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5.5 Técnicas de reabilitação de rios

5.5.5 Técnicas construtivas de Eco-engenharia

As técnicas construtivas da Eco-engenharia também conhecida por técnicas de Engenharia Biofísica [TEB] permitem que os processos construtivos sejam definidos em função das condições locais do meio, dando importância à ecologia, preferencialmente utilizando

materiais locais e métodos construtivos não agressivos ao sistema, potenciando a funcionalidade ecológica, hidrológica e paisagística. A escolha das técnicas está relacionada com a tipologia dos sistemas (cursos de água) em causa. Na sua maioria os elementos construtivos são plantas ou partes vivas de plantas (sementes de herbáceas e arbustivas, árvores em torrão, rizomas de caniço, estacas e ramagem). São também utilizados geotêxtis, troncos mortos e mantas orgânicas como reforço de estabilidade inicial sobretudo em zonas escarpadas. Estes últimos, ao fim de algum tempo acabam por se degradar e as plantas assumem as funções de proteção (TEB, 2006).

As intervenções no leito do rio devem ter em atenção o dinamismo de escoamento (nível de estiagem, nível médio, nível normal de cheia e nível máximo de cheia), pois, estes vários níveis de escoamento correspondem nomeadamente à altura do escoamento mínimo anual na época estival de menor precipitação, altura média ao longo do ano, altura máxima anual na época de maior precipitação e altura da zona inundável calculada em função de período de retorno (Pereira, 2001).

Pereira (2001) divide as intervenções nos rios em dois tipos: (1) ações destinadas à limpeza do curso de água da vegetação invasora, resíduos, árvores caídas e obstrução por assoreamento; (2) conjunto de transformações efetuadas nos troços para melhorar as condições de escoamento (regularização, retificação do leito e canalização do curso de água), estas últimas com recurso a técnicas de engenharia.

As técnicas de intervenção para a estabilização das margens de rios, para a construção de socalcos nos leitos de rios e para efeitos de drenagem utilizam as faxinas, gabiões, rolos de caniço, empacotamento de ramos, cobertura de superfície (Fig. 4), plantação por torrões, enrocamento (Fig. 5), plantação de colmos, torrões de caniço (Fig. 5).

Fig. 4 Exemplo de técnicas construtivas: (a) faxina; (b) gabiões e rolo de caniço; (c) empacotamento de ramos; (d) cobertura em superfície (adaptado de Pereira, 2001).

Por definição a faxina significa feixe de ramos atados (Infopédia 2013-2012), por isso é uma estrutura de proteção vegetal, constituída por ramos de espécies arbóreas e arbustivas (Cortes, 2004). Normalmente utiliza-se o salgueiro (Pereira, 2001; Cortes, 2004) ou o freixo (Pereira, 2001) ou a tamargueira (TEB, 2006). O feixe de ramos formado deve ter um diâmetro mínimo de 0,3 m (Sousa, 2005; TEB, 2006). A utilização de faxinas é recomendada em situações com velocidade da corrente inferior a 3 m s-1, inclinação do troço de rio inferior a 5% e oscilação do nível da água inferior a 1 m (TEB, 2006). A sua aplicação pode ser para efeitos de drenagem, consolidação das bases das margens de rios e para a construção de socalcos no leito de rio (Pereira, 2001).

A faxina (Fig. 4a) pode ser construída com ramos vivos e ramos mortos. Existem três tipos de faxinas: faxina de ramos vivos; faxina de ramos mortos e faxina gabionada.

Gabião e rolo de caniço (Fig. 4b) são constituídos por pedras, terra e rizomas. Estes podem formar um rolo único ou podem estar associados a gabiões estéreis, o que permite assegurar proteção acrescida da margem. O gabião vegetado trata-se de uma caixa de forma prismática rectangular, de rede com malha hexagonal, com enchimento de pedra, cuja função é a contenção de taludes, como muros de suporte (Cortes et al., 2012) e normalmente são utilizados em locais susceptiveis de erosão acentuada.

O rolo de caniço é constituído por estacas de madeira de 1 m, com afastamento de 1-1,5 m e um diâmetro 0,4 m. O rolo é colocado dentro de um canal de secção 0,5x0,5 m, onde se introduz rede, pedra, terra e rizomas na parte superior (Sousa, 2005) (Fig. 4b). Servem para proteger as margens dos cursos de água sujeitos a pequena variação de caudal.

O empacotamento de ramos (Fig. 4c) destina-se a proteger a globalidade do talude, através da cobertura com ramos, com um comprimento superior a 2 m e um diâmetro compreendido entre 0,2 e 0,4 m. É colocado perpendicularmente ao eixo do rio, com a base em contacto com a água (Cortes, 2004). O empacotamento é constituído por camadas sobrepostas de ramos e gravilhas, ancorados por estacas. Constrói-se um troço de margem permeável que consolida com o crescimento da vegetação e com a deposição de materiais. Esta técnica pode ser associada à cobertura de superfície e reforçada com faxinas (Pereira, 2001).

A cobertura em superfície (Fig. 4d) é utilizada nas margens da linha de água para proteção da superfície. Coloca-se perpendicularmente à linha de água, cobrindo toda a superfície a proteger e com a extremidade inferior no curso de água (Pereira, 2001), cerca de 0,2 a 0,5 m (TEB, 2006). A sua ancoragem é efetuada com estacas unidas por cordas ou outro material resistente e biodegradável. A base é reforçada com terra, faxinas, gabiões, caniço ou enrocamento.

O enrocamento (Fig. 4a) e Fig. 5) é utilizado nas bases dos degraus e socalcos no leito do rio, sendo necessária a colocação de um filtro (cascalho ou geotêxtil ou cobertor de hastes em rede, de forma a evitar a lavagem do solo e a destruição da construção). Associado ao enrocamento tem-se a plantação por torrões. A plantação deve ser efetuada no início da fase vegetativa e antes da floração (Pereira, 2001).

Na Fig. 6 apresenta-se esquematicamente a combinação das diferentes técnicas descritas, onde se inclui plantas arbustivas, árvores, sementeira de herbáceas, etc., definidas por Pereira (2001) e TEB (2006) por apresentar maior eficiência para solucionar processos de erosão das margens e potenciar a funcionalidade ecológica, hidrológica e paisagística.

Fig. 6 Exemplo esquemático dos diferentes tipos de técnicas de reabilitação (adaptado de Pereira, 2001).

A barragem de correção torrencial (Fig. 6) com ramagem morta é uma obra hidráulica transversal, que é utilizada para controlar a velocidade de escoamento da água e regularizar o leito do rio. Esta técnica normalmente é utilizada em cursos de água com regime torrencial (TEB, 2006). Em termos de aplicação diminui a velocidade de escoamento, retém e acumula sedimentos, reduz a erosão no leito e nas margens, cria zonas de retenção e cria condições para a recolonização de vegetação. No entanto, tem como desvantagem a duração limitada e ser um obstáculo para a ictifauna.

Fig. 7 Planta esquemática de barragem de correção torrencial a) feixe duplo de ramagem; b) feixe de ramagem e pedra (adaptado de TEB, 2006).

Tradicionalmente nas intervenções utilizam-se equipamentos mecanizados que promovem impactes significativos no ecossistema, nomeadamente a destruição das galerias ripícolas, alteração dos taludes das margens, com a implementação da secção trapezoidal, deixando a descoberto o solo que fica sujeito à erosão hídrica. Deste modo, a reabilitação e a gestão sustentável do rio deve ser, sempre que possível, efetuada com o mínimo de intervenção de maquinaria pesada. Por isso, a utilização das técnicas da Eco-engenharia, embora sejam morosas e, consequentemente, mais dispendiosas, garantem a funcionalidade hidrológica e ecológica com a menor perturbação possível.

5.6 Exemplos de estudos e projetos de reabilitação em curso em