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3. A ÉTICA AMBIENTAL, A BIOÉTICA E A GEOÉTICA

3.3. A Geoética

Após a afirmação do campo da Ética Ambiental e da Bioética em sentido mais restrito, surge na década de noventa do século XX, tal como foi referido, o conceito de Geoética, que se assumiu entretanto como um campo disciplinar. Para Lucchesi & Giardino (2012):

a Geoética pode ser considerada como parte da Ética Ambiental, uma vez que se origina a partir da inevitável pergunta acerca do lugar que o Homem ocupa na Natureza, sobre os pensamentos e motivações que o animam na sua vida quotidiana quando lida com o ambiente onde vive. (p. 355)

Ainda assim, a Geoética, na medida em que coloca como um dos seus aspetos centrais a procura de um código de conduta para os geólogos no exercício da sua atividade profissional, assume também contornos seme- lhantes aos da Bioética restrita. Matteucci, Gosso, Peppoloni, Piacente, & Wasowski (2012) defendem precisamente a necessidade de se criar um quadro deontológico para os geólogos, o que nos parece constituir exa- tamente um bom exemplo desse paralelismo, uma vez que propõem a definição desse código à semelhança do ancestral código de Hipócrates aplicado aos médicos desde a Antiguidade Clássica. Tal como Lucchesi & Giardino (2012) também afirmam, a Geoética fornece aos geólogos

a oportunidade de se questionarem acerca da qualidade do seu trabalho e do contributo do mesmo para um saudável progresso da Humanidade.

Assim, tal como consta no sítio do International Association of Pro-

moting Geoethics3, a Geoética:

• Consiste na pesquisa e reflexão acerca dos comportamentos e prá- ticas humanas que se desenvolvem na Geosfera;

• Relaciona -se com as implicações éticas, sociais e culturais da inves- tigação e práticas geológicas, providenciando um encontro entre os domínios da Geologia, Sociologia e Filosofia;

• Representa uma oportunidade para os geólogos se tornarem mais conscientes do seu papel social e das suas responsabilidades no decurso do exercício da sua atividade profissional;

• Visa que a sociedade se torne consciente do papel da Geologia na resolução de determinados problemas ambientais, de gestão de recursos e até sociais.

O novo papel dos geólogos na sociedade, cada vez mais ao serviço de práticas afastadas do pretenso domínio da natureza, e ao serviço de uma nova responsabilidade social ampla, inclui vários temas que se interrela- cionam. Estes temas associam -se a um conjunto de princípios necessários à sua operacionalização, e é como princípios que vão ser em seguida apresentados e discutidos. Estes foram sistematizados recorrendo a ideias de Lucchesi & Giardino (2012), Manni (2012) e Peppoloni & Di Capua (2012), para além da informação que consta no sítio anteriormente citado. Vamos listá -los, incluindo alguma informação complementar acerca de cada um deles.

1 – Promover o uso sustentável dos recursos naturais em relação estreita

com a defesa dos direitos humanos e do respeito pela natureza, acen- tuando a ideia de que os recursos terrestres são um património comum que deve ser partilhado;

Nas formulações acerca da Geoética consultadas, há claramente um enfoque na manutenção e melhoria da qualidade da vida humana, como aliás se torna patente na formulação deste e de outros princípios a seguir enumerados. De facto, a questão do uso sustentável dos recursos naturais foi uma das primeiras ideias mobilizadas em torno da Geoética. Como

afirmam N

ě

mec & Senatskaya (2006) no seu texto Geoethics, a quanti-

dade e a forma como são explorados os recursos levantam problemas de natureza ética, uma vez que estes não são pertença daqueles que hoje vivem no planeta mas igualmente das gerações futuras. E Lucchesi & Giardino (2012) salientam que esta exploração equilibrada deve igual- mente respeitar os direitos humanos, indicação premente se atendermos ao estado de escravatura a que são devotados muitos dos que trabalham

nas minas4.

Muitos recursos são ainda explorados em regiões onde persistem populações nativas que não se regem pelo modelo de desenvolvimento da sociedade ocidental. Como assinala Hostettler (2015), estas popula- ções são afetadas de múltiplas formas: perda de recursos naturais e de controlo sobre os mesmos; devastação das suas fontes de subsistência; degradação ambiental, com contaminação dos solos e águas; restrições na sua mobilidade pela construção de infraestruturas em áreas previa- mente isoladas; impacto na sua estrutura social e cultura, devido ao facto de serem obrigadas a deslocar -se para outros locais. Para além disso, a exploração de determinados recursos, mesmo em países desenvolvidos, nem sempre é equacionada de modo a contemplar para as populações locais benefícios diretos decorrentes dessa exploração.

Por isso, Matteucci et al. (2012) mencionam o que consideramos cons- tituir uma das tarefas mais difíceis que enfrentam os geólogos na deno- minada ética da gestão sustentável dos recursos, a de, se necessário, se oporem aos interesses económicos de curto prazo de um cliente que recorra aos seus serviços.

Todavia, os geólogos podem possuir ideários diversos, como os abor- dados no domínio da Ética Ambiental, acerca da relação entre o ser

4 Tenha -se como exemplo o relato de Marques (2011) sobre o que se passa na província ango-

lana da Lunda -norte, que não só nos dá conta desta situação de escravatura, como ainda do envol- vimento de altos representantes do poder politico e militar no negócio dos diamantes.

humano e a natureza, alguns deles mais descentrados do ser humano. Daí que alguns autores tenham vindo a promover um maior aprofunda- mento teórico do campo da Geoética. Dois exemplos: Nemcova (2008) propõe uma articulação da Geoética com os princípios presentes em algumas encíclicas da igreja católica; Reitan (2008) promove este tipo de aprofundamento quando refere que a questão da justiça ambiental (equidade) no acesso aos recursos apenas encoraja os que menos conso- mem a aproximarem -se do padrão dos que mais consomem, preterindo questões como o impacto da sociedade de consumo no mundo não humano ou nas futuras gerações. E, por isso, considera que só uma pers- petiva como a deep ecology, já apresentada anteriormente, poderá ajudar a reconhecer o valor intrínseco das entidades não humanas e as interde- pendências existentes entre estas entidades e os seres humanos.

No entanto, assinalamos que até agora são poucos os autores que se movimentam no campo da Geoética a promover reflexões enquadrado- ras de carácter mais teórico, tal como as que foram mencionadas. Mas consideramos que tal decorre da juventude do presente campo em dis- cussão e daí termos optado pela formulação deste primeiro princípio em moldes mais inclusivos.

2 – Implementar estudos científicos que se pautam pelo rigor e por uma

correta disseminação dos resultados obtidos;

Diríamos que este é um princípio que deveria nortear o trabalho de qualquer cientista. Mas Peppoloni & Di Capua (2012) salientam que este rigor oferece a oportunidade a todos os geólogos de refletirem acerca da natureza do seu trabalho, e do modo como este se encontra ao serviço dos outros, para assim promoverem um saudável progresso da Humani- dade. E como muitos estudos geológicos se dedicam à previsão de riscos naturais, acentuados alguns deles pela ação antropogénica (ponto 3), importa que todo o trabalho se mova por princípios éticos rigorosos, que ajudem a manter na população uma imagem positiva do trabalho dos geólogos. Este rigor inclui o reconhecimento da natureza incerta ou inconclusiva de alguns dados e da própria natureza limitada do conhe- cimento (Matteucci et al., 2012).

3 – Promover uma informação correta acerca dos riscos naturais, pro-

curando mitigar os diversos perigos de origem geológica;

Aos geólogos cabe o importante papel de informar as pessoas no sentido de as alertar para riscos associados, por exemplo, a desmoronamentos, avalanches, cheias, vulcões e sismos. Podem ainda contribuir para uma maior perceção dos riscos inevitáveis, que ainda assim podem ser mini- mizados, e dos que advêm de ações humanas erradas e que por isso poderiam ser evitados. Por isso, o conhecimento geológico é fundamental para ultrapassar conceções alternativas e estereótipos culturais acerca dos fenómenos e riscos a eles associados (Peppoloni & Di Capua, 2012). A este respeito basta verificar as conceções alternativas encontradas em futuros professores do Ensino Básico de Portugal e Espanha acerca do fenómeno sísmico (Almeida, García Fernández, & Rodrigues, 2019). Neste estudo, não só os resultados evidenciaram que os inquiridos de ambos os países se manifestaram mais preocupados com os incêndios florestais do que com o risco sísmico, como ainda revelaram algumas lacunas acerca da possibilidade de se prever um sismo, considerando alguns ser possível fazê -lo com exatidão. Manifestaram ainda dificulda- des em avaliar a perigosidade sísmica em diferentes locais do seu país. Um estudo de caso com crianças de uma turma do 3.º ano de escolari- dade, com idades entre os 7 os 9 anos, evidenciou igualmente a persis- tência de algumas lacunas de compreensão acerca do fenómeno sísmico, mesmo após a implementação de um plano de intervenção centrado neste tema. Por exemplo, muitas crianças não conseguiram compreender o facto de diferentes áreas na cidade de Lisboa terem um risco sísmico distinto. Esta dificuldade pareceu resultar de uma falta de domínio espa- cial do território, em que diferentes áreas da cidade se revelaram difíceis de localizar. Também a relação entre as características geológicas de cada área com o risco sísmico se revelou particularmente difícil (Marques & Almeida, 2018). Estes resultados obrigam a pensar acerca das melhores estratégias para abordar os riscos naturais em função da idade dos alu- nos, existindo mesmo a possibilidade de certos conceitos não poderem ser compreendidos nos primeiros anos de escolaridade.

Todavia, independentemente da idade dos inquiridos, importa voltar a salientar que o mero conhecimento informado das condições

geotectónicas de uma região raramente constitui o fator decisivo para a instalação ou não das populações nesse local. Basta pensarmos nas regiões vulcânicas que devido aos solos férteis apresentam alguma den- sidade populacional. Mas os geólogos podem desempenhar um papel fundamental na previsão dos riscos, contribuindo para um melhor pla- neamento em termos da ocupação do território.

Ainda assim, tal como assinala Parkash (2012) acerca da realidade indiana, já houve previsões erradas de tremores de terra, as quais impli- caram o pânico e o caos nas populações. Também Crescimbene, La Longa, & Lanza (2012) apresentam alguns exemplos de previsões erra- das e de previsões quase certas: em 1985, o responsável pela Proteção Civil em Garfagnana (Tuscânia, Itália), baseado em previsões científicas, mandou evacuar 100000 residentes da região. Como o abalo sísmico não ocorreu, foi levantado um inquérito a este responsável por alarme injus- tificado. Também um técnico do Instituto Nacional de Física Nuclear em Itália previu com base na concentração de gás rádon um sismo em Sul- mona. Este técnico foi igualmente notificado por falso alarme mas, infe- lizmente, um violento sismo ocorreu em Aquila alguns dias depois, uma cidade a 80 km da primeira.

Como se pode verificar a partir destes exemplos, talvez um maior escrutínio entre pares seja uma forma de aumentar a validade das previ- sões, para já não falarmos na necessidade de cada profissional se mover por princípios éticos rigorosos que ajudem a manter a credibilidade da comunidade de geocientistas junto das populações. Contudo, por razões óbvias, a ocorrência de atos punitivos como os referidos podem revelar -se contraproducentes, e talvez a melhor via fosse conduzir a opinião pública para a compreensão da existência de alguma imprevisibilidade associada ao conhecimento geológico.

4 – Promover o papel social das Geociências, enfatizando a sua impor-

tância no dia -a -dia das pessoas através da promoção de disciplinas como a Geomedicina e a Geologia Forense;

Os exemplos referidos nos pontos 1 e 3 assinalam claramente a dimensão social das Geociências. Todavia, a importância deste campo científico não se esgota nas questões associadas ao uso sustentável de recursos ou

na previsão de riscos naturais ou induzidos pelo ser humano e inclui outros campos, como a Geomedicina e a Geologia Forense.

A Geomedicina é uma área científica interdisciplinar que envolve o contributo de geólogos, biólogos, químicos, médicos, toxicologistas, vete- rinários e até investigadores das Ciências sociais. A principal finalidade é descobrir relações de causa -efeito entre os fatores geológicos (compo- sição dos materiais e processos naturais) e a saúde humana e a de outros seres vivos. Como tal, abrange a descoberta de fatores benéficos, que possam ser utilizados para a prevenção e cura de doenças, e prejudiciais, para os quais importa identificar as causas e encontrar soluções.

A Geologia Forense visa, através de diversas técnicas, identificar mate- riais geológicos, solo, fragmentos de rochas, minerais e fósseis, num determinado receptor e auxiliar na sua acusação ou ilibação de um determinado crime. Parte de um princípio enunciado por um seu pioneiro, Edmund Locard (1877 –1966), de que “entre o autor e o local do crime há sempre troca de elementos” (Reis, 2012). Todavia, o alcance da Geo- logia Forense tem aumentado consideravelmente. Recorrendo à prospe- ção geofísica, contribui para localizar sepulturas clandestinas e assim permitir, por exemplo, a avaliação de crimes de guerra. A localização de substâncias e objetos, que vão desde droga a armas, até ao rastreio de mercadorias clandestinas, bem como formas para detetar crimes ambien- tais têm sido igualmente alguns dos desenvolvimentos recentes (Reis, 2012).

5 – Encaminhar os decisores políticos para a escolha de soluções mais

sustentáveis, acentuando a responsabilidade social dos geólogos e as repercussões éticas, culturais, sociais, económicas, ecológicas e políticas que as suas escolhas podem levantar;

Este princípio relaciona -se claramente com os outros princípios já ante- riormente apresentados. Lucchesi & Giardino (2012) salientam que o respeito pelos direitos das pessoas, nomeadamente através da preserva- ção da qualidade ambiental, pode ser conseguido por meio da escolha de processos de extração com menor impacto. Simultaneamente, para estes autores os geólogos devem contribuir para uma melhor partilha dos recursos e ajudar para atenuar conflitos internacionais.

Mais controversa para o pensamento dominante é a ideia apresentada por Nikitina (2008) da internacionalização dos recursos minerais e que esta cientista considera ser um dos maiores desafios que se colocam ao campo da geoética. Esta internacionalização deveria ser levada a cabo tendo por base princípios como os seguintes: os recursos são pertença da Humanidade, independentemente da sua localização geográfica; a abertura da sua investigação a investigadores de todas as nações sem qualquer discriminação; o estabelecimento de um regime internacional de regulação da sua exploração, acordado pelos diferentes países e que não esquecesse as futuras gerações.

6 – Contribuir para o desenvolvimento de tecnologias amigas do ambiente

e para uma avaliação mais cuidada das soluções geradas na tecnosfera;

Este princípio relaciona -se de forma clara com o primeiro enunciado, uma vez que um dos contributos da tecnologia poderá ser precisamente o de ir ao encontro da necessidade da economia dos recursos e também promover o seu uso sustentável. Contudo, a crença de que todos os pro- blemas têm uma solução na tecnosfera pode conduzir à já assinalada deificação da tecnologia (Cap. II -1.), que contribui para uma desrespon- sabilização da ação individual na sociedade.

7 – Sensibilizar para a importância do património geológico, acentuando

o seu valor cultural, educacional, científico e intrínseco, incentivando, por exemplo, a criação de geoparques e o geoturismo;

Segundo Gray (2004), o termo geodiversidade surgiu em 1993, no quadro de uma Conferência realizada no Reino Unido, como o equivalente geoló- gico de biodiversidade. Brilha (2005) apresenta a definição nos seguintes moldes:”A geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra” (p. 17). Assim, a geodiversidade manifesta -se em escalas muito diversas, à semelhança aliás do que acontece com a biodiversidade.

Para Gray (2004) os valores que conduzem à preservação da geodiver- sidade podem ser diversos, com destaque para o intrínseco, o cultural nas

dimensões histórica, arqueológica, mitológica, espiritual e até identitária de uma localidade ou região, o estético, o económico com vertentes na exploração de recursos e no lazer associado à cultura e ao turismo, o fun- cional, o científico e o educacional. Como se torna facilmente percetível, estes diferentes valores podem sobrepor -se, não tendo de ser exclusivos.

A importância da geodiversidade, traduzida pelo reconhecimento dos diferentes valores a ela associados, tem conduzido à classificação de algumas ocorrências geológicas como geomonumentos e, no caso de se distribuírem por zonas territoriais mais amplas, à criação de geoparques, de que falámos anteriormente. Assim, como pensamos ter ficado claro, estes parques são uma espécie de versão geológica dos parques e reservas naturais que, embora possam incluir aspetos geológicos relevantes, se encontram muito frequentemente centrados na valorização da biodiver- sidade. Ainda assim, em alguns parques naturais a dimensão da geodi- versidade é central, como por exemplo no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros ou no Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa

Vicentina5.

8 – Contribuir para que os museus de Geociências veiculem informação

correta acerca dos fenómenos geológicos que retratam e dos artefactos que expõem;

Alguns museus dedicam o seu espólio às Geociências. Ora, como iremos desenvolver, o conhecimento geológico apresenta alguma imprevisibili- dade e baseia -se frequentemente em dados incompletos que são utilizados de forma a se obter uma explicação global. Face à natureza fragmentada que existe num determinado momento, é natural que a descoberta de novas evidências venha a por em causa interpretações anteriores. Manni (2012) incide a sua análise no que se passa nos museus de paleontologia. Como é do conhecimento de todos, muitos fósseis, principalmente de animais de grande porte, raramente são encontrados intactos, o que con- duz ao desafio difícil da sua reconstituição. Manni (2012) afirma que

5 De facto, os geoparques portugueses estão integrados na rede de geoparques internacionais

da UNESCO. Já a classificação de parque natural corresponde a uma das classificações atribuídas às áreas protegidas nacionais, definidas e regulamentadas por legislação nacional. Assim, uma mesma área pode ser classificada nos dois âmbitos referidos, como é o caso da Serra da Estrela.

nestas reconstituições é frequente o recurso a ossos que não pertencem à espécie do exemplar que se pretende reconstituir, embora nem sempre tal aconteça de forma intencional. Quando os visitantes de um museu observam um esqueleto reconstituído, acreditam que se trata de um fóssil verdadeiro e desconhecem que frequentemente estão apenas perante uma mera hipótese de trabalho, porque nenhuma informação acerca do pro- cesso de reconstituição é fornecida pelo museu.

Atendendo aos princípios éticos de conduta a que devem obedecer os geólogos, parece por demais evidente que informação acerca deste pro- cesso de reconstituição deveria ser expressamente incluída junto do esqueleto em exposição. Outros aspetos apresentados, e que passam por cores, movimentos e até ambientes, com que são acompanhadas algumas destas reconstituições, deveriam da mesma forma ser objeto de informa- ção pormenorizada, porque também a este nível não passam igualmente de meras hipóteses de trabalho que deveriam estar sujeitas a um contínuo escrutínio.

Decorrente dos processos descritos, é deveras comum um determinado esqueleto exposto se encontrar claramente ultrapassado pelo novo conhecimento científico entretanto alcançado. Infelizmente, muitos museus optam por nada alterar, seja porque essas alterações envolvem custos ou por temerem que os visitantes ponham em causa a credibilidade do museu (Manni, 2012).

Importa ainda referir que vários museus compram fósseis para as suas coleções. E como referem Mateus, Overbeeke & Rita (2008), muitos exemplares são melhorados de forma artificial ou mesmo falsificados com a finalidade de aumentarem o seu valor comercial. Assim, estes autores sugerem a necessidade de um exame pormenorizado dos exem- plares adquiridos através da sua observação minuciosa, análise química, raios X e tomografia computorizada e observação sob radiação ultra- violeta para que os museus evitem a perpetuação de fraudes.

9 – Estimular as relações entre a comunidade científica, os media, as

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