AO EIXO DA DRENAGEM P1 P
II. Gravidade do processo sobre os elementos sob risco
3.3 GERENCIAMENTO DE ÁREAS DE RISCO A MOVIMENTOS DE MASSA: INTERVENÇÕES ESTRUTURAIS E NÃO ESTRUTURAIS
Conforme Tobin e Montz (1997 apud Coutinho e Bandeira, 2012b, p. 163) “A gestão do risco é um processo de gerenciamento de decisões que envolve a definição de necessidades, o reconhecimento das opções aceitáveis e a escolha de estratégias apropriadas”. O gerenciamento de áreas de risco de desastres conta com ações de prevenção e preparação; e dentre as medidas de prevenção têm-se as estruturais e não estruturais que podem ser instituídas em situações de risco (MOURA & CANIL, 2016).
Nesta seção serão apresentadas as intervenções que podem ser instituídas em áreas de risco a movimentos de massa.
3.3.1 Intervenções estruturais
As ações estruturais apontam para a execução de um plano voltado para a redução de riscos através da implantação de obras de engenharia, que possibilitam condições de estabilidade viabilizadas quando a encosta é tratada como um todo (ALHEIROS et al., 2003).
É importante que a encosta seja analisada de forma abrangente, priorizando a segurança de áreas ocupadas por conjunto de moradias, logradouros e estruturas públicas, ao invés de intervenções de cunho restrito. Não obstante a necessidade de tratamento de pontos isolados, as intervenções de engenharia nestes locais podem ter efeitos não consideráveis na encosta como um todo (MENDONÇA et al., 1998).
A Figura 3.9 ilustra uma concepção de tratamento global apresentada por Gusmão Filho
et al. (1997), para uma encosta ocupada. As casas são dispostas em patamares pavimentados
dos taludes protegidos superficialmente com uso de vegetação e sistema de drenagem superficial que coleta a água e conduz até um canal de drenagem localizado na base da encosta. As vias de acesso são formadas por escadarias perpendiculares às curvas de nível e uma rua na
base do talude. Quando necessárias, são empregadas obras de contenção isoladas (muros de arrimo). Um detalhe importante presente na proposta é o serviço de coleta de lixo.
Figura 3.9 – Proposta de tratamento global de uma encosta
Fonte: Gusmão Filho et al. (1997).
As ações estruturais para prevenção de acidentes e redução de risco são compostas pela seguinte abordagem (a partir de Coutinho e Silva, 2012b):
Elaborar planos de intervenções estruturais integradas considerando os aspectos técnicos, econômicos e socioculturais;
Inserir obras de contenção em programas de reurbanização ou consolidação geotécnica; Avaliar reuso da área de risco para fins habitacionais voltados à população de baixa renda, utilizando técnicas construtivas adequadas às condições geotécnicas da encosta.
Para a estabilização dos processos de movimentos de massa, executam-se diversos tipos de obras combinadas e as simples obras de drenagem e proteção superficial podem ser os principais instrumentos. Retaludamentos, aterros e mesmo estruturas de contenção podem ser danificados ou destruídos quando seus projetos não preveem sistemas de drenagem eficientes (COUTINHO E SILVA, 2012b). As Tabela 3.10 e Tabela 3.11 apresentam os principais grupos e tipos de obras de estabilização, sem e com estrutura de contenção, respectivamente.
Para a escolha de uma determinada estabilização, é necessário conhecer os principais tipos de obras existentes, a sua forma de atuação, as solicitações que impõem ao terreno e a relação custo-benefício. A adoção de um determinado tipo de obra deve ser o resultado final do estudo de caracterização geológico-geotécnico da área e do estudo da viabilidade financeira. Uma obra deverá atuar diretamente nos agentes e causas da instabilização investigada, e as alternativas de projeto deverão sempre partir das soluções mais simples e baratas.
Tabela 3.10 – Tipos de obras sem estrutura de contenção para estabilização de encostas
SUBGRUPOS TIPOS DE OBRAS
Retaludamento
Cortes - Talude contínuo e escalonado
Aterro compactado - Carga de fase de talude (muro de terra)
Proteção superficial
Materiais naturais
- Gramíneas
- Grama armada com geossintético - Vegetação arbórea
- Selagem de fendas com solo argiloso
Materiais artificiais
- Cimentado
- Geomantas e gramíneas - Geocélula e solo compactado - Tela argamassada
- Pano de pedra ou lajota - Alvenaria armada - Asfalto ou polietileno - Lonas sintéticas Drenagem
Interna - Drenos sub-horizontais, trincheiras, etc Externa - Canais, canaleta de borda, de pé e de descida
Estabilização de blocos
Retenção - Tela metálica e tirante Remoção - Desmonte
Fonte: a partir de Coutinho e Bandeira (2012b).
Tabela 3.11 – Tipos de obras com estrutura de contenção para estabilização de encostas
SUBGRUPOS TIPOS DE OBRAS
Muro de arrimo
Solo-cimento - Solo-cimento ensacado Pedra-rachão - Pedra seca
- Alvenaria de pedra Concreto - Concreto armado
- Concreto ciclópico Gabião - Gabião-caixa Bloco de concreto
articulado
- Bloco de concreto articulado; (pré-fabricado, encaixado sem rejunte).
Solo-pneu - Solo-pneu
Outras soluções de contenção
Terra armada - Placa pré-fabricada de concreto, ancoragem metálica ou geossintéticos
Micro ancoragem - Placa e montante de concreto, ancoragem metálica ou geossintéticos
Solo compactado e reforçado
- Geossintético
- Paramento com pré-fabricados Cortina atirantada - Cortina atirantada
Solo grampeado - Solo grampeado Contenção de massas
movimentadas
Materiais naturais - Barreira vegetal Materiais artificiais - Muro de espera Fonte: Brasil (2010).
A Geo-Rio (2000) cita três fases distintas para a realização completa de um projeto de estabilização: diagnóstico (identificação e entendimento do movimento de massa através de estudos geológicos e geotécnicos); solução (decisão da melhor solução a adotar para o caso em questão) e monitoramento (acompanhamento da obra, verificando seu desempenho ao longo do tempo).
Em Pernambuco, a UFPE por meio do GEGEP, formou um convênio com a Agência Estadual CONDEPE/FIDEM, através do Programa “Viva o Morro”, para estudo e avaliação de aproximadamente 1100 obras de estabilização projetadas e executadas na RMR. Os resultados e a análise deste trabalho, junto a um estudo de caso de uma ruptura em morro da cidade do Recife, podem ser encontrados em Santana (2006) e Santana e Coutinho (2006). De acordo com estes trabalhos, a presença de uma camada menos permeável foi um dos fatores predisponentes em um deslizamento ocorrido em outubro de 2005 na cidade do Recife. Esta instabilização ocorreu essencialmente pela infiltração d’ águas (chuvas, águas servidas e vazamento de tubulação), provocando uma vítima fatal. Feitas as análises de estabilidades foram estudadas diferentes propostas de estabilização e sugeriu-se o muro de solo-cimento ensacado ou o muro de gabiões.
O GEGEP/UFPE também realizou estudo de soluções visando ações estruturais integradas para a estabilização de uma encosta do município de Camaragibe, que encontra-se sintetizado na seção 5.3.1 deste trabalho.
Moura e Canil (2016) realizaram um estudo expondo alguns exemplos de medidas estruturais que apontam para a redução de riscos de desastres e a construção de cidades resilientes – descrita como a capacidade de absorver ou resistir aos potenciais impactos gerados a partir da ocorrência de um evento natural (URBR, 2013) – frente a movimentos gravitacionais de massa contidos em publicações do The United Nationd Office for Disaster Risk Reduction (UNISDR). A busca por medidas estruturais que possam reverter quadros de risco é algo que se aprimora junto aos avanços tecnológicos e se complementa com trocas de experiências nacionais e internacionais. Uma das ferramentas inseridas neste contexto é a compilação, divulgação e publicação de dados referentes a exemplos de ações que tem como intuito a redução de risco e resposta a desastres, realizado pelo UNISDR. O meio para se consultar algumas das publicações é a plataforma online PreventionWeb – Serving the information needs
of disaster reduction community. A partir dos estudos, os autores apresentaram as medidas
adotadas em diferentes países que estão ou poderão vir a ser impelementadas em território nacional.
A seguir serão apresentadas de forma sucinta as características das obras mais utilizadas, sem e com estrutura de contenção. As descrições encontram-se conforme Silva (2016), Silva (2010), Henrique (2014), e Brasil (2010), Santana (2006), Alheiros et al. (2003), Bandeira (2003) e Geo-Rio (2000).
3.3.1.1 Obras sem estrutura de contenção
As principais obras que podem estabilizar os taludes ou encostas sem a necessidade de estrutura de contenção, são: