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GÊN ESE DE UMA ARTI STA

No documento O Relicário de Celeida Tostes (páginas 40-92)

“ Com o m ulher, Celeida int egra, no eros da sua criação, a am bigüidade e a fecundidade dos seres da nat ureza.”

Lélia Coelho Frota29 1 . Mem órias da infância

Celeida de Moraes Tost es era artista plást ica. Nasceu na Gávea, no Rio de Janeiro, em 26 de m aio de 1929 e m orreu nessa m esm a cidade em 3 de j aneiro de 1995.

Sua infância parece t er sido m arcada por dois acont ecim entos: a m ort e prem at ura da m ãe e as brincadeiras infant is, no barro e no rio que cort ava a propriedade da fam ília.

Quando a m ãe faleceu, Celeida t inha um ano e um m ês de idade. O pai, viúvo recente, enviou a m enina aos cuidados dos avós e tias m aternas, na Fazenda de Cam po Alegre, m unicípio de Macuco, interior do Est ado do Rio de Janeiro. As t ias Eliza e I rene ficaram encarregadas da pequena Celeida.

O pai ia visit á- la com freqüência na fazenda, m as não t inha condições de cuidar da m enina, pois, segundo a art ist a, ele t rabalhava com com ércio ext erior. Alguns anos depois, quando se casou novam ent e, fez um a nova t ent at iva de levá- la para m orar consigo, m as a m enina escolheu perm anecer na Fazenda, aos cuidados da tia I rene, irm ã de sua m ãe, e de seu m arido, o t io João.

Ela falava m uit o na vida livre da fazenda... Falava m uit o nos encontros com os prim os, um a coisa m eio erotizada, assim . Falava em banhos de rio, ficar suj a de lam a ( ...) Principalm ent e, a liberdade da fazenda; e ela falava, em cont rapart ida, um a vez que ela veio para o Rio t ent ar m orar com o pai. E que o pai... eu não sei se eu fant asiei esse final; esse final eu não sei se é fant asia m inha, m as eu acho que não é não. Que ela foi m orar com o pai e que ela achou t ão rest rit a, t ão lim it adora aquela vida na cidade, que ela foi em bora, foi em bora e deixou o pai, ela criança ainda, sum iu e volt ou pra fazenda. Na m inha fant asia, não sei se é verdade, que ela deixou a roupa t oda e saiu nua. I sso ela t inha 12 anos ou 10 anos. Quer dizer, ela não queria m ais nada com aquilo, e volt ou pra essa vida m ais ligada à t erra. ( Luiz Áquila, 2006)

Quando a m ãe de Celeida m orreu, suas irm ãs Elisa e I rene t om aram cont a da m enina, que ficou na Fazenda. I rene m orava no Rio de Janeiro e j á era casada, m as não tinha filhos. Foi ela quem se encarregou da criação da sobrinha. Celeida foi criada com o um a filha e, anos m ais t arde, com o nascim ent o dos prim os Terezinha e João Henrique, nascidos em 1943 e 1939, respect ivam ent e, ganhou dois irm ãos.

Celeidinha, na fazenda é que ela teve contato com o chão, com a vida, com a t erra, com as pessoas da t erra m esm o, que viviam da produção da t erra, e Celeida se ident ificava m uit o. Ela ia pra casa dos colonos ouvir as histórias deles. E passava o dia inteiro na casa de colono, ouvindo as hist órias. Desde m ula- sem - cabeça, aquelas hist órias de fazenda ( ...) e a Celeidinha viveu m uit o t em po em fazenda. ( Terezinha Benj am in, 2005)

Celeida com eçou a t rabalhar aos 17 anos com o dat ilógrafa na loj a de ferragens Coferm at , no cent ro do Rio de Janeiro. Na época, era necessário que se desenhassem as ferram entas para identificá- las no balanço anual da loj a, e a falt a de um desenhista levou a j ovem , que vivia rascunhando desenhos, a se ocupar dessa t arefa. Foi dessa form a que a art ist a passou a conhecer e reproduzir a anat om ia de ferram ent as, pregos, parafusos, lim as, lim as port uguesas et c., que faziam part e do est oque da Coferm at . Cada desenho era acom panhado

de um a folha datilografada, gravado no estêncil Gestetner e m im eografado; foi assim que surgiu o “ o conhecim ent o de ferram entas e o prazer de t rabalhar em oficina” .30

No período que com preende os anos de 1946 a 1961, a artista t rabalhou no I APC ( I nst it uto de Aposent adoria e Pensões dos Com er- ciários) , com o auxiliar de adm inist ração, desenhist a da Revist a do I APC e, t am bém ligada ao I nst it ut o, com o recreadora hospit alar no set or de doenças m entais da Casa de Saúde Dr. Eiras e ainda no set or de ort opedia do Hospit al dos Com erciários. Nest a época t am bém fez desenhos e ilustrações para j ornais e revistas.

Ela sem pre pensou o seguint e: que aquilo ela est ava fazendo para um a sobrevivência dela. Ela sem pre teve vontade, Celeida sem pre t eve um veio, a gent e diz veio art íst ico, m as Celeida sem pre est ava criando algum a coisa, const ruindo algum a coisa que não fosse um cot idiano repet it ivo. Celeida t inha sem pre um a fom e de um processo de m udança m uit o int enso. Muit o int enso. E aí, depois ela fez, eu m e lem bro que ela fez um pré- vest ibular, j á bem m ais adult a do que t odos da época que est avam fazendo vest ibular. ( Terezinha Benj am in, 2005)

É int eressant e ressalt ar t am bém a visão que Alfredo Benj am in, que era am igo de Celeida ant es de casar com Terezinha, t eve da art ist a quando a conheceu.

... eu a conheci em 1954, no ant igo I APC, I nst it uto dos Com erciários ( ...) E eu ouvi falar da Celeida o seguint e: é um a colega, m as ela é diferent e. Ela não é igual a t odo m undo, ela é diferent e. E ela era m uit o sim pát ica, essa coisa t oda. ( Alfredo Benj am in, 2005)

2 . Um a sólida form ação

Pra transgredir é preciso conhecer. Celeida Tost es, 1990 Em 1950, com 21 anos, passou em prim eiro lugar no vest ibular para a Universidade do Brasil, na Escola Nacional de Belas Art es ( ENBA) , onde se form ou em 1955, no curso seriado de Gravura.

O curso da ENBA era bastante abrangente.31 Nessa época foi aluna de

Oswaldo Goeldi,32 um dos m ais im portantes gravuristas brasileiros. Em 1956, fez um curso de educação artística para professores na Escolinha de Arte do Brasil, dirigida por Augusto Rodrigues33 – considerada pioneira e inovadora na form ação de arte-educadores no Brasil. Na Escola Nacional de Belas Artes da Universidade do Brasil, com plem entou seus estudos com o curso de Professorado de Desenho, com form ação em Pintura, Arte da Publicidade e do Livro e Desenho Técnico. Cursou, tam bém na ENBA, em 1957, a Escola de Filosofia, licenciando-se em Desenho.34

31 Durante a graduação a artista estudou: 1º ano (1951) – Modelagem , Desenho Artístico, Geom etria Descritiva, Arquitetura Analítica; 2º ano (1952) – Desenho Artístico, Modelagem , Anatom ia, Perspectiva e Som bras; 3º ano (1953) – Gravura, Modelo Vivo, Croquis, Arte Decorativa; 4º Ano (1954) – Gravura, Modelo Vivo, Arte Decorativa, História da Arte; 5º Ano (1955) – Gravura, Modelo Vivo, História da Arte, Gravura de Talho Doce, Água Forte e Xilografia. 32 Oswaldo Goeldi (Rio de Janeiro, RJ, 1895-1961. Gravador. Estudou na Suíça, em Genebra, de

1901 a 1919. Dedicou-se à xilogravura. Trabalhou com o ilustrador, fez desenho, gravuras e xilogravuras coloridas para periódicos e livros. Em 1941, trabalhou na ilustração das Obras Com pletas de Dostoievski, publicadas pela Editora José Olympio. Foi professor da Escola Nacional de Belas Artes, RJ, onde abriu a oficina de xilogravura (1955). I n: O Olhar Modernista de JK, curadoria de Denise Mattar. São Paulo, FAAP, 2006, p. 105.

33 Augusto Rodrigues (Recife, PE, 1913 – Resende, RJ, 1993). Desenhista, ilustrador, caricaturista e poeta. A partir de 1935 fixou-se no Rio de Janeiro. Em 1948 fundou a Escolinha de Arte do Brasil. Recebeu o Prêm io de Viagem ao Estrangeiro em 1953. Em 1960, funda a Associação dos Artistas Plásticos Contem porâneos (ARCO). Participou das Bienais I nternacionais de São Paulo de 1953 e 1985. Recebeu prem iações de vários salões nacionais. In: O Olhar Modernista de JK, curadoria de Denise Mattar. São Paulo, FAAP, 2006, p. 96.

34 Faziam parte do currículo: Fundam entos da Educação; Psicologia Educacional; Adm inistração Escolar; e Didática Geral e Especial.

No início do segundo sem estre de 1958 em barcou para os Estados Unidos com um a bolsa de um ano do “Program a do Governo dos Estados Unidos da Am érica para Cooperação Técnica com outros Governos”, especializando-se em Educação Secundária na Univer-sidade Southern, na Califórnia, e na Universidade New Mexico Highlands, no Novo México. Sua form ação curricular incluía cursos de especialização em 13 m atérias.35 Foi nos Estados Unidos sua prim eira exposição individual, na University of Southern Califórnia, no ano de 1959. Celeida expôs gravuras.

Com o se pode ver, a artista teve um a sólida form ação em Arte e Educação, m as, eclética, procurou t am bém um a apreensão do saber não- form al e não- convencional. Quando est eve nos Est ados Unidos fez cont at o com os índios Navaj os, no Novo México, em especial com a ceram ista Maria Martinez, a quem sem pre dest acou com o m uit o im portante para sua form ação e para o seu reencontro com o barro da infância, passando a partir de então a dedicar- se à cerâm ica.

Celeida nunca parou de est udar. Em seu retorno ao Brasil, entre as décadas de 1960 e 1970, fez diversos cursos de aperfeiçoam ent o t écnico, de educação e art e- educação, com o ela list ou em seu currículo, apresent ado à UFRJ, em 1992. Tam bém cursou a pós- graduação em Ant ropologia Cult ural na Faculdade de Educação da UFRJ ( 1973) .

35 History of Art – Renaissence to Present; Class use of Audio Visual Material; Secondary Education; I ntroducion of Graphic Arts; Collor; Basic Crafts; Methods and Directs Teatch: Art Education; Education Sociology; Evaluation of Pupil Progress; e Curriculum Lab in Secondary Education; Art for Classroom Teacher; Metal and Enam el e Ceram ics.

Em 1975 recebeu bolsa de est udos do Conselho Brit ânico para um curso de um m ês na Cardiff College of Art , na Universidade de Wales, no País de Gales, UK. Nesse curso, aprofundou seus conhecim ent os em cerâm ica.36 No cert ificado da inst it uição do País de Gales, o diret or de

est udos, Tom Hudson, ressalt a que Celeida Tost es t rabalhou duro no período em que esteve lá e que todos os professores foram unânim es em dizer que não poderiam esperar m elhor aluna, que obteve 100% de aproveit am ent o prát ico e t eórico.

Em 1978, no Brasil, participou dos cursos de cerâm ica com Antonio Poteiro,37 no SESC, e, em 1987, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com o professor australiano Vincent McGrath. Tam bém em 1987 recebeu o título de Livre Docência do Departam ento de Desenho I ndustrial (Cerâm ica) da Escola de Belas Artes da UFRJ, com a tese Esm altação em Metal, do livro de m esm o nom e que havia publicado em 1976.

3 . Um a art ist a apaixonada

Celeida é um a artista de um a só fase: cada vez m ais longe, cada vez m ais fundo. Dist anciando- se da superfície convencional, a sua m atéria- prim a, o barro ancestral, despoj a- se lentam ente da rim a visual para procurar febrilm ente a sensualidade da m ão se espoj ando na m aciez untuosa.

Henri V. Stahl38

36 Na Cardiff College estudou as seguintes disciplinas: Exploration of m aterials; ceram ic colour; industrial processes - m odeling ( sledging, profile, trim ing, whirler turnisng, lathe turning) , m ouldm aking ( dropout m ould for pressing, four piece m ould for slip casting) and enam elling ( screen printing, carried out in Fine Art print area) ; Print Making Departm ent ( Fine Art) : photo stencil for screen printing; e Pos Graduate School of Art Education.

37 Antônio Poteiro ( Antônio Batista de Sousa) é um dos m estres da pintura prim itiva no Brasil. Português de nascim ento, natural de Santa Cristina de Souza, nasceu em 1925 e iniciou-se na vida artística com o artesão, produzindo cerâm icas para o uso dom éstico, de onde adveio o "Poteiro" de seu nom e artístico. I nform ações colhidas no site: ht tp: / / pt.wikipedia.org acessado em 22/ m arço/ 2006.

38 Henri V. Stahl, in Catálogo Geral da 21ª Bienal I nternacional de São Paulo – Fundação Bienal de São Paulo – Editora Marca D’Água – São Paulo – 1991.

Os prim eiros trabalhos foram desenhos e gravuras. Na Escola Nacional de Belas Art es foi prem iada nas exposições acadêm icas de 1953 e 1954, com um a m ost ra de gravuras. Em 1955 recebeu a Medalha de Bronze na seção de Desenho e a Menção Honrosa na seção de Gravura do I I Salão dos Est udant es de Art e de Belo Horizont e. No m esm o ano suas gravuras t am bém receberam a Menção Honrosa do Salão Bahiano de Belas Artes.

O curso de gravura em m et al com Goeldi na Escola de Belas Artes result ou em sua part icipação, em 1955, na m ostra coletiva “ Gravura Brasileira nos Países do Leste Europeu” , exposição que percorreu a Polônia, Hungria, Rússia, Dinam arca, Suécia e Holanda. Da m ostra, participaram obras do próprio Goeldi, Adir Bot elho, Regina Yolanda Werneck, Newt on Cavalcant e, ent re out ros.

Nos final da década de 1950 part icipou do 8º Salão Nacional de Art e Moderna, no Museu de Art e Moderna do Rio de Janeiro – MAM- RJ. Em 1959, apresent ou a individual na Universit y of Sout hern California. Em 1960, volt ou a part icipar do Salão Nacional de Art e Moderna.

É im port ant e frisar que a carreira de educadora e a produção art íst ica de Celeida Tost es cam inharam j unt as e foram indissociáveis, do início de suas atividades profissionais até o final de sua vida. Era professora da Rede Est adual de Ensino do Rio de Janeiro desde 1964, inicialm ente cont rat ada e post eriorm ent e efet ivada por dois concursos de provas e t ít ulos. Tinha duas m at rículas.

Com o art ist a plást ica, Celeida especializou- se em Gravura em Met al, m as a passagem dest a para a esm alt ação em m et al acont eceu ainda na década de 1950, no período em que est ava na Universidade New Mexico Highlands. Essa m udança na t écnica é im port ante para que se

com preenda o processo artístico de Celeida Tost es: “ a ret om ada de m em órias da infância na roça, na fazenda de Cam po Alegre, no Est ado do Rio, pouco a pouco foi se apropriando das m atérias- prim as da esm alt ação, e que fazem part e do universo da cerâm ica” ( Mem orial da art ist a) .

Em 1960, Celeida t rabalhou no proj et o do educador Anísio Teixeira,39 que na época era diret or do I NEP ( I nst it ut o Nacional de Est udos Pedagógicos) . O proj et o, cuj o obj et ivo era alcançar as crianças que abandonavam a escola depois do curso prim ário ( 1ª à 4ª série do prim eiro grau) , previa equipar as escolas e, principalm ente, capacit ar professores de todo o Brasil, os quais vinham para o Rio de Janeiro com o bolsist as. A art ist a m inistrava o curso de Artes

I ndustriais ( esm altação em m et al) , que na época foi colocado em prát ica em classes de aplicação em diversas escolas da cidade.

A esm altação em m et al é um a das artes do fogo; trat a- se da fusão result ant e das t ransform ações de m at érias inorgânicas subm et idas à ação do calor, com o a cerâm ica, o m etal e o vidro. O esm alte industrial é encont rado em vasos, colheres, quadros, j óias, t ubos de m áquina de lavar, t am pas de fogão, clips et c. Na

39 Anísio Spínola Teixeira (1900, Caetité-BA – 1971, Rio de Janeiro-RJ). Diplom ou-se em 1922 em Direito, pela Universidade do Brasil; em 1924 foi nom eado inspetor geral do Ensino na Bahia. Viajou pela Europa em 1925, observando os sistem as de ensino da Espanha, Bélgica, I tália e França e com o m esm o objetivo fez duas viagens aos Estados Unidos entre 1927 e 1929. De volta ao Brasil, foi nom eado diretor de I nstrução Pública do Rio de Janeiro, onde criou entre 1931 e 1935 um a rede m unicipal de ensino que ia da escola prim ária à universidade. Perseguido pela ditadura Vargas, dem itiu-se do cargo em 1936 e regressou à Bahia — onde assum iu a pasta da Educação em 1947. Sua atuação à frente do I NEP, I nstituto Nacional de Estudos Pedagógicos, a partir de 1952, valorizando a pesquisa educacional no país, chegou a ser considerada tão significativa quanto a Sem ana de Arte Moderna ou a fundação da Universidade de São Paulo. Com a instauração do governo m ilitar em 1964, deixou o I nstituto — que hoje leva seu nom e — e foi lecionar em universidades am ericanas, de onde voltou em 1965 para continuar atuando com o m em bro do Conselho Federal de Educação. I nform ações colhidas em julho/ 2006 no site: http: / / www.prossiga.br/ anisioteixeira

Capa do livro “ A Esm altação em Metal”

nat ureza, ele é encont rado no esm alt e dos dent es. Por m eio do ensino dest a t écnica, aliada à ut ilização de recursos alt ernat ivos, a iniciat iva procurava habilit ar os j ovens para um t rabalho que lhes possibilit asse ganhar a vida. Foi a part icipação neste proj et o que result ou no livro e na t ese “ Esm alt ação em Met al” . O proj et o se est endeu at é 1970.

De 1972 a 1975 Celeida Tostes se dedicou ao proj eto “ Com o Som os” , desenvolvido no Cent ro Educacional de Nit erói, da Fundação Brasileira de Educação. Est e proj et o, realizado com alunos da 7ª série do prim eiro grau, procurava recuperar a im portância do t at o, a consciência do próprio corpo, o t oque e a sensibilização. Foram realizadas experiências art ísticas partindo da pele dos alunos. Post eriorm ent e foi apresent ada no Museu Nacional de Belas Art es um a exposição com o m esm o nom e. Segundo a art ist a, est e t rabalho serviu de referencial para a “ Oficina das Art es do Fogo e Transform ação de Mat eriais” , im plantada por ela no Parque Lage a partir de 1975 e para o “ Proj eto de Oficina I ntegrada de Cerâm ica EBA/ FAU” da UFRJ, em 1989.

Desde as prim eiras at ividades com crianças dent ro de escolas, vi com o eram desconhecidas para elas coisas m uit o próxim as e sim ples. Sent ir a água, observar o chão, as árvores ou seu corpo. Foram m eninos e m eninas de m eios socioeconôm icos bastante diversificados: da Penha, Mangueira, Bot afogo e Vila I zabel, adolescent es uns, com sete e dez anos outros. Era com o se houvesse pouco uso dos sent idos. Poucos seriam capazes de dizer alguns det alhes de sua pele, de sua m ão, ou da própria sala de aula. Mais um a vez, a “ dist ância” do que est á próxim o. Era a falt a de exercício das possibilidades de usar.40

Em 1975, antes de retornar do curso na Cardiff College of Art, Celeida Tostes visitou os centros de esm altação de diversas Casas de Moeda na Europa: The Mint House, no País de Gales; The Royal Mint House na I nglaterra; e o Établissem ent Monétaire de Paris, França. Na carta que

40 Artigo “ Com o Som os” de Celeida Tostes, publicado na revista do Centro Educacional de Niterói. Vej a Mem orial da artista.

solicitava a visita, o superintendente do Departam ento de Moedas e Medalhas da Casa da Moeda do Brasil dizia que Celeida era professora de esm altação no Brasil e estava interessada em conhecer o processo de trabalho daquelas instituições. Neste m esm o ano, quando retornou ao Brasil, ofereceu um curso, para os funcionários da seção de m edalharia, que introduziu a esm altação em m etal na Casa da Moeda brasileira.

Ainda em 1975, foi convidada por Rubens Gerchm an, então diretor da Escola de Art es Visuais do Parque Lage, para lecionar na inst it uição.

Celeida era m uit o preparada, acabava de volt ar da I nglat erra e eu sabia disso. O convit e perm it iu que ela saísse do ost racism o em que vivia com o professora secundária do Est ado. Na EAV ela pôde desenvolver a plenit ude de sua capacidade e sensibilidade. Era um a

No documento O Relicário de Celeida Tostes (páginas 40-92)

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