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2.5 A IMAGEM NA TELEVISÃO 57

2.5.2 Modos de Endereçamento 63

Conhecidos os gêneros e formatos que ajudam a classificar as produções televisivas, é parte de um processo metodológico de análise de um objeto de estudo entender “como esse programa se relaciona com sua audiência a partir de um estilo que o identifica e que o diferencia dos demais” (GOMES, 2011, p. 33). Essa prática recebe o nome de “modo de endereçamento” e surgiu nos anos 80 a partir da análise fílmica e depois foi adaptada para a televisão com o objetivo de entender a relação construída entre os programas televisivos e sua audiência. Dito de outra maneira é a análise das formas e práticas comunicativas usadas para estabelecer a relação entre um programa específicio e o seu público.

Para Morley e Brunsdon (1978 apud GOMES, 2011, p. 33) o modo de endereçamento tem a ver com aquilo que na crítica literária se designou como “tom” e/ou “estilo”. De acordo com o conceito de Elizabeth Ellsworth (apud GOMES, 2011, p. 11 ), o processo de modo de endereçamento na perspectiva cinematográfica pode ser entendido a partir da resposta dada à seguinte questão: “quem esse filme pensa que você é ?”.

Na adaptação da técnica para os programas jornalísticos televisivos é preciso considerá-la a partir de três elementos: o jornalismo, a televisão e a recepção televisiva. É na conexão delas que vai ocorrer o modo de endereçamento. Como as análises são feitas com a base teórico-metodológica dos estudos culturais, faz-se necessário conhecer o conceito de telejornalismo, a partir de Raymond Williams.

 

A televisão é, ao mesmo tempo, uma tecnologia e uma forma cultural, e o jornalismo, uma instituição social. O telejornalismo é, então, uma construção social, no sentido de que se desenvolve numa formação econômica, social, cultural particular e cumpre funções fundamentais nessa formação. A concepção de que o jornalismo tem como função institucional tornar a informação publicamente disponível e de que o faz através de várias organizações jornalísticas é uma construção: é da ordem da cultura o jornalismo ter se desenvolvido deste modo em sociedades específicas (WILLIAMS, 1997, p. 22 apud GOMES, 2011, p. 19).

Gomes (2011) entende que o modo de endereçamento associado ao conceito de gênero televisivo deve nos possibilitar entender quais são os formatos e as práticas de recepção solicitados e historicamente construídos pelos programas jornalísticos. Segundo a autora, o modo de endereçamento é algo que está presente no texto (programa) e age sobre os espectadores imaginados e reais. No trabalho desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa de Análise de Telejornais da Universidade Federal da Bahia, que gerou o livro “Gêneros Televisivos e Modos de Endereçamento no Telejornalismo”, Itania Gomes faz referência a Williams (apud GOMES, 2011, p. 36) para ressaltar que a estruturação do modo de endereçamento vai se dar de acordo com as características de cada meio, “tanto no que se refere ao suporte quanto às formas culturais”.

Os critérios estabelecidos para analisar o modo de endereçamento, chamado de operadores, foram estabelecidos por John Hartley (2001, apud GOMES, 2005, p. 3) e se resumem da seguinte forma: o mediador, aquele profissional que atua como elo de ligação entre os telespectadores e o mundo da notícia e do broadcast; a voz do povo, que se refere as entrevistas com populares, também conhecida no Brasil como enquente ou “fala povo”, realizadas para repercutir assuntos tratados no programa; a entrevista investigativa, cujo maior efeito é o de legitimar a imprensa no papel de guardiã da sociedade.

De acordo com Gomes (2011), somente os elementos próprios da linguagem televisiva (recursos de filmagem, edição e montagem de imagens e som, infográficos, mapas do tempo, vinhetas, telões e cenários virtuais) associados aos elementos verbais (aqueles usados pelo mediador para construir a credibilidade) não eram suficientes para compreender as estratégias do modo de endereçamento, por isso a necessidade de criar novos operadores que estabeleçam a articulação entre todos os elementos, inclusive os sociais, ideológicos e culturais. A autora também destaca a diversificação de formatos de programas jornalísticos, assim como a hibridização de gêneros para propor os novos critérios de endereçamento. Na sequência, destacamos alguns operadores que ajudarão a analisar o objeto de estudo dessa pesquisa.

  apresentador, também chamado de “âncora”, que vai fazer a ligação dos telespectadores e dos demais jornalistas que participam da atração.

b) TEMÁTICA – podemos dizer que a partir da organização das editorias e também de uma proximidade com audiência o programa atende os interesses e competências do telespectador.

c) PACTO DO PAPEL DO JORNALISMO - a relação entre programa e telespectador é regulada, com uma série de acordos tácitos, por um pacto sobre o papel do jornalismo na sociedade. É esse pacto que dirá ao telespectador o que deve esperar ver no programa. Para compreensão do pacto é fundamental a análise de como o programa constrói as ideias de verdade e relevância da notícia, com quais valores-notícia de referência opera, como lida com a questão da responsabilidade social, do direito público à informação e da liberdade de expressão e de opinião.

d) CONTEXTO COMUNICATIVO – compreende tanto o emissor, quanto o receptor e mais as circunstâncias espaciais e temporais em que o processo comunicativo se dá. Podemos considerar ainda que são os modos como as emissoras se apresentam para os receptores. Um exemplo que facilita a compreensão desse operador é a frase usada com frequência por apresentadores da Rede Globo. Em geral eles se referem à audiência da seguinte maneira: “Olá, amigos da Rede Globo”. Também podemos considerar os slogans usados pelas emissoras para identificar suas programações: “nunca desliga” (GloboNews), “a gente se liga em você” (Rede Globo) e “olho na tela, olho na Band” (Rede Bandeirantes).

e) RECURSOS TÉCNICOS – é o modo como as emissoras lidam com as tecnologias de imagem e som que são colocadas a serviço do jornalismo. É o modo como exibem para o telespectador o trabalho necessário para fazer a notícia. A exibição das redações como pano de fundo para a bancada dos apresentadores, na maior parte dos telejornais atuais é apenas uma dessas estratégias de construção de credibilidade e, ao mesmo tempo, de aproximação do telespectador, que se torna, assim, cúmplice do trabalho de produção jornalística. Mas as transmissões ao vivo ainda são o melhor exemplo do modo como os programas buscam o reconhecimento da autenticidade de sua cobertura por parte da audiência. Redes internacionais como a CNN e a BBC são exemplares nesse sentido. Infográficos, mapas do tempo, vinhetas, telões e cenários virtuais

  formam o conjunto dos recursos técnicos que, para além de credibilidade, dão agilidade e ajudam a construir a identidade dos programas e das emissoras.

f) RECURSOS DA LINGUAGEM TELEVISIVA - são os recursos de filmagem, edição e montagem de imagem e de som empregados pelos programas jornalísticos.

g) FORMATOS DE APRESENTAÇÃO DE NOTÍCIAS – os formatos de apresentação da notícia dão importantes pistas sobre o tipo de jornalismo realizado pelos programas e, em certa medida, deixam transparecer o investimento da emissora na produção da notícia.

h) RELAÇÃO COM AS FONTES DE INFORMAÇÃO – existem, fundamentalmente, dois tipos de fontes nos programas jornalísticos: a autoridade (especialista) e o cidadão comum. Na maioria dos programas brasileiros a fonte oficial é tratada de modo a transferir sua credibilidade para o programa, como sendo a voz autorizada a falar sobre determinado tema. O cidadão comum aparece de três modos básicos nos programas jornalísticos: quando ele é afetado pelas notícias; quando ele próprio se transforma em notícia, seja nos fait divers, seja nas humanizações do relato; ou quando ele autentica a cobertura noticiosa e é tratado como vox populi.

i) TEXTO VERBAL – a análise do texto verbal revela as estratégias empregadas pelos mediadores para construir as notícias, interpelar diretamente a audiência e construir credibilidade.

A partir do conhecimento desses operadores de modos de endereçamento de telejornalismo ficará mais fácil identificar as estratégias usadas pelas emissoras, sejam abertas ou fechadas, para atrair a audiência do campo.