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O Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP) do Ministério da Agricultura Desenvolvimento Rural e Pescas (MADRP) elaborou e

No documento Associação Portuguesa de horticultura (páginas 29-32)

coordenou, em 2008, seis diagnósticos sectoriais relativos às Ar-venses, Azeite, Carnes, Leite, Frutas, Hortícolas e Flores, e Vinho.

Nesta entrevista concedida pelo Director-Adjunto do GPP, Dr. Bruno Dimas, à Revista da APH, procurámos saber que po-líticas estão a ser implementadas nas áreas de abrangência da APH (horticultura herbácea, fruticultura, olivicultura, viticultura e horticultura ornamental), e que medidas estão a ser implemen-tadas para o Sector, visando a preparação da PAC pós- 2013.

A entrevista foi conduzida por Maria da Graça Barreiro e Maria Elvira Ferreira

MADRP

Portugal tem vantagens competiti-vas pelas condições de produção que apresenta e que permitem a valoriza-ção da produvaloriza-ção através de regimes de qualidade certificada visíveis pelo consumidor. De destacar o caso das pomóideas que são as culturas mais representativas, quer no modo produ-ção biológico (40%), quer nos regimes de indicação geográfica (60%), em que existem dezoito produtos com nomes protegidos.

Por fim, a Produção Integrada, que actualmente é uma preocupação qua-se generalizada na produção de frutei-ras, leva a que sejam incorporadas as boas práticas agrícolas e ambientais na actividade com as respectivas me-lhorias das condições de produção.

Esta evolução do sector permitiu as-sumir preocupações com a produção de qualidade mesmo em regimes específicos do sector, como o Regime de Fruta Escolar, em que pelo menos 50% da fruta distribuída gratuitamente nas escolas tem de ser pro-veniente de modos de produção de qualida-de reconhecida.

APh – outro sector igualmente importante para a APh, particular-mente para os seus associados, é o do azeite. o ine aponta para este ano uma produção recorde do olival com cerca de 420 mil to-neladas de azeitona para azeite.

confirmando-se esta situação pode-remos atingir o valor mais elevado dos últimos 15 anos. nestas condi-ções, apesar da taxa de consumo de azeite estar também a aumentar progressivamente, poderemos ad-mitir que entrámos no bom caminho da redução das importações deste produto? e quais as perspectivas no tocante a mercados externos?

bruno dimas – A capacidade ex-portadora deste sector cresceu de 30%

da produção, no final dos anos 80, para valores superiores aos 75% nos últimos anos, tendo como principais mercados alvo de exportação o Brasil, Espanha, Angola, Venezuela, EUA e Canadá.

A tendência em Portugal é para aumentos progressivos da produção, impulsionados pelas novas áreas que entraram em produção, para o que tem contribuído a política de incentivo ao investimento em novos olivais, mais produtivos e tecnologicamente mais evoluídos. Para a actual campanha de 2010/2011 a produção prevista é de cerca de 67.000 toneladas de azeite, o que representa um acréscimo de 15%

face à campanha anterior.

O aumento da capacidade produ-tiva expectável no curto prazo, com a

entrada em plena produção dos novos olivais, levará a incrementar as expor-tações, não apenas para mercados tradicionais como a UE e a América do Sul, mas também sendo necessário procurar alternativas de novos merca-dos, de que são exemplo a Índia e a China. Para esta evolução terá grande importância os sólidos grupos empre-sariais a actuar no sector, quer atra-vés de integrações verticais, do olival à comercialização de azeite, quer por compra directa preferencial do produto nacional, contribuindo para um desen-volvimento sustentado da fileira.

Tendo em conta o cresci-mento da produção nacional, no curto/médio-prazo, para níveis supe-riores ao nosso grau de auto-abasteci-mento será fundamental a aposta nos mercados externos de modo a garantir valor acrescentado para todo o sector.

A concorrência com outros países ex-portadores, particularmente da UE e países africanos da bacia mediterrâ-nica, vai ser determinante para a afir-mação do azeite nacional no merca-do mundial. É essencial a afirmação de marcas globais apostando-se em simultâneo numa diferenciação pela qualidade e especificidade do azeite português.

APh – e no tocante à rentabilida-de para o produtor, a situação será promissora para a instalação de no-vos olivais? - e o aumento dos cus-tos ao consumidor?

bruno dimas – O futuro do sector passará pela capacidade de penetra-ção em mercados externos, sendo que a rentabilidade dependerá das condi-ções específicas de cada produtor.

O olival nacional regista um impor-tante contraste entre um sector em crescente dinamismo, voltado para o

mercado interno e de exportação, a par de uma vasta área de olival tradicional com níveis de competitividade mais re-duzidos. Contudo, este olival, particu-larmente em zonas de impossibilidade de rega ou com condições orográficas difíceis, possui valências complemen-tares ao valor do produto comerciali-zado (valores ambientais – biodiversi-dade, combate à erosão, paisagístico, varietal).

Tendo em conta estas diferenças na competitividade e rendimento das explorações, com prejuízo para o olival tradicional, mas reconhecendo o seu valor como sistema de produção multi-funcional, foram orientados os regimes de apoio ao olival previstos nos paga-mentos complementares para este tipo de produção de qualidade.

Os preços no consumidor depende-rão de muitos factores, ligados às con-dições de oferta e procura e respecti-vos equilíbrios e, em menor escala, das políticas. Do lado da oferta, há que ter em conta a influência dos vários seg-mentos, da produção à comercializa-ção, sendo importante, no azeite como nos restantes sectores alimentares, o aumento da transparência na formação dos preços, para proteger os pontos mais vulneráveis da cadeia, os pro-dutores primários e os consumidores finais, normalmente mais atomizados.

APh – com o eventual agrava-mento dos preços a pagar pelo con-sumidor, associado à existência de baixas quotas de mercado para os produtos de produção biológica, que futuro se perspectiva para o azeite biológico?

bruno dimas – Não é previsível um aumento significativo de preços no con-sumidor do produto convencional face ao passado recente. Com efeito, a

cri-MADRP

se mundial originou uma redução dos preços ao nível do comércio que teve repercussões no preço à produção. Os produtores e suas organizações estão mais descapitalizados, com acesso mais difícil ao crédito, tendo os preços baixado de forma significativa, consti-tuindo-se grandes stocks de azeite em armazém As grandes marcas (marcas brancas) concorrem entre si, deixando uma maior capacidade para os com-pradores influenciarem os preços.

A quebra da procura no produto convencional, numa gama vasta de produtos alimentares, é contrariada por outros factores como as preocupações com a qualidade da alimentação, com os benefícios ambientais ou com a genuinidade/tipicidade, preocupações que actuam a favor do consumo de azeite, e que importa potenciar junto do consumidor.

Com o aumento mundial da pro-dução de azeite, com novos sistemas intensivos de plantação e com um nú-mero reduzido de variedades mais pro-dutivas para se obterem remunerações mais elevadas há um espaço crescen-te para produções rústicas associadas a regimes de qualidade diferenciada, não apenas Produção Biológica mas também DOP/IGP. Em Portugal, estes modos de produção associados a va-riedades tradicionais podem beneficiar desse aumento de interesse.

Acrescente-se ainda que, no âm-bito das ajudas públicas ao Desen-volvimento Rural, nomeadamente os apoios concedidos para a alteração de modos de produção, são compensados os custos de produção acrescidos de modo a permitir o crescimento e con-solidação de segmentos de mercado como o do azeite biológico.

APh – Para além deste segmento oli-vícola, como está a ser equacionado o balanço, económico e ambiental, entre os olivais tradicionais (reconversão vs. “abandono”) e os novos olivais in-tensivos e super inin-tensivos?

bruno dimas – Para minimizar o risco de abandono dos olivais tradi-cionais face a novos olivais intensivos ou super intensivos, tendo em conta o papel dos primeiros nas áreas menos competitivas do território, sem rega-dio, com riscos elevados de erosão e com impactos ambientais positivos de um sistema de olival tradicional, assim como a manutenção da variabilidade genética associada à exploração de variedades tradicionais, menos produ-tivas, foram criados apoios no âmbito dos pagamentos complementares para o sector do azeite, com a preocupação de produzir para sistemas de qualidade reconhecida.

Estes pagamentos têm, por um lado, uma componente de mercado, apoio específico no âmbito aplicável à produ-ção de qualidade DOP/IGP de azeite e azeitona de mesa e, por outro lado, uma vertente agro-ambiental, apoio es-pecífico aplicável como protecção ao património oleícola.

APh A nível nacional, o gPP propôs a reflexão e o debate em tor-no do futuro da PAc pós-2013. Para o efeito criou uma página na Web disponibilizando toda a informação que vai surgindo e abrindo o tema à consulta Pública comunitária. Pode falar-nos um pouco desta e outras iniciativas?

bruno dimas – No âmbito da orga-nização e dinamização do debate pú-blico e da preparação técnica e política da negociação a nível nacional sobre

o Futuro da PAC, foram definidos dis-positivos específicos de consulta no MADRP. A constituição de um Grupo de Peritos, tendo por principal missão participar na identificação dos princi-pais desafios e opções nacionais em relação ao futuro da PAC pós-2013, apoiando o MADRP na dinamização e orientação do debate público e na me-lhor fundamentação das suas decisões políticas, é um exemplo. Também foi constituída uma Comissão de Aconse-lhamento da Agricultura e do Desenvol-vimento Rural, que funciona junto do Ministro da Agricultura, do Desenvol-vimento Rural e das Pescas. Duas es-truturas de coordenação que permitem formar uma visão política.

A actuação do GPP nesta matéria foi reforçada. Para além da colaboração com o Grupo de Peritos, este Gabinete tem vindo a concretizar a sua actuação através do estabelecimento de uma organização interna específica para a sistematização e a análise no âmbito de áreas temáticas relevantes para a negociação, a participação em forma de debates nacionais e internacionais de reflexão sobre o Futuro da PAC e através da produção e disponibilização de informação pública na página web - www.gpp.pt/pac2013.

O acompanhamento do debate e negociação a nível comunitário e na-cional tem sido objecto de uma siste-matização periódica, cuja divulgação institucional tem sido efectuada de forma abrangente, inclusive a nível inter-ministerial.

A actuação do GPP abrange ainda outras dimensões, nomeadamente a dinamização e apoio a iniciativas de esclarecimento e debate público sobre este tema, a identificação e fundamen-tação técnica das opções e cenários mais favoráveis à defesa dos interes-ses nacionais e informação e ausculta-ção regular dos outros organismos do MADRP e das Regiões Autónomas.

Com esta entrevista, esperamos ter levado ao conhecimento dos nossos sócios e leitores, alguns aspectos do enquadramento político actual de vá-rios sectores da Horticultura Nacional e dos percursos que estão a ser trilha-dos, visando o futuro da PAC pós 2013.

Neste contexto, em nome da APH, desejamos manifestar os nossos maio-res agradecimentos ao Dr. Bruno Di-mas por ter acolhido, com toda a sim-patia, a nossa pretensão de entrevistar um dos actuais responsáveis pelos destinos do GPP. Muito Obrigada!

MADRP

No documento Associação Portuguesa de horticultura (páginas 29-32)

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