A transformação do conhecimento tácito em explícito é o aspecto
fundamental tratado nos mais diversos estudos sobre gestão do
conhecimento organizacional. Bhagat et al. (2002) contribuem para essa
discussão no sentido de considerar a coexistência de duas categorias de
conhecimento organizacional. O conhecimento explícito, que pode ser
estruturado, facilmente sistematizado e gerenciável, e o conhecimento
tácito, de caráter pessoal, difícil de ser sistematizado, imitado e
gerenciado. Nonaka e Takeuchi (1997) comentam que é necessário criar
conhecimento nas organizações.
Na concepção de Santos (2009c, p. 42-43),
criar conhecimento numa organização significa
harmonizar o trabalho de criação com a
disseminação e a incorporação nos produtos,
serviços e sistemas desta organização. No
processo de criação, as formas tácitas e explícitas
do conhecimento são tomadas como unidades
estruturais básicas que se complementam; e a
dinâmica de criação do conhecimento na
organização exige a interação entre essas formas
de modo repetido, num processo de evolução
espiral, que se desenvolve em três níveis:
indivíduo, grupo e organização.
Conforme Cegarra-Navarro et al. (2010), enquanto as
tecnologias de informação proporcionam conceitos do
conhecimento explícito, como escrever manuais de instrução, a
"memória organizacional", por meio de rotinas e visões
compartilhadas, proporciona o conhecimento tácito organi-
zacional. Mas Choo (2006) afirma que o conhecimento tácito,
por ser pessoal, tem pouco valor para a organização, ou seja,
esse conhecimento precisa ser explicitado, mas ele é cultivado
a partir de sementes do conhecimento tácito. Isso representa
um ciclo. Assim, o conhecimento organizacional, que é incorporado
na cabeça das pessoas, pode ser visto como ativo estratégico inclusive
em organizações sem fins lucrativos como é o caso das IES públicas.
Citamos Kong e Prior (2008, p. 119), ao afirmar que o conhecimento é
um tópico tratado na gestão estratégica como “relacionado com a
criação e manutenção de vantagem competitiva”, em que o capital
intelectual representa “o conhecimento coletivo que é incorporado no
pessoal, rotinas organizacionais e relações de rede de uma organização”,
e ainda é “aplicável a qualquer organização”, podendo ser visto como
“um importante recurso de que as organizações necessitam para obter
vantagem competitiva sustentável”.
Conforme Silva (2004), a importância da implantação da
gestão do conhecimento organizacional com a finalidade de criar
vantagem competitiva está no fato de que o conhecimento que envolve
as atividades organizacionais está enraizado na cabeça das pessoas e não
nos recursos físicos. Portanto, a criação de significado das informações
proporciona a construção do conhecimento organizacional que
possibilita a geração de inovações e competências, conforme Choo
(2006).
No entanto, para que aconteça o conhecimento organizacional,
Santos et al. (1997) afirmam que está envolvida uma combinação entre
pessoas, processos e tecnologias, na qual as pessoas entram com suas
competências e relacionamentos; os processos são os procedimentos,
normas e padrões de produção organizacional; e as tecnologias são as
funcionalidades técnicas.
Na era do conhecimento as organizações estão cada vez mais
investindo em gestão do conhecimento (Knowledge Management) por
meio das iniciativas que promovam a criação, aplicação e partilha do
conhecimento com o fim de promover vantagem competitiva (PEE;
KANKANHALLI, 2009).
Nesse sentido, pesquisas fenomenológicas com abordagem
qualitativa permitem o foco no conhecimento tácito como possibilidade
de explicitar as competências requeridas para a realização de uma tarefa,
em IES públicas, contribuindo para a visão mais recente da necessidade
de uma gestão organizacional estratégica na manutenção da
competitividade de mercado. Conforme Santos (2009b), a gestão do
conhecimento organizacional se justifica porque constrói pontes entre as
ilhas de conhecimento, mapeia o conhecimento existente numa
organização, pois prepara os próximos trabalhadores organizacionais e
estimula os pensamentos inovadores.
O processo SECI de conversão do conhecimento, explicitado na
Figura 1, exemplifica, por meio de uma forma espiral, a conversão do
conhecimento organizacional, em que a eficiência do processo está na
razão direta na facilitação com que uma organização alavanca o
conhecimento.
Vivemos em um mundo de rápidas mudanças impulsionadas pela
globalização, no qual estas não só colocam alguns desafios, mas
também oferecem oportunidades para os setores público e privado, a fim
de ganhar vantagem competitiva para a sua sobrevivência.
Para Santos e Amato Neto (2008, p. 573), “o conhecimento
organizacional deve ser uma construção propositada que tenha como
foco desenvolver um conjunto diferenciado de habilidades, crenças,
valores, atitudes e comportamentos”, o que nos remete à questão das
competências. E, para as organizações, a gestão do conhecimento
representa grande desafio, uma vez que o conhecimento é um atributo
essencialmente humano. E desafios atraem empreendedores. Nesse
processo o empreendedor, por sua vez, passa a ser o grande desafiado, já
que dele se esperam características diferenciadas, pois está sempre em
busca do novo.
O trabalho intensivo em conhecimento exige um grau de
flexibilidade que oportuniza ao indivíduo a criação, a inovação e a
realização. Essas possibilidades e desafios atraem o empreendedor. Na
sociedade do conhecimento o empreendedorismo torna-se
imprescindível para as organizações, sociedades e nações, para enfrentar
as novas transformações que atravessam. São elas que detêm as
características necessárias para tal. Nesse cenário, as competências
empreendedoras tornam-se necessárias para enfrentar os desafios de
manter as IES públicas no ranking das melhores instituições do país.
Esta tese vem trabalhar na direção de transformar o conhecimento tácito
do empreendedor das IES públicas pesquisadas em explícito, no sentido
de favorecer o compartilhamento desse conhecimento, possibilitando a
criação de novos conhecimentos, como foi visto nas explicações de
Nonaka e Takeuchi (1997); ou seja, explicitar as competências
empreendedoras utilizadas no momento em que o empreendedor
realizava uma atividade específica de um processo (incidente crítico)
que possibilitou êxito para a instituição.