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2 RESPONSABILIDADE NA RELAÇÃO DE CONSUMO: DISTINÇÕES DAS GARANTIAS DOS PRODUTOS E SERVIÇOS

2.3 Garantias do CDC

A palavra garantia segundo o dicionário é: 1) ato ou efeito de garantir. 2) ato ou palavra com que se assegura obrigação, intenção etc. 3) documento assegurador da autenticidade e/ou boa qualidade dum produto ou serviço. 4) o período que vigora tal garantia (FERREIRA, 2001, p. 342).

A relação jurídica de consumo pressupõe o fornecedor, o consumidor e o objeto da relação de consumo (produto ou serviço). Independentemente da vontade do fornecedor os objetos da relação de consumo logram da garantia legal, que para vícios de fácil constatação, nos bens não duráveis é de 30 dias e nos bens duráveis é de 90 dias. Já nos vícios ocultos o prazo é de 90 dias após a constatação do vício, levando em consideração a vida útil do bem.

No que concerne à garantia legal e contratual Milena Donato Oliva e Isabela Reimão Gentile (2018) colocam:

[...] a garantia legal associa-se à preservação da legítima expectativa dos consumidores quanto à qualidade e à durabilidade dos produtos e serviços. De outra parte, a garantia contratual refere-se à obrigação adicional que o fornecedor voluntariamente se impõe e que de maneira

alguma arrefece a garantia legal. A garantia contratual, que deve ser conferida mediante termo escrito, decorre de ajuste entre o consumidor e o fornecedor, sendo, por isso mesmo, facultativa e complementar à garantia legal. A garantia contratual pode ser limitada e condicionada a certos comportamentos do devedor, ao passo que a garantia legal não comporta tais restrições, dado seu caráter de ordem pública.

Em geral os produtos ou serviços colocados no mercado de consumo gozam de um determinado prazo de garantia (garantia contratual) ofertado pelo fornecedor. Embora não haja prazo mínimo estabelecido em lei, em geral esta garantia para produtos duráveis é de um ano, tendo exceções na qual buscando ter mais atrativos para os clientes, fabricantes de automóveis chegam a ofertar seis anos de garantia.

No que tange a garantia legal e contratual, reside uma dúvida na doutrina quanto do início da contagem do prazo da garantia legal, há duas correntes. A primeira, a minoritária, é que a garantia legal compõe a garantia contratual. Assim com a garantia contratual sendo de um ano a garantia legal já estaria inclusa neste prazo. Já a segunda, e majoritária, é que o prazo da garantia legal só se inicia após o término da garantia contratual. Então sendo a garantia contratual de um ano, se terá mais 90 dias da legal, totalizando um ano e 90 dias.

Há também no mercado de consumo a garantia estendida, pelo qual é oferecida uma ampliação da garantia contratual mediante ao pagamento de uma quantia extra. Contudo, muitas vezes não é passado para o consumidor é que essa “garantia estendida” se trata de um seguro. Sendo, portanto, desnecessário como se buscara demonstrar a seguir.

2.3.1 Garantia contratual

A garantia contratual ou de fábrica é a qual o fornecedor por mera liberalidade concede ao consumidor, pois ela não é obrigatória. O fornecedor oferece como um atrativo para seu produto, um plus. Montadoras de carros para atrair seus clientes chegam a ofertar até 6 (seis) anos de garantia contratual

permitindo que seja dada verbalmente. O CDC, em seu artigo 50 coloca a garantia contratual como complementar da legal. Nunes (2009, p. 579) afirma: “a garantia é de adequação, o que significa qualidade para atingimento do fim a que se destina o produto ou serviço, segurança, para não causar danos a consumidor, durabilidade e desempenho”.

Nelson Nery Junior (2007, p. 565) expõe os requisitos mínimos do termo de garantia “forma, prazo e lugar em que pode ser exercida; [além dos] os ônus a cargo do consumidor”. Todavia, não se impede que seja estabelecida outras bases contratuais, porém, vedado a exclusão da garantia legal.

2.3.2 Garantia legal

A garantia legal consolida o princípio da segurança que norteia a relação de consumo. Independente de vontade do fornecedor é vedada a sua exoneração. O fornecedor se responsabiliza pelo produto ou serviço que coloca no mercado de consumo, é a garantia que preza pela boa qualidade dos produtos ou serviços.

O artigo 24, do CDC, trata dessa garantia, “A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor”.

A garantia legal para vícios aparente e de fácil constatação tem fruição a partir da tradição da coisa, sendo de 30 dias para produtos ou serviços não duráveis e de 90 dias para produtos e serviços duráveis, isso se o fornecedor não conceder a garantia contratual, que neste caso fruirá primeiro. Nunes (2009, p. 346) sobre a garantia legal em vícios de fácil constatação é decorrente do “singelo uso e consumo do produto ou serviço. por exemplo, o consumidor adquire um televisor que não sintoniza os canais. Vicio nesse caso é evidente e decorre do mero uso”.

Ainda, abrangido pela garantia legal está o vício oculto. Trata-se de vício que só pode ser constatado com o uso, consumo do produto ou serviço. Os vícios ocultos das relações civis são disciplinados entre os artigos 441 e 446 do Código Civil, na seção que trata dos vícios redibitórios. O que mais se difere do CDC para o Código Civil é que o legislador no CDC não estipula prazo máximo para a constatação do

vício oculto, devendo se levar em conta a vida útil do produto ou serviço, ao passo em que pelo legislador do Código Civil foi estabelecido em 180 dias para coisas móveis e um ano para coisas imóveis.

Oliva e Gentile (2018) na direção dos vicios ocultos afirmam que o:

[...] prazo de garantia legal atinente aos vícios ocultos depende da análise, pelo magistrado, da vida útil do produto ou serviço no caso concreto. É de se notar que a vida útil varia de acordo com cada produto ou serviço, daí a necessidade de exame individualizado, que atente para as características do bem em discussão. O estabelecimento do período de vida útil, assim, será determinado a partir das características do produto ou serviço aliadas à legítima expectativa do consumidor.

A vida útil do produto ou serviço é tarefa árdua na prática, pois esse critério busca equilibrar a relação, dando a real expectativa do consumidor sobre o produto ou serviço, ao mesmo tempo em busca responsabilizar o fornecedor pelo vício oculto.

Em se tratando de vício oculto não decorrente do desgaste natural gerado pela fruição comum do produto, mas da própria fabricação, e relativo a projeto, cálculo estrutural, resistência de materiais, entre outros, o prazo para reclamar pela reparação se inicia no momento em que ficar evidenciado o vício, não obstante tenha isso ocorrido depois de expirado o prazo contratual de garantia, devendo ter-se sempre em vista o critério da vida útil do produto ou serviço.

Contudo, o maior impasse do vício oculto está assentado em qual é a vida útil de cada produto ou serviço, se assegura que o legislador não fixar prazo, para que cada caso seja analisado em sua essência, não podendo vigorar uma garantia eterna, mas muito menos uma obsolescência programada.

2.3.3 Garantia estendida

A garantia estendida não é disciplinada pelo CDC, se fala em uma modalidade de garantia contratual. Todavia ela não é bem uma garantia e sim uma apólice de seguro, no qual o consumidor por um valor extra adquire um seguro para seu produto ou serviço.

Levando em consideração a garantia legal em decorrência de vicios ocultos como a vida útil do produto ou serviço, não se presume necessária a contratação desta “garantia estendida”.

Na mesma linha, Leonardo Roscoe Bessa (2007, p. 202):

[...] não se vê qualquer vantagem em adquirir a garantia estendida. Se a contagem do prazo para reclamar dos vícios do produto for realizada corretamente — considerando o critério da vida útil —, o CDC já oferece proteção adequada e suficiente aos interesses do consumidor. É incorreto, inclusive, falar-se em extensão de garantia. Na prática, todavia, o consumidor possui dificuldades em fazer valer o critério da vida útil do produto, seja desinformação muitas vezes dos próprios órgãos de proteção ao consumidor, seja por lhe faltar disposição de brigar por seus direitos na Justiça.

O que acontece é que por desinformação e aliciamento dos fornecedores o consumidor acaba adquirindo a garantia estendida, sendo que essa é desnecessária, pois, a vida útil do produto ou serviço não acaba com o fim da garantia contratual. Muitas vezes, é passado para o consumidor que ao final da garantia contratual, se surgir algum vicio é por sua responsabilidade, que como se viu, se for vício oculto a responsabilidade dentro da vida útil do produto ou serviço é responsabilidade do fornecedor.

Bessa (2015) reflete que o consumidor “possui dificuldades em fazer valer o critério da vida útil do produto, seja por desinformação muitas vezes dos próprios órgãos de proteção ao consumidor, seja por lhe faltar disposição de brigar por seus direitos na Justiça”.

Conclui-se que a garantia estendida não se faz necessária, sendo uma forma a mais de onerar o consumidor, fazendo com que esse pague um valor extra, por um direito que ele já faz jus.

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