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A definição de resíduos sólidos urbanos conforme defendido por Schall (1992 apud MILANEZ, 2001) é embasada no abandono do “paradigma da disposição de resíduos” onde os RSU são considerados uma massa uniforme, que deve ser coletada, compactada e enterrada ou queimada, além da visão de que são formados a partir de diferentes materiais devem ser manuseados conforme processos distintos.

O Manual de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM (2001) retrata que mais de 70% dos municípios brasileiros possuem menos de 20 mil habitantes e que a concentração urbana no país excede 80%. Isto aumenta a apreensão com a problemática ambiental do meio urbano e o gerenciamento dos resíduos sólidos – cuja atribuição está atrelada ao poder municipal.

A natureza vem apresentando baixa reação de recuperação devido ao alto grau de poluição gerada e assim, o desafio é assegurar que a sociedade possa continuar desfrutando de qualidade de vida sem alterar o ecossistema. O gerenciamento de recursos visa assegurar e garantir a qualidade dos recursos

naturais e, deste gerenciamento, deve surgir soluções de compromissos que se proponham a harmonizar e solucionar os problemas ambientais vigentes.

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT/CEMPRE (2000) conceitua o gerenciamento integrado de resíduos como o conjunto de ações normativas, financeiras, operacionais e de planejamento que um governo municipal desenvolve, com base em critérios sanitários, ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor o RSU de seu município.

Conforme defendido por Marais e Arbitrage (2004), deve haver uma

integração ampla entre resíduos sólidos, água e saneamento e drenagem e inundações e uma integração específica entre planejamento (urbano e do uso do solo), controle na fonte (educação e conscientização, redução de RSU, limpeza e coleta) e controle estrutural (tratamento de água e retenção de resíduos).

O Ministério do Meio Ambiente define em sua Política Nacional o conceito de gerenciamento integrado de resíduos sólidos como sendo as atividades referentes à tomada de decisões estratégicas quando do desenvolvimento, implementação e operação das ações definidas no plano de gestão unificada de resíduos sólidos, da fiscalização e do comando dos serviços de manejo dos resíduos sólidos.

Lopes (2003) define a gestão de resíduos sólidos como todas as normas e leis relacionadas a estes e, o gerenciamento integrado dos resíduos sólidos é rotulado como todas as operações que envolvem os resíduos, como coleta transporte, tratamento, disposição final, e demais.

Na figura 3 é apresentado o modelo tradicional da gestão dos resíduos sólidos, que avalia o meio ambiente como fonte inesgotável de recursos.

Fonte: Lopes (2003)

Figura 3 - Modelo tradicional de gestão de resíduos sólidos.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM e o Ministério do Meio Ambiente (2005), a gestão integrada de resíduos sólidos é a forma de conceber, implementar e administrar sistemas de limpeza urbana, considerando uma grande participação dos setores da sociedade e visando o desenvolvimento sustentável.

Analisar o modelo de gestão dos resíduos sólidos no país requer conhecimento acerca de como outros países enfrentem o problema e de como buscaram sua resolução.

O modelo de gestão dos resíduos sólidos do Brasil é comparado com o modelo adotado nos países da Comunidade Européia, Japão e Estados Unidos. Nesta análise, Lima (1998a) ressalta que o gerenciamento entre os países é semelhante, apesar de cada nação possuir realidades adversas.

O autor estudou alguns aspectos como a hierarquia política, os arranjos institucionais, os instrumentos legais adotados, os mecanismos financeiros para manter as políticas públicas e as diretrizes/metas para a gestão dos resíduos.

A análise sobre os arranjos institucionais, ou seja, o papel de cada esfera governamental na elaboração de leis, regulação e fiscalização apontou para grande semelhança entre Alemanha, França, Holanda, Dinamarca, Japão e Brasil, pois, o governo federal é o responsável pelas políticas, normas e diretrizes gerais. Já os estados têm a função de fiscalizar, além de uma limitada função normativa,

enquanto os municípios devem gerir, coletar e dispor os resíduos de maneira adequada.

Em relação aos mecanismos financeiros, os países são unânimes na defesa do gerenciamento auto-sustentável dos resíduos. Lima (1998a) cita o exemplo da Holanda, onde há taxas específicas de acordo com o tratamento.

A hierarquização das prioridades da gestão de resíduos sólidos em alguns países é apresentada por Nunesmaia (2002), conforme quadro 8.

País/

Estados

Brasil Não geração de resíduos Minimização da geração Reutilização de materiais Reciclagem Tratamento Aterro sanitário

França Prevenção Valorização por reuso Reciclagem ou valorização energetica

Aterro sanitário de resíduos não valorizados

Áustria Prevenção quantitativa e qualitativa Valorização (quando justificado do ponto de vista ambiental e econômico) Se a valorização não é justificada, eliminação por via biológica, térmica ou químico—física

Somente os resíduos que não podem ser mais reciclados são

encaminhados para o aterro sanitário Alemanha Prevenção quantitativa

e qualitativa

Reciclagem

de materiais Valorização térmica Eliminação (tratarrento final)

Dinamarca Prevenção Reciclagem Incineração com recuperação de energia

Aterro sanitário Quebec

(Canadá) Redução na fonte Reutilização Reciclagem Valorização Aterro Sanitário Bahia

(Estado) Não geração de resíduos Minimização da geração Reutilização de materiais Reciclagem Tratamento Disposição final

Bélgica (Bruxelas) Prioridade para a prevenção, ou a redução da poluíção dos resíduos ou de sua nocividade Valorização dos resíduos por reciclagem Reaproveitamento Reutilização ou qualquer ação visando a obtenção de matéria—prima secundária, ou a utilização de resíduos como fonte de energia Fonte: Nunesmaia (2002 apud NUNESMAIA, 2001)

Quadro 8 - Prioridades de alguns países em relação a gestão de resíduos sólidos.

A análise do quadro denota o consenso entre os países sobre as prioridades – ao menos em âmbito legal, a base do discurso das políticas publica de resíduos é similar entre os países do Norte e Sul (representado pelo Brasil).

A gestão seguida pelos países é semelhante, todavia, os aspectos culturais e sociais que se seguem sofrem alterações e geram resultados diferentes entre os países.

Nunesmaia (2002) defende um modelo de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos Socialmente Integrada, que tem por base o desenvolvimento de cinco aspectos simultaneamente: o desenvolvimento de linhas de tratamento de resíduos por meio de tecnologias limpas, priorizando a redução e a valorização; a economia (viabilidade); a comunicação e a educação ambiental por meio do envolvimento dos diversos atores sociais; o social com o uso da inclusão social, emprego; o ambiental (os aspectos sanitários, os riscos à saúde humana). O elemento fundamental do modelo apresentado é a associação da redução de resíduos em sua fonte geradora com políticas sociais municipais.

O desenvolvimento de gestão de resíduos sustentável é defendido por Nunesmaia (2001). A autora cita que, tendo por partida as grandes fontes geradoras de resíduos como a fração orgânica proveniente das feiras livres, dos supermercados e da poda; frações secas oriundas do comércio e de órgãos públicos e o entulho, torna-se possível a implantação de planos de gestão de resíduos em serviços de saúde, o que permite uma redução de pelo menos 60% desse material – valorizando a fração orgânica dos restaurantes e as embalagens de uso administrativo. A cada fonte de resíduo (potencialmente significativa) estão associados os caminhos sustentáveis para a gestão socialmente integrada.

Lima (1998a) explica que gestão de resíduos sólidos urbanos envolve atividades referentes à tomada de decisões estratégicas com relação aos aspectos institucionais, administrativos, operacionais, financeiros e ambientais, enfim, à organização do setor para esse fim, envolvendo políticas, instrumentos e meios. Para o autor, o termo gerenciamento de resíduos sólidos refere-se aos aspectos tecnológicos e operacionais da questão, e envolvendo fatores administrativos, gerenciais econômicos, ambientais e de desempenho, como a produtividade e qualidade, e relaciona-se a prevenção, redução, segregação, reutilização, acondicionamento, coleta, transporte, tratamento, recuperação de energia e destinação final de resíduos sólidos.

Estratégias de gerenciamento integrado de resíduos em bacias hidrográficas urbanas também são defendidas por Marais e Armitage (2004), conforme mostrado na figura 4. Os autores abordam o controle por planejamento, no qual busca-se a restrição do uso do solo em áreas de canais naturais, banhados, etc. por atividades produtoras de resíduos e a minimização do risco de alcançar os cursos de água. O controle na fonte objetiva reduzir as cargas que entram no sistema de drenagem (por meio de campanhas educacionais em que a população seja informada e motivada a manter ou melhorar o sistema de coleta e limpeza e que os órgãos responsáveis utilizem, se necessário, a legislação para fiscalizar e punir infratores). Por fim, o controle estrutural visa a interceptação e remoção do resíduo após a entrada no sistema de drenagem.

Fonte: Adaptado: Marais e Armitage (2004) Figura 4 - Estratégias de gerenciamento integrado.

O sistema de gerenciamento integrado de resíduos sólidos adotado em Porto Alegre, RS, Brasil é sinalizado por Reichert (1999) como um método de administração pública fundamentado na participação popular. Este mecanismo

envolve a redução na origem, o tratamento e o destino final adequado e engloba uma perspectiva multidisciplinar e inter-setorial.

O autor ainda afirma que o manejo adequado dos resíduos sólidos é um dos principais desafios dos centros urbanos. Respostas isoladas e estanques que não incluam os resíduos desde sua geração até seu destino final, incluindo seu tratamento, não obterão êxito na resolução do problema como um todo.

Oliveira (2002) esclarece que as metas em relação aos resíduos sólidos são de reduzir ao mínimo sua geração, aumentar a reutilização e reciclagem do que foi gerado, promover o depósito e tratamento ambientalmente saudável dos rejeitos e universalizar o atendimento.

Desta forma, o modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos em vigência no Brasil – baseado na coleta e afastamento dos resíduos gerados e, em alguns casos, sua disposição correta, compõe soluções isoladas e estanques e que vem se mostrando impróprias. Moraes (2003) defende modelos integrados e sustentáveis, que envolvam a geração, maximização do reaproveitamento e reciclagem e o processo de tratamento e destino final dos resíduos.

A gestão de resíduos sólidos deve ser analisada em seu conjunto. É preciso valorizar a necessidade de mudanças no comportamento e hábitos do cidadão, da sociedade moderna, relativos à redução do consumo e produção e a consolidação dessas mudanças é um grande desafio para a política de comunicação/educação ambiental junto à sociedade (NUNESMAIA, 2002 apud SALEK, 2006).

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