No decurso da reflexão que temos vindo a elaborar, ficou claro que as
consecutivas inovações tecnológicas levam as pessoas a sucessivas adaptações a fim
de se sentirem integradas na sociedade e no mercado de trabalho. A evolução das
tecnologias educativas tem vindo a permitir o recurso a diversos estilos de
comunicação e de interacção entre professor e aluno, possibilitando uma educação
mais centrada no aluno, criando um aumento de colaboração e cooperação entre os
respectivos actores do processo de ensino/aprendizagem.
Neste contexto, o EaD assume uma grande importância, na medida que,
apoiada nas tecnologias emergentes, proporciona novas formas de comunicação e
interacção que promovem a troca de conhecimentos e de construção de
aprendizagens, independentemente da distância geográfica e temporal.
São diversos os autores que, baseando-se nas modalidades de comunicação e
na distribuição de conteúdos, sugerem uma evolução geracional de inovação do EaD
(Gomes, 2003, Taylor, 1999).
Segundo estes autores, a primeira geração caracterizou-se pelos cursos por
correspondência, em que o aluno recebia o material didáctico por via postal. Este
deveria assimilar os conhecimentos sem discutir com o professor, sendo o nível de
interacção bastante fraco.
Com a evolução da rádio e televisão desenvolveram-se modelos de ensino
orientados para utilização das referidas tecnologias, criando assim novos espaços
educativos, como são disso exemplos a Universidade Aberta e o caso do projecto da
Telescola em Portugal. Esta geração foi intitulada de “Tele-ensino” (Gomes, 2003) e
combinava matérias didácticas escritas, com meios de comunicação como a televisão,
a rádio e o telefone. A esta altura, os alunos eram meros consumidores de informação
sem espaço de interactividade entre o si e professor.
O advento de tecnologias na área da multimédia, com recurso aos multimédia
interactivos e hipermédia e a generalização dos novos dispositivos de armazenamento
de informação, tais como o CD (Compact-Disc) e o DVD (Digital VideoDisc), permitiram
oportunidades de aprendizagem mais interactiva do que a que se vinha a assistir até
aqui.
Em termos comunicacionais, esta geração, que Maria João Gomes (2003)
apelida de “Multimédia”, caracteriza-se pela crescente interactividade entre
professores e alunos, possibilitada pela utilização do correio electrónico.
Enquadramento Teórico
Já em 1990Mason e Kaye (1990) tinham referenciado a Comunicação Mediada
por Computador (CMC) como responsável por um novo paradigma no Ensino a
Distância, com capacidade de promover inúmeras oportunidades de diálogo e debate,
assim como desenvolver nos alunos um verdadeiro sentido de comunidade, pelo
acesso às opiniões e experiências dos outros alunos.
A utilização do computador e da Internet neste tipo de ensino veio
proporcionar um facilitado acesso à comunicação e socialização entre pares, criando
assim um espaço favorável ao pensamento colectivo e a um novo conceito de
comunidade de aprendizagem.
Também Garrison (1993) partilha da mesma opinião, afirmando que a CMC
abre portas a uma
“(…) collaborative respectful interdependence where the student takes responsibility for personal meaning as well as creating mutual understanding in a learning community” (p. 17).
A crescente utilização do computador para efeitos de comunicação e o
desenvolvimento de materiais didácticos digitais provocou um aumento no acesso a
computadores para uso pessoal, criando espaço e condições para o desenvolvimento
de uma quarta geração de inovação no EaD.
A quarta geração surge com a banalização da Internet e da expansão da Web
enquanto interface de comunicação e publicação em rede. Com o desenvolvimento
das ferramentas Web 2.0, a Internet deixa de ser um simples meio de transmissão de
informação para se assumir como “a plataforma” onde os conteúdos são criados,
partilhados, transformados e retransmitidos (Downes, 2005).
Para além da substituição quase por completo do material escrito (textos,
sebentas e livros) por material digital multimédia que pode ser facilmente acedido na
rede, havendo lugar a uma maior cooperação e colaboração entre professores e
alunos. Os avanços tecnológicos e conceptuais em torno da Web vêm mesmo abrir
novos espaços para a aprendizagem, possibilitando, para além da comunicação
síncrona e assíncrona entre professor e aluno e entre pares, a possibilidade de
publicação, partilha e construção colaborativa de conhecimento.
Em 2003, Gomes designava esta geração da “Aprendizagem em Rede”. No
entanto, devido à ampla utilização do e-learning e à sua estreita ligação conceptual à
publicação e comunicação em rede, actualmente, a autora apelida a quarta geração de
geração “E-learning”.
Construção de Comunidades Virtuais com o Second Life Um Estudo de Caso
28
Esta é ainda caracterizada pelo multimédia colaborativo e por um conjunto de
novas ferramentas disponíveis na Web que “permitem conceber cenários de formação
em que a disponibilização de informação deixa de ser um apanágio exclusivo do
professor/formador e da instituição de ensino/formação para poder incluir as
produções dos próprios alunos/formandos, quer individuais quer colectivas” (Gomes,
2003).
A quinta geração do EaD não reúne consenso entre os autores citados.
Enquanto Gomes (2008) associa esta geração à utilização e distribuição de conteúdos
através das tecnologias móveis como telemóvel, PDA
6, leitor de mp3 e mp4, entre
outros, tão bem aceites pela comunidade estudantil actual, apelidando-a mesmo de
M-Learning, Taylor (1999) refere-se à 5ª geração do EaD como uma evolução
“economicista”, face à anterior. Para este investigador, a quinta geração deriva da
anterior:
“The fifth generation of distance education is essentially a derivation of the fourth generation, which aims to capitalize on the features of the Internet and the Web. (…) Internet- based delivery, however, changes significantly the institutional costs associated with students gaining access to learning experiences. For example, a key consideration for the fifth generation is the use of automated response systems to reduce the variable cost of computer mediated communication (CMC) which in the fourth generation is quite resource intensive.” (p. 1)
.
Tal como Gomes (2008), reconhece-se a importância dos factores financeiros
na educação, mas considera-se que este não é elemento suficiente para a designação
de uma nova geração de evolução no Ensino a Distância.
A mesma autora defende ainda a possível emergência de uma nova geração de
EaD, apelidada de “Mundos Virtuais e Imersivos”, caracterizada pela utilização, no
processo de ensino/aprendizagem, de ambientes virtuais a 3 dimensões, com forte
carácter imersivo.
No entanto, tal como Gomes (2008), não se considera haver condições para
uma caracterização pormenorizada desta geração, ou mesmo afirmá-la como uma
nova geração.
6
Enquadramento Teórico 1ª Geração de EaD 2ª Geração de EaD 3ª Geração de EaD 4ª Geração de EaD 5ª Geração de EaD 6ª Geração de EaD Designação Ensino por correspondê ncia
Tele-ensino Multimédia E-learning M-learning Mundos virtuais Representação e mediatização de conteúdos Mono-média Múltiplos média Multimédia Interactivo Multimédia Colaborativo Multimédia conectivo e contextual Multimédia imersivo Suportes tecnológicos de distribuição de conteúdos Imprensa Emissões radiofónicas e televisivas CDs e DVDs Internet e Web PDA, telemóveis, leitores portáteis de MP3 e MP4, smartphone Ambientes virtuais na web Frequência e relevância dos momentos comunicacionais Quase
inexistente Muito reduzida Muito reduzida
Significativa e relevante Significativa e relevante Significativa e relevante
Tabela 1 - Gerações do Ensino a Distância (Gomes, 2008)
As tecnologias multimédia imersivas, como os mundos virtuais, popularizados
actualmente pela expansiva utilização de Multi-User Virtual Environments (MUVE)
como o Second Life ou Active Worlds, podem contribuir, do nosso ponto de vista, para
atingir os objectivos de mudança no processo de ensino/aprendizagem. Como
argumenta Figueiredo (2000), o futuro da aprendizagem
“(…) não se encontra, assim, na produção e distribuição de conteúdos, nem na «transferência» de «aprendizagem» ou de «conhecimento» para cabeças vazias, mas sim em tornar possível a construção das aprendizagens pelos seus próprios destinatários, em ambientes culturalmente ricos em actividade – ambientes que nunca existiram, que o recurso inteligente aos novos media tornou possíveis e nos quais se aplicam paradigmas completamente distintos dos do passado.”(p. 74)
A utilização de ambientes virtuais onde o participante se pode movimentar,
ver, ouvir e manipular objectos como no mundo físico, poderá constituir um
importante recurso no ensino, já que, nessas realidades simuladas, os alunos poderão
descobrir conhecimentos e desenvolver competências, de uma forma lúdica e
interactiva.
No entanto, embora este tipo de ambiente virtual seja encarado por muitos
investigadores como uma poderosa ferramenta ao serviço da aprendizagem, e mesmo
como uma das ferramentas tecnológicas de impacto no ensino superior nos próximos
3 anos (NMC e ELI, 2007), continua a haver reticências em considerá-lo como
responsável pelo despoletar de uma nova geração no EaD, uma vez que reconhecemos
que a evolução tecnológica do Ensino a Distância decorre, acima de tudo, da mudança
de paradigma educativo e não apenas da tecnologia associada.
Construção de Comunidades Virtuais com o Second Life Um Estudo de Caso
30