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5. Perigos e Críticas ao Renovamento

1.8 Gestos corporais

Este tema foi abordado no segundo capítulo, na secção 4.2, como parte integrante do fruto da efusão do Espírito Santo “interesse renovado na Oração”. Além disso, a segunda pergunta formulada às Equipas de Serviço Diocesanas do Renovamento Carismático das várias dioceses nacionais centra-se totalmente nos comportamentos corporais e espirituais realizados nas orações carismáticas. Com efeito, apesar de esses comportamentos representarem uma das peculiaridades da oração carismática, acarretam algumas implicações que têm de ser esclarecidas, nomeadamente os riscos, o seu objetivo, de onde provêm, que efeitos causam, porque são incompreendidos pelos leigos que não pertencem ao movimento e quais as suas raízes bíblicas e, se possível, teológicas.

Assim sendo, o doc. 1 demonstra que os comportamentos corporais e espirituais são incompreendidos pelos leigos, porque estes desconhecem o próprio movimento. No entanto, essa incompreensão desfaz-se no “momento de se integrarem num grupo e assistirem pela primeira vez à Oração”.

Nos grupos de oração,

“vive-se a alegria, por sabermos que Deus nos ama gratuita e incondicionalmente, apesar das nossas misérias e fraquezas... E essa alegria expressa-se com gestos corporais (bater palmas, levantar as mãos, dar efusivamente o abraço da paz, aplaudir Jesus sacramentado que abençoa o Seu povo, aplaudir após leitura do Evangelho que é Palavra de Deus ao povo)... Para que as pessoas não fiquem espantadas, já que estão habituadas a missas muito paradas e tristes (os jovens dizem que é uma seca!), explicamos-lhes o sentido que esses gestos têm para nós. De modo geral as pessoas entendem e aceitam bem” (doc. 2).

Mas, as pessoas “que designam os gestos corporais de “folclore”, desconhecem que esses gestos e atitudes decorrem duma intimidade, duma gratidão a Deus, duma alegria bem funda, com raízes bíblicas, como os Salmos, onde somos convidados a louvar, a cantar, a

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bater palmas e, usando mesmo instrumentos, como cítaras, címbalos, harpas e até a dança” (doc. 2).

Segundo o doc. 3, “as expressões corporais, que por vezes acompanham a oração, são fruto do entusiasmo com que se reza”. Porém, “é natural que algumas expressões corporais, e sobretudo comportamentos espirituais, possam sair dos chamados limites aceitáveis. Mas isso é um risco inerente a qualquer movimento”.

“O corpo não é uma peça estática, nós somos movimento, por isso, não podemos rezar só com palavras: o nosso corpo tem de rezar também. É a nossa maneira de sentir a oração. O Rei David também louvava ao Senhor com cânticos, com danças, etc. Claro que as pessoas se sentem um pouco inibidas para o fazerem, porque estão habituadas a viver numa igreja mais "estática", mas depois de experimentarem e deixarem os respeitos humanos de fora, vivem a oração de uma forma mais forte”. Esta resposta no doc. 4 explica as razões destes comportamentos por parte de quem reza. Não obstante, esta diocese, como outras, procura as raízes bíblicas destas atitudes tão próprias do Renovamento Carismático.

De acordo com doc. 5, “todos os comportamentos, corporais e espirituais, não terão qualquer sentido se não forem expressão da alma e da vida, se não forem meios de relação com Deus e se não forem oração”. Além disso,

“as atitudes e comportamentos corporais têm ajudado a crescer os membros do nosso Movimento, na medida em que “libertam” o Espírito que nos habita e nos colocam em relação com Deus. A descoberta de que o Espírito habita em nós, que somos templos vivos de Deus, a descoberta da liberdade dos filhos de Deus, leva a que todo o nosso ser reze, cante e louve. Todo o nosso ser: espírito, alma e corpo, é chamado a louvar, a bendizer, a manifestar-se por Deus e para Deus. Todos os gestos, atitudes e comportamentos corporais e espirituais não querem outra coisa que não seja ajudar a descobrir que tudo é chamado a louvar o Senhor. Tudo o que é feito, é feito com um sentido e a partir do coração”.

113 Importa, ainda, referir que esta Equipa de Serviço Diocesana tem plena consciência dos riscos que estas atitudes comportam. Contudo, não foram encontrados “comportamentos desajustados, que rocem o exibicionismo ou mesmo a histeria, nem fanatismos, nem qualquer tipo de comportamentos e atitudes fora daquilo que é prática corrente na igreja: não há desmaios, visões ou qualquer tipo de alucinações; tudo dentro daquilo que são os parâmetros ditos normais da Igreja”.

Para os membros da Equipa de Serviço Diocesana do Renovamento da diocese 6, “a oração de louvor, o canto, os gestos, a invocação do Espírito Santo acabam por provocar nos membros dos Grupos de Oração uma “maior proximidade” de Deus, uma maior consciência da Sua presença entre nós e em nós”.

Para a Equipa da diocese 7, os comportamentos corporais e espirituais

“referem-se naturalmente à libertação de bloqueios culturais e à compreensão de que, quando oramos, todo o ser ora; não só a mente e a boca, mas a pessoa toda: é a chamada oração de coração. Então, todo o corpo reza. Vejam-se, por exemplo os Salmos 149 e 150, o canto e as danças de David em 2 Sam. 6. Comportamentos espirituais menos compreendidos? Cantar e orar em línguas, por exemplo, as palavras de profecia, de ciência, etc.? A isso podemos responder que as comunidades cristãs iniciais conheciam e abriam-se a estes carismas do Espírito Santo, sem medo, com entrega. (1Cor 12). A cultura de afastamento das realidades espirituais desenvolveu bloqueios e ignorâncias que levaram a achar estranhos e desadequados estes carismas. Lembremos a exortação de S. Paulo (2 Tm 1, 6-7)”.

Contudo, “Ninguém se sente coagido a ter comportamentos com os quais não se identifique”. O doc. 8 permite-nos concluir que “tudo o que é novidade suscita dúvidas, nomeadamente enquanto se desconhece, por exemplo, o porquê de alguns gestos. A partir do momento em que é comunicado por que o fazemos, cada irmão vai-se libertando e passa agir com naturalidade”.

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Por fim, o doc. 10 apresenta uma enumeração dos diversos comportamentos corporais e espirituais, designadamente,

“o canto em línguas (glossolalia); o levantar os braços na oração de louvor; a oração de cura e libertação pelos irmãos que estejam doentes ou com problemas, problemas esses muitas vezes adquiridos nas seitas, na bruxaria ou no espiritismo. Ora, estes comportamentos corporais e espirituais, incompreendidos por quem está de fora do movimento, são muito bem aceites por quem está inserido no movimento, pois os membros sentem a sua ação positiva ou curativa nos irmãos que acreditam no poder da oração e são convidados a deixarem-se tocar pela graça do Espírito Santo, que atua pela intercessão dos irmãos que por eles oram”.

Tendo presente estes elementos fornecidos pelas dioceses, recordemos que foi escrito no segundo capítulo que, na oração carismática procura-se, então, privilegiar as expressões corporais – elevando as mãos ou de as unir em sinal de comunhão, fechando os olhos, batendo palmas, dando gritos e fazendo ruídos e ainda dançando. Enfim, estas expressões têm o intuito de dirigir todo o corpo para Deus em cânticos fortemente ritmados.

Nas respostas, não foi mencionado o comportamento espiritual da imposição das mãos sobre os membros do movimento. Todavia, este gesto é recorrente no Renovamento Carismático. Este comportamento espiritual provém do carácter espontâneo da oração, como manifestação da força do Espírito e como demonstração da alegria que transborda pelo louvor a Deus e que nem sempre as palavras conseguem expressar. Estes comportamentos ajudam, igualmente, a que as pessoas que rezam saiam do individualismo, das inibições e do rubricismo que pauta outras orações.

Por último, é necessário perceber que a oração carismática pode causar diversos comportamentos desviantes, já mencionados por algumas dioceses, sob o pretexto de criatividade e liberdade religiosa, os quais podem não estar em conformidade com a tradição e a experiência da Igreja. “Sem sufocar o Espírito nem restringir a legítima espontaneidade, os que têm responsabilidade pastoral devem ajudar a assegurar que a oração permaneça

115 autentica, o que torna indispensável que eles próprios sejam homens e mulheres de oração, solidamente enraizados na herança espiritual rica e variada da Igreja”239.