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2.2 “CIDADE COMPACTA”

3 AS PRÁTICAS DE SUSTENTABILIDADE AO NÍVEL DAS ÁREAS RESIDENCIAIS ESTRATÉGIAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO.

3.1 ESTRATÉGIAS ECOLÓGICAS PARA A SUSTENTABILIDADE DE ÁREAS RESIDENCIAIS

3.1.4 GESTÃO DOS RESÍDUOS E DOS FLUXOS DE MATERIAIS

Os resíduos sólidos e o fluxo de materiais resultantes dos processos de construção, manutenção, e das actividades realizadas nos edifícios, no geral têm impactos ambientais e económicos substanciais e a sua gestão, para além de estar organizada, depende fortemente

da comunidade. Isto é relevante a muitos níveis, ou seja, a reciclagem dos resíduos domésticos e dos resíduos da construção requer que se realizem acções ao nível individual das habitações, assim como ao nível da concepção do projecto; no entanto, também requer que se tomem medidas ao nível da comunidade local, de modo a que estes processos possam ocorrer e que possibilitem a criação de novos mercados.

Tal como a gestão da água, a gestão de resíduos não tem apenas a ver com descargas finais e com o seu destino; começa muito antes com decisões ao nível do planeamento das áreas residenciais e não termina como fornecimento de serviços e/ou de infraestruturas para a reciclagem. Assim, destaca>se:

• A redução do fluxo de materiais associados aos próprios edifícios, e as medidas de reutilização e de reciclagem desses materiais.

• Soluções, destinadas aos utentes, para a redução de resíduos domésticos e para a reciclagem do remanescente.

Na União Europeia, estima>se que 50% dos resíduos gerados provêm do sector da construção, motivo pelo qual foram considerados um dos fluxos prioritários na política de gestão de resíduos da União Europeia. Todavia, das cerca de 180 milhões de toneladas de resíduos de construção e demolição produzidas no espaço comunitário, somente 28% são reaproveitadas, sendo que em Portugal este valor ainda não atinge os 5%.

A energia incorporada nos materiais de construção e no próprio processo construtivo contabiliza entre 10% a 15% do consumo total de energia de um edifício durante o seu ciclo de vida. A composição dos resíduos de construção é bastante complexa devido à quantidade de diferentes materiais utilizados, e o facto de muitas das partes dos edifícios serem formadas por mais de um elemento e por materiais compostos torna a sua separação uma tarefa difícil de realizar. No entanto, a estrutura dos edifícios integra geralmente materiais com composições relativamente simples; betão, madeira, pedra, tijolos, etc.; e necessitam, relativamente, de pouca energia para serem produzidos, mas ao representarem também os elementos mais pesados e mais duráveis de um edifício são os elementos que consomem maior quantidade de energia aquando do seu transporte para o local e do local. A elevada procura destes materiais implicou que as fontes locais/regionais não fossem suficientes para responder a esta demanda e ao subsequente aumento na procura de novas reservas naturais e/ou à necessidade de transportar estes materiais de longas distâncias. Inversamente, são os materiais utilizados ao nível dos acabamentos que contêm os resíduos mais perigosos, onde é necessário uma maior quantidade de energia aquando do seu processamento e os que tem uma vida útil menor; isto relativamente aos materiais utilizados na estrutura.

Assim seria ideal, do ponto de vista da eficiência dos materiais, definir estratégias que possibilitem o uso da estrutura dos edifícios por muito tempo e que diminuem a necessidade de demolições; definir esquemas para a reciclagem e a reutilização dos equipamentos técnicos e fomentar uma abordagem “mais amiga do ambiente” ao nível dos materiais utilizados nos acabamentos.

Uma vez que os edifícios podem durar 80 a 100 anos, e estando numa época em que as exigências especificas do ambiente construído dificilmente podem ser previstas, é da maior importância, numa perspectiva de redução da produção de resíduos a longo prazo, que as estruturas dos edifícios sejam o mais flexível quanto possível, de modo a comportarem as mudanças de usos ao longo do tempo. Barton (2000) estabelece uma ligação directa entre esse aspecto e os princípios de sustentabilidade: “o princípio da precaução reflecte>se no desenho do ambiente construído ao deixar em aberto opções onde é possível, e no controlo dos recursos, de modo que opções futuras, desejáveis e potenciais, não sejam prejudicadas...”.

Esta flexibilidade pode ainda ser reforçada ao possibilitarmos que as partes que compõem um edifício possam ser desmontadas em partes menores reutilizáveis, em vez de serem destruídas, isto, aquando da necessidade de grandes renovações, ou da remoção da estrutura. Relativamente aos materiais utilizados nos acabamentos, particularmente no interior dos edifícios, o foco deve dirigir>se para a optimização do desempenho energético e para as características ambientais dos materiais utilizados, embora se considerem importantes as melhorias na sua longevidade. A par de tudo isto, considera>se que se deve dar preferência à renovação e modernização urbana em detrimento da demolição e da reconstrução, o que não exclui a inclusão de mecanismos de compensação.

Muitas vezes se negligencia o facto de alguns dos contributos mais significativos para a produção de resíduos nas habitações serem provenientes dos bens de consumo duráveis, como dispositivos eléctricos, electrodomésticos, e os veículos. Ao considerar este aspecto com o objectivo de reduzir os impactos resultantes da produção de resíduos, significa que ele tem implicações directas no comportamento dos consumidores, ou seja, espera>se que os consumidores prefiram bens que tenham um ciclo de vida maior, sejam mais fáceis de reparar e de actualizar, e que sejam recicláveis mesmo que isto represente um custo maior. Relativamente aos resíduos domésticos, podemos afirmar que sistemas de recolha para materiais facilmente separáveis e recicláveis, como o papel e o vidro, têm lugar na maior parte das cidades, nos países ocidentais. Assim, reduções significativas no volume dos resíduos domésticos, parecem resultar somente se forem e onde foram feitos esforços para um tratamento especializado dos resíduos orgânicos. Mais uma vez, a gestão dos resíduos domésticos é um factor que está principalmente relacionado com atitudes e

comportamentos, mais do que com tecnologias ou com aspectos administrativos. Deste modo, os sistemas de separação e de compostagem precisam de ser acompanhados por campanhas de informação e sensibilização e tem de ser fáceis de utilizar. As abordagens mais apropriadas dependem de comunidade para comunidade, mas é bastante óbvio que os recipientes para a reciclagem devem estar acessíveis a cada unidade habitacional, e bem localizados relativamente aos recipientes de recolha geral. “As taxas de participação caem consideravelmente quando as distâncias se tornam demasiado grandes” Jensen (1998)41. Outros autores defendem ainda, que os recipientes devem estar integrados no espaço semi> público atribuído a cada grupo de unidades habitacionais, de modo a fomentar a noção de bem comum e a sua responsabilização pelas infraestruturas e serviços comunitários. Sperling e Michalke (1999)42.

A compostagem, no entanto, requer uma abordagem ligeiramente diferente, visto que requer uma responsabilidade maior por parte dos utentes para funcionar. Nas áreas residenciais com jardins privados, é razoável sugerir que as moradias instalem os seus próprios sistemas; isto significa uma disponibilidade, em termos espaciais, de 0,5 m² para uma caixa de compostagem. Onde os espaços abertos, semi>privados, são compartilhados por diversos proprietários, um dispositivo pouco maior pode ser facilmente integrado e ser operado por voluntários. Sistemas de compostagem locais também resultam, ao nível das áreas residenciais ou mesmo dos distritos, quando não existem, perto das habitações, espaços disponíveis para acomodar estes sistemas, que terão dimensões maiores, outro tipo de desempenho e que provavelmente requer uma profissionalização ao nível das operações.