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Os aspectos conceituais da economia regional têm por característica a interdis- ciplinaridade dos conceitos de espaço, território e região, além de entender como isso afeta os estudos sobre desenvolvimento de um determinado território sobre o ponto de vista econômico. Alentejano (2000, p.10), afirma que em termos geográficos a ideia de espaço “é visto como geométrico, um conjunto de pontos e distâncias [...], uma noção”, como na teoria dos anéis concêntricos de Von Thünen (1966), na hierarquia de lugares centrais, a famosa teoria de Christaller (1966) ou ainda, como na teoria da localização de

Weber (1969). O que difere da ideia da Breitbach(1988), quando esta enfatiza a relação entre região e espaço, concebendo a ideia de espaço como algo já dado, algo existente, equivalente a noção empírica. Além da imagem de que o espaço é necessariamente social2.

Já a discussão sobre território como categoria geográfica identifica relações de poder. Raffestin (1993) e Alentejano (2000) afirmam que, embora sejam múltiplas as definições, a ideia de território como um espaço onde se projetou um trabalho, por consequência, revela relações marcadas pelo poder3. Ressalta-se que o espaço é anterior ao

território, ou seja, o território se forma a partir do espaço, sob uma ação conduzida de um ator, em qualquer nível, cujo este “territorializa” o espaço (RAFFESTIN,1993).

No que concerne ao termo região, há duas distintas formas de conceituação. A primeira enfatiza a identidade e a outra dá importância a diferença. Alentejano (2000) considera uma nova e profícua reconceituação da região, e que esta terá que passar necessariamente pela superação dessa falsa oposição. Outro ponto a destacar é que há um debate entre dois caminhos: i) a busca de um novo conceito de região, incorporando às novas formulações do campo das ciências econômicas e sociais; ii) à busca de conceitos alternativos ao de região, entre os quais destaca-se a noção de lugar e a associação local/global via redes.

Por definição, o conceito de economia regional é inseparável do conceito de região. A região passa a ser vista como um produto real. De início, passa-se gradualmente da noção de região natural à noção de região econômica. Assiste-se, em seguida, a uma renovação de ideias sob a inspiração dos economistas espaciais e com o impulso da “Nova Geografia”, com fito de explicar os fenômenos regionais, construído dentro de um quadro de solidariedade territorial. Refuta-se, assim, a regionalização e à análise regional, como classificação a partir de critérios externos a vida regional. Para compreender a região é preciso entender a realidade da região enquanto categoria do espaço (BREITBACH, 1988; 2 De acordo com Breitbach(1988), há uma diferença entre espaço construído e espaço natural. Na

qual a ideia de um “espaço construído”, isto é, produzido pelo homem em oposição a um “espaço natural”, alheio a qualquer tipo de prática social, não tem viabilidade em nosso contexto teórico (alheio a qualquer pratica social).

3 ParaRaffestin(1993) o espaço é a “prisão original” e o território é a prisão que os homens constroem para si.

BENKO, 1999; ALENTEJANO, 2000).

No bojo de atuações, a economia regional emprega diversas formas de combinações de investigações empíricas e/ou analíticas. Isard (1956), considerado por muitos o “pai” da Economia Regional, apresenta uma definição empírica mais clara e precisa de uma abordagem mais pluridisciplinar para um objeto regional, cuja única especificidade é corresponder ao quadro de percepção de um problema social.

Ao investigar as causas da riqueza regional e os motivos inerentes à formação do espaço econômico a partir das ações de aglomerações de atividades produtivas, conforme os estudos de Perroux(1955), Myrdal(1957), Boudeville(1970) e Isard(1972), tem-se em consideração importantes teorias nesse espectro. SegundoPereira (2008), possivelmente, devido à influência marshalliana, as teorias neoclássicas tradicionais reconheciam o papel das economias de aglomeração como fator de indução da localização das firmas, mas esse papel era sempre secundário frente aos demais indutores do processo de localização, principalmente referente ao fator custo dos transportes.

Nesse sentido, diversas são as teorias que embasam a dinâmica de desempenho econômico e as causas da sua disparidade no espaço regional. SegundoBreitbach (1988), dentro desse enfoque estão situadas a chamada Escola Alemã - composta pelos autores Von Thünen, Losch e Christaller -, a Escola Francesa - com Perroux e Boudeville -, e ainda a Escola Americana com a Teoria da Base Econômica de Exportação, fundamentada por North e a teoria de desenvolvimento desequilibrado de Albert Hirschman. Tais teorias de desempenho econômico regional partem tanto de uma perspectiva exógena, quanto endógena.

Nessa dissertação, foram utilizadas quatro teorias de desempenho econômico exógeno e uma teoria de desempenho econômico endógeno, uma vez que fortalecem o arcabouço teórico aqui proposto. As teorias do desempenho econômico exógeno, são: i) teoria dos Polos de Crescimento proposta por Perroux (1955); ii) a teoria de Causação Circular Cumulativa desenvolvida por Myrdal (1968); iii) teoria de desenvolvimento desequilibrado de Hirschman(1958) e; iv) a teoria de Base da Exportação elaborada por

North(1977). Já a teoria relacionada ao crescimento endógeno mostra fatores vocacionados internos para alcançar o desempenho econômico assim discutida porLucas (1988) eRomer

(1990).

A primeira teoria, a de Polos de Crescimento, foi fundamentada por Perroux. Essa teoria afirma que o desempenho econômico ocorre a partir de um local caracterizado como enclave e que se destaca das demais localidades contíguas. Onde, é a partir da instalação ou existência de uma indústria considerada como chave ou “motriz”, ocorre uma série de encadeamentos produtivos direcionados aos demais setores econômicos daquele conjunto econômico mesorregional (PERROUX, 1955).

Para Perroux, a aparição de uma indústria nova ou o crescimento de uma in- dústria existente se difunde, provoca e cria no longo prazo transformações que facilitam o surgimento de novas indústrias e a continuidade na difusão das inovações. Porém, o crescimento não ocorre em todos os lugares, mas em polos de desenvolvimento, variando a intensidade se expandem os efeitos para o resto da economia, além de modificar seu ambiente geográfico imediato e, se é poderoso, toda a estrutura da economia nacional a que integra.

Destaca-se que um polo industrial complexo, aglomerado geograficamente e em crescimento, intensificam-se as atividades econômicas, que geram também desajustes regionais no território. Perroux salienta que em uma economia nacional, o crescimento é fruto da combinação de elementos relativamente ativos (indústrias-motrizes, polos industriais e atividades geograficamente aglomeradas) e elementos relativamente passivos (indústrias decadentes e regiões dependentes de polos geograficamente aglomerados), com

os primeiros induzindo os segundos ao crescimento (PERROUX, 1955).

Quanto às disparidades econômicas regionais, Myrdal (1968) ressaltou que esse problema é consequência da concentração da atividade produtiva4. Que em determinadas

regiões se fortalecem, causando um efeito multiplicador do crescimento econômico, ou do conceito que é denominado de princípio da causação circular cumulativa ou progressiva ou princípio da cumulatividade. O qual gera efeitos positivos ou negativos no processo de desenvolvimento de uma determinada região.

Myrdal (1968) defende a ideia de que o equilíbrio não está relacionado diretamente na observação da vida social. Os processos sociais tendem a se apresentar sob a forma de causação circular, ou seja, reações causais em cadeia, cumulativamente, tendendo à concentração. A decisão econômica tem um papel fundamental, pois inicia uma ação cujo resultado final pode ser uma modificação estrutural. Myrdal parte do pressuposto de dois efeitos importantes: regressivos e propulsores. Os efeitos da decisão econômica podem ser regressivos (backwash effects) ou propulsores (spread effects)5.

Explicitando, pode-se afirmar que os países subdesenvolvidos se caracterizam pela fraqueza dos efeitos propulsores, criando ou ampliando desigualdades inter-regional nestes países. Caso o spread effects seja capaz de neutralizar o backwash effects será, assim, estimulado o progresso da região; caso contrário, eles serão mantidos, causando a 4 Normalmente atividades do setor secundário.

5 O efeito regressivo (backwash effects) em que mesmo havendo progresso, produção e riqueza em determinadas regiões, fazendo com que haja uma espécie de canalização de recursos para estas regiões. As quais normalmente ocorrem em detrimento das regiões menos desenvolvidas, mantendo um processo contínuo de desequilíbrio econômico regional. Já o efeito propulsor (spread effects), segundo o qual uma atividade industrial instalada em determinada região pode gerar um efeito multiplicador às demais regiões em sua proximidade. Isto é, uma espécie de transbordamento, uma vez que demandarão produtos de outros setores como o setor agrícola ou setor de serviços para fomentar a própria atividade industrial, estimulando o progresso técnico e, por consequência, o desempenho econômico regional.

continuidade da disparidade econômica regional (MYRDAL, 1968).

Hirschman (1961) propôs a teoria do crescimento desequilibrado. Onde a meta do desenvolvimento não seria acabar com os desequilíbrios, mas mantê-los, assim seriam as tensões e os próprios desequilíbrios que induziriam o desenvolvimento, por meio da sua contínua superação. Para tanto, às inversões deveriam ser induzidas para promover desenvolvimento, calculando-se os seus efeitos de transformação econômica. Tal como Myrdal, ele acreditava que existem dois tipos de cadeias de reação provocadas pela decisão de inversão: os efeitos de arrasto (backward linkage) e os efeitos de propulsão (forward linkage)6.

Para promover transformações estruturais de forma a prover o desenvolvimento seria necessário inserir os dois efeitos em cada caso concreto. Desse modo, torna-se possível planejar as decisões de inversão em função da capacidade de provocar transformações estruturais que favoreçam o desenvolvimento e a redução das disparidades no território (HIRSCHMAN, 1961). Uma das características ou peculiaridades mais marcantes das economias subdesenvolvidas seriam a ausência de interdependência e encadeamento das atividades produtivas (GAMA; BARACHO, 2014).

Por fim, no que diz respeito as teorias de desempenho econômico exógeno, a Teoria de Base da Exportação desenvolvida porNorth (1977), possui como fundamento o comércio exterior e tem por princípio específico que o desempenho econômico local e regional é função dos seus produtos de base exportadora. North (1977) afirma que quando essa produção ocorre por meio de um processo dinâmico, gerando maior especialização em seu setor produtivo, fornece uma vantagem competitiva. Isso propicia um excedente econômico capaz de induzir o desempenho das atividades “não-básicas” de caráter local ou regional, denominadas como complementares a atividade base as quais são direcionadas ao mercado local, dinamizando o desempenho econômico regional (SCHWARTZMAN, 1977).

No caso da teoria do desempenho econômico endógeno, a qual emergiu a partir dos anos de 1980, destacam-se os fatores internos regionais, os quais, quando integrados de modo conjunto e dinâmico, impactam sobre o processo de desenvolvimento. Essa teoria foi amplamente difundida por meio dos estudos de Lucas (1988) e Romer (1990), como meio alternativo às críticas de modelos neoclássicos de crescimento econômico que conjecturava que as mudanças tecnológicas eram determinadas de forma exógena, levando à conclusão pessimista que políticas de governo e mercado nada podiam fazer para aumentar o crescimento econômico no longo prazo7.

6 Segundo Gama e Baracho (2014, p.214) os efeitos de arrasto em consonância com o fato de toda atividade produtiva não primária criar certa demanda por insumos (matéria-prima, mão de obra, equipamentos, dentre outros) para abastecê-la e os efeitos de propulsão, no fato de que uma nova atividade produtiva pode significar insumos potenciais para novas atividades e empreendimento. 7 A teoria do crescimento endógeno sugere que a mudança tecnológica é uma resposta aos incentivos

No contexto dos desequilíbrios regionais, algumas teorias balizam tais questões, dentre elas, às principais são as teorias de convergência do desenvolvimento deWilliamson

(1965) e teoria do colonialismo interno explorada por Hind (1984). Que serão mais explanadas na seção seguinte.