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3. MARCO TEÓRICO

3.5 Gêneros Jornalísticos e o embate Informação x Opinião

3.5.4 Gêneros no corpus da pesquisa

No corpus desta pesquisa, consideramos o universo de publicações jornalísticas ocorridas deste a deflagração da greve, em 28 de maio, até seu término, em 13 de outubro de 2015, totalizando 143 textos noticiosos veiculados pelas quatro mídias estudadas. Pelo fato de nossa metodologia contemplar o viés não apenas qualitativo, mas igualmente quantitativo, examinamos a tipologia das informações reunidas, os gêneros jornalísticos53, e sua frequência de veiculação (Tabela 1). Identificamos cinco gêneros de frequência estável no noticiário sobre a greve, como mostrado na tabela abaixo. Nela, verifica-se o predomínio do gênero notícia em todas as mídias analisadas, com destaque para Correio Braziliense e G1 que, como vemos, não veicularam material explicitamente opinativo (artigos, colunas e/ou editoriais) durante a greve.

Com base em nossa experiência como jornalista e refletindo sobre as

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A comunicação periodística é estruturada em categorias funcionais, cujas unidades de mensagem se agrupam em classes, mais conhecidas como gêneros, extensão que se divide em outras, denominadas formatos, os quais, em relação à primeira, são desdobrados em espécies, chamadas tipos. (MARQUES DE MELO, 2009, p.35).

classificações de gênero jornalístico disponíveis na literatura e, ainda, considerando as características da nossa empiria, estabelecemos a tipologia “notícia” para referir-nos ao texto mais curto, objetivo, impessoal. O Novo Manual da Folha de S. Paulo54 relaciona notícia a um fato isolado, cuja informação pode ser atribuída a uma fonte ou mais, que repercutem a mesma ocorrência ao longo do texto. Recorremos também à concepção de Marques de Melo (2003) da função/finalidade como pressuposto das classificações de gênero no Brasil. E, de Chaparro, a pragmática do jornalismo e dos elementos que aderem ao discurso noticioso: “Sem intervenção valorativa não há ação jornalística” (1998, p. 102).

A notícia55 restrita a uma ocorrência se diferencia, portanto, da reportagem, na medida em que esta insere outros pontos de vista sobre o mesmo tema abordado ou o aprofunda com dados subsidiários e, não raro, no caso específico da greve de 2015, com o histórico do movimento. Diferentemente do caráter imediatista que uma notícia carrega, a reportagem, conforme Sodré e Ferrari (1986), pode ser mais extensa e completa, com abordagem aprofundada acerca de um tema específico. Em publicação clássica, Medina (1986) acrescenta que a reportagem implica uma apuração mais ampla de informações e uma escrita geralmente mais caudalosa que a reservada à notícia.

Tabela 1 - Gêneros Jornalísticos

Folha de S. Paulo % O Estado de S.Paulo % Correio Braziliense % Portal G1 % NOTÍCIA 16 53,3% 16 53,3% 28 84,8% 40 80,0% REPORTAGEM 7 23,3% 6 20,0% 4 12,1% 10 20,0% ARTIGO 4 13,3% 4 13,3% 0 0,0% 0 0,0% EDITORIAL 2 6,7% 4 13,3% 0 0,0% 0 0,0% ENTREVISTA 1 3,3% 0 0,0% 1 3,0% 0 0,0% Total 30 100,0% 30 100,0% 33 100,0% 50 100,0% Fonte: Publicações das quatro mídias estudadas

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No Manual de Redação da FSP, versão online, datado de 1996 [Disponível no link

<http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_introducao.htm>]. Acesso em 12 ago.2016. 55

Conforme os números obtidos, salta à vista a frequência do que classificamos de notícia, com 69,93% das veiculações, ou seja, notícias curtas e restritas ao factual, sem desenvolvimento do assunto, observadas com maior frequência no portal G1 e no Correio Braziliense, que não pontuaram nos quesitos explicitamente opinativos [artigo e editorial]. Um exemplo são dois textos publicados pela Folha de S. Paulo nos dias 28 e 29 de maio/2015. No primeiro, intitulado “Contra cortes, professores entram em greve em 19 universidades federais”, o texto é composto de cinco parágrafos e uma lista de instituições paralisadas no momento de deflagração da greve. No último parágrafo, aparece a única fonte entrevistada, Rogério Marzola, coordenador- geral da Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas (Fasubra), que compõe o único parágrafo, ao final do texto, sobre a adesão dos funcionários técnicos.

O princípio da hierarquização das informações, neste exemplo específico, poderia ser questionado quanto à fonte citada na reportagem56, e sobre os modos de estruturar o texto de acordo com as informações obtidas e/ou disponíveis.57 O Andes-SN, cujo protagonismo é inequívoco nas paralisações de docentes universitárias, foi mencionado de maneira rápida e sem voz ativa, como se lê no início do 4º parágrafo: “As universidades em greve são ligadas ao Andes.” O mesmo jornal publicou no dia seguinte (29) uma notícia tão curta que caberia no gênero jornalístico “nota”, descrito por Marques de Melo (2009), mas não adotado neste trabalho para não diluir ainda mais a análise dos resultados por gênero. Assim, transcrevemos seu teor:

Título: “Professores de federais decidem por paralisação”

Lead/texto: Menos de uma semana após o governo federal anunciar corte de R$ 9,4 bilhões na educação, professores de 19 universidades federais declararam nesta quinta-feira (28) greve por tempo indeterminado. Oito

56 Sousa (2001, p. 20) nos lembra que um acontecimento nunca é noticiado na íntegra. “Por um lado, só um ser onisciente poderia fazê-lo. Por outro lado, as informações sobre um acontecimento também são hierarquizadas, sendo selecionadas aquelas que são vistas como relevantes e suficientes para se dar a notícia”. Na notícia relatada, o que surpreende é que a informação principal geradora do lead não venha acompanhada de referência à fonte de dados da entidade responsável pela convocatória da greve.

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É preciso ter em conta que são os meios os que selecionam os acontecimentos a partir do grau de implicação que eles pressupõem (ALSINA, 2009, p. 82)

universidades do Nordeste, sete do Norte, três do Centro-Oeste e os da UFF (Federal Fluminense), no Sudeste, decidiram interromper as atividades.

A reportagem sob o título “Greve em universidades federais completa 3 meses com ato em Brasil” (G1, 28/08/2015), descreve a movimentação em torno do ato, informa sobre o andamento da greve, ouve o Andes-SN, reproduz as declarações do então ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, via Facebook, atualiza o andamento da paralisação no aniversário de três meses, lista as instituições paradas e reproduz na íntegra uma nota divulgada pelo Ministério da Educação (MEC). Em contrapartida, o G1 informa, em 15/09/2015: “Professores da Universidade Federal de Ouro Preto decidem encerrar greve”. Trata-se de uma notícia limitada ao fato de uma instituição retomar as aulas no curso de uma paralisação, que tampouco configura-se contextualizada neste texto específico. A segunda fonte é um instrumento anódino utilizado amiúde pelo MEC: uma nota divulgada pela assessoria de imprensa do órgão ministerial. Com base em nosso critério para diferenciar os textos noticiosos, portanto, foi possível identificar 27 reportagens (18,88% do total publicado pelos quatro veículos), distribuídos de maneira equivalente por FSP, OESP e G1. Por outro lado, na vertente claramente opinativa [e inevitavelmente informativa], identificamos tão somente oito artigos [entre artigos de opinião e veiculados em colunas fixas dos jornais] ou 5,59% das ocorrências gerais, seis editoriais (4,20%) e duas entrevistas (1,40%).