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ESTADO DE PERNAMBUCO

III) Espigões experimentais construídos na natureza – De acordo com o referido parecer, esclareceu o Laboratório que “os espigões construídos, em caráter

4 ASPECTOS GERAIS DA ÁREA DE ESTUDO

4.4 A REGIÃO COSTEIRA DE PERNAMBUCO

4.4.1 Geologia e geomorfologia costeira de Pernambuco

A descrição geológica de áreas costeiras permite, além de sua caracterização, definir os principais tipos de processos naturais que comandam sua evolução até o momento presente e, mais ainda, prever o seu comportamento futuro (Vilwock et al., 2005).

A

Os terrenos das zonas costeiras são, em termos geológicos, relativamente jovens, encontrando-se ainda em uma fase não consolidada [...], (ASMUS, 1991 apud SANTOS, 2007).

Nessa direção, Vilwock et al., (op. cit.) alertam que “Na maioria dos casos, a geologia e a paisagem das áreas costeiras guardam registros importantes de sua evolução recente”.

4.4.1.1 Geologia costeira de Pernambuco

Segundo Coutinho et al. (1993), do ponto de vista fisiográfico, a Zona Costeira de Pernambuco pode ser dividida em três setores:

a) Setor Norte – Do limite com o Estado da Paraíba até o município de Olinda, onde o grande desenvolvimento dos sedimentos da Formação Barreiras é responsável pela existência de uma planície costeira estreita, com linha de costa pouco recortada e presença expressiva de estuários e manguezais, particularmente ao longo do canal de Santa Cruz, que contorna a Ilha de Itamaracá. Observa-se, ainda, um grande desenvolvimento de Recifes.

b) Setor Médio – Do município de Olinda até o Cabo de Santo Agostinho, observa- se uma intensa sedimentação quaternária, responsável pela maior extensão da planície costeira, especialmente na região onde se localiza a cidade do Recife. Observa-se, também, a presença da sequência cretácica vulcano sedimentar. Destacam-se os estuários dos rios Beberibe, Capibaribe e Jaboatão. A linha de costa é mais retilínea devido à presença de restingas e recifes.

c) Setor Sul – Corresponde ao trecho entre o Cabo de Santo Agostinho e o extremo sul do Estado, é caracterizado pela predominância de sedimentos cretácicos das Formações Cabo e Estiva e as vulcânicas da Formação Ipojuca, além do cristalino que chega a aflorar próximo à praia. A planície costeira vai se estreitando em direção ao sul, apresentando uma linha de costa bastante irregular, devido à presença de várias enseadas e um grande desenvolvimento de recifes, estuários e restingas.

A costa do Estado de Pernambuco apresenta um caráter transgressivo jovem, com predominância de estuários, devido principalmente ao pequeno aporte de sedimentos fluviais. A presença de mangues nos estuários é marcante, sendo reflexo de uma costa com influência de marés.

Constitui-se outra característica marcante do litoral de Pernambuco, a ausência quase total de dunas ao longo da planície costeira, refletindo a falta de condições favoráveis à acumulação desses depósitos, ou seja, a existência de grandes praias arenosas associadas a um clima árido e à escassez de vegetação.

Na área costeira podem ser observadas as unidades geológicas desde o Mesozoico, que retratam a sedimentação ocorrida nas Bacias Pernambuco e Paraíba durante a separação das placas sul-americana e africana, até unidades que mostram a sedimentação Quaternária.

A Bacia Paraíba foi considerada anteriormente parte integrante da Bacia Pernambuco sendo chamada de bacia Pernambuco-Paraíba, constituída por estratos cretáceos, terciários e quaternários, abrangendo a faixa costeira do sul do Recife até o norte de João Pessoa, sendo delimitada por falhas e sua topografia seria de relevo relativamente rebaixado (Brito, 1979, apud Barbosa, 2004).

A Bacia de Pernambuco foi formada durante o Mesozoico com a separação das placas africana e sul-americana. No Aptiano, movimentos divergentes entre o sul da placa africana e o noroeste da placa sul-americana, mudaram a tipologia de movimentação das placas, de um regime transcorrente para um regime extensional, ocasionando a propagação do rifte em três direções. A abertura vinda do Sul acompanhou o Trend NE-SW até Salvador; um dos braços da junção tríplice formou a bacia do Recôncavo e o outro formou as bacias de Sergipe, Alagoas e Pernambuco (MAI, 2009).

Segundo Nascimento (2003), “A evolução tectono-sedimentar da Bacia de Pernambuco está diretamente associada com a ruptura dos continentes sul- americano e africano no decorrer da abertura do Oceano Atlântico Sul, cujo rifteamento maior se deu no cretáceo inferior”.

4.4.1.2 Geologia da área de estudo

Do ponto de vista geológico, a cidade de Olinda está localizada na Bacia da Paraíba, Sub-bacia Olinda, que se, delimita ao norte pela Sub-bacia Alhandra, e ao sul pela Zona de Cisalhamento Pernambuco (ZCPE). Segundo Barbosa & Filho (2005), a Bacia Paraíba “se comporta como uma rampa estrutural suavemente inclinada para leste” e esta característica, segundo os autores, “demonstra que esta faixa resistiu ao processo de rifteamento ocorrido durante o Cretáceo, provavelmente permanecendo esta área emersa até o Cretáceo superior (Mabesoone & Alheiros, 1988; Feitosa & Feitosa, 1986; Feitosa et al., 2002)”.

Figura 45 – Localização das Bacias de Pernambuco e da Paraíba.

Fonte: Barbosa; Filho (2006).

Segundo Barbosa & Filho (2005) “A Sub-bacia Olinda, da Bacia da Paraíba, estende- se desde a cidade de Recife, onde é separada da Bacia de Pernambuco pela ZCPE, até ser limitada ao norte por uma projeção do embasamento a norte de Goiana: o Alto

de Goiana”. De acordo com os autores “Essa sub-bacia possui a forma de semicírculo ou concha e é a região onde a bacia costeira da Paraíba é mais larga”, limitando-se ao norte por um “alto em forma de projeção alongada do embasamento em direção ao litoral, com orientação NE-SW”, que provoca “o truncamento da Sub-bacia Olinda, separando-a da depressão onde está situada a Sub-bacia Alhandra/Miriri”.

4.4.1.3 Geologia do Quaternário

O período geológico conhecido como Quaternário, representa cerca de 1,8 milhões de anos da história geológica recente, nos quais as evidências estão suficientemente bem preservadas e são mais numerosas, facilitando a obtenção de resultados mais precisos que colaboram significativamente para a compreensão desse período, e permitem estabelecer comparações com processos atuais (MAI, 2009).

Durante o quaternário ocorreram eventos de variações climáticas extremas alternando períodos de glaciações, intercalados por períodos muito quentes, que proporcionaram grandes flutuações do nível do mar ocasionando transgressões e regressões marinhas. Esse período preservou evidências que tem favorecido a sua compreensão, e que permitem estabelecer comparações com os processos atuais.

As oscilações do nível marinho foram de fundamental importância na evolução das planícies costeiras brasileiras (Suguio et al., 1985).

Nessa linha o MAI (op. cit.) reforça que “A sedimentação de ambientes costeiros está diretamente relacionada com as variações do nível do mar, o espaço de acomodação e o suprimento sedimentar”.

Ao longo do Quaternário, dois ciclos transgressivos e regressivos modelaram as planícies costeiras brasileiras, consequência de oscilações relativas do nível do mar. De acordo com Bittencourt et al. (1979) “O nível marinho alto mais antigo do Quaternário, conhecido ao longo do litoral brasileiro, foi evidenciado só no litoral dos Estados da Bahia e Sergipe. Ele é conhecido sob a designação de Transgressão Antiga”. Trata-se de um evento mal definido, pois não existem afloramentos que possam ser atribuídos com certeza a esta transgressão (Suguio et al., 1985).

Ao longo do Quaternário, dois ciclos transgressivos e regressivos modelaram as planícies costeiras brasileiras, consequência de oscilações relativas do nível do mar (Tessler e Goya, 2005). A Transgressão Antiga foi seguida por uma nova fase transgressiva, no decorrer da qual o nível relativo do mar, há cerca de 120.000 anos passados, atingiu ± 2 m acima do atual (Martin et al. 1982).

A partir do máximo transgressivo pleistocênico, o nível do mar recuou até aproximadamente a isóbata de 110 metros abaixo do nível atual, há cerca de 17.000 anos A.P. Ao longo deste processo de regressão marinha, a atual plataforma continental foi quase totalmente exposta, sendo sulcada por vales fluviais (Tessler e Goya, 2005).

A partir do máximo regressivo, o nível relativo do mar foi submetido a uma nova elevação, tendo atingido há cerca de 7.000 anos A.P., um nível próximo do zero atual (SUGUIO e MARTIN,1978). Este processo transgressivo se manteve até 5.100 anos A.P., atingindo quatro metros acima do nível atual (Tessler e Goya, op. cit.).

O nível marinho alto mais recente é bem conhecido em função de numerosas reconstruções de antigas posições do nível relativo do mar no tempo e no espaço (Suguio et al., op. cit.).

No Brasil, os depósitos quaternários estão associados às bacias hidrográficas, que drenam bacias sedimentares homônimas (Amazonas, Paraná e Parnaíba), ou às planícies costeiras (Suguio, 2005).

Na região costeira de Pernambuco, segundo Dominguez et al. (1990), “são aí encontrados testemunhos de dois grandes episódios transgressivos quaternários. O primeiro, pleistocênico, com um máximo atingido há 120.000 anos A.P., é representado por terraços marinhos com alturas de 7 a 11 m acima da preamar atual e, o segundo, holocênico, com um máximo atingido há 5.000 anos A.P., apresenta um maior número de testemunhos, na forma de: 1. terraços marinhos, que alcançam alturas de até 5 m acima da preamar atual; 2. depósitos lagunares; 3. Recifes de corais e de algas coralinas; e 4. bancos de arenito”.

Em 1994, o Laboratório de Geologia e Geofísica Marinha (LGGM – UFPE) elaborou o mapa do Quaternário Costeiro do Estado de Pernambuco, onde se vê em destaque o município de Olinda (Figura 46).

Figura 46 – Mapa do Quaternário Costeiro de Pernambuco, destacando o litoral de Olinda.

4.4.1.4 Geomorfologia costeira de Pernambuco

As regiões costeiras encontram-se em permanente transformação geomorfológica em razão dos processos hidrodinâmicos, mas sobretudo em razão da presença do homem nesses ambientes.

A geomorfologia pode possuir um caráter integrador, na medida que procura compreender a evolução espaço-temporal dos processos do modelado terrestre, tendo em vista escalas de atuação desses processos, antes e depois da intervenção humana, em um determinado ambiente (Guerra e Cunha, 2012).

Nas áreas litorâneas, as consequências geomorfológicas de uma transgressão marinha vão depender da existência ou não de afloramentos de corpos litológicos mais ou menos resistentes ao embate com as ondas, da presença de falésias cristalinas e da ocorrência de dunas (Jatobá e Lins, 2008).

Ao longo da costa pernambucana o comportamento litológico apresenta natureza diferenciada com predomínio, ao norte, da Superfície dos Tabuleiros e da Planície Costeira, enquanto que ao sul há uma presença do Domínio Colinoso em substituição à Superfície dos Tabuleiros.

De acordo com a macrocompartimentação apresentada por Muehe (2006), a costa de Pernambuco está inserida na região nordeste no macrocompartimento denominado pelo autor de “Costa dos Tabuleiros Norte”, que se estende “do cabo Calcanhar ao Porto de Pedras” (Figura 47).

Segundo Muehe (op. cit.), “Este macrocompartimento, [...] é caracterizado por um litoral cuja orientação, inicialmente nor-noroeste a su-sudeste, passa, após um curto trecho de direção norte-sul, na altura do Cabo Branco, a infletir gradativamente para uma direção nor-nordeste a su-sudoeste”.

Figura 47 – Macrocompartimentação do litoral brasileiro.

4.5 HIDRODINÂMICA

Os processos hidrodinâmicos, cujos reflexos se fazem sentir diretamente no ambiente costeiro, estão relacionados a atuação dos ventos, ondas, correntes e marés.