A região do depósito de ouro do Amapari está inserida na Província Geocronológica Transamazonas de Santos et al. (2000), ou Maroni-Itacaiúnas de Tassinari (2000).
A litoestratigrafia e a geologia deste capítulo baseiam-se na proposta de Faraco et al. (2004), onde o empilhamento das unidades geológicas apresenta boa consistência, pois estão suportadas, principalmente, por datações Pb-Pb e Sm-Nd e subordinadamente pelo método Rb-Sr (Figura 4). Compreende unidades arqueanas (meso e neoarqueana); proterozóicas (paleo e mesoproterozóica); do Mesozóico e Cenozóico.
O Mesoarqueano está representado pelo Complexo Tumucumaque, Complexo Guianense e Metatonalito Cupixi. O Complexo Tumucumaque constitui-se de ortognaisses tonalíticos a granodioríticos e, subordinadamente quartzo-dioritos e ortomigmatitos, com idade Sm-Nd em rocha total de 3010 19 Ma. O Complexo Guianense compreende gnaisses e migmatitos, com idade Pb-Pb em zircão de 2865 28 Ma a 2105 16 Ma. O metatonalito Igarapé Água Fria apresenta composição tonalítica a granodiorítica, cuja datação pelo método Pb-Pb, em zircão, forneceu idade de 2349 6 Ma (Avelar et al. 2001).
O Neoarqueano compreende os terrenos de médio a alto grau metamórfico, com idades Pb- Pb e Rb-Sr variando entre 2790 Ma 15 Ma a 2524 3 Ma, e estão representados pelo Complexo Jari-Guaribas, com ortognaisse enderbítico a charnoenderbítico e que ocorre no norte do Pará-SW do Amapá; Complexo Baixo Mapari, com ortognaisse granítico da transição anfibolito-granulito; Granulitos Indiferenciados; Charnockito Cuatá, com álcali-feldspato granulito charnockítico, cordierita-álcali-feldspato granoblastito; Complexo Iratapuru, com quartzito, paragnaisse aluminoso, BIF e xisto quartzoso, de fácies anfibolito alto a granulito; e Ortognaisse Indiviso (ortognaisse TTG)
No Paleoproterozóico estão inseridas as seqüências metavulcanossedimentares do tipo
greenstone belt (Grupo Vila Nova, Formações Igarapé Araújo e Serra das Coambas); Complexo
Bacuri (2200 ± 13 Ma, Pimentel et al. 2002); os granitóides orogênicos representando diversas fases de evolução orogênica transamazônica e as unidades de alto grau metamórfico Cobra e Mutum. O Complexo Bacuri corresponde a um corpo máfico-ultramáfico, acamadado, e encerra um depósito de cromita da região do rio Vila Nova.
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Figura 4: Mapa geológico da região central do Amapá. Fonte Faraco et al. (2004)
30 km
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Legenda da Figura 4. Fonte Faraco et al. (2004).
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A faixa do Grupo Vila Nova, que apresenta maior extensão e largura, engloba os depósitos de ouro do Amapari e manganês de Serra do Navio, onde ocorrem rochas metabásicas, e rochas metassedimentares químicas (metachert, BIF e rochas metacarbonáticas), e subordinadamente xisto pelítico e quartzito.
O Complexo Bacuri situa-se na região do rio Vila Nova e trata-se de complexo máfico- ultramáfico, acamadado, de idade Sm-Nd (2200 13 Ma, Pimentel et al. 2002), que hospeda o depósito de cromita do Vila Nova.
Segundo Santos (2003), a região do Amapá experimentou quatro ciclos orogênicos e os granitóides mais antigos, que podem ser associados à primeira orogênese, entre 2060 a 2206 Ma, são tonalitos, trondhjemitos e granodioritos, tipo Papa Vento, suíte plutônica Cupixi e outras sem denominação específica. Granitóides similares composicionalmente e geneticamente também foram gerados durante a segunda orogênese, entre 2140 a 2120 Ma. Os granitóides da segunda orogênese estão representados pela Suíte Intrusiva Urucu (charnockito, charnoenderbito, granada charnoenderbito) e algumas suítes intrusivas granodioríticas e monzograníticas, sem denominação própria. A terceira orogênese está relacionada aos granitóides monzo e sienograníticos, de idades entre 2089 a 2093 Ma. Corresponde ao Granito Cigana (sieno a monzogranito), Granito Igarapé Castanhal (leucogranito com granada) e suítes plutônicas sem denominação específica (granodiorito, monzogranito e sienogranitos), (sieno e monzogranito a duas micas e granada-muscovita leucogranito).
Unidades de alto grau metamórfico, como o Piriclasito Mutum (hiperstênio granulito e gnaisse) com idade Pb-Pb 2096 7 Ma e o Enderbito Cobra (enderbito e charnoenderbito) de idade Pb-Pb 2065 5 Ma, também estão presentes.
O granito peraluminoso Amapari, cuja datação Pb-Pb, em rocha, total forneceu idade de 1993 13 Ma, Pb-Pb em zircão 1980 60 Ma e zircões herdados com idade mínima de 2,39 Ga (Borges et al. 2002), caracteriza um episódio magmático tardi-transamazônico.
O Neoproterozóico compreende os granitóides pós-tectônicos Falsino e Uaiãpi, representantes do magmatismo tipo A. O granodiorito Falsino (1719 Ma, Faraco et al. 2004) constitui-se de granodiorito, diorito e quartzo-diorito, enquanto o Granito Uaiãpi de idade Pb-Pb (1753 3 Ma , Ricci et al. 2001 in Faraco 2004) está relacionado a hastingsita sienogranito.
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Ainda no Neoproterozóico, ocorre a intrusiva alcalina Mapari, de idade Rb-Sr 1680 a 1130 Ma, que consiste em nefelina sienito e rocha álcali-sienito.
O Terciário está representado principalmente por lateritos que sustentam os platôs e muito subordinadamente observa-se ocorrência de gossan. Tem-se ainda, o Grupo Barreiras constituído por arenitos, siltitos e argilitos.
O Quaternário constitui-se de depósitos aluvionares (cascalho, areia e argila inconsolidados) e depósitos flúvio-marinhos (cascalho, areia e argila).
II.4.1 Estruturas
As unidades geológicas estão orientadas preferencialmente segundo a direção NW-SE e em diversos locais observam-se inflexões para NNW, retomando em seguida a direção geral NW-SE. Diques básicos de direção preferencial N-S estão relacionados à distensão de direção E-W. Os de direção NW e NE são de idade mais antiga e associada a uma fase de distensão NE-SW e outra NW-SE.
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CAPÍTULO III – GEOLOGIA LOCAL E O DEPÓSITO DE OURO DO AMAPARI
III.1 Litoestratigrafia
Na região do depósito de ouro do Amapari estão presentes rochas de idade arqueana, proterozóica, mesozóca e cenozóica (Figura 5).
O Arqueano está representado pelo metatonalito Água Fria, de composição tonalítica a granodiorítica, que ocorre na porção SW do mapa.
O Paleoproterozóico compreende a unidade metavulcanossedimentar do Grupo Vila Nova (Lima et al. 1974), granitóides tipo TTG (tonalito, trondhjemito, granodiorito) e suíte plutônica, sem denominação própria, constituída por monzogranito.
O Grupo Vila Nova constitui-se de rochas máficas, sedimentares químicas e clásticas, metamorfisadas na fácies anfibolito, e corpos máfico-ultramáficos acamadados (Horikava & Ferreira Filho 2003). A rocha máfica é representada por ortoanfibolitos, correlacionáveis ao Grupo Jornal de Scarpelli (1970), que ocorre como faixa alongada de direção NW-SE e está em contato com o metatonalito Água Fria e gnaisse granodiorítico da suíte plutônica, a ser descrito mais adiante. As rochas metassedimentares químicas compreendem: formações ferríferas bandadas (FFb), rochas metacarbonáticas e cálcio-silicáticas, enquanto paranfibolitos, biotita/muscovita-quartzo xistos (com ou sem granada) e sillimanita quartzitos representam as rochas metassedimentares clásticas. Na região de Serra do Navio, níveis ricos em rodocrosita e gonditos se intercalam em biotita xistos e grafita xistos e constituem o protominério de manganês da mina de Serra do Navio. Doravante, as rochas metacarbonáticas são referidas simplesmente como rocha carbonática, sem o prefixo meta, por praticidade de escrita. Os corpos máfico- ultramáficos, denominados Canga e Bicicleta, são intrusivos nos xistos e interpretados como condutos/sills do vulcanismo máfico-ultramáfico do Grupo Vila Nova e consistem de metaperidotitos, metapiroxenitos e metagabros (Horikava & Ferreira Filho 2003). Os mesmos ocorrem sob espessa cobertura laterítica, maciça, em média com 10 m de espessura, identificados através de sondagem diamantada (Figura 5).
Os granitóides indiferenciados, constituídos por tonalitos, trondhjemitos e granodioritos, afloram no entorno e próximo do depósito de ouro do Amapari. A suíte plutônica monzogranítica localiza-se no contato SE do metatonalito Água Fria. Até o momento, não se tem dados para se
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Figura 5: Geologia da Região do Amapari, modificado de Horikava & Ferrreira Filho (2003).
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correlacionar os granitóides indiferenciados com os granitóides TTG ou com a suíte plutônica monzogranítica.
O granito peraluminoso Amapari, de idade 1993 ± 60 Ma (Borges et al. 2002), intrude rochas do Grupo Vila Nova e representa um evento magmático tardi-transamazônico, com condições de formação entre 620 – 630ºC e 2,3 – 3,8 kb (Melo 2001).
Do Mesozóico tem-se os diques básicos, magnéticos, constituídos por diabásios e gabros, de direção NW-SE e N-S, muitas vezes na forma de enxames.
O Cenozóico é representado pelas coberturas lateríticas terciárias que sustentam o extenso platô da Serra da Canga localizado a N e E do depósito de ouro do Amapari. Já o Quaternário é representado pelos sedimentos inconsolidados que entulham os rios e igarapés da região.
III.2 Metamorfismo
Scarpelli (1970) propõe três eventos metamórficos para a região, sendo o primeiro dinâmico de fácies anfibolito, o segundo termal de fácies hornblenda hornfels e o terceiro dinâmico (1,77 – 1,71 Ga K-Ar), também de fácies anfibolito. O pico do metamorfismo em Serra do Navio é de 700 ± 40ºC e 5,5 1 kb (Belo et al. 1978 in Faraco 2003). Estudando as rochas do alvo Urucum, do depósito do Amapari, Melo (2001) interpreta dois eventos metamórficos. O primeiro registro é de metamorfismo regional, representado pelos xistos como produto de metamorfismo sobre rochas sedimentares e pelo tamanho dos grãos de quartzo em FFb; o segundo é termal da fácies piroxênio hornfels (paragênese calcita + periclásio).
III.3 Estruturas
As rochas do Grupo Vila Nova estão orientadas segundo a direção NW-SE, com inflexões para N-S, retomando novamente a direção NW-SE.
A foliação geral é NW-SE, com mergulhos para NE, indicando vergência tectônica para SW.