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1. Introdução

2.3. Rating CAMELS

De acordo com o estipulado pelo Federal Deposit Insurance Corporation

Improvement Act of 1991 (FDICIA), as instituições financeiras devem ser avaliadas a cada

dezoito meses em termos de solidez e perpetuidade por agências federais especializadas para este fim – no caso, o OCC - Office of the Comptroller of the Currency, o FDIC - Federal

Deposit Insurance Corporation e o Federal Reserve que é o Banco Central Norte-Americano,

que podem estabelecer periodicidades diferenciadas em suas inspeções.

Segundo Gasbarro, Sadguna e Zumwalt (2002, p.248),

Para prevenir uma potencial deterioração financeira de ins tituições bancárias foram desenvolvidos procedimentos para identificar os bancos que estão enfrentando algum grau de dificuldade financeira. Esses procedimentos, embora possam variar segundo os normativos de cada país , são projetados para gerar ratings de solidez da instituição financeira.

Os modelos modernos de alertas iniciais (early warning) para as instituições financeiras ganharam destaque na década de 1970 a partir, por exemplo, do estudo de Altman (1977, p.443) que examinou o segmento financeiro das associações de poupança e crédito e argumentou “qualquer técnica utilizada para identificar antecipadamente sinais de quebra ou problemas graves para possibilitar a adoção de medidas preventivas, se mostraria como uma valiosa ferramenta de supervisão”. A partir deste período, pesquisadores têm conduzido numerosos estudos sobre sistemas de alerta com o desenvolvimento de modelos para identificar riscos iminentes de falência de bancárias.

Entende-se que os sistemas de alertas iniciais (early warnings), baseados em macro variáveis, são importantes ferramentas para a detecção oportuna de riscos sistêmicos na indústria financeira, ainda que não sejam tão efetivos para identificar o fato gerador do risco – tanto considerando fatores exógenos ou endógenos.

O indicador de maior disseminação nos órgãos reguladores norte-americanos para a avaliação anual realizada em bancos é o rating CAMEL , segundo apontado no working

paper Supervisory risk assessment and early warning systems (SAHAJWALA e VAN DEN

BERGH, 2000) – resultado da composição de seis medidas de desempenho: adequação de capital (C), a qualidade dos ativos (A), a gestão / administração (M), o lucro (E), liquidez (L) e a sensibilidade ao risco de mercado (S). O rating CAMEL foi originalmente destinado para

indicar a necessidade de uma inspeção local na instituição bancária, sendo deste modo, considerado um alerta inicial (early warning) sobre a situação do banco.

Como seu objetivo é de alerta inicial, este sistema tem como foco prever a insolvência econômica de um banco, em vez de apenas sinalizar a efetivação da quebra (HIRTLE e LOPEZ, 1999), o que significa dizer que estes alertas visam identificar as situações nas quais um banco pode tornar-se incapaz de cumprir suas obrigações contratuais a partir dos seus recursos próprios, antes que isso signifique uma sinalização pública de quebra.

Definido inicialmente com apenas cinco componentes (C A M E L) obtidos de fatores e inputs exclusivamente internos à organização, os órgãos reguladores norte- americanos reconheceram que a realidade dos mercados competitivos globais não estava devidamente capturada no rating CAMEL e, em 1997, acrescentaram um sexto indicador para capturar o risco sistêmico. Este componente sistêmico (S) busca indicar a sensibilidade dos bancos aos fatores de mercado que incluem taxa de juros, câmbio e pricing, deste modo, resultando no rating CAMELS (GILBERT et al., 2000). Deve ser destacado que a importância dos fatores sistêmicos varia ao longo do tempo e entre as instituições, mas é mais pronunciado em um período de crise.

Segundo o Comptroller’s Handbook (2007, p.43), “cada fator avaliado é traduzido em uma graduação que varia em números inteiros de 1 (um) a 5 (cinco) em função das práticas de gestão de risco para o tamanho da instituição, complexidade e perfil de risco, e nível de preocupação para fiscalização”.

Para Cole e Gunther (1995, p.4)

A escala do rating CAMELS tem a seguinte representação: 1 (um) – desempenho forte, 2 (dois) - desempenho satisfatório, 3 (três) - desempenho com algum nível de insuficiência, 4 (quatro) - desempenho marginal que é significativamente abaixo da

média da indústria, 5 (cinco) – desempenho insatisfatório que é extremamente

deficiente e necessita de atuação imediata.

Como descrito no Comptroller’s Handbook (2007, p.43-44),

A apuração do rating CAMELS depende dos seis componentes para ser calculado. Deste modo, um banco de bom desempenho terá pontos favoráveis em todos os seis componentes - irá apresentar boa adequação de capital, qualidade dos ativos, boa liquidez e sensibilidade ao risco de mercado.

De tal maneira que quando o banco se apresenta com todos estes pontos positivamente avaliados, a administração, muito provavelmente, receberá pela consolidação

dos seis componentes, também uma boa classificação. Por outro lado, bancos de maus resultados terão baixa pontuação em cada um desses componentes, ainda que algumas das métricas sejam mais graves que outras, consequentemente, os componentes do rating irão se direcionar para uma mesma direção, que inalizará a probabilidade de default no curto prazo.

Como citado por Gasbarro, Sadguna e Zumwalt (2002, p.248),

Durante o período de condições econômicas estáveis é esperado que todos os componentes do rating CAMELS apresentem significativa correlação, mas quando as condições econômicas se deterioram, o rating CAMELS pode não refletir adequadamente a situação dadas as prioridades que a gestão do banco ou mesmo os órgão reguladores venham a colocar sobre alguns dos componentes do rating.

Segundo Hirtle e Lopez (1999, p.3),

O rating utilizado em inspeções – conhecido como rating CAMELS – é uma proxy

da informação final de uma inspeção em um banco. O rating CAMELS, que é atribuído por inspetores na conclusão de um exame, são classificações numéricas que retratam a qualidade financeira do banco, seu perfil de risco e desempenho

global. “tradução nossa”

Deste modo, entende-se que os rating CAMELS oferecem insights mais relevantes sobre as condições das instituições.

Cada um dos seis parâmetros descritos a seguir é ponderado em escala e contém um número de sub-parâmetros com pesos individuais. Na literatura são localizadas diferentes abordagens de cálculo para cada um dos seis componentes do CAMELS, tanto do ponto de vista dos pesquisadores, quanto dos reguladores, como as apresentadas no handbook de processo de supervisão bancária divulgado pelo OCC - Office of the Comptroller of the

Currency ou pelo FSI - Financial Soundness Indicators (Indicadores de Solvência Financeira)

do IMF - International Monetary Fund (Fundo Monetário Internacional); são sumarizadas a seguir as seis medidas de desempenho contidas no rating CAMELS, segundo as definições disponibilizadas pelo FSI do FMI (2006, p. 155 - 158).

 Adequação de capital (C): numa visão simplificada determina o quão bem os bancos podem enfrentar choques em seus balanços. A adequação de capital nos bancos é medida em relação aos pesos relativos de risco atribuídos a diferentes categorias de ativos mantidos dentro e fora do balanço. Deste modo, captura-se que os bancos mais

capitalizados estão menos expostos a riscos. Também muitas vezes é representada pela razão de alavancagem de capital de base de ativos.

Além disso, as qualificações obtidas como resultado não são gradações finas, mas sim, pretendem dividir os bancos em cinco categorias que vão desde a crítica subcaptalização até a supercapitalização. Em relação ao patrimônio líquido, por exemplo, é esperado um sinal positivo para esta variável, dada a percepção de que um maior nível de capital próprio tem o potencial de atuar como uma almofada

contra perdas futuras – protegendo os depositantes de perda e reduzindo os custos de

resgate em potencial para os contribuintes. Gasbarro, Sadguna e Zumwalt (2002, p.253). “tradução nossa”

Como descrito no Comptroller’s Handbook (2007, p.46-47),

A instituição financeira deverá manter o capital compatível com a natureza e a extensão dos seus riscos e a capacidade de gestão para identificar, medir, monitorar e controlar esses riscos. O efeito de crédito, de mercado e outros riscos sobre a situação financeira da instituição devem ser considerados quando se avalia a adequação do capital. Os tipos e quantidades de riscos inerentes às atividades de uma instituição determinarão a extensão em que pode ser necessário manter o capital para refletir adequadamente as coberturas necessárias para atuar em relação às

adversidades que podem impactar o capital da instituição. “tradução nossa”

O seguinte indicador é um dos utilizados para avaliar a adequação de capital, segundo o Guia de Compilación dos Indicadores de Solidez Financiera publicado pelo FMI (2006, p.167): Non-performing loans7 – Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa /

Capital

No Guia de Compilación este indicador é calculado com base no valor dos empréstimos inadimplentes (NPLs) menos o valor de provisões específicas como numerador e o capital como denominador. Este indicador possibilita a identificação das instituições que eventualmente postergam o tratamento de seus ativos problemáticos.

 Qualidade dos ativos (A): a solvência das instituições financeiras é considerada em risco quando seus ativos se tornam insuficientes, pela exposição excessiva a créditos vencidos. Ressaltando que o risco de crédito é inerente à concessão de empréstimos - principal negócio bancário - e surge quando ocorre o default sobre o reembolso acordado dos empréstimos concedidos. Tal evento tem um impacto negativo sobre a rentabilidade e capital da instituição pela demanda de provisões adicionais de créditos de liquidação duvidosa.

7 Segundo definição do Guia de Compilación dos Indicadores de Solidez Financiera publicado pelo FMI (2006,

p.49) são considerados NPL, i) os pagamentos do principal e juros tenham três meses de vencidos (90 dias) ou mais, ou ii) foram capitalizados (reinvestidos no valor principal), refinanciados ou renovados (ou seja, em atraso com realização de acordo) com pagamento de juros referente a três meses (90 dias) ou mais. O critério de 90 dias é o período mais frequentemente usado pelos países para determinar se um empréstimo é ou não inadimplente.

“Espera-se que níveis mais elevados de ativos inadimplentes resultarão em menores

de ativos de qualidade, e um rating CAMELS correspondentemente menor.”

Gasbarro, Sadguna e Zumwalt (2002, p.253) “tradução nossa”

O seguinte indicador é um dos utilizados para avaliar a qualidade de ativos, segundo o Guia de Compilación dos Indicadores de Solidez Financiera publicado pelo FMI (2006, p.167): Non-performing loans / Crédito Total

No Guia de Compilación este indicador é calculado usando o valor de inadimplência da carteira como numerador e o valor total da carteira de crédito (incluindo inadimplência, e antes da dedução das provisões de liquidações duvidosas específicas) como denominador. Este conceito é frequentemente utilizado como uma proxy para a qualidade dos ativos e se destina a identificar problemas com a qualidade dos ativos da carteira de crédito.

 Qualidade gerencial (M): pode-se utilizar um escore de eficiência para avaliar a qualidade da gestão, sendo entendido que bancos mais eficientes sejam menos propensos a riscos. 

No sistema de rating CAMELS, qualidade de gestão se apresenta como o aspecto mais qualitativo e, por este motivo, é subjetivamente atribuído pelos supervisores dos órgãos de fiscalização. Medidas diretas dessas características não aparecem nas demonstrações financeiras, ainda sim, a política de gestão de preços e comportamento de risco pode ser inferida através da análise das taxas de juros cobradas nos empréstimos (preços elevados estão associados com os empréstimos de maior risco e / ou custos de financiamento mais elevados e menores taxas indicam políticas e / ou acesso a recursos de menor custo de empréstimos conservadores). Deste modo, a taxa de juros cobrada pode ser usada como proxy da qualidade da gestão. Uma relação inversa é esperada entre esta variável e o rating CAMELS. Gasbarro, Sadguna e Zumwalt (2002, p.253). “tradução nossa”

O cálculo para avaliar a qualidade gerencial foi elaborado pelo FMI apud Araes (2013, p.60): “(Resultado de Intermediação Financeira + Receitas com Serviços) / (Despesas Pessoais + Despesas Administrativas)”.

Ainda segundo Araes (2013, p.60), “este indicador visa avaliar o nível de comprometimento das principais fontes de receitas operacionais apresentadas por uma instituição financeira [...] em relação aos custos da estrutura”.

 Lucros e resultado (E): a manutenção da viabilidade e perpetuidade de um banco depende da sua capacidade de obter um retorno adequado sobre seus ativos e capital. O bom desempenho financeiro permite que o banco financie sua expansão, se mantenha competitivo e reponha e / ou aumente seu capital. Vários autores têm argumentado que os bancos saudáveis têm: maior retorno sobre ativos (ROA), melhor retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) e maior receita líquida de juros para a receita total.

Esta relação descreve a rentabilidade do banco e evita a volatilidade dos lucros associados com itens extraordinários. Esta é uma boa medida do foco da gestão no core business do banco que é o lucro líquido. Um valor mais alto indica uma maior

rentabilidade e uma relação positiva com o rating CAMELS é esperada. Gasbarro, Sadguna e Zumwalt (2002, p.254). “tradução nossa”

Os seguintes indicadores são utilizados para avaliar a capacidade de geração de resultados da instituição, segundo o Guia de Compilación dos Indicadores de Solidez

Financiera publicado pelo FMI (2006, p.93): ROA e Resultado de Intermediação Financeita /

Receita Bruta de Intermediação Financeira

No Guia de Compilación o primeiro indicador é calculado pela divisão do lucro líquido antes de itens extraordinários e impostos (como recomendado no Manual do FSI) pelo valor médio dos ativos totais (financeiro e não financeiro) durante o mesmo período; se trata de um indicador de rentabilidade da ins tituição, elaborado para medir a eficiência dos tomadores de depósitos no uso de seus ativos.

Enquanto o segundo indicador é calculado usando a margem financeira como numerador e receita bruta como denominador, sendo também um indicador de

rentabilidade, que mede a participação da intermediação financeira líquida – receita

financeira menos despesa financeira – na receita bruta. “tradução nossa”

 Liquidez (L): as instituições financeiras inicialmente solventes podem quebrar por má gestão da liquidez de curto prazo. Uma posição não balanceada melhora potencialmente a lucratividade, mas também aumenta o risco de perdas.

Alta liquidez potencializa não só a confiança dos depositantes por indicar capacidade do banco para atender as necessidades de caixa de seus clientes no dia-a- dia e para responder aos eventuais elevados saques de dinheiro, mas atua nas

condições de taxas de juros da instituição – uma vez que um banco com problemas

de liquidez é forçado a ofertar fundos a taxas de juros mais elevadas . Gasbarro,

Sadguna e Zumwalt (2002, p.254) “tradução nossa”

O seguinte indicador é um dos utilizados para avaliar a liquidez do banco, segundo o Guia de Compilación dos Indicadores de Solidez Financiera publicado pelo FMI (2006, p.88): Total de Ativos Líquidos / Total de Ativos

No Guia de Compilación este indicador é calculado usando a medida dos ativos líquidos como o numerador e o total de ativos como denominador. Neste documento esta razão fornece uma indicação da liquidez disponível para atender às demandas esperadas e inesperadas. O nível de liquidez indica a capacidade da captação de depósitos para resistir aos choques no respectivo balanço. “tradução nossa”  Sensibilidade ao risco de mercado (S): refere-se ao risco que surge devido às mudanças

nas condições de mercado e que pode afetar negativamente os lucros e/ou capital.

O risco de mercado engloba exposições associadas às mudanças nas taxas de juros, taxas de câmbio, preços de commodities, preços de ações, ativos fixos etc.”

Gasbarro, Sadguna e Zumwalt (2002, p.253) “tradução nossa”

Embora todos esses itens sejam relevantes, o principal risco para a maioria dos bancos é o risco de taxa de juros. A análise de sensibilidade reflete a exposição da instituição ao risco de taxa de juros, volatilidade cambial e de flutuação do preço patrimonial (estes riscos são somados no risco de mercado). A sensibilidade de risco deve ser avaliada em termos da capacidade de gestão para monitorar e controlar.

O seguinte indicador é um dos utilizados para avaliar a sensibilidade ao risco de mercado, segundo o Guia de Compilación dos Indicadores de Solidez Financiera publicado pelo FMI (2006, p.170):

 Posição aberta de câmbio líquida / Capital

No Guia de Compilación é feita a indicação do cálculo de posição em moeda estrangeira com base na recomendação do órgão regulador. Nele o indicador de sensibilidade ao risco de mercado, tem como objetivo mostrar a exposição dos tomadores de depósito ao risco de taxa de câmbio em relação ao capital e mede o descasamento de posições ativas e passivas em moeda estrangeira, visando avaliar a vulnerabilidade em caso de oscilações de taxas.

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