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ESTADO DE PERNAMBUCO

1.1 IMPORTÂNCIA DO TEMA

A intensa pressão exercida sobre o litoral diante da antropização dos espaços costeiros que se dá, sobretudo, por meio das edificações, estruturas portuárias, implantações de vias litorâneas e intervenções urbanísticas que, além de impactarem diretamente no ambiente, alterando suas características primitivas, e interferirem no equilíbrio dessas áreas, faz com que essas construções se encontrem diretamente atingidas pelo desequilíbrio causado.

Na maioria das vezes, as intervenções realizadas no ambiente costeiro respondem diretamente por interferências na dinâmica sedimentar das praias. Essas intervenções impedem sobremaneira o aporte, reposição e permanência dos sedimentos no litoral e, consequentemente, promovem a instalação dos processos erosivos costeiros, fazendo com que o ambiente passe a depender de novas ações antrópicas na tentativa de eliminar a erosão instalada e de estabilizar a linha de costa, bem como de salvaguardar as construções ali implantadas.

Os riscos iminentes de perda de terreno natural, assim como, os danos provocados às propriedades públicas e particulares, após ser esgotada toda disponibilidade de tempo para o desenvolvimento de estudos capazes de viabilizar uma intervenção de recuperação, impõe ao ambiente a dependência de novas intervenções, desta feita sob o pretexto de proteger as áreas atingidas, de barrar a retrogradação da linha de costa, tal como de mitigar os efeitos da erosão. No entanto, o caráter emergencial das ações conduz frequentemente à adoção de medidas pontuais e muitas vezes inadequadas do ponto de vista técnico e ambiental, produzindo efeitos indesejados e imprevistos, muitas vezes de difíceis remediações e até mesmo de consequências irreversíveis.

O estudo do ambiente costeiro, bem como das medidas protetivas e de recuperação, e dos efeitos produzidos por suas inserções nesses ambientes, representa para os tomadores de decisão a possibilidade de compreensão de que o litoral é um ambiente de ampla diversidade e que requer a consideração de uma variedade de soluções ao abordar os problemas em uma área específica, e de entendimento de que não há uma solução absoluta para a erosão das praias, nem tampouco uma medida que se aproprie a todas as configurações litorâneas.

A opção por estruturas inapropriadas e as inúmeras tentativas de reconstituição de praia sem o pleno conhecimento de dados morfológicos e hidrodinâmicos, bem como das características geomorfológicas da região, têm se constituído em fatores determinantes para o insucesso de regeneração das zonas costeiras, além de contribuir, em muitos casos, para o agravamento e/ou transferência dos fenômenos erosivos (Gois, 2011).

Nesse sentido, Gomes (2007) alerta que “É necessário continuar a investigar muitos aspectos de dinâmica costeira e a investir na monitorização das situações para que se aprofundem os conhecimentos necessários à compreensão dos fenômenos, à previsão das evoluções e à sustentação das intervenções a nível de ordenamento e de defesa costeira”.

Para a comunidade científica, a investigação do uso de medidas de cunho protetivo ou de recuperação do ambiente costeiro, revelando os casos de sucesso, ou mesmo de insucesso, os acertos e equívocos, assim como, as medidas complementares e/ou corretivas decorrentes da inserção de intervenções no litoral, representa relevante contributo para o aprimoramento das concepções, assim como, para a fundamentação do conhecimento, permitindo uma maior compreensão do comportamento desse ambiente e das causas que levam, muitas vezes, a um estadão de degradação.

Para um ambiente essencialmente dinâmico e simultaneamente vulnerável, como é o caso do litoral, permanentemente suscetível a alterações constantes resultantes da interação continente e oceano, da interferência dos fenômenos ambientais de ordem global e, principalmente, às intervenções do homem nos processos naturais de suprimento dos sedimentos para a costa, essencial se faz uma compreensão ampla.

Ao tratar da questão das causas e consequências da degradação ambiental, bem como chamar atenção do papel da geomorfologia nesse tema, Cunha e Guerra (2012) afirmam que “para que o problema possa ser entendido de forma global, integrada, holística, deve-se levar em conta as relações existentes entre a degradação ambiental e a sociedade causadora dessa degradação que, ao mesmo sofre os efeitos e procura resolver, recuperar, reconstituir as áreas degradadas.

Nesse sentido, observa-se que a necessidade de recuperação e de preservação do ambiente costeiro tem despertado a atenção e o interesse da comunidade científica para a produção de dados e de estudos que permitam, por meio do aprofundamento do conhecimento do litoral – subsidiando e viabilizando a recuperação desse ambiente tão repleto de complexidade – que sejam conhecidas as alternativas mais apropriadas a cada ambiente litorâneo.

1.2 JUSTIFICATIVA

A erosão marinha no estado de Pernambuco é um problema ambiental histórico e de grande complexidade, que vem se constatando ao longo de todo seu litoral sob vários níveis de intensidade. O elevado grau de erosão das praias, assim como o alto nível de exposição de propriedades públicas e particulares ameaçadas pelo avanço do mar, tem contribuído no decorrer dos anos para que o litoral da Região Metropolitana do Recife (RMR) apresente, ao longo de toda sua extensão, uma variada quantidade de intervenções costeiras.

Olinda, a primeira cidade de Pernambuco a sofrer com o problema da erosão costeira e, consequentemente, com o recuo de sua linha de costa, é um dos municípios da RMR com maior percentual de intervenções costeiras implantadas. Essa grande variedade de obras vem sendo implantada durante décadas, ao longo do litoral, de forma pontual, descontínua e sem conexão entre elas. Em toda extensão do litoral olindense são encontrados espigões, quebra-mares, enrocamentos, além de uma grande variedade de muros de contenção e até mesmo um trecho com engordamento artificial da praia. Porém, sem que seja possível estabelecer qualquer ligação entre essas intervenções, que não seja de efeito corretivo.

A praia de Bairro Novo, com aproximadamente 2,0 km de extensão, é o segmento litorâneo olindense que apresenta o maior índice de urbanização, sendo constituída ao longo de todo o seu litoral por uma bateria de espigões de comprimentos e espaçamentos variados, intercalados pela presença de uma estrutura de enrocamento aderente, sem que estas tenham proporcionado resultados positivos na recomposição do perfil praial, desde aproximadamente cinco décadas.

Nesse contexto, esta pesquisa buscou partiu da hipótese de que as estruturas de defesa costeira da praia de Bairro Novo possam estar interferindo no processo de aporte sedimentar, impedindo a reconstituição da praia. Para tal, o desenvolvimento da pesquisa se deu a partir da busca pelo conhecimento das causas que imputaram o processo erosivo a essa faixa litorânea, bem como à caracterização sedimentológica da área de estudo, e a busca pelo conhecimento dos elementos que fundamentam o uso dos tipos de estruturas adotadas, possibilitando identificar se essas se apropriam à área de estudo, apontando se as mesmas estão dimensionadas adequadamente, ou mesmo que indique a necessidade de medidas corretivas, substitutivas, ou complementares, que possam oferecer à praia de Bairro Novo a possibilidade de aprisionar os sedimentos costeiros e favorecer a reconstituição de sua praia.

1.3 OBJETIVOS

Visando dissociar a finalidade a que se propõe esta tese, dos processos necessários à sua realização, os objetivos deste estudo foram subdivididos em “geral” e “específicos”.

1.3.1 Objetivo geral

O objetivo principal deste estudo é revelar o comportamento sedimentológico ao longo da praia do Bairro Novo e as relações estabelecidas com as estruturas de defesa costeira ali existentes.

1.3.2 Objetivos específicos

➢ Investigar a evolução histórica dos processos erosivos na costa olindense até alcançar a praia de Bairro Novo;

➢ Caracterizar o processo natural de aporte sedimentar identificado na porção média dessa faixa costeira;

➢ Diagnosticar o balanço sedimentar da área de estudo;

➢ Identificar as interferências exercidas nos processos sedimentares pelas estruturas de defesa costeira existentes, sobretudo dos espigões, bem como a capacidade que essas estruturas possuem em permitir a fixação de sedimentos e, consequentemente, em promover a regeneração dos perfis de praia.