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2.3 Fundamentos Teóricos Sobre Apropriação, Gestão de Resultados e a Rela-

2.3.2 Gestão de Resultados das Avaliações Externas

O compromisso do Brasil em garantir padrões mínimos de qualidade na educação está pautado em documentos internacionais e na legislação nacional10. O debate em torno dessa temática resulta em assegurar o direito à educação como princípio sobre o qual se organizará a estrutura do ensino.

No subtópico 1.1, abordou-se a questão da garantia de qualidade na educação e como as avaliações em larga escala têm subsidiado os governos federal e estadual a traçar metas e estratégias no intuito de maximizar a oferta de uma pretensa educação de qualidade.

Neste contexto, as avaliações externas oferecem informações sobre o desempenho dos alunos da Educação Básica enquanto as políticas educacionais estão baseadas nos seus resultados, tendo em vista que:

O desempenho cognitivo descortinado pelas avaliações externas é fruto de um conjunto de fatores que inclui: aspectos

10 Na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), Declaração das Nações Unidas para o

milênio (2000) e documentos da Conferência de Jontien (1990). Os artigos 205 a 214 da CF/1988, a LDB 9.394/96, a Lei 8.069/90 (Estatuto do Adolescente) e o Plano Nacional de Educação (2014).

socioeconômicos; o capital social e cultural das famílias; as estratégias e compromissos das políticas educacionais; a gestão do ensino; o trabalho pedagógico realizado pelas escolas; os recursos necessários para a realização deste trabalho; a qualificação profissional e técnica dos envolvidos com os processos educacionais; e também a clareza em relação ao currículo para o acesso dos alunos a experiências qualificadas de aprendizagem, dentro e fora da escola. (BLASIS, 2014, p.6).

A equipe gestora da escola influencia sobremaneira no desempenho dos alunos e disso decorrem todos os outros fatores destacados pelos autores. Por esse motivo, destacam-se para fins de análise, a gestão do ensino e o trabalho pedagógico realizado pelas escolas. Sobre esta relação,

[...] as avaliações em larga escala contribuem para a melhoria da qualidade na educação, não apenas como instrumento para aferir as competências e habilidades, mas como uma ferramenta contínua de trabalho, onde professores gestores e técnicos identificam condições problemáticas para propor novas possibilidades pedagógicas na escola. (SOLIGO, 2015, p. 5).

O autor concorda que as avaliações em larga escala contribuem para a melhoria da qualidade da educação na medida em que se constitui um instrumento, uma ferramenta de uso contínuo para professores, gestores e pedagogos identificarem as dificuldades, onde o desempenho foi baixo e assim propor novos caminhos para o fazer pedagógico nas escolas.

Nestes termos, pode-se afirmar que a gestão dos resultados das avaliações externas deve ser analisada pelas escolas em função dos seus projetos pedagógicos, tendo como foco a interpretação dos níveis de aprendizagem.

A gestão de resultados educacionais é uma das dimensões avaliadas nacionalmente pelo Prêmio Gestão Escolar (PGE), criado pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (CONSED)11, que:

[...] abrange processos e práticas de gestão para a melhoria dos resultados de desempenho da escola – rendimento, frequência e proficiência dos alunos. Destacam-se como indicadores de

11Tem por finalidade precípua promover a integração, articulação e mobilização das Secretarias de

Educação dos Estados e do Distrito Federal, com vistas a convergir estratégias e políticas públicas para promover a melhoria da qualidade do ensino público no Brasil, defendendo a Educação Básica pública, universal e de qualidade, como pressuposto fundamental de desenvolvimento social e econômico. (Fonte: CONSED. O que é? Estatuto e objetivo. http://www.consed.org.br, 2015).

qualidade: a avaliação e melhoria contínua do projeto pedagógico da escola, a análise, divulgação e utilização dos resultados alcançados, a identificação dos níveis de satisfação da comunidade escolar com o trabalho da sua gestão e transparência nos resultados. (LÜCK, 2009, p.56).

A gestão de resultados educacionais é uma dimensão da gestão escolar e deve estar focada nos resultados de desempenho da escola e, mais especificamente, preocupada com a qualidade do ensino, na eficácia da escola e, por consequência, na aprendizagem dos alunos.

No resultado do questionário aplicado pela equipe do SISPAR aos gestores, pedagogos e professores e amplamente descrito na seção 1, ficou evidente nas escolas participantes, que 60% dos profissionais conheciam o resultado do SADEAM de forma superficial (Tabela 1); 92% dos profissionais participantes da pesquisa concordam que a apropriação dos resultados da escola auxiliam na definição de ações pedagógicas prioritárias (Tabela 5). Esses dados demonstram a importância da gestão de resultados, não como uma ação burocrática, mas como “condição fundamental para definir qualificações que tornam as escolas mais eficazes [...] representa, efetivamente, o interesse específico da gestão na aprendizagem dos alunos” (LÜCK, 2009, p. 56).

A autora trata a gestão dos resultados educacionais sob uma perspectiva transformadora, ou seja, associando avaliação externa e avaliação interna em um esforço coletivo de superação das dificuldades reveladas pelas avaliações por meio do diálogo entre atores escolares da reflexão e da ação. Freitas (2009), por sua vez, descreve acerca deste caráter transformador da avaliação, salientando que:

[...] numa visão transformadora, a avaliação é concebida como um processo voluntário, permanente, participativo, legítimo, contextualizado, e, sobretudo, formativo para todos que dela participam. É construída com base nos significados partilhados pelo conjunto das pessoas que vivenciam a escola (FREITAS, 2009, p. 53).

Portanto, para que a avaliação possa transformar as práticas escolares e reverberar em mudanças significativas no que se refere à qualidade da educação, a autora chama a atenção para a importância do envolvimento da equipe da escola. Mas para que isso ocorra e seja um processo permanente, é necessário criar uma cultura avaliativa participativa e dialogada. Neste contexto, coaduna-se com o

pensamento de Lück (2009), em que o coletivo escolar precisa compreender as funções e estratégias dos diferentes agentes que compõem a gestão escolar.

A função do gestor escolar e do pedagogo no contexto da gestão de resultados é fundamental para articular e integrar as várias instâncias da escola – pais, alunos, professores, comunidade em geral, criando um ambiente de cooperação, responsabilidade, solidariedade e cooperação. (FRASSETO & RAMOS, 2013). Especificamente os pedagogos possuem a tarefa de articular diretamente o trabalho pedagógico entre os professores dos diversos componentes curriculares e seus conteúdos no intuito de garantir que os alunos tenham seus direitos de aprendizagem atendidos dentro do parâmetro designado pelo currículo.

Os resultados das avaliações externas ampliam ainda mais a possibilidade de atuação dos gestores escolares e pedagogos, pois permite que os índices sejam discutidos, levando à reflexão sobre os fatores que influenciam no desempenho escolar dos alunos. Dentre esses fatores, pode-se citar a organização do trabalho pedagógico, o abandono escolar, o absenteísmo docente, a aplicação devida dos recursos recebidos pela escola e a rotatividade de professores, etc. Essas reflexões devem estar centradas no Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada escola, e devem:

[...] considerar as ações de planejamento e revisão do projeto político pedagógico. Este trabalho, com base nos resultados da avaliação de desempenho e de aprendizagem, permite que as equipes de gestores e pedagógicas discutam a missão e as metas da instituição. Além disso, é possível abordar o desenvolvimento de metodologias, o conhecimento e a organização dos conteúdos, voltados para os alunos que frequentam aquele espaço de formação. (Revista da Gestão Escolar, 2014, p. 11).

É complexa a relação entre a utilização dos dados das avaliações externas e a organização do trabalho escolar. É um exercício de autonomia que deve ser constantemente repetido, criando uma cultura avaliativa dos recursos, metodologias e currículo escolar. Nesse sentido, Gadotti (2013) caracteriza a escola autônoma como aquela que resolve seus problemas e conflitos com eficiência, eficácia e com responsabilidade nas áreas pedagógica, política de pessoal, financeira, administrativa e organizacional.

A gestão dos resultados é processual e parte da discussão dos resultados das avaliações internas e/ou externas, desencadeando novas reflexões sobre os fatores contextuais que influenciam nos resultados. Assim, a atualização do PPP da

escola é necessária para que essa dinâmica relação entre a avaliação de desempenho e a ação pedagógica estejam sincronizadas e resultem na apresentação de novas propostas de ensino e inferências com vistas à diminuição das carências descortinadas pela avaliação.

Entretanto, “[...] por melhores que sejam os processos de gestão escolar, pouco valor terão, caso não produzam resultados efetivos de melhoria da aprendizagem dos alunos” (LÜCK, 2000, p. 55). Para sintetizar as competências de uma gestão de resultados educacionais efetivamente comprometida com a qualidade da educação, a autora define características que serão sintetizadas no Quadro 5.

Quadro 5 - Características da Gestão de Resultados Educacionais

Gestão de Resultados Educacionais

Características pela implementação Agente responsável

Baseia-se em indicadores de desempenho e sintetizam os elementos que traduzem o nível de aprendizagem dos alunos;

Sistema de ensino e Escolas

Promove a verificação sistemática e contínua da frequência

dos alunos, da sua aprendizagem e do desempenho escolar; Escolas É realizada na escola em todas as unidades de aprendizagem,

com fins pedagógicos (melhoria da aprendizagem dos alunos que demandam atenção diferenciada);

Escolas

É também realizada na escola, mediante testes padronizados, que permitem identificar a necessidade de mudanças e reorganização do processo educacional para garantir melhores resultados de grupos específicos de alunos;

Escolas

É realizada na escola, com objetivos pedagógicos de identificar necessidades de melhoria, em associação aos elementos melhor condizentes a esses resultados;

Escolas

É dependente de práticas de acompanhamento e análise de resultados finais de processos educacionais: fim de unidade de aprendizagem (escola), de ano letivo (sistema);

Sistema de ensino e escolas

É realizada em âmbito de sistema de ensino, mediante adoção de testes padronizados que permitem a comparação de resultados;

Sistema de ensino

É associada à definição de metas de desempenho; Sistema de ensino e escolas

É realizada nos sistemas de ensino com o objetivo de

estabelecer políticas de melhoria do ensino; Sistema de ensino Baseia-se na comparação de dados, que permitem verificar

quanto de melhora houve em um dado período e como variam esses resultados em condições diferentes.

Sistema de ensino e escolas

Fonte: Adaptação da autora, fundamentado em LÜCK, 2000.

Com base nas características descritas por Lück (2000), é possível afirmar que a reflexão em torno dos fatores que influenciam no desempenho escolar dos

alunos deve ser feita de forma coletiva entre a gestão da escola, sua equipe pedagógica, professores, alunos e comunidade. Considera-se, com isso, que esse trabalho não é somente do professor, porém, deve ser executado a partir de um projeto de escola que envolva todos os atores partícipes do ambiente de formação escolar, organizados e comprometidos com uma escola pública democrática e de qualidade.

O SISPAR (2015), enquanto programa criado para trabalhar nas escolas a apropriação dos resultados de desempenho nas avaliações externas traz no bojo de seus objetivos específicos já citados no subtópico 1.4, estratégias de ação que promovem a gestão eficaz dos resultados das escolas. Dentre esses, destaca-se o fomento da tomada de decisão local nas escolas, embasado em dados e informações sobre o nível de proficiência em que a escola se encontra, e o desenvolvimento da prática institucional de trabalho com os dados (SISPAR, 2015).

Importante salientar que os objetivos do programa estão voltados para a reflexão constante sobre a função da escola e como seu trabalho pode se organizar, partindo da apropriação dos resultados das avaliações externas, para que os alunos alcancem aprendizados mais significativos e seus índices de desempenho melhorem gradativamente.

A proposta do SISPAR (2015) é, portanto, abrir caminhos para que a escola se conheça e perceba suas carências, diferenças e limitações e proponha intervenções decorrentes de um esforço sistemático e coletivo para a contínua melhoria do ensino.

Diante desse aporte teórico sobre a gestão dos resultados educacionais conforme proposto na metodologia, analisaram-se os dados captados a partir dos relatórios embasados nas seguintes categorias:

- Planejamento participativo: apresentação e análise de relatos de como a escola relaciona a apropriação dos resultados das avaliações externas a um planejamento participativo;

- Reorganizar o fazer pedagógico, tendo como base as concepções de avaliação: foram analisados os relatos que refletem a intenção da escola em reorganizar o trabalho pedagógico a partir da apropriação das avaliações externas;

- Considerar a variável - abandono escolar - como influência para o melhor desempenho da escola: foram analisados os relatos das escolas sobre a

interferência da variável abandono escolar na composição do índice de desempenho;

- Acompanhamento pedagógico: foram apresentados e analisados relatos de escolas que adotaram novos paradigmas relacionados ao acompanhamento pedagógico;

- Entraves – aprendizagem qualitativa x rendimento quantitativo: foram apresentadas e discutidas as dificuldades relatadas pelas escolas para promover a educação de qualidade;

- Rever constantemente a prática pedagógica e definir objetivos enquanto instituição: foram apresentados e analisados os relatos das escolas que demonstraram indícios de inquietação quanto ao seu PPP e avaliação institucional.

- Clima escolar: evidenciar, a partir do contexto das escolas, a relação entre clima escolar e desempenho.

Ao analisar a implementação da primeira fase do SISPAR (2015), fez-se necessário investigar se o programa está estruturado de forma a instrumentalizar a gestão da escola para a efetiva apropriação de seus resultados.

Para discorrer sobre esta questão, no próximo subtópico serão apresentadas algumas considerações teóricas relacionadas ao SISPAR (2015) sob a ótica do modelo do ciclo de políticas.