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CAPÍTULO 4. REVISÃO DE LITERATURA PERSPECTIVA HISTÓRICA E DESENVOLVIMENTOS

4.2. Génese Anos 60-80 40

Parece ser um facto o estudo das reminiscências desde a sua génese até à década de 80, apresentou resultados contraditórios, muitas vezes dissociados das metodologias adoptadas e interpretados de uma forma lata. De qualquer forma, é indiscutível que estes estudos vieram a influenciar decisivamente as preocupações evidenciadas nas décadas seguintes,

nomeadamente a procura de uma clarificação de conceitos face à multidisciplinaridade do fenómeno das reminiscências e sobretudo a criação de uma tipologia de reminiscências que assumisse cada tipo como possuindo uma função e características diferenciadas, necessitando portanto de abordagens direccionadas.

Convém realçar que na década de 60, as reminiscências eram muitas vezes conotadas com sinais de senilidade ou mesmo como origem de demência, fruto da compreensão rudimentar deste processo (Coleman, 2005a). De facto, a promoção de reminiscências era frequentemente desencorajada pelos técnicos de saúde, situação essa que apenas se veio a alterar com o trabalho de Butler e posteriores avanços na investigação nesta área.

De acordo com a revisão de literatura de Haight (1995), na década de 60 foram efectuados cerca de quarenta estudos de investigação sobre as reminiscências. Destes estudos, vinte e um abordavam as reminiscências em grupos, enquanto vinte outros analisavam reminiscências no indivíduo. Até à década de 60 contabilizavam-se seis estudos com indivíduos (estudos de casos específicos) dos quais apenas quatro apresentavam resultados positivos.

Deste período, pode-se realçar o estudo de MacMahon e Rudhick (1964, citado por Haight, 1995), ao analisar as características adaptativas da reminiscência nos mais velhos. Verificou que os indivíduos não deprimidos reminisciam mais que os deprimidos como também apresentavam uma maior auto-estima. Liton & Olstern e Hellebrandt (1969, 1968, cit. in Woolf, 1998) a partir de casos clínicos, encontraram também benefícios inerentes às reminiscências como forma terapêutica, verificando-se uma melhoria da auto-estima e o auto-conhecimento em indivíduos diagnosticados com a doença de Alzheimer.

Como observou Coleman (2005a) “os anos 70 caracterizaram-se por uma projecção sobretudo positiva, se bem que naive e sentimental, das reminiscências (…) A nova “paixão” por este novo conceito era compreensível tendo em conta o desinteresse com que o “pensar sobre o passado” era encarado na década anterior (...) ”(p.301). No entanto, apesar deste crescente interesse, alguns estudos continuavam a apresentar resultados divergentes relativamente aos benefícios das reminiscências em contexto terapêutico. Estes estudos, segundo Haight (1995) usaram sobretudo uma metodologia limitada a conversações e entrevistas e os seus resultados negativos podem ter sido responsáveis pelas diferentes perspectivas e análises da eficácia das reminiscências, uma vez que outras investigações, em contexto de grupo e adoptando intervenções mais alongadas, produziram resultados positivos.

Esta década levantou assim questões acerca de processos de reminiscência em grupo ou individuais, bem como questões relacionadas com o tempo envolvido nas sessões.

Haight descreve um conjunto de investigações onde não foi possível corroborar os aspectos benéficos das reminiscências e onde não se conseguiu reforçar o seu valor terapêutico. Os resultados destes estudos indicavam que reminiscência exercia pouca influência na adaptabilidade, possuía fraca correlação com o ajustamento do ego, mostrou ser menos benéfica que a revisão de vida. (Lieberman e Falk, 1971, Gordon e Nehrke, 1976, Coleman ,1974, cit. in Haight, 1995). Em outros estudos verificou-se apenas resultados pontuais, nomeadamente que os indivíduos mais velhos reminisciam, quer individualmente, quer em grupo, evidenciando-se uma maior frequência de reminiscências em contexto de grupo e onde se encontrou uma relação positiva entre a produção de reminiscências e níveis superiores de auto-conceito em situações de stress (Havighurst e Glasser, 1972, Lewis 1971 cit. in Haight, 1995).

Por outro lado, ainda segundo Haight, dentro do conjunto de investigações que reforçaram o papel das reminiscências, são exemplo os estudos de Kiernat e Dietshe, onde se encontraram respectivamente bons resultados terapêuticos em internos de casas de saúde usando uma intervenção de revisão de vida e, resultados favoráveis ao nível do aumento da confiança e do auto-respeito aquando a partilha de revisões de vida (Kiernat, 1979, Dietshe, 1979 cit in. Haight, 1995).

Na década de 80, as reminiscências viram ser reconhecido o seu papel na promoção da afirmação da identidade pessoal e da auto-estima. No entanto, em sequência da sua introdução na prática clínica, verificou-se neste período uma crise de credibilidade em torno do conceito. De facto, paralelamente a alguns relatos anedóticos de benefícios, estudos controlados da sua eficácia, não mostravam resultados significativos (Thornton e Brotchie, 1987, citado em Coleman, 2005b). Como já referido, este impasse ao nível da investigação só começou a ser clarificado à medida que os investigadores foram desenvolvendo esforços para a diferenciação dos diversos tipos de reminiscências, com respectivas funções e efeitos diversos.

Assim, durante este período vários autores examinaram as possíveis aplicações terapêuticas das reminiscências. Hughston e Merriam (1982) investigaram o efeito de uma intervenção estruturada de reminiscência no funcionamento cognitivo dos idosos. Neste estudo, os autores realçam a importância da estimulação das funções cognitivas através de

actividades devidamente estruturadas onde o uso das técnicas através da reminiscência pode acrescentar mais-valia nas actividades. Haight (1984, 1988 cit. in Haight, 1995) também nesta época desenvolveu intervenções estruturadas ao nível da revisão de vida encontrando resultados significativos ao nível da satisfação de vida e no bem-estar psicológico. Contudo, existiram outros estudos de intervenções de uma hora ao nível das reminiscências que apresentaram resultados diferentes destes e em si discrepantes (Hedgepeth e Hale, 1983, Brennan e Steinberg, 1984, Carlson 1984, Fallot 1980 cit. in Haight, 1995).

Neste último estudo, e a título de exemplo, Fallot (1980, cit. in Woolf, 1998), a partir de um modelo experimental avaliou o uso da reminiscência como instrumento terapêutico em trinta e seis indivíduos do sexo feminino, de várias idades, através de duas sessões de terapia (um era de reminiscência) com a duração de trinta minutos e, verificou que, o humor positivo aumentava depois da sessão de reminiscência. Este estudo permitiu suportar a hipótese de que a reminiscência seria adaptativa e, sugeriu que a natureza terapêutica da reminiscência poderia não ser específica da idade.

De realçar também que, outros estudos neste período avançaram que homens e mulheres tinham o mesmo nível de reminiscências (Wright e Payne, 1985, cit. in Haight, 1995).

Retrospectivamente, segundo a revisão de literatura de Haight (1995), as pesquisas que apresentavam uma abordagem de grupo obtiveram na sua maioria resultados positivos. A autora fornece vários exemplos de pesquisas onde intervenções deste género favoreciam a coesão em doentes idosos psicóticos, produziam bons resultados ao nível da interacção social diminuição do grau de depressão, e melhoria da auto-estima (Lesser et. al. , 1981, Matteson e Munsat , 1982, Parson, 1986, Bergland, Lappe, Ingersoll e Goodman 1982, 1987, 1980 cit. in Haight, 1995). Em outros estudos, recorrendo também a intervenções de grupo, resultaram em diminuição do estado de ansiedade, diminuição da negação da morte, melhoramento da função cognitiva e adaptabilidade mental. (Scates et. al., 1986, Georgemiller e Malloney, 1984, Hughston e Merriam, 1982, Goldwasser et. al., 1987, cit. in. Haight, 1995).