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Gerência Geral de Ações Governamentais

Capítulo 4. Comitê Gestor do Pacto pela Vida, Gerência de Ações Governamentais e Gerência de

4.2. Gerência Geral de Ações Governamentais

A gerência geral de ações governamentais, conhecida como “núcleo de gestão” e sediada na Secretaria de Estado de Defesa Social, foi implementada, em setembro de 2008, após a consolidação de estudos produzidos pelo INDG. Nesses diagnósticos, denominados levantamento de fluxo dos processos, foram mapeadas as metas organizacionais, verificados os gargalos ao atendimento das metas, e sugeridas reformas e mudanças para alteração de processos deficientes. As informações levantadas contemplavam a atuação dos órgãos de controle e persecução penal no Estado em quesitos como: a atuação policial, a identificação de natureza do crime (afiançável ou não), e a qualidade da interação com judiciário. O levantamento constatou a urgência em se produzirem alterações nos processos internos das polícias civil e militar. Apontou também a necessidade de se estabelecerem veículos de interface com o judiciário, com o Ministério Público, com as agências diretamente influentes na prevenção criminal e com a administração do sistema prisional, visto não ser essa uma competência da SDS.

A atribuição inicial da gerência foi, portanto, a de criar instrumentos e soluções para a superação das dificuldades apontadas pelo INDG. Configura-se, assim, no núcleo responsável pela criação dos indicadores de desempenho e monitoramento do Pacto pela Vida e pelo assessoramento das forças regionais de segurança, no atendimento às metas, a partir de planejamentos estratégicos direcionados às áreas Integradas de Segurança. Nesse sentido, as atividades produzidas pelo núcleo de gestão, bem como seu corpo técnico especializado, são monopolizadas para o atendimento das necessidades da Câmara de Defesa Social.

A coleta, sistematização e formatação gráfica dos dados relativos às operações policiais, bem como dos indicadores de desempenho, são competência do núcleo gestor. À gerência de estatísticas e informações criminais da SEDS cabe a coleta e sistematização dos dados relativos exclusivamente aos Crimes Violentos Letais e Intencionais, sendo encaminhados ao núcleo para a composição gráfica das apresentações e composição das reuniões regionais.

A equipe da gerência é constituída por dezenove técnicos e um analista de gestão, selecionados em concurso realizado para lotação exclusiva, no setor, e mobilizados na SEDS. Além dos vinte concursados, há dois cargos comissionados à disposição da gerência.

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Como informa um dos entrevistados, o modelo de acompanhamento de resultados, formatado para as reuniões do Comitê Gestor do Pacto, segue a perspectiva de gerenciamento de projetos denominada PDCA, compreendida como um ciclo de gestão envolvendo as etapas de planejamento, execução, verificação e ação. Este é um modelo americano que foi igualmente aplicado, pelo INDG, na política mineira de redução criminal, durante o governo de Aécio Neves, e é amplamente difundido como estratégia matricial de gerenciamento nas consultorias produzidas por esse instituto.

Frente à estagnação dos números de CVLI para os anos de 2007 e 2008, a gerência realizou, em cooperação com as polícias, um planejamento emergencial. Sobre essa experiência, o entrevistado faz o seguinte relato:

“Aquilo foi uma concepção que foi construída junto com as polícias no momento depois, quando o INDG estava saindo. Em 2007, houve uma redução pífia do crime contra a vida. Em 2008, também houve pouca redução. Preocupava bastante o governo. Quando chegamos, em 2008, nós fizemos um plano emergencial. Porque do jeito que tava... O pacto era de quanto a redução? Tava lá previsto de 12%, na taxa, e tinha-se reduzido em 2,4%. Então, o que aconteceu? Nós viemos pra dar esse fôlego, esse gás, essa continuidade, uma coisa focada, uma coisa com prioridade. Então, foi construída com as polícias um primeiro plano, um plano emergencial. E pra esse plano emergencial sabia-se que você tem que ter prioridade, tem que ter foco. Então, os focos foram eleitos. Quais eram os locais para a atuação? Foram eleitos, no estado todo, entre bairros e algumas cidades do interior, 37 locais onde a polícia deveria dedicar uma atenção especial. E se observou que, nesses locais, a gente tava tendo um resultado até melhor. Ou seja, o pessoal ‘focando’. Então, organizamos com o DGO, esse núcleo de gestores... Juntamente com o DGO da PM, que é a Diretoria Geral de Operações da PM; com a Diretoria Geral de Ações operacionais da Polícia Judiciária – DGOPJ... Organizamos um planejamento que seria operacional. Ou seja, dentro daquele modelo do INDG de acompanhamento de área, o que a gente ia acompanhar? Ia acompanhar só estatística? Dado de morto, de produção de inquérito? Qual o nosso objetivo? Vamos focar em alguns objetivos? Então, foram desenhadas várias ações para serem acompanhadas semanalmente e mensalmente. Foi daí que foi construída a operação Malhas

da Lei, que é uma das operações mais importantes, que é a operação de

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repressão ao crack, que foi quando começamos a ter uma atuação focada no crack. Porque dizia-se, no plano do pacto, que nós íamos combater entorpecentes. Mas como é que a gente vai fazer isso? Então, foi criado esse núcleo, junto com as polícias. Foi criado isso aí... Então... Como é que a gente pode combater focadamente? Se combate como? Debelando boca. Quantas bocas vocês debelam atualmente? Então, isso aí foi construído junto com as polícias.” (Bernardo Almeida)

Como pode ser observado no discurso do entrevistado, um dos princípios essenciais ao planejamento de operações policiais e estratégias gerenciais é o “foco”. “Coisa focada”, “prioridade”, “foco”, “focando”, “focar”, “atuação focada”, “focadamente”... São palavras que apontam um dos princípios ou pressuposto orientador na implementação das inovações do Pacto pela Vida, como verificado também nas experiências de Fort Worth (EUA) e Queensland (Austrália). (JANG, HOOVER e JOO, 2010)

A gerência de ações governamentais não está prevista no organograma da SDS. O núcleo de gestores está formalmente subordinado à Secretaria de Planejamento e Gestão. Deste modo, a presença dos profissionais e a estrutura criada para a gerência, no âmbito da Secretaria de Defesa Social, não conta com nenhum instrumento de formalização de sua atuação focal. Do mesmo modo, não há memória escrita sobre os desdobramentos de sua criação ou sobre as competências, métodos e rotinas de trabalho. Segundo a fala do entrevistado, “ficou algo que informal, mas que dá muito certo”. De acordo com a sua interpretação, é atribuição do setor a prestação de assessoria técnica para a execução do trabalho operacional das polícias, sem poder deliberativo sobre a Câmara de Defesa Social. “Quem coordena a Câmara de Defesa Social e seus órgãos operativos, quem solicita, demanda e decide é o nosso secretário”. Neste sentido, não havia expectativa de regularização ou formalização da situação da gerência.

O responsável pela gerência geral de ações governamentais está atualmente ocupando o cargo de secretário executivo da Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado. A sua atuação no núcleo de gestão do pacto habilitou-o técnica e politicamente a auxiliar o processo de tradução do modelo de gestão por resultados na segurança pública para as áreas de saúde e educação, retoricamente chamados de “Pacto pela Educação” e “Pacto pela Saúde”.

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