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C APÍTULO 5  D ISCUSSÃO

5.2 Patient Health Questionnaire (PHQ-9)

O PHQ-9 é um instrumento utilizado como ferramenta para despiste da sintomatologia depressiva na população geral. Os nove itens que compõem a escala PHQ-9 são baseados nos critérios de diagnóstico para o distúrbio depressivo do DSM-IV. Para Li et al (2007) as duas primeiras questões do questionário servem para uma selecção inicial sobre a depressão ou seja se a resposta for afirmativa para essas duas questões prossegue-se com o restante questionário fazendo com que esta escala, na opinião do investigador, seja bastante eficiente para detectar níveis de depressão não diagnosticada em grandes grupos populacionais. No entanto reforça a ideia que se é uma boa ferramenta para identificar a sintomatologia depressiva não é indicada para fornecer um diagnóstico definitivo de depressão.

Esta escala, tendo em conta aquilo que se pretende com a sua aplicação, é mencionada como tendo diversas e úteis vantagens: é mais curta que outras escalas de avaliação de sintomas depressivos; pode ser administrada por um entrevistador ou auto-administrada; facilita o diagnóstico da depressão major; fornece a avaliação da gravidade dos sintomas; está bem documentada e validade numa grande variedade de populações (Hammash, 2013).

A última questão do PHQ-9 procura perceber, no indivíduo, qual a sua percepção geral sobre os danos ou prejuízos causados pelos sintomas relatados. Esta percepção pode ser útil para a tomada de decisão no que concerne a estabelecer um plano terapêutico em casos em que haja indícios de valores severos. O PHQ-9 é cotado de 0 a 3 cujo resultado final se situa entre o 0 e 27 com os pontos de corte nos valores 5, 10, 15 e 20 representando, respectivamente, leve, moderada, moderadamente severa e severa. Um ponto de corte de > 10 mostrou-se mais adequado para o rastreio da depressão com sensibilidade de 1,00, especificidade de 0,98, valor predictivo de 0,97, valor preditivo negativo de 1,00 e eficácia diagnóstica de 0,999 (Osório et al, 2008). Um score entre 0 e 4 indica ausência de sintomatologia depressiva ou mínima; entre 5 e 9 uma gravidade leve com indicação para repetir o PHQ-9, vigilância e acompanhamento; entre 10 e 14 gravidade moderada com indicação encaminhamento especializado, aconselhamento, farmacoterapia e plano de tratamento; entre 15 e 19 moderadamente severa com indicação para encaminhamento especializado, tratamento activo com farmacoterapia e psicoterapia; entre 20 e 27 severa com indicação para encaminhamento especializado, tratamento farmacológico e eventual internamento (Kroenke e Spitzer, 2002).

Diversos estudos, tanto nacionais como internacionais, utilizam como instrumento de rastreio da sintomatologia depressiva na população o PHQ-9.

Santos e Tavares (2013), num estudo com 447 participantes, o PHQ-9 mostrou-se apropriado para o rastreio de episódios depressivos major, com boa sensibilidade e boas propriedades diagnósticas embora recomendando que o diagnóstico definitivo só poderia ser confirmado pelo psiquiatra.

Mendes (2008) utilizou o PHQ-9 para estudar 185 mães e despistar sintomatologia depressiva, com o objectivo final de caracterizar os comportamentos das crianças cujas mães sofrem de depressão. Concluíram, além dos resultados obtidos, pela importância da adaptação e validação do PHQ-9 em diferentes populações, destacando a relevância do

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uso do instrumento no rastreio de perturbações mentais na área dos cuidados de saúde primários e em populações sem antecedentes psiquiátricos.

Num estudo de Bergerot et al (2014), compararam a psicométrica de três instrumentos (Escala de Ansiedade e Depressão [HADS]; Transtorno Geral de Ansiedade [GAD-7] e Questionário sobre Saúde do Paciente [PHQ-9]) em 200 pacientes com cancro diagnosticado, procurando avaliar os níveis de sintomatologia de ansiedade e depressão. Concluíram que o PHQ-9 se mostrou adequado para avaliar a depressão e sugeriam que os três instrumentos deveriam ser adoptados para a triagem, diagnóstico e monitorização de perturbações mentais em pacientes oncológicos.

Em sentido contrário Castro e Costa (2010), numa pesquisa de artigos publicados em revistas internacionais indexadas sobre a depressão pós-parto paterna e a sua influência na criança e na família, concluíram que a Edinburgh Postnatal Depression Scale (EDPS) é muito mais precisa e com uma eficácia diagnóstica superior que o PHQ-9 na detecção da depressão pós-parto.

A maior parte da literatura é, no entanto, unânime na classificação positiva do PHQ-9. Num estudo de Baader et al (2012) os autores procuraram a validação e a utilidade da aplicação do PHQ-9 para o diagnóstico da depressão em pacientes dos cuidados de saúde primários do Chile. Nas suas conclusões salientaram que o PHQ-9 é um instrumento que, além de permitir o rastreio de pacientes sobre as perturbações depressivas, definem o nível de gravidade das mesmas. Segundo os autores este instrumento de avaliação permite identificar com maior precisão os indivíduos com episódios depressivos, ajudando e melhorando, desta forma, uma avaliação clínica psicopatológica posterior efectuada pelo médico, separando-os dos casos falsos positivos.

Rosser et al (2013) efectuaram um estudo em que procuraram demonstrar a eficácia da intervenção dos farmacêuticos na identificação precoce de pacientes com depressão e que recorriam às farmácias em Cincinatti, EUA. Entre 2010 e 2011 aplicaram o PHQ-9 a 3726 utentes e identificaram 67 (1,8%) dos utentes com sintomatologia depressiva, concluindo pelo potencial na identificação e despiste precoce de indivíduos com sintomatologia depressiva no uso do PHQ-9 nas farmácias. Segundo estes autores os resultados obtidos confirmam os resultados obtidos num estudo similar de Bell et al (2005) em que defendiam que os serviços das farmácias comunitárias podem optimizar o recurso à medicação em doenças mentais.

Segundo o New Zealand Guidelines Group (NZGG) (2008) há todo o interesse e vantagem em iniciar um tratamento e supervisionar a resposta do indivíduo através da avaliação clínica e, em simultâneo, da utilização do PHQ-9 (Kroenle et al, 2001), considerando esta escala como um questionário mais robusto, mais rápido de aplicar e melhor aceite pelos utentes, recomendando por isso o seu uso como instrumento de despiste da depressão na população geral e nos utentes dos cuidados de saúde primários (Bryan et al, 2011)

Para Williams et al (2014) argumentando que os dados indicam haver um aumento da prevalência da depressão entre estudantes universitários, estudou a viabilidade e aceitação de um modelo de rastreio da sintomatologia depressiva através da internet em 972 estudantes utilizando o Skype e o PHQ-9. A conclusão a que chegaram é que as

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tecnologias actuais fornecem bons meios de rastreio da depressão e orientação dos estudantes universitários para melhorar a qualidade de vida e combater a sintomatologia depressiva com o apoio de especialistas em saúde mental. Referem ainda que os estudantes manifestaram ter sido uma experiência positiva e sentiram que, mesmo sendo utilizados meios informáticos, sentiram estar assegurada a confidencialidade dos dados. Num estudo de Steele (2013) com 225 estudantes universitários do 1º ano procurou responder à questão como é que um instrumento de rastreio da depressão combinado com o protocolo de encaminhamento e tratamento implementado num centro de saúde universitário influencia o comportamento do cuidador? Uma das conclusões a que o autor chegou é a recomendação do uso do PHQ (2 ou 9) como instrumento apropriado para o rastreio da sintomatologia depressiva e que, os indivíduos sinalizados com perturbação depressiva, sejam acompanhados em follow-up com aplicação do PHQ-9.

Eisenberg e Chung (2012) consideram tanto o PHQ-2 como o PHQ-9 instrumentos válidos devendo ser ponderada a sua aplicação em indivíduos quando se pretende fazer o rastreio dos sintomas depressivos reforçando a ideia que este rastreio contribui para os cuidados de qualidade e adequados aos estudantes universitários, algo que deveria ser prioritário em qualquer instituição de ensino superior.