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3.1.2 Condições climáticas e recursos hídricos

O clima é um componente na dinâmica costeira, por meio das variações do regime pluviométrico e das características dos ventos (predominantemente de E-W) associados aos demais fluxos, como radiação solar, contribuem na configuração e transformações paisagísticas. As condições climáticas da região caracterizam-se por um regime de chuvas concentrado, curto e irregular, seguido de um período seco e com altas taxas de evaporação, típicos do clima semiárido que predomina no Nordeste brasileiro e influencia o litoral cearense e a disponibilidade hídrica (BRASIL, 2006).

A influência do oceano confere maior umidade à faixa litorânea cearense, tornando a semiaridez mais amena, revelando a importância da atuação de sistemas meteorológicos que se originam no oceano, como os Vórtices Ciclônicos e os alísios de nordeste e sudeste, que predominam no litoral cearense e são responsáveis pela formação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema de controle das chuvas no litoral do Ceará (CEARÁ, 2006; LIMA; MORAIS; SOUZA, 2000; MAIA 1993).

A ZCIT circunda a faixa equatorial do Globo, no hemisfério sul, influencia as faixas norte da região Nordeste no primeiro semestre do ano. Forma-se pela convergência dos ventos alísios de nordeste e sudeste e caracteriza-se pela alta incidência de nuvens de pressão atmosférica, o que tende a causar chuvas principalmente durante o mês de março (CEARÁ, 2006, FUNCEME, 2002).

O tempo de permanência da ZCIT no hemisfério sul é determinante para a quadra chuvosa no setor norte da região, ou seja, para o volume das chuvas, contribuindo também na formação de outro sistema causador de chuva, as Linhas de Instabilidade, associadas, principalmente aos meses de dezembro a março e gerando chuvas no período da tarde e noite (CEARÁ, 2006, FUNCEME, 2014).

Os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior (VCAS), formam-se no oceano Atlântico, entre os meses de setembro e abril, tendo maior atuação no início do ano, frequente em janeiro e fevereiro, ou seja, durante o "verão chuvoso" da região. (CEARÁ, 2006; FUNCEME, 2014).

Assim, o período chuvoso se estende durante o primeiro semestre do ano, com médias pluviométricas que variam de 1.100 milímetros anuais para o Município de Fortim, e a temperatura fica na média de 23º C, no inverno e 29º C no verão (CPRM, 1998; CEARÁ, 2006). De acordo, porém, com os dados históricos da estação pluviométrica da FUNCEME localizada em Fortim, nos últimos 25 anos, o volume de chuvas anual ficou, principalmente,

abaixo dos 1000 mm para a área de estudo. Tal fato pode ser observado no gráfico 1, que exprime os totais pluviométricos para Fortim em um período de 25 anos.

Gráfico 1- Totais pluviométricos para o município de Fortim-Ceará durante os anos de 1990 a 2015.

No segundo semestre do ano, observa-se baixo volume de chuvas, sendo também nessa ocasião que se registram as temperaturas mais altas, com maior incidência de radiação solar, atuação dos ventos, registrando, consequentemente, os valores máximos de evaporação nesse período (CEARÁ, 2006). O gráfico 2 externa as médias mensais dos anos de 1990 a 2015.

Gráfico 2- Médias pluviométricas de janeiro a dezembro para o município de Fortim-Ceará entre os anos de 1990 e 2015.

O gráfico demonstra a variação sazonal das chuvas ao longo de 25 anos para o Município de Fortim, onde se observa que, de maio em diante, ocorre um decréscimo das precipitações e sendo os meses de setembro e outubro em que os valores de precipitação se fazem mais baixos, estando, praticamente nulos.

Os recursos hídricos estão diretamente associados aos aspectos climáticos e tipo de embasamento geológico da região, sendo estes elementos determinantes para avaliar o potencial hídrico superficial e subterrâneo. Além das características físicas, os recursos hídricos são influenciados pelos tipos de uso, que interferem na qualidade das águas. No

0 500 1000 1500 2000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 mm média anual 0 50 100 150 200 250 300 mm Fonte: Leite, 2015. Fonte: Leite, 2015.

Nordeste brasileiro, a influência direta do clima sobre o regime fluvial confere aos rios uma tendência à intermitência, implicando a diminuição da vazão em determinados períodos e na variação do fornecimento de matéria e energia ao litoral.

O Município de Fortim em seu limite oeste, com o Município de Beberibe, conta com o estuário do rio Pirangi e a leste, no limite com Aracati, há o estuário do rio Jaguaribe, como divisores naturais e políticos entre os municípios. Assim, Fortim encontra-se inserido em duas bacias hidrográficas, a Bacia Metropolitana e a Bacia do Jaguaribe, o que confere grande potencial hidrológico superficial e subterrâneo.

A Bacia Metropolitana é constituída por um conjunto de sub-bacias independentes, sendo a rede hidrográfica do rio Pirangi o limite oriental dessa bacia. A sub- bacia do rio Pirangi cobre uma área de 4.374 km², na qual o rio principal se estende por 177 km desde a nascente, no Município de Quixadá, no Sertão Central, e desaguando no litoral leste do Ceará (CEARÁ, 2009). Seu baixo curso ocupa uma área de 1898,835 km² dos Municípios de Beberibe e Fortim, onde encontra-se sua foz. (SILVA, 2012).

O rio Pirangi, por ser influenciado pelas condições climáticas da região expressa um caráter intermitente, contudo, a influência da maré no litoral o torna perene no baixo curso. Nessa área, percebe-se grande dinâmica ambiental por meio da formação de uma flecha litorânea, além da própria dinâmica social que se estabelece no entorno do estuário e que promove a descaracterização da paisagem natural ao longo do tempo. Percebe-se, desta forma, a importância do fluxo fluvial para a morfologia do litoral de Fortim, e, nota-se o consequente, potencial hídrico da região.

Em seu estuário, o rio Pirangi tem um canal com características meandrantes, em razão de grande sinuosidade e um padrão de drenagem do tipo dendrítica e subparalelo, com os afluentes distribuídos de forma homogênea em suas margens, sendo tais características influenciadas pelo tipo de estrutura da área, notadamente um embasamento sedimentar do período Tercioquaternário (CEARÁ, 2009).

A Bacia do Jaguaribe compreende o sistema hídrico do Estado mais importante, por drenar grande parte do Território cearense, nascendo na serra da Joaninha, no Município de Tauá, e percorrendo 610 km até sua foz, no litoral de Fortim (IBGE, 1999). A rede de drenagem tem, em geral, direção SW-NE, sendo fortemente influenciada por falhas e fraturas no curso principal e em afluentes, tornando-os bastante retilíneos, formando, por vezes, ângulos retos, conferindo um padrão de drenagem essencialmente dedrítico para o rio, com cursos em forma de "v" (MAIA, 1993).

A combinação de elementos geológicos e climatológicos conferem à área do baixo Jaguaribe um grande potencial hídrico subterrâneo, possuindo cerca de 800 poços profundos que possibilitam o abastecimento da população, tornando tais reservas fundamentais ao fornecimento dos núcleos urbanos, que possuem demanda para atividades econômicas, tais como agricultura (COGERH, 1999). No Município de Fortim, a importância das reservas subterrâneas é evidenciada pela representatividade de poços em todo o Município.

A fim de democratizar o acesso à água em toda a área da bacia, tem-se desenvolvido medidas como a construção de pequenos açudes ao longo do Jaguaribe e dos afluentes, totalizando cerca de 600, que, no entanto, tendem a produzir influxos negativos ao sistema, visto que diminuem o volume global de água (COGERH,1999). Tais medidas alteram a vazão e a disponibilidade de sedimentos do rio Jaguaribe, o que contribuí para a formação de barras fluviais em suas margens e, consequentemente, para o assoreamento da foz do Jaguaribe, o que compromete a navegação neste setor.

Considera-se, que por estar o Município, em grande parte, sob o domínio dos terrenos do Grupo Barreiras, há uma grande variação na potencialidade hídrica subterrânea local, relacionada à diversidade faciológica do domínio, com níveis mais ou menos permeáveis, o que tende a caracterizá-lo, em geral, pela pouca expressividade como aquífero, contudo, ao longo do litoral do Município, observa-se grande exploração dos recursos hídricos subterrâneos, tanto nas áreas de tabuleiro, como em ambientes de dunas, que representam um importante reserva, um aquífero natural, além das proximidades dos rios e riachos, que também se comportam como áreas relevantes de estoque de água subterrânea para o Município de Fortim (CPRM,1998).

No mapa 4, é possível compreender a disposição dos recursos hídricos no Município de Fortim-Ceará.