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CAPÍTULO 2 – PARQUE ESTADUAL DO ITACOLOMI: CARACTERIZAÇÃO

3.2.7. Geoparque

A questão em torno da necessidade de instituir uma iniciativa para a proteção e conservação do patrimônio geológico surgiu em 1996, durante o 30º Congresso Internacional de Geologia, em Pequim. Segundo Modica (2009), durante este evento foi constatado que a comunidade científica por si só não tinha a força nem o poder de garantir a gestão sustentável do patrimônio geológico sem o forte envolvimento e participação das comunidades locais. A partir de então, geocientistas de todo o mundo começaram a discutir meios de divulgação e valorização do patrimônio geológico da Terra.

Um dos primeiros resultados desse congresso foi o surgimento do conceito de geoparque, na Europa, já no final da década de 90, quando quatro territórios - a reserva geológica de Haute-

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Provence, na França; a Floresta Petrificada de Lesvos, na Grécia; o geoparque Vulkanaifel, na Alemanha; e o Parque Cultural Del Maestrazgo, na Espanha - se uniram e criaram a Rede Européia de Geoparques, visando a interação e troca experiências com o objetivo de proteger e divulgar o patrimônio geológico (Modica 2009).

Definido como um território de grande dimensão e limites geográficos bem definidos, um geoparque engloba geossítios de importância, beleza ou raridade que sejam representantes da história geológica ou geomorfológica, ou de importância ecológica, cultural ou arqueológica da região. Seu objetivo maior é servir como instrumento de apoio ao desenvolvimento socioeconômico da região através de sua valorização pelo turismo. Além disso, ele deve também apoiar a investigação científica em cooperação com as universidades e instituições que estão inseridas dentro de seus limites, estimulando o diálogo entre os geocientistas e as populações locais (Silva 2009).

O maior impulso para a disseminação mundial do conceito de geoparque aconteceu em 2004, com a criação da Global Geoparks Network (GGN) pela Unesco em parceria com a União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS). O objetivo dessa rede é incentivar a criação de geoparques e promover a integração entre os membros através do intercâmbio de experiências e ações de divulgação.

Cabe salientar que antes de 2004 a Unesco já possuía outros dois programas de proteção ao patrimônio natural, entretanto nenhum deles focava os elementos geologicos, intitulados “Homem e a Biofera” (1971) e “Patrimônio Mundial” (1972). Entretanto, nenhum deles tinha como foco a proteção direta ao patrimônio geológico, vindo o GGN preencher esta lacuna.

Para a candidatura de um geoparque na GGN, ele já deve possuir um sistema de gestão estruturado e projetos em andamento (Martini 2009). Atualmente, a rede possui 87 geoparques- membros, distribuídos por 27 países.

Todos os geoparques integrantes da rede são escritos obrigatoriamente como Geoparks, em inglês, demonstrando que ele é um território reconhecido internacionalmente. No Brasil, devido a confusões entre os nomes geoparque e parque, unidade de conservação categorizada pelo SNUC, priorizou-se a utilização da palavra em inglês (geopark) para definir até mesmo os geoparques ainda não integrantes da rede.

O Geopark Araripe no Estado do Ceará, criado em 2006 no Estado do Ceará, é o único geoparque da América do Sul inserido na rede mundial da Unesco. Sua criação foi impulsionada devido à importância paleontológica da região, importante representante do período Cretáceo. Além dele, o Brasil possui outros três geoparques, porém ainda não reconhecidos pela rede mundial, são

eles: Geopark Bodoquena-Pantanal, no Mato Grosso do Sul, Geopark do Ciclo do Ouro, em São Paulo e Geopark Quadrilátero Ferrífero, em Minas Gerais.

3.2.7.1- Geopark Quadrilátero Ferrífero

A proposta de estabelecimento de um geoparque na região do Quadrilátero Ferrífero foi apresentada por Úrsula Ruchkys em sua tese de doutorado defendida no ano de 2007. A partir dela, várias ações e esforços vem ocorrendo para que o geoparque seja reconhecido pela Unesco.

A área do geoparque engloba toda a região conhecida como Quadrilátero Ferrífero, localizado no centro do Estado de Minas Gerais, abrangendo 25 municípios, dentre eles a capital Belo Horizonte e algumas cidades históricas, diversos geossítios, empresas mineradoras e nove unidades de conservação da natureza, dentre elas o Parque Estadual do Itacolomi.

Em seus limites foram identificados geossítios divididos em duas categorias de importância: sítios relacionados à história geoecológica da Terra e sítios relacionados à mineração. Em acresção, foram selecionados geossítios de ordem cultural, ambiental ou científico, como museus, estações ecológicas, entre outros. Atualmente, seis geossítios já possuem placas de sinalização interpretativas, dentre eles o Pico do Itacolomi.

Basicamente, toda a economia do Quadrilátero Ferrífero provém da extração mineral, sendo esta atividade o principal sustento da população residente dentro dos limites deste território. Todavia, uma grande preocupação é que os recursos minerais são bens limitados. O estabelecimento do Geopark do Quadrilátero Ferrífero pode contribuir como agente impulsionador de uma nova fonte de renda através do turismo e atividades associadas, promovendo uma diversificação da economia, e minimizando o impacto causado quanto ao declínio da extração mineral.

3.2.7.2- Geoparque X parque

Como geoparques são idéias ainda novas no Brasil, ainda há uma confusão de conceitos entre geoparque os e parques nacionais categorizados pela Lei no 9.985 de 18 de julho de 2000, que estabelece o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

Apesar de nomes parecidos, ambos territórios possuem características bastante diferentes. Os parques tem como função básica preservar ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e paisagistica, possibilitar a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico (Brasil 2000). Nele, para funções de preservação ecológica, não são permitidas propriedades particulares dentro de seus limites, bem como qualquer tipo de extração, cultivo ou criação de animais

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ou plantas exóticas. A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no plano de manejo e a pesquisa científica só pode ocorrer mediante autorização do órgão gestor.

Já o geoparque, diferentemente de qualquer unidade de conservação da categoria parque, que implica na retirada das comunidades de seu interior para a preservação da biodiversidade, deve integrar as comunidades locais e envolvê-las em suas estratégias e projetos de valorização do patrimônio geológico. Eles englobam municípios inteiros, por vezes, até grandes capitais; a população deve estar integrada em qualquer estratégia de ação. Não há nenhuma legislação nacional específica sobre geoparques, sendo assim, com excessão de seus geossítios que devem estar preservados, não existem restrições quanto ao uso em seu território. Sua função primordial é servir a geologia como subsídio para o desenvolvimento territorial, através do desenvolvimento turístico. Além disso, um geoparque pode abranger diversas unidades de conservação, sejam elas parques, florestas, reservas, monumentos naturais, ou outras categorias de áreas protegidas.

3.3- PRIMEIRAS INSTITUIÇÕES E INICIATIVAS EM GEOTURISMO NO BRASIL

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