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O direito ambiental no contexto dos resíduos sólidos

A área do conhecimento jurídico que aborda as interações entre o homem e a natureza é identificada como Direito Ambiental que é descrito abaixo:

O Direito Ambiental é o conjunto de princípios e regras impostos, coercitivamente, pelo Poder Público competente, e disciplinadores de todas as atividades relacionadas com o uso racional dos recursos naturais e a promoção e proteção dos bens culturais, tendo por objetivo a defesa e a preservação do patrimônio ambiental (natural e cultural) e por finalidade a incolumidade da vida em geral, tanto a presente como a futura (DUARTE, 2003).

A Lei 6.938 no artigo 2º da Constituição Federal (Brasil, 1981) estabelece que a Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana. No artigo 3º são definidas algumas classificações como o meio ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; degradação da qualidade ambiental: modificação adversa das características do meio ambiente; e poluição: degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente causem dano á saúde, segurança e bem-estar da população, formulem condições adversas às atividades sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a biota, afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente ou lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.

A lei da Política Nacional do Meio Ambiente (BRASIIL, 1981) criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente que encarrega União, Estados e Municípios a emitir regulamentos sobre os aspectos ambientais e aplicar legislação sobre a matéria.

Este processo de formação da legislação ambiental viabilizou condutas intrínsecas a uma nova ética social, na qual o ser humano deixa de ser o centro do universo e o meio ambiente deixa de ser um mero patrimônio a serviço dos interesses da humanidade (ROCCO, 2002).

A legislação ambiental brasileira pode ser considerada uma legislação moderna na medida em que congrega os principais princípios previstos em acordos internacionais multilaterais e declarações sobre meio ambiente. Além disso, a Constituição Federal oferece mecanismos considerados importantes para conciliar o uso da propriedade privada e o desenvolvimento de atividades econômicas com a preservação do meio ambiente, estabelecendo que o uso da propriedade seja feito conforme sua função social e tratando a defesa do meio ambiente como um dos princípios direcionadores da atividade econômica. No entanto, embora considerada moderna e abrangente, a legislação ambiental brasileira não é, por si só, suficiente para a melhoria da qualidade ambiental no País, o que revela a desarmonia entre a lei e a real aplicação do direito (SALEK, 2006).

A Resolução nº 275 de 25 de abril de 2001 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA (Brasil, 2001), dispõe o incentivo à reciclagem de resíduos e

redução do impacto ambiental por meio da codificação de cores quanto ao tipo de material, conforme segue:

Azul - Papel/papelão Vermelho - Plástico Verde - Vidro A Ammaarreelloo - Metal Preto - Madeira

Laranja - Resíduos perigosos

Branco - Resíduos ambulatoriais e de serviços de saúde

Roxo - Resíduos radioativos

Marrom - Resíduos orgânicos

Cinza - Resíduo geral não reciclável contaminado, ou contaminado não passível de

separação

A Lei Federal 2.312 de 1954 (BRASIL, 1954) dispõe, no artigo 12, sobre normas gerais sobre a defesa e a proteção à saúde e diz, “a coleta, o transporte e o destino final do lixo deverão processar-se em condições que não tragam inconvenientes à saúde e ao bem estar público, nos termos da regulamentação a ser baixada”. Esta regulamentação foi baixada somente sete anos depois, em 1961, por meio do decreto 49.974-A, sob a denominação de Código Nacional de Saúde, e em seguida foi complementada pela Portaria do Ministério do Interior Nº 53, de 01 de março de 1979, que dispõe sobre os problemas oriundos da disposição de resíduos sólidos.

A legislação também aborda os efeitos dos resíduos sólidos sobre a saúde humana por meio do saneamento básico. A lei 11.445 de 5 de janeiro de 2007 prevê em seu artigo 2º, Inciso III (Brasil, 2007), que o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, a limpeza urbana e o manejo dos resíduos sólidos devem ser realizados de formas adequadas à saúde pública e à proteção do meio ambiente.

Esta Portaria estabeleceu algumas normas gerais para serem seguidas em todo o país, sendo que os projetos para tratamento e disposição de resíduos sólidos ficaram sujeitos à aprovação e fiscalização dos órgãos estaduais de controle da poluição, e que na sua inexistência, o órgão federal deveria agir diretamente, de acordo com Machado (2003).

Se for considerado que a preocupação com a problemática dos RSU deu- se inicialmente sob o enfoque da saúde urbana, com a edição da Lei 2.312 de

03/09/1954 (Normas Gerais sobre a Defesa e Proteção da Saúde), que previa no art. 12 que a coleta, o transporte e o destino final dos resíduos sólidos urbanos deveriam se dar em condições que não importassem inconvenientes à saúde e ao bem-estar público, constata-se que se passou de mais de uma década para mais de meio século de infrações à legislação (BOCK et aI., 2001).

Assim, o autor destaca que o problema surge no momento em que não são seguidas as normas legais. O item X da Portaria 053/79 proíbe o lançamento e depósito de resíduos sólidos a céu aberto, no entanto, a propagação dos lixões persiste na maioria das cidades brasileiras.

Considerando que o artigo 225 da Constituição Federal de 1988 estabelece que: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as futuras gerações” e que segundo Bock et al. (2001), identificam-se vários problemas quanto aos RSU - sua produção e descarte na maneira como ocorrem na maioria dos municípios brasileiros, vêm infringindo o artigo da Constituição Federal.

A responsabilidade criminal por dano ambiental é instituída na Lei nº 9.605/98 (Brasil, 1998) e responsabiliza entidades e agentes políticos que causarem prejuízo ambiental, sendo que o dano ambiental consiste em poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde pública, ou que provoquem a mortalidade de animais ou a destruição significativa da flora.

A percepção de Machado (1999) é de que os resíduos sólidos têm sido negligenciados tanto pelo público como pelos legisladores e administradores, devido possivelmente à carência de divulgação de seus efeitos poluidores, já que como poluente, tem sido menos importunos que os resíduos líquidos e gasosos, porque colocados na terra não se dispersam amplamente como os poluentes do ar e da água.

Milaré (2000) defende que o Brasil carece de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos que defina normas relativas à prevenção da geração, minimização, reutilização, manejo, acondicionamento, coleta, reciclagem, transporte, tratamento, reaproveitamento e disposição final dos resíduos sólidos.

O Projeto de Lei que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos encontra- se em trâmite no Congresso Nacional Brasileiro, surgindo em um momento de extrema necessidade. Ele rege como suas diretrizes:

I - proteção da saúde pública e da qualidade do meio ambiente;

II - não-geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento de resíduos sólidos, em como destinação final ambientalmente adequada dos rejeitos;

III - desenvolvimento de processos que busquem a alteração dos padrões de produção e consumo sustentável de produtos e serviços

IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias ambientalmente saudáveis como forma de minimizar impactos ambientais;

V - incentivo ao uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados;

VI - gestão integrada de resíduos sólidos;

VII - articulação entre as diferentes esferas do Poder Público, visando a cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;

VIII - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos;

IX - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação de serviços públicos de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira;

X - preferência, nas aquisições governamentais, de produtos recicláveis e reciclados;

XI - transparência e participação social;

XII - adoção de práticas e mecanismos que respeitem as diversidades locais e regionais;

XIII - integração dos catadores de materiais recicláveis nas ações que envolvam o fluxo de resíduos sólidos;

XIV – educação ambiental.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS, na condição de um relatório preliminar, se direciona para a redução progressiva da utilização de determinados tipos de artefatos que se tornam resíduos, pois estabelece metas para a substituição de frascos descartáveis por outros retornáveis, como também a obrigatoriedade da participação dos fabricantes de materiais descartáveis no sistema de resíduos, no sentido da sua valorização e reciclagem (KAPAZ, 2001).

Portanto, o atual panorama brasileiro sobre resíduos sólidos estabelece uma pressão constante exercida no meio ambiente e que demanda uma solução

emergente. O projeto de lei para a PNRS visa solucionar os problemas recorrentes causados pela ausência de normatização no país.

No Estado do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (2002 apud SANTOS, 2002), salienta que das 497 cidades do estado 46% tratam seus resíduos com o licenciamento operacional que a Fundação Estadual de proteção Ambiental (FEPAM) concede, nessa fase todos os pré-requisitos de segurança dispostos na legislação ambiental são atendidos. Todavia, o restante dos 54% dos municípios não apresentam a mesma realidade. Destes, 25% estão em procedimento para adequação a lei, contudo outros 44% nos manifestaram iniciativa para seguir a legislação.

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