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Cada um dos professores foi observado durante suas atividades pedagógicas em três dias diferentes. Levei comigo em todos os dias de observação um gravador de áudio e um caderno onde ia registrando as ações docentes que influenciavam os comportamentos e a organização do trabalho discentes ao longo da aula. Ao início de cada dia, ligava o gravador assim que entrava em sala de aula e desligava só ao fim da observação, exceto quando havia um intervalo de um período ou mais entre uma turma e outra. Ao ligar o gravador, dizia próximo ao microfone a hora em que o aparelho foi ligado e, ao registrar, os eventos registrados no diário de campo eram sempre acompanhados da hora aproximada em que aconteceu. Dessa forma, foi possível cruzar as informações e localizar na gravação o áudio do momento registrado no caderno com maior facilidade. Tal recurso se justifica por possibilitar que se determine a duração de cada acontecimento em aula e que se reproduza com a maior precisão possível diálogos relevantes para a pesquisa.

possuía em seu horário nos dias que eu tinha disponíveis para a pesquisa. O quadro abaixo sintetiza alguns dados que permitem uma maior contextualização das observações.

Tabela 2 - As aulas observadas

Professor Data de

observação Turno Turma Tema geral da aula

Cecília

18 de junho

Tarde

A12

Exploração de instrumentos de percussão e improvisação coletiva com estes instrumentos.

C21

Professora acompanha os alunos da turma durante uma palestra sobre alcoolismo que reúne outras turmas da escola.

26 de junho A14

Com metalofones e xilofones, as crianças compõem a partir de um tema sugerido pela professora (exemplo: floresta, cozinha, etc.).

2 de

outubro C21

Apreciação e ensaios preparatórios para o sarau com alunos da escola em homenagem a Vinícius de Moraes Eduardo 17 de junho Manhã A32 e A33

Avaliação da apresentação que realizaram na festa junina da escola. Nomeação e ordenação das notas musicais.

24 de junho A32 e

A33

Nomeação e ordenação das notas musicais.

07 de outubro

A32 e A33

Apresentação das composições de cada um dos grupos criadas nas aulas anteriores fazendo uso de cinco notas e executadas pelos alunos em um teclado.

02 de julho A12 Execução em roda de canções do repertório já trabalhado

Lauro Manhã

JB2 Execução em roda de canções do repertório já trabalhado

24 de

outubro A11

Com lápis de cor, colorir desenho de um homem tocando um baixo elétrico. Execução em roda das canções do repertório já trabalhado

14 de

novembro A11

Execução em roda das canções do repertório já trabalhado

Fonte: Autor, 2013.

Como pode ser observado, houve uma certa descontinuidade nas datas em que as observações ocorreram pois foram iniciadas em junho e, após as férias escolares de julho, só foram retomadas em outubro. Esse grande intervalo de tempo se deu porque senti necessidade de reformular a pergunta de pesquisa e por dificuldades em conciliar os novos horários (que haviam mudado de um semestre para outro por causa das disciplinas que cursei no último semestre do mestrado). A reformulação da pergunta de pesquisa se deu porque fui a campo buscando observar as questões extra-musicais envolvidas no ofício de professor de música na educação básica e essa formulação não mostrou-se suficientemente consistente para orientar minhas observações. Essa formulação estava ainda sobre forte influência da classificação das atividades docentes proposta por Walter Doyle (já discutida nesse trabalho) que as dividia entre gestão de matéria e gestão de sala de aula. Assim, as observações em sala de aula tiveram seu início pautadas em buscar práticas de gestão de sala de aula dos professores de música com base na “oposição” entre a gestão da matéria (nesse caso, a música e sua mediação didática) e a gestão de sala de aula (o restante, ou seja, o que há de não musical). O conceito comumente empregado de Walter Doyle15 também já não estava me servindo como uma boa referência pois, durante as observações, percebi que me era pouco claro o que eu devia observar ao procurar “regras e disposições” para a criação de um ambiente ordenado.

O tempo de interrupção das observações serviu para formular um conceito de gestão de sala de aula que me permitisse dar consistência à análise e essa formulação veio através das

15

“ [...] conjunto de regras e disposições necessárias para criar um ambiente ordenado favorável tanto ao ensino quanto à aprendizagem” (apud GAUTHIER et al, 2006, p. 241).

leituras de uma parte da obra de Michel Foucault e das conversas com o orientador. Definir gestão de sala de aula como a ação docente que visa influenciar as decisões e ações discentes foi de fundamental importância para que as observações fossem realizadas com maior clareza de objetivos e permitiu que a análise se desse de forma mais consistente, além de permitir uma linha de análise que possibilitava o diálogo entre os teóricos da gestão da sala de aula e autores como o próprio Foucault.

Também é importante pontuar que, o que entendo por observação de aulas tem aqui uma concepção, talvez, mais ampla que o comum. Como aponta o quadro, no dia 18 de junho a professora Cecília conduziu a turma a uma sala maior onde permaneceu junto à turma durante uma palestra sobre alcoolismo. Mesmo estando numa situação pedagógica não dirigida por ela, tal atividade de supervisão fazia parte de seu papel como docente da turma e gerou momentos interessantes para o objetivo da pesquisa. Foi possível vê-la na relação com os alunos fora do contexto da sala de aula, a maneira como se deslocava com aquele grupo até a sala da palestra e a maneira como intervinha quando grupos de alunos lhe pediam permissão para ir ao banheiro ou conversavam demasiado forte.

Após realizadas todas as observações, foram feitas as entrevistas com os professores pesquisados. Nesta pesquisa, a entrevista possuiu um papel híbrido de geração e análise de dados, do qual me ocuparei na seção seguinte.