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Gestão de Conflitos e Mecanismos de Resolução de conflitos

CAPÍTULO III – CONFLITOS POR MÚLTIPLOS USOS DA ÁGUA E GESTÃO DE

3.5 Gestão de Conflitos e Mecanismos de Resolução de conflitos

Para Cap-net (2008), a gestão de conflitos deve ser um processo contínuo que não se inicia com a identificação de um determinado conflito. Trata-se de um procedimento no qual os participantes devem estar constantemente em discussão para a definição de condições que desencorajem situações conflitantes, através do incentivo de processos que facilitem a resolução de conflitos.

De maneira especializada e técnica, a gestão de conflitos preocupa-se com um vasto campo de ferramentas a serem utilizadas para antecipação, prevenção e reação aos conflitos, para que as verdadeiras questões e posicionamentos dos conflitos sejam elucidados, facilitando a busca de soluções que satisfaçam todas as partes. Geralmente estas técnicas envolvem estabelecimentos de acordos e compromissos entre as partes em conflito.

A gestão de conflitos, no entanto, não apresenta técnicas definidas, tantos de abordagens formais quanto informais para gerenciar conflitos, estando estes processos associados às técnicas baseada em intuição, lógica e comutação de artes (CAP-NET, 2008).

Em contrapartida, os métodos de resolução de conflitos se viabilizam através de mecanismos, métodos, teorias e modelos, comumente utilizados na intervenção dos conflitos ambientais, que se concentram nas seguintes categorias: Litigação ou Jurisdição, Arbitragem, Negociação, Facilitação, Concilia ção, Media ção e Métodos Instituciona is.

68 De uma maneira geral, estes artifícios para intervenção de conflitos estão baseados em duas abordagens em resolução de conflitos ambientais: as abordagens tradicionais baseadas no ―ganhar-perder‖, que ocorrem pela intervenção do Poder Judiciário, tais como os sistemas judiciários, legislações estadual e federal, comissões e sistemas (NANDALAL; SIMONOVIC, 2003), e as abordagens alternativas fundamentadas no paradigma ―ganhar-ganhar‖, orientadas sem intervenção judicial, que buscam negociações através da construção de consenso.

As abordagens baseadas no ―ganhar-perder‘ envolvem resoluções legais e normas jurídicas para a definição de soluções. Estas técnicas, geralmente analisam conflitos legais sob uma ótica jurisdicional, produzindo resultados que inevitavelmente deixa uma das partes lesadas.

Admitindo o princípio de direito a água, estas técnicas não apresentam os melhores desempenhos possíveis para conflitos envolvendo os usos múltiplos das águas, já que este recurso natural é um bem de domínio público, não se podendo estabelecer legalmente usos prioritários, à exceção de situações de escassez hídrica.

3.5.1 Soluções judiciais

Basicamente os métodos e técnicas para a resolução de conflitos encontram-se entre as soluções judiciais e as extrajudiciais. Apresentam-se, a seguir, os métodos de resolução de conflitos enquadrados nas abordagens de soluções judiciais.

Litigação ou Jurisdição

Neste método de resolução de conflitos, adota-se um mecanismo formal a partir de um sistema jurídico adotado no Estado de poder. Neste procedimento, instaura-se um processo legal, onde haverá um julgamento em um tribunal, o qual decidirá sobre o caso, se baseando nas legislações específicas em vigor no País.

69 A Jurisdição é uma das funções do Estado, sendo exclusiva do Poder Judic iário. Consiste em aplicar o direito aos casos concretos objetivando a composição dos conflitos de interesses ocorrentes na sociedade. A jurisdição não resolve o conflito, apenas diz que uma das partes é vitoriosa em relação à outra, podendo acirrar ainda mais a situação conflitante, pois uma das partes não terá seus interesses satisfeitos (CAP-NET, 2008).

Arbitrage m

A arbitragem atua numa instância de menor formalidade e são usualmente adotadas quando são requeridas soluções rápidas aos problemas. É um processo em que as partes voluntariamente pedem a um terceiro imparcial e neutro (árbitro, júri, ou tribunal) que tome uma decisão em seu lugar visando a solução da disputa.

Em outras palavras, as partes, por consenso, elegem um árbitro e podem definir as regras do processo. Este método de resolução de conflitos envolve a reunião das partes em litígio, entendimento das situações das partes envolvidas, e realização de concessões. Estas decisões podem ser obrigatórias ou acordadas em termos de compromisso, ou ainda resultar em celebração de acordos (ERNANDORENA, 2003).

3.5.2 Soluções extrajudiciais

Para superar as limitações das abordagens convencionais judiciais, podem-se identificar mecanismos baseados nos princípios de negociação, que se fundamentam na busca de resultados mutuamente benéficos de longo prazo, do tipo ―ganhar-ganhar‖. Apresentam-se, a seguir, os métodos de resolução de conflitos enquadrados nas abordagens de soluções extrajudiciais.

Negociação

Envolve um conjunto de discussões entre as partes com interesses antagônicos que se unem voluntária e temporariamente com a intenção de resolver os pontos de disputa.

70 Cada parte é responsável pela defesa de seus próprios interesses. As partes em litígio se reúnem para chegar a uma solução mutuamente aceitável. Neste procedimento não há envolvimento de uma terceira parte, não existindo facilitação ou mediação entre os envolvidos.

As Negociações são voluntárias e exigem a disposição de todas as partes em considerar os interesses e necessidades dos outros, para que se possa estabelecer uma relação negociável entre as partes em confronto. Caso, o início das negociações seja difícil, ou tenha se estabelecido um impasse, as partes poderão necessitar da assistência de um terceiro (ENGEL; KORF, 2007).

Facilitação

Trata-se de um procedimento que tenta facilitar o início dos diálogos entre as partes envolvidas nos conflitos, pela existência de um sujeito imparcial que atua na promoção na concepção e condução de reuniões para a resolução de problemas, ajudando a diagnosticar as partes em conjunto e criar soluções em conjunto. Este processo é freqüentemente utilizado em situações que envolvam múltiplas partes interessadas, e onde as questões ainda não estão claramente definidas (CAP-NET, 2008).

Conciliação

A conciliação é um processo que objetiva uma relação positiva entre as partes para a diminuição do impacto do conflito. Este mecanismo de resolução, geralmente, é conduzido por um terceiro indivíduo de posicionamento imparcial que busca favorecer o estabelecimento de clima de confiança e melhorar a comunicação entre as partes em confronto.

Mediação

A Mediação pode ser definida como um processo no qual os grupos envolvidos nas disputas solicitam ou aceitam a intervenção de uma terceira pessoa, qualif icada e de sua confiança, para que encontrem por si mesmos as bases de um acordo duradouro e mutuamente

71 aceitável. Este terceiro que deve ser imparcial, somente facilitará a abertura do diálogo, para que as próprias partes cheguem a uma solução (ERNANDORENA, 2003). No entanto, este mediador tem um limitado poder de decisão ou nenhum poder. Tal como acontece com negociação, na mediação as partes do conflito detém o poder de decisão. Eles entram em um acordo voluntário, que eles próprios sugerem e aprovam (ENGEL; KORF, 2007).

A mediação é útil quando as partes tenham chegado a um impasse. Neste mecanismo, o mediador atua na supervisão da negociação, tentando criar um ambiente seguro para o compartilhamento das informações, dos problemas subjacentes e o esclarecimento das ideias e sentimentos das partes envolvidas. Trata-se de uma abordagem mais formal do que a facilitação, onde as partes muitas vezes partilham os custos envolvidos nos processos de mediação (CAP-NET, 2008).

3.5.3 Métodos de Soluções Institucionais

Com relação aos métodos de soluções institucionais, Mostert (2003) define que são métodos de longo prazo, que objetivam facilitar a resolução de conflitos, ou mesmo preveni-los, não se referindo a um conflito específico. Esta categoria inclui regra s legais, planejamento, consulta e participação pública, mecanismos de preços, estabelecimento de comitês de bacias para servirem como plataformas de discussão dos problemas e das formas de planejamento, estabelecimento de autoridades, em nível de bacias, com poder de decisão em casos de conflitos. Trata-se de um procedimento que abrange tanto a utilização e adoção de mecanismos legais, quanto o fomento de reuniões entre os usuários de recursos hídricos, o poder público e a sociedade civil para promover discussões negociadas referentes aos problemas em uma bacia hidrográfica.

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