• Nenhum resultado encontrado

A construção civil no Brasil demanda de uma grande quantidade de obras, tanto de infraestrutura quanto de habitação populacional, que combinado com o alto valor de mão de obra e materiais de construção, pressiona todos os setores da sociedade a se mobilizarem para encontrar soluções adequadas, simples e práticas que visem diminuir consideravelmente os custos das obras civis (SARMIENTO; FREIRE, 1997).

Visto que a construção civil utiliza cerca de 75% de recursos naturais, esta se torna um setor com grande potencialidade para a utilização de RCD (ÂNGULO, 2000).

De acordo com Pinto (1992), os resíduos têm presença assegurada em qualquer tipo e porte de obra. Ainda, o mesmo autor comenta que, em São Paulo, uma grande quantidade de material (em torno de duas mil toneladas/dia, o que corresponde a 500 viagens/dia) é muitas vezes retirada das obras, por pequenos transportadores, e são depositadas indiscriminadamente no meio urbano. As consequências ambientais e financeiras, da disposição indiscriminada do entulho da construção civil, tornam necessária a criação de programas de otimização da coleta e adequação da disposição do resíduo nos municípios.

Estima-se que para executar um metro quadrado de construção de uma edificação são utilizados em torno de uma tonelada de materiais, entre eles cimento, areia, brita, aço e madeira. Apesar da tecnologia aplicada à construção civil, muitas perdas e desperdícios ocorrem durante este processo, gerando assim uma grande quantidade de resíduos. Alguns levantamentos em um canteiro de obras na cidade de Brasília estimaram que uma obra gera em média 0,12 toneladas de entulho por metro quadrado (SOUZA, 2005).

Pinto e Lima (1993) ressaltam que o manejo eficiente e racional desse material propicia condições para a reciclagem, transformando-o em matéria-prima para utilização em obras públicas, inclusive em programas de habitação de interesse social.

O processo de reciclagem dos resíduos sólidos em materiais de construção civil é uma alternativa que vem ganhando força em todo país, reforçada principalmente pela questão ambiental e a escassez de recursos naturais. Com isso, estudos e experimentações de materiais alternativos

que apresentam desempenho próximo aos materiais tradicionais se mostram bastante relevantes (SAVASTANO, 2000).

Com base nesses aspectos, e pelo fato dos resíduos apresentarem um grande potencial para reciclagem, sua incorporação deve ser incentivada e seguida em todas as obras, visando a sustentabilidade, economia de recursos naturais e redução dos impactos ao meio ambiente (MORAES, 2008).

2.8 CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS

A resolução do CONAMA nº 307 (2002) define os resíduos da construção e demolição como aqueles provenientes de construções, reformas, reparos, demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados entulhos de obras, caliça ou metralha.

O artigo 3º da resolução do CONAMA nº 307 (2002) sugere a classificação dos resíduos da construção civil da seguinte forma:

I. Classe A: são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meio-fio etc.) produzidas nos canteiros de obras;

II. Classe B: são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;

III. Classe C: são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso;

IV. Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde, oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como: telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde (nova redação dada pela Resolução n° 348/04).

A Associação Brasileira de Normas técnicas por meio da NBR 10004 (ABNT, 2004), também apresenta as classificações dos resíduos sólidos. Segundo esta Norma, os resíduos da construção civil “próprios para uso” estariam classificados como Resíduos Classe II B Inertes. No entanto, muitos casos, dependendo da origem, da composição ou da qualidade destes resíduos, podem apresentar altos níveis de contaminantes que podem inseri-los em outras classes (LIMA, 2005). Segue abaixo a classificação dos resíduos:

I. Classe I Perigosos - são aqueles que, em função de suas propriedades físicas, químicas e infectocontagiosas, podem apresentar periculosidade real ou potencial à saúde pública ou ao meio ambiente. Os resíduos desta classe são característicos por serem ainda inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos ou patogênicos;

II. Classe II Não perigosos - estes se dividem em:

a) Classe II A Não inertes: são aqueles que não se enquadram nas classes I e II B;

b) Classe II B Inertes: são aqueles que, ensaiados segundo o teste de solubilidade, não apresentam concentrações superiores aos padrões de potabilidade da água, excetuando-se os padrões de cor, turbidez, sabor e aspecto.

A mudança de classificação desses resíduos pode ocorrer devido a particularidade dos materiais produzidos em cada obra. Com isso, uma determinada obra pode apresentar resíduo inerte e outra pode apresentar elementos que o tornam não-inerte ou até mesmo perigosos podendo oferecer riscos à saúde do ser humano (SILVA; BUEST; CAMPITELI, 2007).

2.9 RECICLAGEM DOS RESÍDUOS

Segundo Levy e Helene (1995), no ano 19 a. C. foram utilizados cacos de tijolos e telhas como agregados de concreto na construção de uma ponte e que ainda permanece em bom estado.

Levy (1997) descreve que somente a partir de 1928 começaram a ser produzidas algumas pesquisas com agregados oriundos de alvenarias britadas. Essas pesquisas tinham como objetivos verificar o efeito do consumo de cimento, do consumo de água e da granulometria do agregado proveniente das alvenarias britadas.

Pera (1996) afirma que na década de 1940 é que começa a ser desenvolvida tecnologia para o emprego do RCD reciclado na construção civil bem como tecnologia para reciclagem de concreto proveniente de demolição.

Com o surgimento da Resolução CONAMA nº 307 (2002) passou a ser proibido o encaminhamento dos resíduos da construção civil para aterros sanitários comuns, pois estes contribuem diretamente para o esgotamento dessas áreas que são escassas. Os resíduos de construção devem ser dispostos em aterros construídos especificamente para Resíduos Sólidos da Construção Civil, de acordo com a NBR 15113 (ABNT, 2004).

Pinto (1999) assegura que as disposições irregulares dos RCD podem causar impactos ao meio ambiente, sendo: comprometimento da qualidade do ambiente e da paisagem local; comprometimento da drenagem superficial com a obstrução de córregos e consequentemente o surgimento de enchentes; aumento da disposição de outros tipos de resíduos sólidos, para os quais também não são oferecidas soluções aos geradores, que contribuem com a deterioração das condições ambientais locais; criação de um ambiente propício para a proliferação de vetores prejudiciais as condições de saneamento e à saúde humana.

De maneira geral, para que os objetivos da gestão de resíduos sejam alcançados, é necessário a aplicação de técnicas de reutilização no canteiro de obras. Com base nisso, Carneiro, Cassa e Brum (2001) sugerem a realização da reciclagem dos RCD. Após esse processo, o agregado perde a denominação de entulho e pode voltar a ser utilizado no mesmo processo que o gerou, ou

Para a produção do agregado reciclado geralmente é feita a britagem dos resíduos com britador de mandíbulas, transformando o material em uma mistura de agregados miúdo e graúdo, variando de acordo com a composição granulométrica do entulho e da regulagem na abertura do equipamento. A forma do agregado resultante é similar ao de uma rocha calcária, porém com uma superfície mais irregular e porosa (CARNEIRO; CASSA; BRUM, 2001).

Pinto (1999) ressalta que os agregados obtidos através da reciclagem normalmente são mais porosos que os agregados naturais, fazendo com que estes tenham uma elevada absorção de água. Apesar disso, na sua composição, existem partículas de cimento e cal que estão disponíveis para novas reações e podem trazer características que aumentem significativamente o potencial de sua utilização.

Os resultados obtidos por Pinto (1992) mostram que o material reciclado apresenta desempenho similar aos materiais convencionais e, em alguns casos, até mesmo superior, como é o caso do uso em argamassas. Ainda segundo o autor, existem resultados positivos que justificam os investimentos em reciclagem, realizados por vários países. São diversas instalações entre Estados Unidos, Japão e Europa (França, Itália, Inglaterra e Alemanha), produzindo material reciclado para pavimentos rodoviários, fabricação de componentes e outros usos.

No Brasil o município que mais tem incentivado a utilização de entulho reciclado é Belo Horizonte (MG). O estado de São Paulo também possui algumas usinas de reciclagem de entulho localizadas nas cidades de Santo Amaro, Ribeirão Preto e São José dos Campos (ZORDAN, 1997).

Documentos relacionados