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5.5 Técnicas de reabilitação de rios

5.5.1 Galerias ripícolas

A galeria ripícola pode ser definida como sendo aquela vegetação que se desenvolve ao longo dos cursos de água, com uma caracterização florística e estrutural distinta da que se desenvolve em zonas mais próximas, não influenciadas pela presença do rio (Stanley, 1993

in Tánago & Lastra, 2001).

Tanágo e Lastra (2001) definem zona de vegetação ripícola como sendo a faixa compreendida entre o nível médio da água até ao nível máximo de cheia. No entanto Lima (2002) refere que zona ripícola localiza-se entre o nível de estiagem (nível mínimo) e o nível cheia (nível de máximo), onde a vegetação pode ser influenciada pela elevação do lençol freático, pelas cheias e pela capacidade de água no solo.

Os limites da zona ripícola são difíceis de delimitar, sob o ponto de vista espacial (Lima & Zakia., 2000; Cortes, 2004; Atanasio et al., 2006).

A delimitação espacial da galeria ripícola estende-se lateralmente até ao alcance máximo das áreas saturadas da sub-bacia, incluindo o processo natural de expansão de cabeceiras de drenagem durante os períodos chuvosos (Lima, 2002).

Kobyana (2003) recomenda o uso do termo “zona ripária” para discutir a extensão ou delimitação do espaço e o termo “ecossistema ripário” para discutir os processos que ocorrem nesse espaço, definindo a zona ripária como sendo o espaço tridimensional que contém vegetação, solo e rio (água).

As zonas ripícolas tendem a ser mais estreitas em rios de baixo número de ordem, contrariamente às partes terminais dos cursos de água que são caracterizados por zonas extensas transversalmente e complexas estruturalmente (Cortes, 2004).

Em Portugal e em regiões de clima mediterrânico, a expressão mais utilizada relativa à delimitação do espaço é “galeria ripícola” ou “galeria ribeirinha”, por estar implícita a importância da dimensão longitudinal face à lateral, cuja largura da faixa lateral é normalmente inferior a 10 metros (Aguiar, 2011), ao contrário das florestas ribeirinhas de regiões de clima tropical e subtropical que possuem elevada densidade e extensão lateral (na ordem das centenas de metros) e os “bosques ribeirinhos” de regiões de climas temperados húmidos que apresentam um desenvolvimento lateral intermédio com cerca de 150 metros (Aguiar, 2011). As galerias ripícolas constituem a interface entre os

ecossistemas terrestres e aquáticos, caracterizadas pela grande variabilidade de fatores ambientais, processos ecológicos e comunidades vegetais (Gregory et al., 1992 in Lima, 2002). Ocupam áreas dinâmicas da paisagem, em termos hidrológicos, ecológicos e geomorfológicos (Lima & Zakia, 2000).

Neste estudo optou-se pela utilização do termo galeria ripícola, devido à importância da dimensão longitudinal relativamente à dimensão lateral na bacia hidrográfica do Ardila. A galeria ripícola, na escala da sub-bacia, inclui as margens e as cabeceiras de drenagem dos cursos de água. É caracterizada pelo habitat dinâmico, pela diversidade e complexidade (Lima, 2002). Pode ser definida como um espaço tridimensional que contêm vegetação, solo e rio. Nesta zona, ocorrem processos geobiohidrológicos, isto é, os processos geomorfológicos, biológicos e hidrológicos e as interações entre os respectivos processos (Kobiyama, 2003). Assim sendo, para melhorar ou recuperar a galeria ripícola é necessário considerar o ecossistema terrestre e aquático (Souza & Kobiyama, 2003). Do ponto de vista ecológico, as galerias ripícolas podem ser consideradas como corredores extremamente importantes para o movimento da fauna ao longo da paisagem, e para a dispersão vegetal. Além das espécies tipicamente ripícolas, também podem existir espécies típicas de terra firme, pelo que, desta forma, estas últimas são consideradas como fontes de sementes importantes para o processo de regeneração natural (Triquet et al., 1990; Gregory

et al., 1992 in Lima & Zakia, 2000). À escala da sub-bacia, a galeria ripícola é responsável

por grande parte do regime ambiental do ecossistema aquático embora essa influência não seja tão evidente na bacia hidrográfica, devido ao tamanho da vegetação ripícola e do canal (rio) (Lima, 2002).

O ecossistema ripícola é o resultado final das interações complexas entre a hidrologia, geomorfologia, solos, luz, temperatura, fogo e toda a variedade de processos ecológicos. Desempenha um papel ambiental importante que é a manutenção dos recursos hídricos, em termos de vazão e de qualidade de água, assim como do ecossistema aquático. Constitui um fator crucial para a manutenção da saúde e da resiliência da sub-bacia, como unidade geoecológica da paisagem (Lima, 2002). A vegetação que ocupa esta zona pode apresentar variações em termos de estrutura, composição e distribuição, decorrentes da dinâmica dos processos fluviais (troços característicos de deposição de sedimentos e de erosão fluvial) ao longo do rio (longitudinalmente) e lateralmente decorrente das condições de saturação do solo, podendo neste caso influenciar a composição das espécies (Lima & Zákia, 2000).

As formações lenhosas típicas de cursos de água temporários são dominadas por espécies de folha persistente, loendro (Nerium oleander) ou com adaptações à secura, tamujo

(flueggea tinctoria) e a tamargueira (Tamarix africana) (Aguiar, 2011).

Os processos de erosão, de deposição de sedimentos e de alteração da morfologia da bacia podem ter como origem as diferentes práticas agrícolas e usos do solo (Halbert in Boon, 1998). A revegetação poderá não ser eficiente na redução da erosão a não ser que se considere ou se identifique os diferentes processos de erosão que ocorrem na bacia. Para tal, é necessário ter em conta a geomorfologia do local, devendo ser aplicada no contexto da bacia em que se insere (Kondolf, 1998 in Boon, 1998).

Na definição dos objetivos e metas da conservação e restauração da galeria ripícola é importante documentar e efetuar um levantamento sobre os tipos de vegetação (Hughes et

al., 2005), nomeadamente os padrões de composição e de estrutura (Aguiar, 2011) da área

a intervir e da bacia hidrográfica.

A manutenção da integridade do ecossistema ripícola depende muito da aplicação de práticas sustentáveis de gestão à escala da sub-bacia como um todo. O primeiro passo para o planeamento das medidas de proteção ou de restauração da integridade do ecossistema ripícola é a delimitação da extensão da zona ripícola (Lima, 2002), ou seja, delimitação da dimensão espacial, nomeadamente na componente longitudinal, lateral e vertical.

Como referido anteriormente, nos rios mediterrânicos, a galeria ripícola é constituída por faixas de largura reduzida (frequentemente inferior a 10 metros), com uma identidade florística e estrutural caracterizada com espécies adaptadas aos regimes torrenciais e intermitentes de caudais.

A importância da manutenção da galeria ripícola está relacionada com as várias funções que esta desempenha, nomeadamente: função hidrológica, estabilização dos solos, diminuição do escoamento superficial da água, retenção de nutrientes, manutenção das espécies da fauna e flora (Sgrott, 2003), estruturação do vale, diminuição da velocidade de escoamento dos terrenos agrícolas adjacentes (Pereira, 2001), fonte de alimento e abrigo para a fauna terrestre e aquática (Pereira, 2001; Silva, 2003), estabilização de taludes e encostas, manutenção da morfologia do rio e proteção da área de inundação, retenção de sedimentos e nutrientes, diminuição da temperatura da água e do solo, manutenção de

corredores ecológicos, paisagem e recreação, integração de escombros rochosos (Silva, 2003) e ainda manutenção da qualidade da água e estabilidade térmica.

Vários estudos laboratoriais e in situ (Sabater et al., 2003; Lamontagne et al., 2005) têm sido desenvolvidos para testar as eficiências de remoção de nutrientes (azoto) com recurso a vegetação ripícola em rios perenes de clima temperado. Recentemente na Austrália, Woodward et al. (2009), estudou a remoção de nitrato também em laboratório e in situ) num rio efémero, cuja variação hidrológica afecta os factores que influênciam a frequencia e a ocorrência da remoção do nitrato e o processo de desnitrificação nas galerias ripícolas. Tal estudo, revelou a capacidade das galerias ripícolas na diminuição da poluição difusa com origem nos compostos de azoto.