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Os resultados mostram que quanto mais positiva é a Saúde Mental Global, maior é o consumo de álcool. O mesmo não se verifica com as dimensões depressão e ansiedade ou seja a maiores níveis de depressão e de ansiedade não se verifica o aumento do consumo de bebidas alcoólicas apesar de se verificar uma correlação significativa com outros comportamentos de risco.

Assim conclui-se pela rejeição da hipótese que relaciona os maiores consumos de bebidas alcoólicas com menores níveis de Saúde Mental Global e maiores níveis de Depressão e Ansiedade.

A literatura acerca da influência da área do curso frequentado sobre a saúde mental mostra que os estudantes dos cursos das áreas de Saúde apresentam menores níveis de bem-estar e maiores níveis de sintomatologia depressiva e de ansiedade (Santos, 2011). Para Turner et al (2007) estes resultados devem-se ao facto de o curso da área da Saúde serem,

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geralmente, muito exigentes, competitivos e indutores de stress, fazendo com que os estudantes da saúde sejam um dos grupos mais estuados e que maior atenção têm recebido por parte dos investigadores (Dahlin et al, 2005).

Por outro lado Savedra et al (2010) chama a atenção para o facto de cursos como as Engenharias serem maioritariamente frequentados por homens enquanto os da área da Saúde são maioritariamente frequentados por mulheres, não estando por isso isento da influência do género na diferenciação da saúde mental.

Se os cursos das áreas de saúde oferecem, de um modo geral, melhores perspectivas de futuro profissional que noutras áreas de formação (e.g. Letras, Ciências Sociais), os seus níveis de exigência são muito elevados, assim como o facto da matéria com que lidam (o ser humano) não permitir falhas nem uma menor responsabilização nos erros cometidos. Deste modo os níveis de envolvimento e desgaste físico e psíquico são bastante elevados o que poderá influenciar a própria saúde mental: muitas horas dedicadas ao estudo, às aulas e às práticas, o lidar com a doença e o sofrimento humano; a dificuldade muitas das vezes em dar resposta ao solicitado; a frustração na obtenção de resultados positivos de saúde; a competitividade interpares. São um conjunto de factores desgastantes, permanentes que não se verifica na maioria das outras áreas de formação e que, na maioria dos estudantes, impede de ter oportunidades ou disponibilidade para o desenvolvimento e manutenção de relações sociais ou afectivas ou, tão simplesmente, interesse noutras actividades mais lúdicas ou recreativas (Wolf, 2001).

Em relação ao Ano frequentado, o nosso estudo revela uma associação significativa mas pouco expressiva quanto à ansiedade mas sem relação com a saúde mental global e a depressão.

Estes resultados vão de encontro ao de outros autores como por exemplo Grayson e Cooper (2006) que indicam que os alunos de 1º Ano apresentam níveis de ansiedade um pouco mais elevados que os dos seus pares de anos posteriores uma vez que é o ano de entrada na universidade sendo por isso natural os problemas relacionais, desconfiança em relação aos outros, alguma timidez e solidão, até preocupações de natureza sexual. Estas dificuldades têm tendência para se desvanecerem à medida que avançam na vida académica.

Outro problema evidenciado por Kuh et al (2005) é que há uma maior preocupação e ansiedade nestes estudantes de 1º Ano para com as metodologias de ensino e aprendizagem, uma vez que no ensino superior são muito diferentes àquelas a que vêm habituados no ensino antecedente. Além da adaptação às exigências curriculares, para alguns estudantes o período da praxe académica também não ajuda a uma melhor e mais rápida integração e adaptação (ao contrário do que dizem as associações de estudantes e comissões de praxe) uma vez que as actividades de praxe exigem um esforço – físico e mental – maior por parte do estudante recém-entrado, o que lhe retira disponibilidade de tempo e possibilidade de concentração nas actividades lectivas, provocando-lhe estados de ansiedade.

Uma revisão da literatura mostra que a investigação é quase unânime no reconhecimento que os alunos do 1º Ano, no curso superior, são os que apresentam um maior risco para problemas que afectam o bem-estar psicológico (Diniz e Almeida, 2006) e em particular

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os estudantes do 1º Ano dos cursos das áreas das Ciências da Saúde (Omigbodun et al, 2006).

Para Santos (2011), globalmente são os alunos de 3º Ano que apresentam pior saúde mental, com mais sintomas depressivos, verificando-se diferenças entre os anos frequentados. Se alguns autores apontam o 1º Ano como o ano mais problemático, outras investigações, como a de Berwick et al (2010) indicam que os níveis de saúde mental e bem-estar psicológico diminuem ao longo do curso. De uma maneira geral é reconhecido que a saúde mental global ou as dimensões níveis de sintomatologia depressiva ou ansiosa, são influenciados pelo ano frequentado pelos estudantes do ensino superior, sejam do 1º ano por ser o ano de entrada para uma nova realidade, seja pela crescente complexidade ao longo do curso seja ainda por, o último ano, se caracterizar pelas incertezas quanto ao futuro, onde a preparação para uma carreira profissional é uma grande preocupação para o estudante universitário (desemprego, medo de não estar bem preparado, o assumir de responsabilidades) (Grant, 2002).

O nosso estudo revela, de novo, uma influência estatisticamente significativa mas ligeira para a Saúde Mental Global, Depressão e Ansiedade no que respeita ao género. O género masculino apresenta melhores níveis de saúde mental global, e menos níveis de sintomatologia depressiva e ansiedade que o género feminino.

Os resultados vão ao encontro de grande parte dos estudos revistos. Zahn-Waxler et al (2006) indicam, no seu estudo, haver uma maior incidência e prevalência de problemas de saúde mental no género feminino. O mesmo conclui um estudo do Alto Comissariado da Saúde (2008) que aponta os rapazes com maiores valores nas dimensões da saúde mental, e menores de depressão e ansiedade que os das raparigas. Estes resultados estão igualmente presentes noutras investigações com estudantes universitários em geral (Goldman e Wong, 1997) e em estudantes da área das Ciências da Saúde (Hojat et al, 1999).

Se os resultados no nosso estudo indicam uma diferença ligeira embora estatisticamente significativa, no estudo de Santos (2011) as diferenças foram mais claras em que, igualmente, as mulheres apresentam níveis mais baixos de saúde mental e maior sintomatologia depressiva e de ansiedade.

Outros estudos vão ao encontro destes resultados como sejam o de Nerdrum et al (2006) que encontraram maiores níveis de saúde mental nos homens ou os de Connell et al (2007) e Pereira et al (2009) cujos resultados atribuem maior sintomatologia depressiva e ansiedade nas mulheres.

Independentemente das razões Brougham et al (2009) referem que, efectivamente, homens e mulheres reagem de forma diferente às circunstâncias que os envolvem e que adoptam diferentes atitudes de confronto e resolução dos problemas.

No que respeita à Idade não encontrámos no estudo qualquer relação com a alteração da saúde mental ou à sintomatologia depressiva ou ansiosa.

Um estudo de Porta-Nova (2009) com estudantes universitários da área das Ciências da Saúde mostra, no entanto, que a maior idade está associada a melhor bem-estar

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psicológico e que os alunos mais novos têm maior risco de apresentarem problemas relacionados com a saúde mental.

Outros estudos estão na linha dos resultados e conclusões do nosso estudo, como os de Santos (2011) que conclui, no seu estudo, não haver uma correlação entre a Idade e a saúde mental ou os de Sayiner (2006) que também estudou a relação da idade com a saúde mental em estudantes universitários e não descortinou uma relação estatisticamente significativa.

Ao contrário do que seria esperado, o estar deslocado da sua residência (a maioria dos estudantes do nosso estudo) não representa ou tem relação estatisticamente significativa com problemas de saúde mental ou sintomatologia depressiva ou ansiosa.

Estes resultados estão de acordo com outros estudos como o de Santos (2011) que também não encontrou essa relação ou o de Porta-Nova (2009) cujos resultados mostram que os alunos deslocados na sua amostra não apresentam, em comparação com os não deslocados, uma percepção significativamente diferente nas dimensões da saúde mental. Os resultados do estudo de Ferreira (2009) também indicam não haver essa relação, concluindo que o processo de saída de casa é atenuado pela importante presença, ainda que não física, de retaguarda do suporte social como sejam a família, em especial dos pais e os dos amigos (Loureiro et al, 2008).

Para Seco et al (2007) os estudantes deslocados apresentam uma maior disponibilidade para criarem novas interacções e relações que os que não têm de se deslocar para estudar, privilegiando o contacto social com outras pessoas e grupos sendo, por isso, percepcionados como fontes de suporte social ou seja factor de protecção da saúde mental.

O consumo de bebidas alcoólicas nos estudantes universitários varia de acordo com o género, sendo o masculino o que apresenta um maior consumo estando em linha com o verificado na população geral (Harrell e Karim, 2008).

No que respeita ao Ano frequentado os resultados do nosso estudo parecem estar de acordo com alguns estudos que indicam que o maior consumo de bebidas alcoólicas se verifica mais nos 2ºs e 3ºs Anos (Santos, 2011).

Já com os estudantes deslocados os resultados estão de acordo com outros autores. No estudo de Santos (2011) os estudantes que saíram de casa para estudar consomem maior quantidade de bebida alcoólica que os estudantes que se mantiveram em casa. O mesmo refere estudo de Dworkin (2005) em que são os estudantes deslocados a apresentarem maiores consumos pois são aqueles que estando afastados da família – e, de certa forma, fora do seu controle e vigilância – não têm de justificar horários, comportamentos ou tomadas de decisões ou escolhas (Dinger e Waigandt, 1997).

Quanto à associação da sintomatologia depressiva e ansiosa com um maior consumo de álcool, ela não se verifica no nosso estudo nem é consensual nos estudos encontrados. Alguns investigadores como Wicki et al (2010) não encontraram uma correlação positiva entre os consumos e os sintomas depressivos e ansiosos, estando, isso sim, mais ligada ao género.

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Tal como noutros estudos, a associação de problemas de saúde mental com o consumo de álcool não se verifica nem é linear que seja. Read et al (2003) refere que muitos jovens ingerem bebidas alcoólicas mais por motivos celebrativos do que para lidar com a emotividade negativa. Os resultados de um outro estudo, de Kuntsche et al (2005), estão em linha com esta perspectiva uma vez que os resultados mostraram que a maioria dos estudantes universitários consomem bebidas alcoólicas por razões sociais e uma minoria o faz para lidar com emoções negativas como o stress ou tristeza. De um modo geral os estudantes universitários associam ao consumo de álcool expectativas positivas (e.g. prazer, confiança, bem-estar) (Albuquerque et al, 2010) ao ponto que quanto maior a positividade das expectativas maior o seu consumo (Amaral et al, 2006).

Por outro lado, segundo Beck et al (2008), os estudantes com problemas de saúde mental, sintomatologia depressiva ou ansiosa (em especial a ansiedade social) não se expõem tanto aos episódios de consumo de álcool, tendendo mais para o isolamento. Este conceito é defendido por McBroom et al (2008) num estudo efectuado com estudantes universitários do 1º Ano em que procurou perceber se haveria relação entre a solidão e o consumo de bebidas alcoólicas. Concluiu que à medida que a procura da solidão diminui, aumentava o consumo de álcool.

Dawson et al (2005) referem que os estudantes universitários raramente apresentam ansiedade ou perturbações depressivas associados ao consumo de bebidas alcoólicas, sugerindo que os episódios de consumo excessivo esporádico não seja típico de indivíduos com problemas de saúde mental. O que não quer dizer que, com este comportamento, mantido de forma prolongada, não venha a ter problemas futuramente, sendo para isso necessário estudos mais longitudinais para perceber se há ou não relação positiva e bidireccional entre o consumo de álcool e problemas de saúde mental como depressão e ansiedade (Marmorstein, 2009). Por fim é importante referir que alguns autores como Peele e Brodsky (2000) alertam que mesmo havendo uma associação entre o consumo de álcool (mesmo que moderado) e melhor saúde mental, é necessário cautela na atribuição de uma direccionalidade na relação ou estabelecer uma causalidade.

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