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SOBRE RECURSOS HÍDRICOS: PROBLEMAS AMBIENTAIS, SANITÁRIOS E DE SAÚDE PÚBLICA EM BOA VISTA

3.5 Os Componentes Naturais de Boa Vista

3.5.1 Geologia, Geomorfologia e Solos

O Estado de Roraima localiza-se na porção central do escudo das Guianas, cujas rochas possuem idades que variam desde o Paleoproterozóico até tempos do Fanerozóico (HOLANDA, MARMOS; MAIA, 2014). No município de Boa Vista predomina a ocorrência de crostas lateríticas, areníticas e argilitos da Formação Boa Vista, além de cobertura sedimentar recente, especialmente nas áreas próximas aos rios Branco e Cauamé e os igarapés. São encontradas, ainda, rochas do embasamento cristalino antigo do Grupo Cauarane e Rio Urubu (HOLANDA; MARMOS; MAIA, 2014; PINTO, et al., 2012).

A Formação Boa Vista foi primeiramente descrita como uma delgada sedimentação arenosa, de cores claras, cimento argiloso, intercalando camadas seixosas com a ocorrência de concreções laterítcas (PINTO et al., 2012). Os estudos realizados pelo projeto RADAM descrevem que,

A Formação Boa Vista é constituída por sedimentos predominantes arenosos, inconsolidados, mal selecionados, com argilas arenosas e níveis de cascalhos intercalados. Tem cerca de 30m de espessura máxima e ocupa uma área de aproximadamente 20.000 km² dentro da área mapeada, estendendo-se pela República da Guiana com o nome de “White sand Formation” [...] (BRASIL, 1975, p. 87).

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Utilizou-se como fontes principais para esta seção a análise dos documentos produzidos na elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico do Estado de Roraima, bem como o Plano Diretor Municipal, além de artigos publicados em revistas especializadas.

Ao longo da Formação Boa Vista expõem-se dunas eólicas, constituindo formações arenosas pelo retrabalhamento de litounidades da Formação Boa Vista. Esses depósitos remontam ao início do Pleistoceno, recebendo a denominação de Formação Areias Brancas (HOLANDA; MARMOS; MAIA, 2014).

A morfologia atual do relevo roraimense resulta de um longo período de atuação dos agentes endógenos e exógenos, estando dividida em duas unidades morfoestruturais: 1: Terrenos Proterozóicos do Escudo das Guianas, englobando os terrenos ígneo-metamórficos de idade proterozóica e suas coberturas correlatas e, 2: Domínio das Coberturas Sedimentares Fanerozóicas, reunindo as formas de acumulação recentes e as Bacias do Rio Branco e de Boa Vista, estando incluída nesta última a Bacia do Tacutu, de idade mesozoica.

A Depressão de Boa Vista ocorre no nordeste de Roraima, ocupando cerca de 7% da superfície do Estado e está totalmente cercada pela superfície de aplainamento da Depressão Marginal Norte do Amazonas, estabelecendo uma única e extensa superfície aplainada que corta o Estado de Norte a Sul, com altitudes oscilando entre 100 e 130 metros. Sua área abrange parcialmente os municípios de Boa Vista, Alto Alegre, Pacaraima, Normandia e Bonfim (HOLANDA; MARMOS; MAIA, 2014).

Geralmente em seu interior registra-se a ocorrência de “tesos”, que constituem terrenos levemente ondulados resultantes do processo de dissecação de crostas lateríticas. Sua rede de drenagem é variada, constituindo-se de cursos d‟água intermitentes, igarapés e lagoas, interligados ou não.

De acordo com Maia e Dantas (2002) a Depressão de Boa Vista encontra-se dividida em seis unidades de relevo:

[...] Superfície pediplanada de relevo plano (Pp); Superfície pediplanada levemente ondulada (Plo); Superfície pediplanada sujeita à inundação associada a lagos (Ppai); Colinas (Dc); Colinas amplas (Dca) e Morrarias (Da), além de inúmeras formas residuais esculpidas em rochas graníticas e gnáissicas pertencentes ao embasamento, tais como “inselbergs", morros residuais, campos de blocos, colinas isoladas e formas de acumulação disseminadas por toda a sua extensão (MAIA; DANTAS, 2002, p. 26).

Neste contexto, destaca-se que os fatores limitantes dessas áreas estão relacionados com a perda do solo por erosão laminar e com a predisposição à contaminação do lençol freático por resíduos liberados pela atividade agrícola.

Como consequência do processo evolutivo das estruturas físicas, Roraima apresenta uma grande diversidade pedológica com predominância na área de estudo dos Argissolos Acinzentados, Argissolos Amarelos, Latossolos Avermelhados, Neossolos Flúvico, cujo material de origem são sedimentos argilo- arenosos da Formação Boa Vista. Especificamente para o Município de Boa Vista, Costa et al. (2006 apud AVILA, 2007, p. 31) descrevem:

O município de Boa Vista possui 10 das 14 classes de solos descritas para a Amazônia, sendo elas: latossolo amarelo distrófico típico, latossolo vermelho-amarelo distrófico típico, latossolo vermelho, argissolo amarelo distrófico, plintossolos, cambissolo háplico, gleissolo háplico distrófico, neossolo quartzarênico hidromófico distrófico, neossolo flúvico tb distrófico e neossolo litólico distrófico. São solos profundos, seguindo uma sequência horizontal A, B, e C, intemperizados, ácidos a fortemente ácidos e álicos, de baixa fertilidade natural.

Contudo, há predominância de Argissolo Acinzentado, Argissolo Amarelo, Latossolo Avermelhado e Neossolo Flúvico, estando este último diretamente associado ao curso dos rios Branco e Cauamé. Os solos são predominantemente arenosos e com baixa fertilidade como destacado por Holanda, Marmos e Maia (2014, p. 67),

Em geral, predominam solos ácidos, distróficos, cauliníticos e pobres em bases trocáveis e óxidos de ferro quando originados de sedimentos da Formação Boa Vista; eutróficos quando associados aos materiais decompostos dos basaltos Apoteri.

Com relação à capacidade de infiltração dos solos argilosos, principalmente os Latossolos Amarelos que ocorrem no município, Reis et al., (2006, p. 05) afirmam que “Durante o período chuvoso a velocidade de infiltração é bastante reduzida, criando um gradiente de infiltração, o que os torna bastante susceptíveis à erosão, principalmente do tipo laminar”. É sobre esse sistema que está assentada Boa Vista.

O acelerado processo de ocupação e a urbanização desordenada promoveram a ocupação de áreas de fundo de vale, bem como o aterro de lagoas, prejudicando o funcionamento do sistema natural de drenagem. Cerca de 50% das lagoas existentes na área urbana desapareceram devido à ocupação desordenada. Consequentemente, a cidade possui diversos problemas de alagamentos, prejudicando a população durante a estação chuvosa.