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2.5 A IMAGEM NA TELEVISÃO 57

2.5.1 Gêneros e Formatos Televisivos 60

Quando uma pessoa liga a televisão, passados alguns minutos, ela consegue perceber, a partir de alguns elementos televisivos e verbais, qual o tipo de programa a que está assistindo. Com base em referências cognitivas, o público consegue diferenciar uma novela de um telejornal. São os gêneros e formatos dos programas que ajudam a dar sentido e a classificar os produtos midiáticos. “Eles ajudam a situar a audiência em relação a um programa, em relação ao assunto nele tratado” (GOMES, 2011, p. 32).

No Brasil, José Marques de Melo, (2010) foi o pioneiro em estudar os gêneros, a partir de uma análise de jornais impressos. Na época, ele classificou o gênero em duas grandes categorias: jornalismo informativo e jornalismo opinativo. Posteriormente, fez uma nova pesquisa e acrescentou mais dois gêneros: o interpretativo e o diversional (entretenimento). “Além disso, passou a classificar as subdivisões existentes entre os gêneros como formatos” (REZENDE, 2000, p. 145).

Souza (2004), responsável por um dos mais completos trabalhos de mapeamento de categorias, gêneros e formatos na televisão brasileira, afirma ficar mais fácil de compreender esta divisão se estabelecermos um comparativo com nossa vida, na qual estamos acostumados a separar quase tudo por grupos ou categorias: “animais, vegetais, veículos automotores, eletrodomésticos [...] como se colocássemos em gavetas” (SOUZA, 2004, p. 37). No jornalismo não é diferente. A atividade segue a mesma lógica do pensamento. Num sentido mais amplo estão as categorias, seguidas pelos gêneros e por último pelos formatos.

No modelo de televisão brasileira, Souza (2004) afirma existir três categorias que abrangem a maioria dos gêneros: entretenimento, informação e educação. O autor cita, ainda,

  a existência de outras duas categorias: publicidade e especiais. Essa última ganha uma importância maior para essa pesquisa, por incluir nela o objeto desse estudo. Conforme Souza (2004), na categoria especial estão relacionados os programas infantis, de religião, de minorias étnicas, agrícolas e outros. Quando se refere à questão publicitária, Souza (2004) reforça a ideia de que esses produtos televisivos são comprados pelo mercado publicitário, que precisa identificar seu público-alvo, a partir dos espaços de programação. Ao mesmo tempo em que estabelece essas novas categorias, o autor deixa claro que existe um inter- relacionamento entre elas.

O pensador russo, Mikhail Bakhtin, nunca dirigiu suas análises para o conteúdo audiovisual contemporâneo, no entanto, sua interpretação linguística e literária para a definição de gênero se aplica de forma muito atual para os conteúdos televisivos. Segundo, Arlindo Machado (2000), Bakhtin define gênero como sendo:

Uma força aglutinadora e estabilizadora dentro de uma determinada linguagem, um certo modo de organizar ideias, meios e recursos expressivos, suficientemente estratificado numa cultura, de modo a garantir a comunicabilidade dos produtos e a continuidade dessa forma junto às comunidades futuras. (MACHADO, 2000, p. 68).

Ainda segundo o autor, o gênero é o que orienta todo o uso da linguagem no âmbito de um determinado meio. Em uma interpretação mais simples, JOST (2007, p. 60) afirma que os gêneros são etiquetas “que permitem reagrupar um conjunto de emissões dotadas de propriedades comparáveis”. Charaudeau (2012) tem opinião semelhante ao definir o gênero como “o conjunto das características de um objeto e constitui uma classe à qual o objeto pertence” (CHARAUDEAU, 2012, p. 204). Nessa mesma linha de pensamento, Charaudeau lembra que todo o objeto que tiver as mesmas características passará a integrar a mesma classe. Já para Cannito (2010), o gênero e o formato são as regras do contrato estabelecido com o público da televisão, que no decorrer da emissão poderão ser quebradas ou mantidas. Arlindo Machado reforça essa ideia ao dizer que: os “gêneros são categorias fundamentalmente mutáveis e heterogêneas (não apenas no sentido de que são diferentes entre si, mas também no sentido de que cada enunciado pode estar “replicando” muitos gêneros ao mesmo tempo)” (MACHADO, 2000, p. 71).

De forma esquemática o que Souza (2004) afirma é o que se observa no quadro a seguir:

  Quadro 1 - Categorias e Gêneros da Televisão Brasileira

Categoria Gênero

Entretenimento Auditório, Colunismo Social, Culinário, Desenho animado, Docudrama, Esportivo, Filme, Game show (competição), Humorístico, Infantil, Interativo, Musical, Novela, Quiz show (perguntas e respostas), Reality show (TV-realidade), Revista, Série, Série brasileira, Sitcom (comédia de situações), Talk show, Teledramaturgia (ficção), Variedades e Western (faroeste)

Informação Debate, Documentário, Entrevista, Esportivo e Telejornal

Educação Educativo, Esportivo e Instrutivo

Publicidade Chamada, Filme comercial, Político, Sorteio e Telecompra

Especiais Especial, Eventos e Religiosos

Fonte: Souza (2004, p. 92)

Outro termo bastante empregado em relação à classificação dos programas de TV é o formato, que está diretamente associado ao gênero. “Formato é uma nomenclatura própria do meio (também utilizada por outros veículos, como o rádio) para identificar a forma e o tipo da produção de um gênero de programa de televisão” (SOUZA, 2004, p. 46). Conforme o autor, os formatos são a base do êxito do programa. É interessante considerar ainda que “os meios se diversificaram e tornaram-se mais complexos; os modos de organização das mensagens se transformaram e, consequentemente, novos formatos surgiram” (MACHADO, 2001, p. 5).

A partir dessa realidade, Rezende (2010) propõe uma nova divisão da categoria. Partindo da ideia de Souza (2004) de que na categoria informação está contemplado o telejornalismo Rezende (2010) sugere uma reorganização do telejornalismo, dessa vez em subcategorias.

A categoria telejornalismo manifesta-se na programação televisiva nas seguintes subcategorias: entrevista, reportagem, programa de debates, documentário e telejornal. Além dessas, prevalece em outras subcategorias episódicas, caso do plantão, das inserções jornalísticas nos programas de variedades, em emissões de jornalismo especializado (diárias e, sobretudo semanais) e nos espetáculos midiáticos globais. (REZENDE, 2010, p. 292).

Nessa mesma linha de pensamento de Rezende (2010), ainda que com uma nomenclatura diferente, encontramos as ideias de Gomes (2011) que entende que os telejornais, programas de entrevistas, documentários televisivos, as várias formas de jornalismo temático (esportivo, rural, musicais, econômicos) são variações do mesmo gênero que podem ser chamadas de subgêneros ou formatos. Sendo todos eles produtos do

  jornalismo de televisão, a autora chama a atenção que eles precisam trabalhar com uma abordagem que leve em conta a linguagem televisiva e jornalística e que promovam a interação com os telespectadores.

Também na proposta de Rezende (2010), encontramos o enquadramento para os programas especializados e que se dirigem a audiências segmentadas, como o público rural. Segundo ele, nesses programas são praticados vários formatos informativos e opinativos como notas, notícias, reportagens, comentários, crônicas e resenhas culturais. Na TV aberta, Rezende (2010) destaca como exemplo de emissão de jornalismo especializado o programa Globo Rural, objeto desse estudo.