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1. Introdução

2.2. Gestão de Risco de Crédito

A concessão de crédito é uma atividade essencialmente bancária – a instituição disponibiliza um montante ao tomador, mediante compromisso de pagamento em uma data futura; como resultado, a gestão do risco de crédito é estrutural para o desempenho global de uma instituição financeira.

Entre as várias definições de risco destaca-se a da alteração de valores entre duas datas, onde o risco ocorre em função da potencial variabilidade do valor futuro de uma posição, decorrente das mudanças do mercado.

Segundo Bessis (1998, p.436),

O risco de crédito é composto por quatro partes: risco de default, de exposição, de migração e de recuperação. O risco de default se refere à probabilidade de ocorrer um evento de default com o tomador de crédito, isto é, o não pagamento; o risco de exposição decorre da potencial incerteza em relação ao valor futuro da operação de crédito; o risco de migração é o risco de declínio da qualidade de crédito do emissor de um título ou de uma ação; enquanto o risco de recuperação do crédito se refere à incerteza quanto à restituição de valores no caso de um default do tomador. “tradução nossa”

A piora no nível de risco do tomador não impacta o banco credor de modo instantâneo, apesar de agravar o risco de crédito de todo o portfolio e aumentar o risco de

default (não recebimento); sendo tal piora monitorada de um modo global, pelas ferramentas

de classificação de risco, ao apontarem as migrações de risco da carteira e dos tomadores de crédito.

O risco é calculado observando-se os resultados e variações históricas do ativo em questão, porém, quando o objeto do estudo não possui séries históricas de dados disponíveis, é necessário considerar as variáveis qualitativas, o que potencialmente resulta num processo particular de decisão em função dos envolvidos na avaliação e definição. Para Blatt (1999), os fatores de risco não se dão de forma isolada, havendo sempre algum nível de relação e dependência entre eles - fatores de risco são eventos diversos que podem acontecer com o tomador e resultar no não recebimento da dívida pelo credor - no valor e no prazo acertado.

Para Caouette et al. (2000, p.5), o risco de crédito se dá com a expectativa de que o recebimento de um determinado valor em um certo período de tempo não se efetive, “o risco de crédito é consequência de uma transação financeira formalmente acordada entre duas partes: sendo uma a do fornecedor de fundos e a outra o usuário desses fundos” e pode ser

definido pelas perdas geradas pela ocorrência da inadimplência (default) do tomador ou pela piora da sua qualidade de crédito. São muitas as situações que podem caracterizar um evento de default, como por exemplo: o atraso no pagamento de um valor devido, a ausência de cobertura de uma garantia (que sinaliza insuficiência de recursos para quitar as pendências) ou ainda a quebra de uma cláusula contratual.

Deve-se frisar que o risco de crédito sempre foi a maior ameaça para o desempenho de qualquer banco além de ser a “principal causa de falências bancárias" (GREUNING e BRATANOVIC, 2009, p.161). Deste modo uma estrutura sólida de monitoramento e gestão de risco de crédito é requisito indispensável para um banco atender os níveis de estabilidade definidos pelo órgão regulador.

Securato (2007, p.18) sintetiza o seguinte:

Em sua essência o crédito, ou mais propriamente a operação de crédito, é uma operação de empréstimo que sempre pode ser considerada dinheiro, ou caso comercial equivalente a dinheiro, sobre o qual incide uma remuneração que denominamos juros.

Gestão de risco de crédito tem sido um tema relevante, uma vez que é uma das práticas de rápida evolução, alavancada pelo desenvolvimento de produtos e ofertas no mercado de crédito, pela diversificação das instituições financeiras atuantes e pelo desenvolvimento das tecnologias aplicadas ao tema.

Como indicado no documento de Princípios de Gestão de Risco de Crédito do Comitê de Basiléia (2000, p.1), “o objetivo do gerenciamento de risco de crédito é maximizar a taxa de retorno ajustada ao risco de um banco, mantendo a exposição ao risco de crédito dentro dos parâmetros aceitáveis”.

De acordo com Rose e Hudgins (2008, p.151),

A probabilidade de que alguns dos ativos do banco, em especial, a carteira de crédito de uma instituição diminua de valor e, eventualmente se torne sem valor, é conhecido como risco de crédito. Dado o fato de que um banco possui uma participação relativamente pequena dos ativos dos proprietários em relação aos ativos totais, basta que uma parcela pequena dos empréstimos não seja paga para

que uma instituição seja levada a falência. “tradução nossa”

O desempenho das instituições financeiras brasileiras está diretamente relacionado às condições econômicas locais, as mudanças nas taxas de juros e de câmbio, ao contexto concorrencial e, destacadamente, às mudanças regulatórias locais ou globais.

Quando analisado o aspecto normativo do risco de crédito, adota-se como referência primária a Resolução 2.682, de 21/12/1999, do Banco Central que aborda os critérios mínimos5 a serem aplicados pelos bancos na classificação mensal de suas respectivas operações de crédito e regras para constituição de provisão para créditos de liquidação duvidosa. Os critérios mínimos definidos são:

 0% (zero por cento) sobre a carteira classificada como AA que não apresenta atraso;

 0,5% (meio por cento) sobre o valor das operações classificadas como de risco nível A que apresentam atraso entre 01 e 14 dias;

 1% (um por cento) sobre o valor das operações classificadas como de risco nível B que apresentam, no mínimo, atraso entre 15 e 30 dias;

 3% (três por cento) sobre o valor das operações classificadas como de risco nível C que possuem atraso entre 31 e 60 dias;

 10% (dez por cento) sobre o valor das operações classificados como de risco nível D que significa um atraso entre 61 e 90 dias;

 30% (trinta por cento) sobre o valor das operações classificados como de risco nível E, ou seja, atraso entre 91 e 120 dias;

 50% (cinqüenta por cento) sobre o valor das operações classificados como de risco nível F, que apresentam atraso entre 121 e 150 dias;

 70% (setenta por cento) sobre o valor das operações classificados como de risco nível G de atraso entre 151 e 180 dias;

 100% (cem por cento) sobre o valor das operações classificadas como de risco nível H com atraso superior a 180 dias;

O acompanhamento dos níveis de risco da carteira de uma instituição financeira visa monitorar o nível de exposição de modo a fornecer feedback sobre a gestão da carteira – tanto em termos de originação quanto em termos de cobrança, minimizando o impacto no resultado do banco. E para monitorar e fiscalizar as instituições financeiras de modo a assegurar a estabilidade do Sistema Financeiro Nacional, o Banco Central adota, em seus reportes de risco, uma visão consolidada dos níveis de risco dos saldos de crédito6:

 Saldos por classificação de risco - Risco normal (Níveis de risco AA a C)  Saldos por classificação de risco - Risco 1 (Níveis de risco D a G)

 Saldos por classificação de risco - Risco 2 (Nível de risco H)

Entende-se então que o modelo brasileiro consolida quatro níveis de risco como operações de curso normal (44% das classificações possíveis), e cinco níveis como operações

5 O Banco Central estabelece na Circular BACEN nº. 3.648 de 4 de março de 2013, ser facultativo para as

instituições financeiras a adoção de sistemas internos de classificação do risco de crédito, denominada IRB (Internal Ratings-Based approach). A adoção este sistema é condicionada ao processo de validação dos modelos e sistemas internos de classificação do risco de crédito, pelo próprio BACEN, a partir dos critérios de elegibilidade definidos.

6 Esta regra foi implantada pela Resolução BACEN nº. 1.748 de 30 de agosto de 1990 que definia a classificação

das operações de crédito do sistema financeiro até sua revogação em 1999. O formato consolidado, entretanto, foi mantido para alguns dos reportes mensais do órgão regulador.

de risco de outros níveis (56% das classificações possíveis). Já os modelos internacionais pesquisados pelo Comitê da Basiléia - Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia - Basel

Committee on Banking Supervision, segundo o discussion paper Range of Practice in Banks’ Internal Ratings Systems (2000, p.14), “utilizam cerca de dez níveis de risco para operações

de curso normal e três níveis de risco para os créditos problemáticos”. E utilizando-se este método de análise, concluí-se que 77% da classificação de crédito de um banco internacional podem ser considerados de curso normal (atraso até 60 dias). Evidencia-se, portanto, o alinhamento conservador do Banco Central do Brasil na gestão de risco de crédito ao adotar um sistema com distribuição mais equilibrada entre os níveis de risco e menor concentração no portfolio considerado de menor risco.

O Acordo de Basiléia – resultado do Comitê de Supervisão Bancária da Basiléia - estruturado a partir do macro objetivo de manter a estabilidade dos sistemas financeiros (Basiléia I) teve sua implantação iniciada no Brasil em 1994 com o intuito de:

 Estabelecer princípios básicos de supervisão que garantissem um mínimo de solvência, promovendo assim a estabilidade financeira e monetária.

 Estabelecer um marco de atuação comum que permitisse um nivelamento competitivo entre as entidades nos diferentes países.

Já o acordo de Basiléia II – cujos procedimentos de implantação foram iniciados no país a partir do Comunicado BACEN nº 12.746, de 9 de dezembro de 2004 - refletiu a necessidade de flexibilidade e sensibilidade aos riscos para assegurar tanto a estabilidade como para permitir às instituições gerirem seus negócios de forma mais eficiente. Entende-se que o papel de supervisão do regulador se evidencia considerando:

 O objetivo de aprimorar a gestão de riscos nas instituições melhorando a solvência do sistema financeiro.

 A implicação de uma revisão abrangente dos dados, sistemas, metodologias, processos, políticas, estrutura organizacional e dos papéis e responsabilidades.

 A qualidade de dados e os sistemas de informação são os pilares da implantação de Basileia nas instituições.

 A demanda de consistência entre os critérios de gestão e os critérios de reporte tanto ao regulador como a alta administração.

a. Pilar I: Requisito Mínimo de Capital – que aborda os aspectos internos e de gestão, contemplados nos riscos de crédito, de mercado e operacional;

b. Pilar II: Supervisão Bancária – que engloba o aspecto de Normatização: citando a responsabilidade, o processo de supervisão e transparência na condução destes temas; c. Pilar III: Disciplina de Mercado - destaca os aspectos externo e de mercado: abordando os

assuntos de segmentação de riscos, estrutura de capital e reportes;

O Banco Central, que conceitualizou a implantação das diretrizes da Basiléia III para as instituições em operação no país, divulgou em março de 2013 o cronograma com implantação faseada prevista até o ano de 2022. São os objetivos do órgão regulador:

 Tornar o sistema financeiro mais resiliente – aperfeiçoando a capacidade dos bancos absorverem choques provenientes do sistema financeiro ou outros setores;

 Reduzir custos de crises bancárias;  Amparar o crescimento sustentável;

Esta implantação se dará a partir da divulgação de quatro resoluções do Conselho Monetário Nacional e 15 (quinze) circulares do Banco Central do Brasil relativas à estrutura de capital de instituições financeiras, estruturadas com base na realização de audiência pública para este fim.

E segundo o Banco Central, o Comitê de Basiléia propôs, entre outras medidas:

I - definição mais rigorosa de capital, visando fundamentalmente ampliar a capacidade de absorver perdas;

II - harmonização internacional da definição do capital;

III - ampliação da transparência quanto à composição do capital;

IV - criação de duas modalidades de capital suplementar (buffers) que incentivam as instituições financeiras a acumularem reservas adicionais de capital em períodos de rápida expansão do ciclo econômico para serem utilizadas em momentos de estresse; V - ampliação do escopo dos riscos capturados pela estrutura de capital;

VI - introdução do Índice de Alavancagem a ser aplicado como medida complementar ao requerimento mínimo de capital;

VII - adoção de requerimentos mínimos quantitativos para a liquidez.

a) Implantação de nova metodologia de apuração do capital regulamentar, no Brasil denominado Patrimônio de Referência (PR), que continuará a ser dividido nos níveis I e II;

b) Adoção de nova metodologia de apuração da exigência de manutenção de capital, adotando requerimentos mínimos de PR (Patrimônio de Referência), de Nível I e de Capital Principal, e introdução do Adicional de Capital Principal;

c) Elaboração da nova metodologia facultativa para apuração dos requerimentos mínimos de Capital para as cooperativas de crédito que optarem pelo Regime Prudencial Simplificado (RPS) e introdução do Adicional de Capital Principal específico para essas cooperativas.

Soma-se a isto, deliberado pelo Conselho Monetário Nacional, a nova forma de elaboração e a remessa agregada de informações por meio do Balancete Patrimonial Analítico - Conglomerado Prudencial. Esta nova metodologia de apuração do capital regulamentar prevê a revisão da qualificação de capital dos bancos pela recusa dos instrumentos financeiros que não possuam efetiva capacidade de absorção de perdas e também pela dedução de ativos que dada à baixa liquidez/dependência de resultados futuros/difícil valoração, eventualmente possam impactar o valor do capital, como por exemplo, os créditos tributários, ativos intangíveis e investimentos em empresas não controladas que atuam no ramo segurador.

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