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Gerenciamento e sustentabilidade

Capítulo 2. Turismo e áreas protegidas

2.2 Meios de hospedagem

2.2.2 Gerenciamento e sustentabilidade

Segundo Duarte (1999), os gestores dos meios de hospedagem em unidades de conservação no Brasil já se preocupam com o gerenciamento dos aspectos físicos e sociais de seus estabelecimentos, desenvolvendo ações que contribuam com a preservação do ambiente, respaldadas por técnicas e tecnologias viáveis de serem aplicadas aos seus serviços. Assim, busca-se conservar esses espaços ao lado do uso público turístico de âmbito comercial.

Uma das formas de desenvolvimento de um gerenciamento físico, estrutural e organizacional a ser empregado em meios de hospedagem é através do SAG - Sistema de Gestão Ambiental. Esse sistema, desenvolvido pela ISO14International Organization Standardization - objetiva desenvolver “uma organização que possa consistentemente controlar seus impactos significativos sobre o meio ambiente e melhorar continuamente as operações e negócios” (ISO 14001, p. 39). Focada na gestão de uso dos recursos, é uma técnica conhecida mundialmente para controlar custos, reduzir riscos e melhorar o desempenho, além de promover a conservação do ambiente. Dias (2006) desenvolveu um estudo sobre a aplicação da

14 Organização Internacional para Padronização (ISO).

ISO 14001 (SAG) em meios de hospedagem a partir de alguns aspectos e impactos ambientais conforme a atividade, produto ou serviço oferecido nos mesmos (quadro 7).

Quadro 7 - Principais aspectos e impactos ambientais a serem considerados na operacionalização de um hotel

Área operacional Aspectos ambientais Impactos ambientais

Recepção Consumo de energia elétrica

Esgotamento de recursos naturais Ocupação de aterros sanitários (solo) Banheiros/ Vestiários Consumo de água e gás

Efluentes orgânicos (DBO) Restaurante/ Bar Consumo de energia elétrica

Resíduos sólidos

Alteração da qualidade da água Ocupação de aterros sanitários (solo) Elevadores Consumo de energia elétrica Esgotamento dos recursos naturais Ar condicionado Consumo de energia elétrica

Emissões de CFCs. Equipamentos em geral Consumo de energia elétrica Esgotamento dos recursos naturais Gerador de energia elétrica Consumo de combustível

Emissões de CO, NO²

Esgotamento dos recursos naturais Alteração da qualidade do ar Armazenamento e manuseio de

produtos químicos perigosos

Derrame acidental Contaminação do solo ou da água Manutenção de máquinas Resíduos de óleos e graxas Contaminação do solo ou da água Limpeza de caixa de gorduras Efluentes orgânicos Alteração da qualidade das águas Serviços de lavanderia Consumo de água e gás

Efluentes orgânicos Resíduos alcalinos graxos

Esgotamento de recursos naturais Alteração da qualidade das águas

Fonte: Adaptado de Dias (2006, p.8).

Outra forma de avaliação e gerenciamento da sustentabilidade em meios de hospedagem no Brasil foi implementada em 2008 com o Programa de Certificação em Turismo Sustentável (PCTS), coordenado pelo Instituto de Hospitalidade e apoiado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), APEX (Agência Brasileira de Promoção, Exportação e Investimentos), Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e Mtur (Ministério do Turismo). Esse programa apresenta os fundamentos para a certificação de meios de hospedagem em turismo sustentável, considerando os requisitos necessários para a

sustentabilidade quanto ao seu desenvolvimento em área em que seja permitido o empreendimento.

O programa PCTS/Bem Receber criou os fundamentos para a certificação de turismo sustentável no Brasil, desenvolvendo uma norma reconhecida internacionalmente e também um programa de preparação de destinos e empreendimentos que inclui guias, manuais de boas práticas e cursos in loco (Ministério do Turismo, 2009). Essa norma foi registrada na ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas – como NBR 15.401, sendo a referência brasileira para atestar que um meio de hospedagem desenvolve as suas atividades de forma sustentável.

Ela especifica os requisitos de sustentabilidade, como mostrado no quadro 8.

Quadro 8 - Requisitos da sustentabilidade para a certificação em turismo sustentável de meios de hospedagem

Âmbito Fundamento Requisito

Fonte: Programa de Certificação em Turismo Sustentável – PCTS – 2004.

Assim, defini critérios mínimos de desempenho relativos a este fator, o que permite a um empreendimento formular política e objetivos que levem em conta os requisitos legais e as

informações referentes aos impactos ambientais, socioculturais e econômicos. Segundo noticiado no site da ABETA – Associação Brasileira de Ecoturismo e Turismo de Aventura15, o hotel Canto das Águas, situado na Chapada Diamantina (Bahia), é o primeiro meio de hospedagem “a receber o certificado de conformidade com a ABNT NBR 15.401” (Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura, 2009).

A partir dos requisitos do programa de certificação do turismo sustentável, destaca-se a importância do gerenciamento das estruturas e serviços dentro dos meios de hospedagem, particularmente na administração dos impactos ambientais, de modo a proporcionar benefícios econômicos, governamentais e benefícios às comunidades locais e de entorno. O PCTS apresenta o ciclo ambiental sustentável em meios de hospedagem por meio de uma figura, conforme mostrado na figura 3.

Figura 3 - Ciclo ambiental sustentável em meios de hospedagem

Fonte: Programa de Certificação em Turismo Sustentável (2004).

Dentre os requisitos do PCTS mostrados na figura 3, os mais enfatizados para o desenvolvimento da sustentabilidade são os ambientais, como os fatores de interferência da qualidade física de determinado ambiente. Esse tipo de gerenciamento, preocupado com os aspectos físicos e estruturais dos meios de hospedagem em determinado espaço, é muito utilizado pelas certificações internacionais como a Blue Flag, Certification Sutentainable

15 Conforme o site www.abeta.com.br - acesso em 19/02/2009, às 13:40h.

Tourism Program, Green Deal, Green Globe 21, Green Seal, Inc e Green Tourism Business Scheme (ZUCARATO, 2004).

Neste contexto, concorda-se com a opinião de Zucarato (2004, p. 53) ao criticar a certificação do PCTS, colocando que “após analisar os documentos disponíveis do programa PCTS para os meios de hospedagem, o perfil do setore as peculiaridadesdessas empresas, se observa que o programa possui certo grau de complexidade e sofisticação aparentemente fora da realidade atual de uma significativa parcela dos meios de hospedagens”.

Demonstrando (oração sem sujeito – rever) a necessidade de desenvolvimento de uma metodologia prática para uma avaliação eficaz do desenvolvimento da atividade dos empreendimentos turísticos, principalmente meios de hospedagem, em áreas instituídas como unidades de conservação no Brasil. Para este fim, a presente pesquisa passa a ser direcionada à criação de parâmetros de análise da sustentabilidade dos meios de hospedagem em UCs.