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Mapa 7- Zoneamento funcional do município de Fortim/Ceará

2.2 Planejamento ambiental em litorais de falésias

Em geral, ações de planejamento observadas em falésias no Ceará são voltadas aos interesses econômicos, de incremento do turismo no Estado, como o projeto "Rota das Falésias" que contempla oito municípios do litoral leste, tendo essa feição como foco do título e eixo diferenciador deste setor litorâneo, somente. Ações amplas de conservação e ordenamento dos múltiplos usos nessas áreas não são verificadas, à exceção do Monumento Natural das Falésias de Beberibe, que se configura em Unidade de Conservação Estadual de Proteção Integral e por isso é regida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação- SNUC.

As ações de gerenciamento costeiro, em geral, não são implementadas como forma de prevenção de riscos, mas seguem reparando, consertando o que foi perdido, por meio do desenvolvimento de estruturas de contenção, para minimizar os impactos da erosão

em curso e evitar perdas socioeconômicas (perda de infraestruturas, como casas, barracas de praia e estradas, artificialização da paisagem natural, redução do fluxo turístico, dentre outras).

Casos como esse podem ser percebidos no Ceará. Na praia da Caponga, no Município de Cascavel, foram construídos espigões para conter a energia das ondas e diminuir os efeitos do processo erosivo. Na praia de Canoa Quebrada, localizada no Município de Aracati, litoral leste do Ceará, a simbólica pintura na falésia foi reconstruída, em função do alcance do mar sobre a feição, causando a desestabilização e queda do material.

De acordo com Meireles (2012, p. 217), o uso e ocupação das áreas de falésias no Estado do Ceará motivam intervenções que "provocam a descaracterização estrutural e paisagística das falésias, em várias localidades distribuídas ao longo do litoral cearense".

Em Canoa Quebrada, nos topos e os sopés de falésias, há construções residenciais e abertura de caminhos ligando à praia, que contribuem no processo erosivo, originando voçorocas (SOUZA NETO, 2011). Em Beberibe, no litoral leste do Ceará, a situação não é muito diferente, visto que as falésias da Praia das Fontes e Morro Branco possuem intensa atividade turística, com ocupação por hotéis, barracas, residências, que geram a contaminação do solo e dos recursos hídricos, além da retirada de vegetação e de promover a artificialização da paisagem natural. Importante iniciativa, porém, foi concretizada em Beberibe, com a criação de uma unidade de conservação (Decreto-Lei nº 27.461 de 2004) para a preservação de 31,29 hectares de falésias, o Monumento Natural das Falésias de Beberibe (SILVA, 2008).

Assim, um planejamento ambiental que considere as limitações, problemáticas, e as potencialidades das unidades paisagísticas e promova o zoneamento funcional é essencial para gerir o território com suporte em diversos interesses envolvidos e possibilidades práticas de ação (existência de recursos financeiros, por exemplo), evitando os imprevistos, ou seja, possibilitando pensar no futuro.

Não se intenta afirmar que obras de engenharia para a proteção da costa sejam formas inadequadas de gerenciar os problemas em todas as situações, principalmente quando já existem influxos negativos provenientes de um processo erosivo, mas pretende-se enaltecer o fato de que os ambientes litorâneos são dinâmicos e, consequentemente, instáveis, e que, assim, construções e usos nesses espaços devem ser pensados antecipadamente, a fim de evitar riscos, perdas e gastos com obras de controle de erosão, pois, em alguns casos, não são observados resultados significativos e são acentuados os problemas ou criados outros.

Ao se implementar estruturas de proteção costeiras, é preciso medir sua compatibilidade com a dinâmica própria da feição e ambiente sobre a qual será implantada,

compreender os processos erosivos atuantes, refletir as vantagens e as desvantagens, com o propósito de atenuar o problema e não provocar maiores consequências ao ambiente já modificado (BRAGA, 2005).

Importante contribuição da pesquisa, nesse sentido, é promover o planejamento e a gestão das áreas de falésias por meio de uma visão ambiental sistêmica. Neste caso, a ideia de desenvolvimento sustentável deve nortear os rumos da pesquisa, os objetivos, as análises, o diagnóstico e as propostas da gestão, visto que as diversas formas de organizar os territórios seguem preceitos e pensamentos, sejam econômicos, políticos, religiosos, puramente estético (SANTOS, 2004).

Nesta perspectiva, buscam-se para a área de estudo em foco opções que prezem, não somente, pelo crescimento econômico, mas que este concilie a qualidade de vida da população com a manutenção dos sistemas naturais (ponderando suas potencialidades, vocações e limitações), principalmente, por considerar, neste caso, que a capacidade de alteração da planície litorânea, em geral, pode causar impactos negativos à população local.

De acordo com Santos (2004, p.28), o planejamento ambiental tem como objetivo "estabelecer as relações entre os sistemas ecológicos e os processos da sociedade, das necessidades socioculturais a atividades e interesses econômicos, a fim de manter a máxima integridade possível dos seus elementos componentes". Considera-se que o planejamento ambiental deve ser realizado de maneira contextualizada, com amparo na realidade socioambiental que se expressa em determinado espaço e tempo. Para isso, se faz necessário realizar análises setoriais de variados parâmetros (como a geologia, o clima, vegetação, solo), no entanto, há que se buscar, por fim, as conexões, o conhecimento integrado.

Ross (2009) observa que o planejamento e a gestão ambiental aplicados em distintas escalas de trabalho devem apoiar-se no binômio "base teórico-metodológico" (análise sistêmica) e "tecnologias da informação", em especial a Geografia, por ter como objeto de análise a compreensão das relações estabelecidas em sociedade e desta com a natureza.

De acordo com a perspectiva apresentada por Ross (2009), destaca-se dentro do processo de planejamento ambiental o zoneamento ambiental, que permite a avaliação do território para o qual se deseja implementar metas. De acordo com Silva e Rodriguez (2014) e Silva e Santos (2004), o zoneamento ambiental, classificação das unidades de paisagem, deve ser realizado mediante uma perspectiva interdisciplinar e através de técnicas cartográficas e sensoriamento remoto, como um instrumento essencial para o planejamento e o

estabelecimento da gestão que designará as formas de organização do território e as áreas de implementação de políticas públicas.

A expansão das tecnologias e produtos cartográficos facilita as análises geográficas, permitindo que o mapa se torne um fim e um meio na compreensão das dinâmicas e espacialização das informações. Para Florenzano (2011, p.91), as imagens de satélite "(...) mostram os ambientes e suas transformações, destacam os impactos causados por fenômenos naturais e pela ação do homem com uso e a ocupação”.

Nos estudos em falésias, percebe-se que os autores utilizam as imagens de satélites e softwares de geoprocessamento para observar e/ou calcular as taxas de recuo da feição em determinado período e avaliar prognósticos, como nas pesquisas de Del Rio e Gracia (2009) e Aranha (2014), que serão tratados no capítulo 5. Tais instrumentos e técnicas são fundamentais nesta pesquisa para possibilitar uma visão holística do espaço, para monitorar os fenômenos ambientais nas áreas de falésias do litoral de Fortim e produzir o zoneamento funcional para o qual foram traçadas as estratégias de gestão que devem ser refletidas pelos órgãos administrativos responsáveis, em combinação com a população local.

Toda essa perspectiva torna as pesquisas geográficas de destaque na sociedade, pelo seu compromisso em desenvolver estudos integrados, que, apoiados nas tecnologias da informação geográfica, buscam entender as relações que se desenvolvem em sociedade e também desta com o meio natural e, principalmente, pela sua capacidade de aplicação, dando grande suporte aos interesses de planejamento e gestão ambiental dos territórios, objetivando “conservar, preservar e recuperar a natureza e, ao mesmo tempo, promover o desenvolvimento econômico e social em bases sustentáveis” (ROSS, 2009, p.58).