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CAPÍTULO 4 – CARACTERIZAÇÃO DA GEODIVERSIDADE DO PARQUE

4.4. Processos exógenos na elaboração da paisagem do PEIT

Processos exógenos de esculturação do relevo formaram e ainda atuam ativamente na construção da paisagem do PEIT. Os agentes intempéricos e erosivos são favorecidos pela ampla rede de fraturamentos e pela estratificação, que facilita o ataque às rochas através da percolação da água. Este relevo moldado por condicionantes hidrológicos é denominado de ruiniforme, devido às formas rochosas semelhantes a ruínas (figura 4.20).

Figura 4.20- Afloramento ruiniforme: a ação dos agentes intempéricos e erosivos moldam os afloramentos metaquartzo-areniticos, assemelhando-os a ruínas (LIG 39; setor D).

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4.4.1- Erosão pela água pluvial nas rochas

A água pluvial molda as rochas através do ataque ao longo de planos de descontinuidade, favorecendo a desagregação mecânica da rocha. A ampla rede de fraturamentos aliado aos planos de estratificação rochas constitui zonas de caminhamento da água que, lentamente, lubrifica a superfície de contato e desagrega partículas, provocando quebras segundo estes planos (Penteado 1980). Comprovações físicas do estágio inicial deste processo podem ser observadas nos lapiés e nas caneluras existentes na superfície das rochas quartzosas (figura 4.21a).

4.4.1.1- Pináculos subhorizontais

Devido ao fraturamento subhorizontal das rochas, associado ao acamamento bem definido com mergulho em média de 25º dos metaquartzo-arenitos, os pináculos subhorizontais são comumente observados, originando feições que se assemelham a pranchas e proas de navio (figura 4.21b). Elas são formadas através do desgaste causado pela água da chuva nesses planos, nas fraturas e nas bordas – superfícies mais expostas - provocando a degradação e a desagregação de partes da rocha.

Figura 4.21- Alterações na morfologia das rochas ocasionadas pela água pluvial: a) lapiezamento na superfície do metaquartzo-arenito (LIG 11; setor C); b) b) pináculos subhorizontais (LIG 23; setor D).

4.4.1.2- Blocos oscilantes

Os blocos oscilantes ou suspensos (Guerra 1993), são facilmente encontrados pelo PEIT. Tratam-se de blocos rochosos que, aos poucos, estão sendo desagregados da rocha primitiva, mas que ainda encontram-se unidos a esta, em processo de equilibrio (figura 4.22a). São formados pela erosão que atua no acamamento, planos de fratura ou bordas da rocha. Uma vez desagregados da rocha matriz, tendem a se deslocar, rolando ou escorregando segundo a ação da gravidade (Guerra 1993).

Contribuições às Ciências da Terra - Série M, vol. 69, 204p.

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Em alguns locais, os blocos oscilantes são encontrados uns sobre os outros, formando estruturas semelhantes a “tótens”. Nelas, há a impressão equivocada de que os blocos estão soltos e foram equilibradamente empilhados uns sobre os outros (figura 4.22b).

Figura 4.22- Blocos oscilantes ou suspensos: a) Pedra do Porco (LIG 3; setor C); b) “tótens de pedra” (LIG 17, setor C).

4.4.2- Erosão alveolar

Na superfície das paredes rochosas metaquartzo-areníticas do PEIT são encontradas pequenas cavidades arredondadas semelhantes a favos de abelhas. Estas estruturas denominadas alvéolos, são formadas pelo processo de erosão alveolar, onde a ação combinada da dissolução de componentes solúveis e da remoção mecânica da rocha pela água da chuva formam pequenos buracos na rocha (Fortes 1996, Melo et al. 2004, Melo 2006).

Na maior parte das vezes, a distribuição dos alvéolos ocorre de maneira orientada seguindo os planos de estratificação da rocha (figura 4.23). Entretanto se observou que em certos afloramentos, mais expostos aos agentes intempéricos e erosivos, como a chuva, vento e sol, os alvéolos se apresentam mais largos e profundos e, por vezes, aparecem distribuídos de maneira caótica, o que talvez indique que esses agentes contribuam como agente erosivo na formação dessas estruturas. Feições similares foram descritas nos arenitos do Parque Estadual de Vila Velha, no Paraná, e no Parque Nacional de Sete Cidades, no Piauí.

4.4.3- Erosão no solo

Na região compreendida por metapsamitos do Grupo Itacolomi, os solos são rasos e arenosos, o que impede o crescimento de uma vegetação que possa protegê-lo do impacto da água da chuva. Desta forma, o impacto das gotas promove a desagregação e a liberação das partículas de sedimentos,

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Figura 4.23- Erosão alveolar nos metaquartzo-arenitos: a) distribuídos de maneira caótica na base do afloramento (LIG 16; setor C); b) orientados segundo a foliação (LIG 27, setor D).

que são transportados por meio de escoamento superficial da água, alterando a morfologia do solo. Dois tipos de erosão no solo foram observados pelo PEIT: linear e laminar.

A erosão linear tem como produtos as ravinas, e vêm ocorrendo ao longo das estradas de acesso, como a do Morro do Cachorro, do Manso e na trilha da Serrinha. Os sulcamentos aparecem quando a água da chuva que desce pela estrada ou pela encosta, escoa linearmente, concentrando o fluxo de água nas laterais do trajeto.

Um processo de erosão laminar vem ocorrendo no solo em na trilha do Manso em uma área de vertente com pouca declividade (LIG 8, setor C; figura 4.26). No local, o fluxo de água que escoa pelo terreno carrega as partículas de maneira difusa, expondo o solo arenoso rico em quartzo, o que gera uma “mancha” clara que se destaca na paisagem. Esse processo dá origem a microfeições no solo, como as demoiselles e as escamas. Tais estruturas, no entanto, são muito frágeis e quebram-se com facilidade; por conseguinte, são melhores observadas logo após períodos chuvosos.

As demoiselles ocorrem em áreas de pouca declividade, em solos arenosos de granulometria heterogenea, constituídos por algumas partículas de quartzo maiores e mais resistentes à erosão. Durante as chuvas, a água escoada carrega consigo as partículas menores, enquanto os grãos grossos permanecem no local e ajudam a protegem aos materiais mais finos, passando as águas das chuvas a circular em redor destas estruturas, constituindo pequenas elevações em formato cônico no solo (Guerra 1993, figura 4.25a).

A formação das escamas acontece no momento em que uma pequena quantidade de água carregada de areia escorre por paredes muito inclinadas, deixando os grãos precipitados e originando microondulação na superfície (Alves 2007, figura 4.25b).

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Figura 4.24- Erosão no solo: a) erosão laminar, na trilha Manso (LIG 8; setor C); b) erosão linear, trilha da Serrinha (setor C).

Figura 4.25- Feições geradas pelo escoamento da água sobre o solo, ambas no LIG 8: a) demoiselles; b) escamas.

4.4.3- Erosão fluvial

Os rios que nascem sobre campos quartzíticos nas cotas altimétricas mais elevadas descem seguindo a direção do fraturamento das rochas metaquartzo-areníticas. Os principais são o córrego do Benedito e o ribeirão Belchior, quem nascem próximo ao pico do Itacolomi e atravessam toda a região do Sertão e da Serrinha (figura 4.26). São rios rasos, de leito rochoso, fluxo sazonal e retilíneos na maior parte do percurso. Todas estas características são favoráveis ao surgimento de feições morfológicas ao longo desses rios, como marmitas de dissolução, canyons e cachoeiras (figura 4.27).

As marmitas ocorrem no leito rochoso dos rios e possuem tamanhos e profundidades variadas. São formadas por um processo de turbilhonamento circular denominado evorsão (Guerra 1993). Esses elementos são responsáveis pelo trabalho abrasivo que desgastam as laterais e o fundo da marmita, impulsionado pelo fluxo das águas fluviais (Maio 1987). Em seu interior encontram-se materiais desagregados, normalmente seixos de quartzo provenientes de veios e grãos de areia (figura 4.28a).

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Algumas marmitas são tão largas e profundas que formam “banheiras naturais”. Com o passar do tempo, através do alargamento das fraturas e do aprofundamento das marmitas de dissolução são formados canyons (Penteado 1980).

Outro tipo de erosão fluvial ocorrente nos córregos que fluem sobre os terrenos quartzíticos é a cavitação, processo erosivo típico de canais fluviais que correm em relevos acidentados. Ela ocorre apenas sob grande velocidade da água, quando as variações de pressão, que incidem sobre as paredes do rio, facilitam a fragmentação das rochas (Guerra 1993). As estruturas resultantes são arcos e furos nas rochas localizadas nas pequenas e médias cachoeiras (figura 4.28b). Nele, diferentemente dos

canyons e marmitas, o único agente erosivo é força da água.

Figura 4.26- Principais rios do PEIT situados sobre metaquartzo-arenitos: a) ribeirão Belchior, na trilha da Serrinha (LIG 46, setor C); b) córrego do Benedito, na trilha do Sertão (LIG 30, setor D).

Figura 4.27- Características dos rios do PEIT: a) drenagem encaixada em fratura (LIG 21; setor C); b) cachoeira do Calaes, com pouco fluxo de água na estação seca (LIG 18; setor C).

4.4.4- Erosão pela água subterrânea

As drenagens subterrâneas do PEIT são controladas pela rede de fraturamentos, que facilita a intrusão de água no subsolo rochoso. A água de infiltração favorece o processo cárstico, através da

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Figura 4.28- Feições resultantes de processos erosivos no leito dos rios do PEIT: a) marmitas de dissolução (LIG 21, setor C); erosão por cavitação originando arcos (LIG 29, setor D).

dissolução e da erosão subterrânea do quartzito e do metaconglomerado, contribuindo para a formação de dolinas e cavernas. O fluxo de água subterrâneo frequentemente emerge à superfície através de sumidouros e ressurgências.

Muitas das cavidades ou abrigos do PEIT foram originalmente formadas por blocos abatidos no interior de dolinas. As dolinas são geradas pelo rebaixamento e colapso da superfície em virtude do desmoronamento do teto de uma cavidade em profundidade, formada por dissolução, dando origem a uma depressão em formato circular (Guerra 1993, figura 4.29)

As cavidades do PEIT estão concentradas nos setores C e D, como as grutas do Abrigão, Sertão e a Kiva, LIGs 19, 26 e 35, respectivamente. No interior dessas cavidades há espeleotemas, como travertinos, estalactites, e coralóides (figura 4.30). A Kiva é a maior cavidade do parque, com 330 metros de desenvolvimento linear (Ferreira & Lazarin 1993).

4.4.5- Ação de plantas e organismos nas rochas

O solo ocorrente sobre as rochas metaquartzo-areniticas do Grupo Itacolomi, por ser pouco desenvolvido, bastante raso e pobre em nutrientes, impossibilita o crescimento de vegetação de grande porte, prevalecendo apenas gramíneas e pequenos arbustos. Entretanto, o intenso fraturamento do pacote rochoso favorece o crecimento de espécies de médio e grande porte, devido ao acumulo de água e matéria orgânica que se deposita em meio às linhas de fratura (figura 4.31a).

Essa vegetação de maior porte, quando estabilizada, pode alterar a capacidade de resistência da rocha. Suas raízes podem contribuir para o alargamento das fraturas e até mesmo a quebra devido a esforços mecânicos nas paredes. De outra forma, essas plantas constroem um ambiente propício ao acúmulo de bactérias ou outras formas de vida nas fraturas e, juntamente com a percolação da água que ali penetra, ataca seus constituintes minerais e pode diminuir sua resistência frente à erosão.

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Figura 4.29- Dolinas: a) uma das grandes dolinas localizada na trilha do Manso (LIG 7; setor C); b) pequena dolina na trilha do Calaes, formando um sumidouro intermitente (LIG 14).

Figura 4.30- Espeleotemas: a) coralóides na gruta do Abrigão (LIG 19; setor C); b) microestalactites na gruta Kiva (LIG 26; setor D).

Curiosamente, no PEIT, marmitas são encontradas sobre a superfície das rochas localizadas bem longe do leito fluvial. Feições semelhantes foram descritas por Melo (2006) nos arenitos do Parque Estadual de Vila Velha. Para o autor, sua formação ocorre devido à superfície de rochas que não são totalmente planas, possuindo pequenas depressões acidentais onde a água passa a acumular-se após as chuvas e são enriquecidas com ácidos orgânicos da decomposição de organismos que ali se proliferam. Essa solução favorece a desagregação da rocha psamítica pela dissolução do cimento, aprofundando a depressão original e dando origem a estas marmitas (figura 4.31b).

4.5- MOVIMENTOS GRAVITACIONAIS

Alterações nas formas do relevo causadas por deslizamentos de encostas, quedas ou tombamentos de blocos rochosos, são evidentes e atuantes na constituição da paisagem do PEIT.

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Figura 4.31- Ação biológica nas rochas: a) crescimento de vegetação nas fraturas (LIG 27; setor B); b) marmitas desenvolvidas sobre pináculos (LIG 5; setor C).

A queda de blocos ocorre quando parte de rocha se desprende do maciço e se desloca vertente abaixo, por gravidade, sendo depositado na encosta ou no vale, de forma conjunta ou esparsadamente. Seu acontecimento está associado a processos intempéricos e erosivos nas estruturas da rocha, facilitando a desagregação. No tombamento de blocos a quebra se dá ao longo do plano de fraturamento vertical do maciço rochoso, ocasionando um movimento de rotação em relação à rocha matriz. Um exemplo deste fenômeno pode ser visto no LIG 10 (setor C).

O deslizamento de encosta está associado ao deslocamento abrupto pela encosta de solo ou fragmentos de rocha soltos. As encostas abruptas do PEIT, aliadas ao tipo de solo raso e pouco protegido por vegetação, favorece este tipo de movimento como pode ser observado no Lago Negro. Nesse LIG, o leito rochoso encontra-se recoberto por fragmentos rochosos que desagregaram da encosta (figura 4.32a). Outro LIG que ilustra movimento gravitacional é o LIG 4, que compreende um enorme bloco desagregado da rocha matriz e depositado com acamamento na forma vertical, destacando-se na paisagem (figura 4.32b).

4.6- DEPÓSITOS SUPERFICIAIS

São comuns nas superfícies das trilhas que ocorrem em terreno metaquartzo-areniticos (setores B, C e D) a ocorrência de um solo raso composto por areia fina de cor branca, formada pelo desgaste do quartzo e da rocha quartzítica. Esses sedimentos são evidentes em certos leitos e curvas de rios, formando bancos de areia.

Por todos os setores, trechos de trilhas mostram-se recobertos por fragmentos de quartzo proveniente da degradação dos veios frente a processos erosivos. Tratam-se de pedaços soltos e de

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tamanhos diversos que tornam os percursos bastante escorregadios, principalmente em declives do terreno (figura 4.33a).

As concreções ferruginosas também aparecem na superfície das trilhas do Manso e do Calaes, ambas no setor C, possivelmente formadas pela oxidação de minerais ferrosos presentes nos metaquartzitos desse setor (figura 4.33b).

Figura 4.32- Movimentos gravitacionais: a) deslizamento de encosta no ribeirão Belchior, indicado pela seta (LIG 47); b) grande bloco desagregado que foi depositado de forma vertical na encosta (LIG 4).

Figura 4.33- Depósitos superficiais: a) fragmentos de quartzo na trilha do Sertão (setor D); b) concreções ferruginosas (LIG 6, setor C).

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