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Gestão do território e segregação na Fase de Consolidação (1970-1985)

2.3.1-CONTEXTO: ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

A fase de consolidação do que viria a ser o Aglomerado Urbano de Brasília estende-se de 1970 a 1985. No âmbito nacional, esse período é marcado pela gestão do território por meio das diretrizes existentes no II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND). Quanto ao cenário político, o país vivia a fase de vigência do Ato Institucional nº 5 - AI-5 e de fortalecimento dos governos autoritários. No cenário social, o que se verificou com o arrefecimento da dinâmica econômica do período desenvolvimentista foi o aprofundamento das desigualdades sociais, seja em termos de renda, seja no acesso a serviços e equipamentos públicos nas grandes cidades. Ainda verificou-se nesse período, a reorganização do setor financeiro e a ampliação da economia nacional da dependência de investimentos estrangeiros para o financiamento do seu desenvolvimento e a ampliação da participação das multinacionais no parque industrial nacional.

2.3.1.2-MOVIMENTOS DA POPULAÇÃO

Se os anos 50 e 60 haviam constituído um marco no processo de expansão demográfica em Brasília, a década de 70 constituiu um ponto de inflexão nessa trajetória demográfica. Se por um lado, Brasília passou a crescer cada vez com menor intensidade, se comparada aos municípios de Luziânia, Planaltina de Goiás e Santo Antonio do Descoberto (ver Tabela 2.2), por outro, o que se observou foi a expansão territorial e formação do Aglomerado Urbano de Brasília.

1960/1970 1970/1980

Distrito Federal 14,7 8,15

Entorno Goiano 29,5 9,03

Total 22,1 8,59

Crescimento Demográfico Anual (%)

Distrito Federal e Entorno Goiano*, 1960,1970 e 1980. Tabela 2.2

Notas: * Os municípios que compõem o Aglomerado Urbano de Brasília são desmembramentos dos existentes em 1970.

Fonte: IBGE, Censos Demográficos 1960,1970 e 1980

Na década de 70, a mobilidade populacional, em Brasília e nos municípios do Entorno Goiano, ainda apresentava elevado dinamismo. O que se observa nesse período são alterações na direção dos fluxos migratórios, dado que a migração, especialmente de nordestinos, caracterizou-se pelos deslocamentos em busca de condições de trabalho, moradia e acesso aos serviços públicos em áreas fortemente urbanizadas e prestadoras de serviços (OLIVEIRA, 2003, p.06). Nesse período, os fluxos migratórios passaram a ter como direção, além de Brasília, os municípios do Entorno Goiano. Pode-se inferir que o Entorno de Brasília passou a se caracterizar não apenas como área expulsora de população, mas como área receptora de imigrantes provindos de outros Estados e de Brasília e de elevada rotatividade populacional27. Entre 1960 e 1970, Brasília apresentou taxas de crescimento superiores a 14% ao ano. Com a construção da capital e a conclusão de grande parte da transferência de funcionários públicos, entre 1970 e 1980, as taxas decresceram para 8,15% a.a.

As tendências de periferização observadas no final de década de 60 consolidaram-se entre 1970 e 1980. Nesse período, a trajetória descendente das taxas de crescimento populacional em Brasília era contraposta pelas elevadas taxas dos municípios de Luziânia, Santo Antonio do Descoberto e Planaltina, que apresentaram crescentes taxas de crescimento demográfico (11,17%, 9,74% e 6,07%, respectivamente). Nesse período, Brasília passou a contribuir de forma decisiva para as elevadas taxas de urbanização dos municípios goianos. Ao longo da década de 70, Brasília registrava uma emigração de 6.650 pessoas para o estado de Goiás, passando nas décadas seguintes para 15.634 pessoas ao ano, consolidando Luziânia, Planaltina e Santo Antonio do Descoberto como o principal espaço de concentração de emigração do Distrito Federal e receptáculo das demandas por moradia não atendida em Brasília.

Aparentemente, o que se observa, no período de Consolidação, é um processo de crescimento ‘centrífugo’, potencializado pela expansão em direção às cidades satélites mais periféricas e municípios do Entorno Goiano. As crescentes taxas de emigração de Brasília para Luziânia, Planaltina e Santo Antonio do Descoberto, mais que um movimento de transferência populacional de um território para o outro, pode ser entendida como a incorporação dessas áreas ao processo de formação de uma área com características metropolitanas, seja em termos de concentração populacional, mas também em relações de fluxos sociais e econômicos. Embora não se configure formalmente como região metropolitana, a partir desse período já se pode identificar uma aglutinação de áreas urbanas em torno do Distrito Federal, constituindo o conjunto que tem sido denominado de Aglomerado Urbano de Brasília (PAVIANI, 1989; IPEA, 2001).

ATIVIDADES ECONÔMICAS

Ao longo da década de 70, Brasília consolidou o seu papel na economia local como uma “metrópole terciária” (PAVIANI, 1985, p.63). A economia local passou por um processo de dinamismo do mercado imobiliário, principalmente em virtude do intenso processo de urbanização do Distrito Federal e da ação do BNH na promoção de novas unidades habitacionais. Na escala regional, a principal mudança é a acelerada urbanização das economias locais do Aglomerado Urbano de Brasília. Como indicador, o mercado de trabalho aponta para crescente aumento da participação do setor terciário nas economias do Distrito Federal, Planaltina de Goiás e Luziânia (ver Tabela 2.3).

Primário Secundário Terciário

Distrito Federal 2,46 16,85 80,69

Luziânia 22,91 24,08 53,01

Planaltina de Goiás 90,1 2,79 7,12

*Notas: Os municípios que compõem o Aglomerado em 2000 são desmembramentos dos já existentes em 70.

Municípios e Distrito Federal

Percentual de pessoas ocupadas segundo o setor de atividade

Distrito Federal e Entorno Goiano*, 1980 Tabela 2.3

Pessoas ocupadas segundo o setor

Fonte: IBGE,Censo Demográfico 1980 (elaboração do autor)

Somente em 1980 que o Distrito Federal e Entorno Goiano começam a definir o perfil econômico que persiste até os dias atuais. Ao passo que se observa a consolidação do setor

terciário como dínamo da economia local, no seu interior, a participação da construção civil reduz-se, em parte, decorrente da extinção do BNH, das sucessivas crises econômicas e do arrefecimento do intenso processo de urbanização e dotação de infra-estrutura no Distrito Federal, observado nas décadas anteriores (SEDUH, 2004; IPEA, 2002). O setor primário ainda continua a empregar boa parte da população em Planaltina de Goiás e a segmentar a estrutura ocupacional em Luziânia com o setor secundário e terciário. Entre 70 e 80, o setor secundário foi o que apresentou maior aumento no Distrito Federal, permanecendo estável nos demais municípios. Uma das hipóteses para este aumento é a instalação de pequenas industrias de transformação e fábricas em áreas como o Setor de Industria e Abastecimento- SIA próximo ao Plano Piloto e em Taguatinga, com vistas a atender o crescente mercado consumidor que se formava em Brasília.

A concentração em Brasília de população, equipamentos urbanos e grande parte do comércio e dos serviços, reforça a fragilidade econômica do Aglomerado Urbano como um todo. A existência de empregos, renda e população gera externalidades decorrentes da formação de uma economia aglomeração: consumo em escala, maior qualidade e diversidade dos produtos, o que leva o mercado de Brasília a atender não apenas sua população como também os moradores dos municípios vizinhos, para a aquisição de bens e serviços.

Uma das conseqüências da força do mercado consumidor e de trabalho em Brasília é a baixa capacidade de atração e retenção de empregos com moderados a elevados níveis de salários nas cidades satélites mais periféricas de Brasília e nos municípios goianos. Nesse sentido, pode-se afirmar que a economia e a estrutura produtiva no Aglomerado Urbano de Brasília são fortemente influenciadas pela participação das atividades e serviços vinculados à administração pública federal. Os indicadores populacionais e de geração de empregos e renda do DF predominam e demonstram o crescente grau de centralidade da Região Administrativa de Brasília e Taguatinga em relação aos demais assentamentos do Aglomerado.

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