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5 Importância e Desafios da Atividade Regulatória no Brasil

5.4 Iniciativa Gás Para Crescer

5.4.6 Gestão Independente Integrada do Sistema de Transporte de Gás Natural

A concorrência no mercado de gás está fortemente vinculada ao acesso à infraestrutura. Então, o domínio desta por empresas verticalmente integradas acaba limitando a concorrência. No Brasil, medidas para o incentivo a competição foram tomadas na Lei do Petróleo em 1997, a qual estabeleceu a separação jurídica da atividade de gás natural25 e o acesso negociado de terceiros. Como não foi observado grandes resultados, a Lei do Gás, em 2009, avançou estabelecendo o acesso regulado aos gasodutos, não sendo mais negociado como antes. Ademais, em 2013, a ANP editou a Resolução nº 51/2013, na qual limitou a participação cruzada entre carregadores e transportadores, mas somente para novos gasodutos, tratando-se de uma desverticalização total das atividades de transporte e carregamento, pelo menos para os novos gasodutos.

Entretanto, mesmo com todas estas leis e normativos, não foi observado presença de novos agentes. A Petrobras permanecia com controle sobre 96,1% da malha de gasodutos até setembro de 2016, quando anunciou a venda de 90% da Nova Transportadora do Sudeste para Brookfield Infrastructure Partners (BIP)26. Esta transação poderá ser considerada como separação completa de propriedade, a depender dos termos do acordo firmado entre as empresas.

Nesse sentido, fica evidente a necessidade de se rever o arcabouço regulatório atual ainda mais que o processo de desinvestimento da Petrobras trará oportunidades para se alcançar os objetivos desta iniciativa: diversidade de agentes, competitividade, transparência e boas práticas.

Tendo em vista estes objetivos, foi feito estudo sobre a gestão do sistema de transporte brasileiro e foi proposto o seguinte: adoção de contratação de capacidade do tipo Entrada/Saída que permite contratação separada de capacidades de entrada ou de saída e a comercialização de

25 Vale ressaltar que tal separação foi imposta somente à Petrobras, que, na época, exercia monopólio na atividade. 26 Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/aprovada-venda-de-participacao-na-nova-transportadora-

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gás de forma independente de sua localização na rede, gerando incentivos à maximização do número de agentes. Isso também mudaria a forma de abordar a infraestrutura, passando de um agregado de gasodutos distintos para um grande sistema denominado Sistema de Transporte de Gás Natural (STGN)27.

Esta parte do estudo também abordou que a desverticalização das atividades de produção/comercialização e de transporte seria essencial para o acesso não discriminado aos gasodutos. Nesse sentido, há a proposta de três modelos de desverticalização28:

i. Separação completa de propriedade:

Limita a participação cruzada entre as empresas responsáveis pela produção/comercialização e pelo transporte. Permite-se participação minoritária entre elas, porém com rígidas regras para o exercício do controle ou de seus direitos de voto e de indicação de membros de órgãos administrativos e fiscalizatórios. Este é considerado o modelo mais eficaz para a separação de interesses e garantia de independência de operação.

ii. Operador de transporte independente:

Permite manter a empresa verticalmente integrada, entretanto há uma série de normas para assegurar a independência de gestão e de operação, como a separação legal ou jurídica entre as empresas, a imposição de fortes restrições à indicação de administradores e a criação de um conselho para decisões que possam causar significativo impacto financeiro. Adicionalmente, não é permitido o compartilhamento de sistemas, equipamentos e instalações com qualquer parte da empresa verticalmente integrada, ou mesmo da marca ou identidade empresarial, bem como recorrer aos mesmos consultores ou fornecedores de sistemas e equipamentos informáticos. Deve-se definir um programa de conformidade para garantia de comportamentos não-discriminatórios e designar um responsável pela conformidade, o qual deve ser aprovado pela entidade reguladora e mantê-la regularmente informada sobre a implementação do programa. Esse modelo exige uma forte atuação da entidade reguladora para assegurar a independência da empresa verticalmente integrada.

27 Ministério de Minas e Energia. Gás para Crescer – Anexo 6: Gestão Independente Integrada do Sistema de

Transporte de Gás Natural.

iii. Operador do sistema independente:

Neste modelo a propriedade dos ativos de transporte permanece com a empresa verticalmente integrada, porém a gestão desses ativos e a operação do sistema são realizadas por um operador independente. Para assegurar a sua independência, valem as mesmas regras da separação completa de propriedade, no que se refere ao exercício do controle e dos direitos na empresa. No desenvolvimento do sistema de transporte, o operador independente é responsável pelo planejamento, pela construção e pelo comissionamento da nova infraestrutura. Ao proprietário cabe prestar a cooperação e o apoio necessários para o operador do sistema independente cumprir suas funções, inclusive financiar os investimentos definidos por este operador. Esse modelo exige certa atuação regulatória e pode ter conflitos na coordenação dos investimentos, visto que a decisão de investimento e o seu financiamento cabem a empresas distintas.

Apesar do modelo de separação completa de propriedade ser o mais eficaz, sua implementação exigiria a imposição da venda dos ativos de transporte pelos proprietários, além da observância das restrições caso permanecessem com participação minoritária. Ou seja, este modelo demandaria alto nível de intervenção para a reestruturação das empresas envolvidas.

O modelo de operador de transporte independente envolve significativos esforços regulatórios e fiscalizatórios, principalmente se a maioria dos transportadores permanecessem com participação direta ou indireta por parte dos agentes verticalizados, como por exemplo a Petrobras, principal empresa no setor atualmente.

Já o modelo do operador do sistema independente mostra-se ter a neutralidade necessária para coordenar o sistema, além de exigir menos intervenção governamental e regulatória. Na implementação desse modelo não haveria necessidade de vedação à participação cruzada entre as empresas de produção/comercialização e de transporte. Ao operador do sistema independente caberia a coordenação e gestão de todos os ativos de transporte como um único sistema, ou seja, um novo agente atuaria como gestor do STGN, sendo responsável por atividades como: alocação e oferta de capacidade de entrada/saída, gestão do sistema de contratação de capacidade, planejamento e monitoramento da operação, entre outras.

Vale ressaltar que as vantagens oriundas dessa independência de operação no segmento do transporte e da possível revisão dos modelos de outorga estabelecidos pelos atuais dispositivos regulatórios aplicar-se-ão também à estocagem subterrânea de gás natural.

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