta lei, reconhecidas pelo CNJ, estabelecidas nas leis orgânicas do Ministério Público e as de caráter indenizatório asseguradas aos agentes públicos.”

A Constituição estabelece que cabe ao Congresso Nacional apro- var os subsídios dos ministros do Supremo. O presidente do STF en- caminha projeto de lei ao Legislativo, propondo o reajuste salarial e especiicando o impacto iscal do aumento. O Congresso pode aprovar ou rejeitar o projeto.

Da forma como está a emenda de autoria do ministro Luiz Fux à proposta de lei complementar, o reajuste não passaria mais pelo Congresso. Alteração semelhante foi tentada em 2010, durante a pre-

sidência do ministro Cezar Peluso. O projeto de lei 7.749/2010 dava competência ao STF para “publicar o valor nominal do subsídio”. “Tal mecanismo terá lugar a partir de janeiro de 2012 e dispensará a neces- sidade de remessa anual de projetos de lei ao Congresso Nacional, o que tomará o processo legislativo mais célere”, dizia a justiicativa do projeto. A tentativa provocou reação do Congresso e não foi adiante.

A emenda Fux ressuscita a iniciativa. O ofício com a proposta foi encaminhada no dia 26 de março ao presidente do Supremo, ministro Ricardo Lewandowski. No inal do ano passado, a minuta que altera o estatuto da magistratura foi distribuída a todos os ministros.

Lewandowski airmou então que convocaria para o início deste ano nova sessão administrativa para discutir o assunto. Até o momen- to, não houve sessão administrativa e, de acordo com o tribunal, não há previsão de convocação.

Cabe ao presidente do Supremo enviar ao Congresso o projeto de lei complementar que substituiria a Lei Orgânica da Magistratura, de 1979. O ministro Lewandowski airmou que pretende remeter o tema para análise do Legislativo ainda neste ano.

Diego Werneck Arguelhes Thomaz Pereira

O

julgamento no Supremo não terminou, mas se depender do juiz federal Marcelo Rebello Pinheiro (16ª Vara Federal do DF), a questão da criminalização da maconha já tem uma resposta: seu uso medicinal está liberado para qualquer um que dis- ponha de atestado médico.

A regulação das drogas no Brasil depende da interação entre Le- gislativo, Executivo e Judiciário. Na prática, o legislador delega à An- visa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) o poder de determinar quais substâncias são proibidas, cabendo ao judiciário aplicar a norma e, se for o caso, controlar sua constitucionalidade — como está fazen- do o Supremo ao discutir se o uso de drogas pode ser criminalizado

(RE 635.659).

Provocado pelo Ministério Público Federal, sem esperar uma de- cisão do Supremo, sem esperar pelos técnicos da Anvisa, e sem esperar pelo seu próprio julgamento deinitivo, o juiz concedeu liminar deter- minando que a Anvisa exclua o CBD (Canabidiol) e o THC (Tetrai- drocanabinol) — princípio ativo da maconha — da lista de substâncias psicotrópicas de uso proscrito no Brasil, passando a permitir sua im- portação para ins medicinais e a prescrição médica de produtos que os contenham.

O Juiz baseia sua decisão “em razão da omissão dos outros pode- res”. Mas que omissão é essa?

A atual lei do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas é de 2006. Respondendo à ampla mobilização da sociedade civil, há

alguns meses a Anvisa tomou o passo importante de autorizar a venda de medicamentos com canabidiol. Por sua vez, o Supremo já começou a julgar a constitucionalidade da proibição do uso de drogas, interrom- pido por pedido de vista. Já há inclusive votos proferidos no sentido da descriminalização, que vêm sendo discutidosna imprensa, nas redes sociais, na sociedade em geral.

Ou seja, não há inércia. Legislativo, Anvisa e Supremo Tribunal estão andando. Para o juiz de Brasília, porém, não importa o caminhar, mas o destino inal: a legalização completa para ins medicinais de to- dos os produtos que contenham o princípio ativo da maconha.

Essa decisão é um sintoma de um problema estrutural em nos- so sistema de controle de constitucionalidade: cada juiz pode chamar para si a responsabilidade de promover qualquer tipo de mudança so- cial e constitucional, inclusive em nível nacional, independentemente da participação do Supremo.

É verdade que temos no Brasil um sistema de controle difuso, em que qualquer órgão jurisdicional pode decidir que uma lei é incompa- tível com a Constituição. Formalmente, foi só isso que o juiz do caso fez. Mas assim como nem tudo que é legal é moralmente correto, nem tudo que o sistema de controle difuso permite é proissionalmente ade- quado como conduta judicial. Não se trata aqui de discutir jurisdição ou competência, mas sim do uso responsável do poder individual de cada juiz. O controle difuso cumpre um importante papel de lançar as sementes da transformação do direito nacional. No caso, porém, a liminar pretende já ser a transformação completa.

Na linha da típica retórica judicial do Brasil contemporâneo, o juiz pavimenta a liminar em “omissões” dos outros poderes e termos vagos, como “dignidade humana” e “direito à saúde”. Aqui talvez haja um alerta para os ministros do próprio Supremo: é deles que vem o exem- plo constante de justiicar a atuação judicial a partir do fato de que os outros poderes estão “inertes” na proteção a conceitos constitucionais abertos. Mas e quando o próprio Supremo “se omite” — i.e., não deu (ou ainda não deu) a resposta que os juízes querem?

No caso, desconsiderando o Supremo, o juiz chama para si o poder de determinar o que é constitucional. Desconsiderando a Anvisa, cha-

ma para si o direito de determinar o que é medicinal. Desconsiderando o Legislativo, chama para si o direito de decidir que “proibicionismos” são ou não justiicados.

Independentemente de nossa posição favorável à liberalização do uso da maconha, esse não é tema para um juiz decidir sozinho em uma liminar com alcance nacional.

O remédio pode ser eiciente, mas tem contraindicações e efeitos colaterais.

Felipe Recondo

A

proposta do Supremo Tribunal Federal para uma nova lei para a magistratura, cuja minuta foi encaminhada aos inte- grantes da Corte no im do ano do Judiciário (19/12) contém adicionais e benefícios inanceiros que ultrapassam os pedidos por um aumento salarial.

Os ministros do tribunal têm o maior contracheque do funciona- lismo público nacional e uma elevação de seus salários traz a reboque, automaticamente, impacto nas contas públicas de Estados e da União. Em vez de aumento de salário, a nova lei amplia os chamados pendu- ricalhos.

Uma soma simples mostra que os benefícios e auxílios previstos no novo Estatuto da Magistratura podem triplicar os rendimentos dos juízes, levando os valores para o patamar de R$ 90 mil. O valor é alcançado quando calculados todos os benefícios, auxílios e verbas es- tipulados na minuta.

Enxugando esses números e criando alguns cenários absolutamen- te factíveis chega-se ao seguinte exemplo:

Um juiz de primeira instância receberá: • R$ 31.542,16 de salário a partir de 2015;

• Mais R$ 1.577,10 a cada cinco anos de magistratura;

• Mais R$ 1.577,10 de auxílio-transporte, pois não conta com car- ro oicial;

• Mais R$ 1.577,10 de auxílio-alimentação; • Mais R$ 6.308,43 de auxílio moradia; • Mais R$ 3.154,21 de auxílio-plano de saúde.

No total, neste cenário simplório, o juiz receberá ao inal do mês R$ 45.734,05.

Esse valor aumenta com o enquadramento do magistrado em ou- tras situações previstas na legislação.

Se o magistrado tiver um ilho, receberá mais R$ 1.577,10 de au- xílio-creche e outros R$ 1.577,10 como auxílio-plano de saúde para o dependente. Os rendimentos sobem para R$ 48.888,25.

Se ele tiver um segundo ilho, um pouco mais velho e que estude em escola privada, receberá mais R$ 1.577,10 de auxílio-educação. E mais R$ 1.577,10 de auxílio-plano de saúde para este segundo depen- dente. Sobem os rendimentos para R$ 52.042,45.

Caso o juiz tenha em seu currículo um curso de pós-graduação, receberá ao im do mês R$ 53.619,55. Se ele tiver o título de mestre, vamos a R$ 56.773,76. Na hipótese de ter seguido uma extensa car- reira acadêmica e, além de pós-graduação, tiver título de doutor, seus rendimentos irão a R$ 61.505,08.

Na hipótese de acumular alguma função administrativa no foro, o contracheque subirá a R$ 72.019,13. Se este juiz julgar mais processos do que recebe no ano, ele receberá dois salários adicionais por ano. Di- vidindo esse valor por 12 para facilitar nossa conta, os rendimentos do magistrado subiriam mensalmente ao valor médio de R$ 77.276,15.

Participando de mutirões de conciliação ou de outras atividades especiais, o juiz receberá a mais, por dia, R$ 1.051,40.

No caso de um juiz mais antigo, que já tenha chegado ao topo da carreira e que tenha alcançado o tempo necessário para se aposentar, ele receberá mais R$ 1.577,10 por ano se decidir continuar trabalhando.

Além desses valores, há outros benefícios na lista, como ajuda de custo para capacitação (de R$ 3.154,21 a R$ 6.308,43), auxílio para o caso de ser designado para localidade de difícil acesso (R$ 10.514,05), auxílio-mudança (de até R$ 94.626,48 em parcela única).

Nessa contas todas é possível ainda incluir a venda de metade dos 60 dias de férias a que os juízes têm direito. Apesar de o Supremo ainda estar julgando se o juiz deve ser indenizado por não usufruir dos 60 dias de férias, a proposta de novo estatuto já estabelece essa possibilidade.

O texto do novo estatuto, com novos benefícios e prerrogativas, foi entregue aos demais integrantes da Corte pelo presidente do Supre- mo, ministro Ricardo Lewandowski. O ministro avisou que convocará sessões administrativas assim que o tribunal voltar do recesso para discutir a proposta. Aprovado o texto pelos demais ministros, ele será encaminhado a votação no Congresso Nacional.

No documento O Supremo em 2015 (páginas 154-166)