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2.1.5 Saúde Mental dos estudantes do Ensino Superior

Frequentar o ensino superior representa, para a maioria dos jovens, o alcançar de um objectivo conseguido com esforço e sacrifício mas não um fim em sim mesmo pois representa igualmente um período em que haverá um desenvolvimento pessoal e social

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(Tavares et al, 2007), o que implica uma série de desafios – formação da identidade, autonomia, estabelecimento de novas relações, integração no meio académico, pressão académica e parental, questões financeiras e de responsabilidades (Kadison e DiGeronimo, 2004).

A ida para a universidade representa ainda uma passagem para uma nova etapa o que implica sempre um período de maior stress e angústia no processo de adaptação e aceitação. Para muitos dos jovens estudantes os rituais de passagem e adaptação são superados de forma adequada e saudável, o que indicará um bom grau de resiliência (Santos, 2011). No entanto, a literatura indica que há uma percentagem significativa de jovens que transporta consigo um conjunto de dificuldades psicológicas, com relatos de estudantes do primeiro ano com problemas pré-existentes: problemas emocionais, dificuldades em lidar com o stress, ansiedade, dificuldades relacionais (Kitzrow, 2003; Cerchiari et al, 2005; Hynn et al, 2006; Eisenberg et al, 2009; Verger et al, 2009;). Guthman et al (2010) efectuaram um estudo em que encontraram uma percentagem elevada, de 30-40%, de estudantes com depressão grave e em que o aumento de casos graves de depressão e ansiedade poderia derivar de, cada vez mais, entrarem para a universidade estudantes com dificuldades de saúde mental pré-existentes.

Além do despiste destas situações pelos serviços de apoio, orientação e aconselhamento, é necessário que os estudantes universitários aprendam a lidar com o stress e com as situações conflituais. Num estudo de investigação longitudinal em jovens estudantes, a equipa de David Cassar, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Malta, estudou a saúde mental desses jovens (Royal College of Psychiatrists, 2011). O estudo envolveu 1333 alunos do primeiro ano de diferentes cursos, tendo os resultados mostrado que 51% dos estudantes apresentavam níveis considerados problemáticos de ansiedade ou de depressão; 31% apresentavam problemas alimentares (não necessariamente bulimia ou anorexia); 17% tinha problemas de abuso de álcool e 4% com drogas. Em síntese, Cassar referiu que os problemas de saúde mental influenciavam a forma como o estudante actua na universidade e que poderão originar problemas mais complexos por influência de diversos factores, incluindo o stress (Royal College of Psychiatrists, 2011).

Os problemas na saúde mental dos estudantes interferem com o amadurecimento psicossocial, vocacional e com o percurso académico, quer no rendimento escolar quer na taxa de desistência e abandono escolar (Rockwell e Talley, 1985).

Um inquérito realizado nos EUA (National Survey of Counseling Center Directors) em 350 instituições do ensino superior concluiu que na última década se verificou um aumento de problemas de abuso de álcool e uso de drogas ilícitas, problemas de aprendizagem, problemas alimentares e sexuais (O’Connor, 2001).

Idêntico resultado obteve um estudo efectuado no Reino Unido no âmbito da Association for University and College Counseling, que concluiu estarem a aumentar os problemas de saúde mental entre os seus estudantes englobando patologias psiquiátricas, perturbações do comportamento e dificuldades psicológicas e sociais (Monteiro et al, 2008).

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Em Portugal têm surgido, ainda que timidamente, estudos que salientam as dificuldades de ordem pessoal e emocional nos estudantes do ensino superior (Pereira e William, 2001; Pereira et al, 2006;). Um estudo de Tavares et al (1998) com 376 estudantes do primeiro ano de diversos cursos da Universidade de Aveiro revela que 70% dos estudantes refere apresentar problemas e entre 15 e 25% apresentam problemas relacionados com ansiedade, mal-estar e depressão.

Os serviços médicos da Universidade de Coimbra, com a sua consulta de Psicologia e Apoio Psicopedagógico, referem que os pedidos de ajuda mais comuns são: perturbações de ansiedade, depressão, problemas relacionados com métodos de estudo, dificuldades escolares, dificuldades de adaptação e problemas familiares (Pereira et al, 2006).

Apesar de alguns autores entenderem que este aumento de casos de perturbações psicológicas se deverem a uma diminuição do estigma associado aos problemas de saúde mental e, consequentemente, à maior procura e facilidade de acesso aos serviços de apoio, o facto é que há um aumento real das dificuldades psicológicas manifestadas pelos estudantes do ensino superior (RESADES, 2002).

Estudos epidemiológicos revelam que parte dos problemas causadores de morte ou morbilidade relacionam-se com estilos de vida onde se incluem os comportamentos de risco e comportamentos de saúde. Nestes comportamentos incluem-se os consumos de álcool, tabaco e drogas ilícitas, ausência de exercício físico, sedentarismo, alimentação desequilibrada, actividade sexual insegura, violência, condução perigosa (Sanmartin, 1988).

Verger et al (2008) num estudo sobre distress psicológico e factores de stress socioeconómicos e académicos em estudantes universitários de primeiro ano, concluíram haver uma prevalência intermédia de distress psicológico entre estudantes franceses e os estudantes universitários de outros países, assim como elação do distress psicológico com factores de stress académicos. No entanto não foi encontrada relação com factores socioeconómicos. Associaram ainda o distress psicológico com o aumento da ansiedade, depressão, abuso de substâncias e desordem da personalidade assim como baixo rendimento académico. Referem ainda que não são bem conhecidos os factores de risco para o distress psicológico em particular os que são especificamente relacionados com alterações das condições de vida ocorridos com a entrada na vida universitária.

Outros estudos revelam que os níveis de saúde mental nos estudantes universitários são inferiores aos da população em geral (Stewart-Brown et al, 2000) e tem-se verificado, através dos serviços de apoio e aconselhamento das instituições (RESAPES, 2002), um aumento da prevalência, da complexidade e da severidade das perturbações dos jovens estudantes universitários: ansiedade, sintomas depressivos, dificuldades na integração, problemas alimentares, baixo rendimento académico, insucesso e abandono escolar. Os problemas de saúde mental dos estudantes universitários representam um problema de saúde pública (Santos et al, 2010) uma vez que as suas consequências manifestam-se essencialmente em dois níveis: individual, em que o estudante vê afectado o seu funcionamento físico, emocional, cognitivo e académico (Vaez e Laflamm, 2008); institucional, porque as instituições de ensino superior são confrontadas com novos desafios – como promoção do sucesso académico e abandono escolar – e com a

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necessidade de apoiar, orientar e aconselhar os estudantes que apresentam perturbações na sua saúde mental (Stanley e Manthorpe, 2001).

Para Costa et al (2010) as perturbações mentais mais comuns nos estudantes universitários são a ansiedade, depressão, desordens somatoformes e ainda alguns sintomas como insónia, fadiga, irritabilidade, dificuldades de concentração. Para este autor, estas perturbações são igualmente consideradas um problema de saúde pública devido às restrições que podem causar assim como o agravamento do risco dos sintomas se não forem identificados atempadamente. São exemplos de sinais de alerta, uma marcada baixa de rendimento escolar, o aumento de absentismo, a verbalização ou alteração do comportamento consonantes com o aumento do sofrimento emocional em contextos que não seriam de esperar que tal ocorresse. O mesmo se passa quando surgem perturbações físicas que estarão desenquadradas do historial clínico do estudante.

Para Benton et al (2003) há uma crescente preocupação nos últimos anos com o aumento do número de estudantes que procuram os serviços de apoio e aconselhamento psicológico, verificando-se ainda um aumento acentuado da gravidade das patologias. O mesmo é referido por Gallagher (2006) em que 92% dos Centros de Apoio e Aconselhamento da AUCCCD (Association for University and College Counseling Center Directors) pesquisados afirmam verificar-se um aumento de problemas de saúde mental na população estudantil nos últimos anos. Nesse estudo, com a aplicação de um questionário aplicado a uma amostra aleatória a 94.806 estudantes de universidades públicas e privadas nos EUA os resultados revelaram que:

- 94 em 100 estudantes relataram sentirem-se sobrecarregados por tudo o que tinham de fazer; - 44 em 100 dos estudantes sentiram-se tão deprimidos que tinham dificuldade em funcionar; - 8 em100 dos estudantes relataram terem um transtorno depressivo;

- 12 em 100 dos estudantes relataram sofrerem de ansiedade;

- 9 em 100 dos estudantes relataram terem considerado o suicídio no último ano; - 1,3% dos estudantes fizeram tentativa de suicídio.

(AUCCCD, 2011)

Por outro lado Soet e Sevig (2006) mencionam num estudo numa universidade de Midwest (EUA) que 30% dos estudantes já tinham procurado apoio e que o questionário auto-diagnóstico dos estudantes mencionava: 20% com depressão; 6,1% com desordens alimentares; 5,9% com ansiedade; 4,2% com défice de atenção e hiperactividade; 3,4% com transtorno de stress pós-traumático; 3,2% com ansiedade social; 3,2% com transtorno obsessivo-compulsivo; 2,9% com abuso de substâncias; 2,9% com transtorno bipolar; 1,7% com transtorno psicótico.

Numa pesquisa longitudinal na Universidade de Kansas entre 1989 e 2002, os resultados revelaram que os estudantes observados por perturbações de ansiedade tinham duplicado, tinha triplicado o número de estudantes com depressão e com grave ideação ou intenção suicida (Benton et al, 2003).

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Santos (2011) apresenta dados provenientes das Consultas de Psicologia dos Serviços de Acção Social da Universidade de Aveiro e que apontam para problemas que considera poderem enquadrar-se num quadro clínico presente no DSM-IV-TR: depressão (11,6%); ataques de pânico (10,5%); ansiedade generalizada (7,4%); anorexia e bulimia (5,3%); perturbação da adaptação (5,3%).

Wong et al (2006) numa pesquisa em que aplicou um questionário via web (web-survey) a 28.773 estudantes de dez instituições de ensino superior de Hong Kong, tendo obtido 7.915 (27,5%) respostas, os resultados revelaram médias elevadas do DASS (Depression Anxiety Stress Scale), sugerindo que a amostra sofre mais de depressão, ansiedade e

stress que outras amostras populacionais – locais e internacionais.

A maioria dos estudos sobre estas temáticas, neste universo, tem em comum o facto de haver uma elevada percentagem de alunos com níveis significativos de sintomatologia psicopatológica. Mesmo tendo em conta que as diferentes circunstâncias e os diferentes instrumentos de cada estudo não permitem serem feitas comparações directas, o que parece ser mais evidente é que os valores do número de estudantes com problemas e com sintomatologia clinicamente significativa são relativamente elevados (entre 20 e 40 %) (Santos, 2011), sendo que os principais problemas mencionados são perturbações do humor, da ansiedade, perturbações alimentares, perturbações ligadas ao uso e abuso de álcool e de substâncias psicoactivas, esquizofrenia e automutilação (Royal College of Psychiatrics, 2003; Sharkin, 2006).

Por fim, Santos (2011) citando Kessler et al (1995), refere que 80 % dos estudantes diagnosticados com um problema na saúde mental abandonaram o seu percurso académico no ensino superior, o que torna este problema, no actual contexto do ensino superior, um tema actual e com necessidade de rápida intervenção.