• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I – AS ABORDAGENS SOBRE A NATUREZA E AS UNIDADES DE

1.2 GÊNESE DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

1.2 GÊNESE DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DAS UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO

A criação de áreas protegidas, conforme Diegues (2001), nasceu de um processo de revalorização da vida selvagem, no início do século XIX, principalmente nos Estados Unidos, em resposta à sua desvalorização em função do enaltecimento da vida “civilizada” nas cidades, contrapondo-se à vida “rústica” no campo, posteriormente à revolução industrial. Conforme o autor, a preocupação com a criação destas áreas surgiu, especificamente nos Estados Unidos, após o Decreto do Homestead Act de 1862, segundo o qual qualquer cidadão norte-americano poderia requerer a propriedade de até 70 ha de terra devoluta que tenha cultivado. Com isso, em pouco tempo, houve uma transformação radical dos espaços naturais ainda pouco transformados para áreas de expansão da agricultura moderna e da indústria (DIEGUES, 2001).

Diegues (2001) identificou três vertentes nos movimentos conservacionistas, em fins de século XIX: uma mais preocupada com a estética; uma segunda mais voltada para o uso adequado dos recursos naturais como instrumento de democracia e; uma terceira que associava estética e amenização das pressões psicológicas sofridas pelos habitantes das regiões urbanas. O autor analisou tais vertentes a partir das obras de diversos outros estudiosos que discutiram o tema ao longo do século XX. Contudo, sua grande crítica se deu ao fato de que todas as vertentes analisadas defendiam a Natureza intocada ou selvagem, à custa da expulsão das comunidades tradicionais que habitavam as áreas que passaram a ser protegidas, sob o pretexto de degradação dos recursos naturais.

Assim, para Diegues (2001), a criação de parques, naquele período, “[...] propunha reservarem- se grandes áreas naturais, subtraindo-as à expansão agrícola e colocando-as à disposição das populações urbanas para fins de recreação.” (p. 24). O autor ressaltou o papel dos autores românticos neste processo, nos séculos XVIII e XIX, em tratarem a “Natureza selvagem” como:

[...] o lugar da descoberta da alma humana, do imaginário do paraíso perdido da inocência infantil, do refúgio e da intimidade, da beleza e do sublime. [...]

Essas idéias [sic], sobretudo a dos românticos do século XIX, tiveram, portanto, grande influência na criação de áreas naturais protegidas, consideradas como "ilhas" de grande beleza e valor estético que conduziam o ser humano à meditação das maravilhas da Natureza intocada. (DIEGUES, 2001, p. 24)

Assim, a necessidade de aproximação com a Natureza se criou a partir de sua ausência no cotidiano das pessoas. Ausência esta causada pelo modo de vida industrial. Deste modo, as imagens criadas pela poesia, no imaginário dos indivíduos, produzem desejos pelo que lhes é excepcional. Tratava-se, portanto, de imaginar que espaços de deleite, espaços de encantamento, poderiam ser trazidos para dentro da cidade, tornando-se, assim, íntimos dos moradores das áreas urbanizadas15 (HEIDEGGER, 2012).

Foi neste contexto que o primeiro parque do mundo, com objetivos claros de preservação dos

recursos naturais, foi institucionalizado em março de 1872, pelo Congresso dos Estados

Unidos: o Parque Nacional Yellowstone, localizado nos estados de Wyoming, Montana e Idaho. Contudo, segundo Diegues (2001), sua área abrangia territórios habitados por povos indígenas das etnias Crow, Blackfeet e Shoshone-Bannock, os quais não permaneceram na região, para garantir a “preservação da vida selvagem”. A partir de então, este modelo de área protegida passou a ser replicado no mundo inteiro, com Parques Nacionais no Canadá (1885), Nova Zelândia (1894), na África do Sul e na Austrália (1898); e com Reservas Florestais no México (1894), na Argentina (1903), no Chile (1926) e no Brasil (1937).

Antes disso, no entanto, há registros de que outras áreas protegidas já haviam sido criadas: a primeira na Rússia, em 1819, o Parque Donskoj Rybny Zapovednik; seguida de cerca de mais oitocentas áreas, até chegar-se à primeira criada no Brasil, em 1914, a Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba (DEGUIGNET et al., 2014). Estas áreas corresponderiam, respectivamente, a um Parque Nacional e a uma Reserva Biológica conforme correspondência entre as categorias da Base de Dados Mundial sobre Áreas Protegidas (em inglês WDPA) e o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)16.

Para Medeiros, Irving e Garay (2004), no Brasil, o estabelecimento de áreas protegidas foi um fenômeno eminentemente republicano, tendo sido identificadas poucas ações neste sentido nos períodos colonial e imperial. Instrumentos como as “Ordenações Manuelinas” de 1542 e o “Regimento do Pau-Brasil” de 1605, são citados pela literatura referente à legislação brasileira como normas que tinham objetivos econômicos, visando coibir apenas o uso dos recursos naturais por indivíduos não autorizados pela coroa portuguesa. Já as “Ordenações Filipinas” de 1603 e as “Cartas Régias” de 1797 faziam referências às especificidades da fauna e da flora brasileiras figurando como instrumentos de proteção ambiental mais emblemáticos do período

15 Reflexões desevolvidas no âmbito da disciplina Fenomenologia da Paisagem, oferecida pelo professor Angelo Serpa, no

Programa de Pós-graduação em Geografia, no semestre 2013.2, em relatório elaborado com a discente Luciana Carpaneda.

colonial. No período imperial, por sua vez, em meados do século XIX, D. Pedro II ordenou a desapropriação e o replantio da área desmatada das florestas da Tijuca e das Paineiras, com vistas à reversão do processo de comprometimento dos recursos hídricos que abasteciam a cidade do Rio de Janeiro (MEDEIROS, 2006).

Apenas em 1876, se iniciaram discussões mais sistemáticas para a criação dos parques brasileiros, com o surgimento de duas propostas, não concretizadas: Sete Quedas, no município de Guaíra (MS), e Ilha do Bananal, entre os municípios de Formoso do Araguaia, Lagoa da Confusão e Pium (TO). Em 1896 foi criado o Parque Estadual de São Paulo, com a finalidade de proteger massas vegetais. Foi, também, inspirada na elaboração do “Mapa Florestal do Brasil”, em 1911, que uma série de decretos federais foi publicada, instituindo a criação de diversos parques nacionais. Contudo, foram instrumentos que caíram no esquecimento e nunca chegaram a ser postos em prática (MEDEIROS, 2006).

A institucionalização de instrumentos de preservação/conservação ambiental veio a tomar uma forma mais concreta com a aprovação do Decreto Federal nº 23.793, de 23 de janeiro de 1934, que dispunha sobre o primeiro Código Florestal e o Decreto Federal nº 24.643, de 10 de julho de 1934, que dispunha sobre o Código das Águas. O Código Florestal tratava das florestas e demais formas de vegetação, bem como as terras que revestiam, como espaços de interesse comum de todos os habitantes do Brasil, limitando, assim, o exercício do direito à propriedade (BRASIL, 1934a; 1934b). O Decreto nº 23.793/1934 foi revogado pela Lei Federal nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, que instituiu o novo Código Florestal, e passou a considerar ações e omissões contrárias a suas disposições, como “uso nocivo da propriedade” – ou seja, abuso do direito à propriedade, por meio de ações que extrapolam a órbita dominial –, prevendo, ainda, sanções estabelecidas no Código de Processo Civil (BRASIL, 1965).

Entre o primeiro Código Florestal em 1934 e sua revisão datada de 1965, foi criado, o Parque Nacional de Paulo Afonso, Decreto Federal nº 25.865, de 24 de novembro de 1948, abrangendo áreas públicas e particulares dos estados de Pernambuco, Bahia e Alagoas. Sua administração se daria por servidores lotados no Serviço Florestal do Ministério da Agricultura, os quais tinham por função estabelecer e executar um regime especial de gestão para a flora, para a fauna e para as belezas naturais das áreas constitutivas do parque, e de aproveitamento da energia hidráulica da cachoeira de Paulo Afonso. Sua criação foi revogada pelo Decreto-Lei Federal nº 605, de 2 de junho de 1969, a fim de ceder todo o seu território para a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), para fins apenas de produção de energia (BRASIL, 1948; 1969).

O primeiro Código Florestal pode ser considerado o precursor do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), no tocante a instrumentos legais, na medida em que categorizou as florestas em quatro tipos (protetoras; remanescentes; modelo e; de rendimento); estabeleceu que os Parques, nos três níveis de governo, constituiriam monumentos públicos naturais; definiu diretrizes para a exploração das florestas em propriedades privadas e de domínio público e; determinou a criação de um fundo, sob a responsabilidade do Ministério da Agricultura e de um conselho gestor para as florestas brasileiras (BRASIL, 1934a).

As ideias, porém, que embasaram a criação do SNUC passaram a ser alvo de análises mais detalhadas, em 1952, com o lançamento do livro “Parques Nacionais do Brasil”, de Wanderbilt Duarte de Barros. Na sequência, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) lançou, em 1970, a publicação “Políticas e Diretrizes dos Parques Nacionais do Brasil” (PÁDUA, 2015). Aberto um processo de discussões, o IBDF e a ONU publicaram o estudo “Uma Análise de Prioridades em Conservação da Natureza na Amazônia”, concluído em 1976 e que culminou na apresentação do estudo intitulado “Plano do Sistema de Unidades de Conservação do Brasil”, elaborado pelo IBDF e pela Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN), em 1979 (MERCADANTE, 2001).

Foi a partir de uma versão revisada do Plano do Sistema de Unidades de Conservação do Brasil, datada de 1982, que utilizou-se a “[...] terminologia Unidades de Conservação para designar o conjunto de áreas protegidas que seriam contempladas pelo sistema [...].” (MEDEIROS, 2006, p. 56). Nesse sentido:

Os objetivos do Plano eram identificar as áreas mais importantes para a conservação da natureza, propor a criação de UCs para protege-las [sic] e indicar as ações necessárias para implementar, manter e gerir o sistema. Para alcançar estes objetivos, propunha-se a ampliação do número de categorias de UC então legalmente estabelecidas. (MERCADANTE, 2001, n. p.).

Verifica-se, então que as discussões sobre a criação de áreas protegidas, no Brasil, ocorreram concomitantemente com a criação destas17, mesmo antes do Projeto de Lei (PL) nº 2.892/1992, que originou o SNUC, ter sido encaminhado ao Congresso Nacional. Contudo, foi a partir da década de 1990, que houve intensificação da institucionalização destas áreas. Entre os fatores que contribuíram para isso estão: os avanços no aparato legal, o surgimento de novas categorias para abarcar áreas com características diferentes e, principalmente, o fato da conservação ambiental ter sido reconhecida como um dos maiores desafios da contemporaneidade, após a

17 Ver Anexo A, contendo principais instrumentos de criação de áreas protegidas entre 1934 e 1984, identificados por Medeiros

Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio-92 (MEDEIROS, 2003; 2006).

Quadro 1.1 – Categorias de Unidades de Conservação propostas nos documentos institucionais anteriores à aprovação do SNUC

PERÍODO/ DOCUMENTO CATEGORIAS ATÉ 1976 – CATEGORIAS

EXISTENTES

Uso Indireto: Parque Nacional; Reserva Biológica; Estação Ecológica

Uso Direto: Floresta Nacional; Parque de Caça

1979/1982 – CATEGORIAS PROPOSTAS PELO PLANO DO SISTEMA DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Parque Nacional; Reserva Biológica; Estação Ecológica; Floresta Nacional; Parque de Caça; Monumento Natural; Santuário ou Refúgio de Vida Silvestre; Parque Natural; Reserva de Fauna; Reserva Indígena; Monumento Cultural; Reserva da Biosfera; Reserva do Patrimônio Mundial

1989 – PL SNUC Proteção Integral: Reserva Ecológica; Parque Nacional; Monumento Nacional; Refúgio da Vida Silvestre

Manejo Provisório: Reserva de Recursos Naturais

Manejo Sustentável: Reserva de Fauna; Área de Proteção Ambiental; Floresta Nacional; Reserva Extrativista

Fonte: Pádua (2015); Milano (2015). Elaboração própria.

Em 1988, o IBDF contratou junto à Fundação Pró-Natureza (Funatura), um estudo sobre as categorias de conservação existentes no Brasil e um anteprojeto de lei visando à criação do sistema nacional. Os documentos foram concluídos em 1989 e entregues ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) – órgão que sucedeu o IBDF (MEDEIROS, 2006). Além da classificação das UCs em três grupos e nove categorias, o anteprojeto constituiu critérios para sua criação e gestão e “[...] criminalizava o dano às áreas protegidas, estabelecendo pena de dois a seis anos de reclusão.” (MERCADANTE, 2001, n. p.).

Posteriormente à discussão no Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em 1992, o Projeto de Lei nº 2.892/92 entrou em tramitação na Câmara dos Deputados. Entre os anos de 1993 e 1996, recebeu dois substitutivos por motivos que iam desde a estrutura de algumas categorias até a inconstitucionalidade de alguns dispositivos. Já o período entre 1997 e 1999 foi marcado pela mobilização, por uma iniciativa do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento Sustentável, de diversas entidades da sociedade civil no sentido de pressionar a inserção do PL na pauta de votação do Congresso Nacional (MERCADANTE, 2001).

A aprovação do PL, na Câmara, veio a ocorrer em junho de 1999, e encaminhado ao Senado, onde foram negociados três vetos presidenciais antes de sua aprovação, referentes a: definição de população tradicional; exploração de recursos naturais em RPPN e; reclassificação e reassentamento de populações tradicionais habitantes em UCs de Proteção Integral. No Congresso, sua aprovação se deu em 20 de junho de 2000, tendo sido sancionada a Lei em 19 de julho do mesmo ano (MERCADANTE, 2001).

Após oito anos de discussões, no Congresso Nacional, foi aprovada a Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000, que dispõe sobre o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), regulamentando o Art. 225 da Constituição Federal de 1988, que dispunha sobre o Meio Ambiente18, e definindo as diretrizes nacionais de proteção, preservação e recuperação dos recursos ambientais, da fauna e da flora brasileiros. Para tanto, o SNUC estabeleceu responsabilidades no tocante à gestão de áreas de valor ambiental nos níveis nacional, estadual e municipal, concebendo dois grupos de Unidades de Conservação: as Unidades de Proteção Integral; e as Unidades de Uso Sustentável (BRASIL, 2000).

Considera-se, para fins desta pesquisa, o conceito de Unidades de Conservação estabelecido no inciso I do Art. 2º da Lei Federal nº 9.985/2000:

[…] espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção. (BRASIL, 2000, n. p.).

As Unidades de Conservação são um tipo de áreas protegidas, mas diferem destas pelo seu maior grau de abrangência. De acordo com Medeiros (2006), as segundas não se restringem apenas aos aspectos físicos do território delimitado, mas incluem recursos culturais associados, a exemplo de reservas indígenas, remanescentes de quilombolas, comunidades pesqueiras, entre outras.

O Quadro 1.2, elaborado por Medeiros (2006), apresenta a evolução dos principais instrumentos de criação de áreas protegidas no Brasil, indicando todos os instrumentos criados em períodos anteriores, mas que ainda se encontram vigentes, e os novos instrumentos que substituíram ou

18 Vale ressaltar que a questão ambiental passou a ser tratada pela Constituição Federal, a partir de 1934 – meses após à

promulgação do primeiro Código Florestal –, quando a exploração das florestas, e de outros recursos como minérios e águas, passaram a ser entendidos como bens da União – ente federativo com competência para legislar e fiscalizar tais bens. Aos estados, conforme as constituições de 1934 e 1937, competia legislar e fiscalizar suplementarmente, em caso de não haver instrumento federal previsto para esta finalidade. Entretanto, nas constituições de 1946 e 1967, apenas a União aparece como ente competente na matéria (BRASIL, 1891; 1934a; 1934b; 1937; 1946; 1967; 1988).

incorporaram objetivos e/ou funções de seus antecessores, até a década de 2000, ao qual incorporou-se a informação sobre o novo Código Florestal aprovado em 2012.

Entre 1934 e 1964, os códigos Florestal e de Caça e Pesca, estabeleceram as tipologias de florestas e parques com funções de proteção da biodiversidade e de refúgio e criação de animais silvestres. Entre 1965 e 1999, foram incorporados instrumentos legais que previam parques para a caça; territórios indígenas; reservas da biosfera e sítios Ramsar –áreas úmidas alvos de acordos de cooperação entre países e outros espaços com importância reconhecida internacionalmente; Reservas Particulares do Patrimônio Nacional (RPPNs); bem como instituíram as Áreas de Proteção Permanente (APPs), que não deveriam ser passíveis de ocupação, e as Áreas de Proteção Ambiental (APAs), cuja ocupação deve ser controlada de acordo com parâmetros urbanísticos compatíveis com a fragilidade da área. Já a partir de 2000 os espaços passaram a seguir a metodologia definida pelo SNUC, o que separaria quais áreas protegidas faziam parte do sistema nacional e quais seriam reguladas por legislação própria – como no caso das Reservas Indígenas ou dos Territórios Remanescentes de Comunidades Quilombolas.

Esses instrumentos foram criados para gerir as UCs brasileiras, mas não garantiram uma estrutura capaz de pôr em prática o que existia no papel. Mesmo o SNUC, logo após sua aprovação, além de não ter evitado extinções ou perdas de áreas, não previa a capacitação para os técnicos que atuavam nas áreas. Apenas com a aprovação do Decreto Federal nº 4.340/2002 foram definidos alguns instrumentos para a gestão das UCs, como: zoneamento, Plano de Manejo, Conselho, diretrizes para gestão compartilhada, exploração de bens e serviços, compensação por impacto relevante, reassentamento de comunidades tradicionais, e reavaliação de categorias não previstas no SNUC (BRASIL, 2002).

55

PERÍODO INSTRUMENTOS INCORPORADOSINSTRUMENTOS TIPOLOGIAS CATEGORIAS

De 1934 até 1964

Código Florestal (Dec. 23.793/1934)

Código de Caça e Pesca

(Dec.23.793/1934) -

Floresta Protetora; Floresta Remanescente; Floresta de Rendimento; Floresta Modelo Parques de Criação e Refúgio de Animais

Parque Nacional; Floresta Nacional; Reserva de Proteção Biológica ou Estética

Parque de Reserva, Refúgio e Criação de Animais

Silvestres

De 1965 até 1999

Novo Código Florestal (Lei 4.771/1965)

Código Florestal (Dec. 23793/1934)

Parque Nacional; Floresta Nacional; Área de Preservação Permanente;

Reserva Legal

-

Lei de Proteção aos Animais (Lei 5197/1967)

Lei de Proteção aos Animais (Dec. 24.645/1934)

Reserva Biológica; Parque de

Caça Federal -

Programa MaB, 1970 (Dec. 74.685/74 e Dec. Pres. 21/09/99)

Programa MaB, 1970 (Dec. 74.685/74 e Dec. Pres. 21/09/99)

Áreas de Reconhecimento Internacional

Reserva da Biosfera

Convenção sobre Zonas Úmidas, 1971 (promulgada pelo Dec. 1.905/96)

-

Áreas de Reconhecimento Internacional

Sítios Ramsar

Convenção Patrimônio Mundial, 1972 (promulgada

pelo Dec. 80.978/1977)

-

Áreas de Reconhecimento Internacional

Sítios do Patrimônio Mundial Natural

Estatuto do Índio (Lei nº 6.001 de 19/12/1973)

/-

Terras Indígenas Reserva Indígena, Parque

Indígena, Colônia Agrícola Indígena e Território Federal Indígena

Lei de Criação das Estações

Ecológicas (Lei 6.902/1981) -

Estação Ecológica

- Lei de Criação das Áreas de

Proteção Ambiental (Lei 6.902/1981)

-

Área de Proteção Ambiental

56

De 1965 até 1999

Decreto de Criação das Reservas

Ecológicas (Dec. 89.336/1984) -

Reserva Ecológica

- Lei de Criação das ARIE (Dec.

89.336/1984) -

Área de Relevante Interesse

Ecológico -

Lei de Criação das RPPN (Lei

1.922/1996) -

Reserva Particular do Patrimônio

Natural -

A partir de 2000

Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei 9.985/2000)

Lei de Proteção aos Animais (Lei 5.197/1967); Lei de Criação das Estações Ecológicas e APA (Lei 6.902/1981); Decreto de Criação das RESEC e ARIE (Dec. 89.336/1984); Lei de Criação das RPPN (Lei 1.922/1996); parte do Novo Código Florestal (Lei 4.771/1965)

Unidades de Proteção Integral (PI) e Unidades de Uso Sustentável (US)

PI: Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural; Refúgio de Vida Silvestre.

US: Área de Proteção Ambiental; Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Reserva de

Desenvolvimento

Sustentável; Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Novo Código Florestal (LEI Nº 12.651/2012)

Novo Código Florestal (Lei 4.771/1965)

Área de Preservação Permanente; Reserva Legal

Programa MaB, 1970 (Dec. 74.685/74 e Dec. Pres. 21/09/99)

Áreas de Reconhecimento Internacional

Reserva da Biosfera

Convenção sobre Zonas Úmidas, 1971 (promulgada pelo Dec. 1.905/96)

Áreas de Reconhecimento Internacional

Sítios Ramsar

Convenção Patrimônio Mundial, 1972 (promulgada pelo Dec. 80.978/1977)

Áreas de Reconhecimento Internacional

Sítios do Patrimônio Mundial Natural

Estatuto do Índio (Lei nº 6.001de 19/12/1973)

Terras Indígenas Reserva Indígena, Parque

Indígena, Colônia Agrícola Indígena e Território Federal Indígena

O planejamento e a gestão das Unidades de Conservação no Brasil, hoje, são regulados por três instrumentos legais federais, e suas alterações posteriores: a Constituição Federal de 1988, que deu, em seu Art. 225, aos estados e aos municípios competência para planejar a criação de Unidades de Conservação; a Lei nº 9.985/2000 que instituiu o SNUC, e as atribuições de localizar e delimitar adequadamente, conforme estudos específicos e consulta pública prévios, e de criar áreas de amortecimento para todas as UCs, à exceção das APA e RPPN e; o Decreto 4.340/2002, que definiu instrumentos básicos de gestão das Unidades de Conservação.

No âmbito do estado da Bahia, a preocupação com a institucionalização de áreas protegidas data dos anos 1969/1970, pela Companhia Municipal de Água e Esgoto (COMAE), com a delimitação de uma área verde preservada, de cem metros, a partir das margens da Lagoa de Pituaçu. O espaço foi transformado em área de utilidade pública, pelo Decreto Estadual nº 23.666, de 4 de setembro de 1973, devido aos seus aspectos físicos favoráveis à execução de programas de lazer (BAHIA, 1973, Art. 1º).

O Decreto Estadual nº 24.643, de 28 de fevereiro de 1975, dentro do Programa Estadual de Proteção à Natureza (PRONATUR), que por sua vez estava vinculado a um plano de desenvolvimento da atividade turística no litoral da Bahia, estabeleceu dezessete áreas de utilidade pública para fins de desapropriação, com vistas à criação de parques florestais e reservas ecológicas (BAHIA, 1975). Na Região Metropolitana de Salvador, foram os ‘Parques Florestais e Reservas Ecológicas’ da Ilha dos Frades, de Capivara, de Garcia d’Ávila e de Itaparica. Delas, apenas Capivara foi institucionalizada como Área de Proteção Ambiental.