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1. GOVERNO ELETRÔNICO

1.6. Governança eletrônica

Consoante Ortolani (2005, p. 4), a governança consiste na adoção das TICs para transformar os processos de governo, o relacionamento entre níveis de governo, as implicações e efeitos sociais como a exclusão digital, o profissionalismo administrativo com ética e transparência, a e-democracia: aumento da participação dos cidadãos, votação eletrônica, questões éticas, de segurança e privacidade, as ações de natureza legal e regulatória. Capella (2008) enfatiza que o termo governança tem sido utilizado com maior frequência, na administração pública, desde o início dos anos 90, em grande parte, por conta da sua utilização nos relatórios do Banco Mundial, no intuito de disseminar a adoção de práticas de boas governanças (good governance) pelos países atingidos diretamente pelas crises econômicas, que dependiam de recursos do Banco. Com relação aos projetos nesta área que vem sendo desenvolvidos pelos estados e municípios, segundo Cunha (2000) apud

Wzorek, Ramos e Rezende (2005), podem ser citados: disponibilização de meios de atendimento a todo o ciclo de prestação de serviço ao cidadão; entrega eletrônica de informações públicas; integração com instituições financeiras; enquetes, chats, e fóruns de discussão sobre temas de interesse público.

Como ferramenta de uma reforma profunda do Estado, e principalmente de uma gestão pública dentro do quadro democrático, a politização do governo eletrônico, transformando-o em governança, seria um passo fundamental para uma gestão moderna e eficiente, porém, sobretudo efetivamente promotora de preferenciais democráticos na sociedade, segundo afirma Ruediger (2002). Mesmo que ainda a prestação de serviços apenas, não possa ser vista como aplicação completa de governo eletrônico, é importante ressaltar a dimensão democrática de tais recursos disponibilizados por meio das TICs. Não obstante, sabe-se que não é a TIC que criará a participação democrática, mas como os seus diversos recursos podem agir como facilitadores no processo. Nesse sentido, Mello (2009, p. 40) enfatiza que a governança eletrônica insere-se, exatamente, no contexto das transformações da sociedade da informação no qual as TICs permitem, por um lado, a melhoria na eficiência da prestação de serviços públicos e, por outro, incrementam a capacidade estatal de fornecer informações públicas aos diversos públicos-alvo que delas necessitam.

A governança eletrônica ou e-governança pode ser entendida como a aplicação dos recursos das TICs na gestão pública e política das organizações desse tipo. Para Wzorek, Ramos e Rezende (2005, p. 4), governança eletrônica inclui: suporte digital para elaboração de políticas públicas, tomadas de decisões, a gestão dos recursos públicos, financeiros, humanos, informacionais e de conhecimento. Tais conceitos vão muito além da prestação de serviços públicos ao cidadão por meios eletrônicos, característica esta que é constantemente confundida com governo eletrônico. Dessa forma, a governança eletrônica ultrapassa o governo eletrônico, sendo este um dos meios de efetivar as definições e políticas daquela. Riley (2003, p. 3) defende que a governança eletrônica engloba as políticas, estratégias, visões e recursos necessários para efetivação do governo eletrônico, bem como a organização do poder político e social para utilizá-lo. Por sua vez, Medeiros (2004, p. 75) enfatiza que a governança eletrônica – ou “e-governança” ou “governança digital” -, refere-se ao modo como a Internet pode melhorar a capacidade do Estado de governar e formular suas políticas, podendo ser definida como: a utilização pelo setor público de tecnologias de informação e comunicação inovadoras, como a Internet, para ofertar aos cidadãos serviços de qualidade,

informação confiável e mais conhecimento, de modo a facilitar o acesso aos processos de governo e encorajar a participação do cidadão. É um comprometimento inequívoco dos tomadores de decisão [governamentais] em estreitar as parcerias entre o cidadão comum e o setor público. (UNITED NATIONS, 2002, p. 54).

Conforme Wzorek, Ramos e Rezende (2005), a governança eletrônica pode ser definida como a capacidade financeira e administrativa de implementar políticas públicas que objetiva tornar o Estado mais forte. E também mais efetivo pela superação da crise fiscal, pela delimitação da sua área de atuação, e distinção entre o núcleo estratégico e as unidades descentralizadas, pelo estabelecimento de uma elite política capaz de tomar as decisões necessárias e pela dotação de uma burocracia capaz e motivada. Em termos simples, a governança eletrônica:

permite aos cidadãos a escolha de quando e onde acessar informações e serviços governamentais (OKOT-UMA, 2000; PANZARDI, CALCOPIETRO e IVANOVIC, 2002; BUDHIRAJA, 2003); possibilitar a prestação de serviços e informações do governo ao público utilizando meios eletrônicos (PANZARDI, CALCOPIETRO e IVANOVIC, 2002; ODENDAAL, 2003; GHOSH e ARORA; 2005; REZENDE e FREY, 2005); permitir o relacionamento com seus governos, envolvendo aspectos de comunicação cívica, evolução de políticas e expressão democrática da vontade (OKOT-UMA, 2000; PANZARDI, CALCOPIETRO e IVANOVIC, 2002; MARCHE e MCNIVEN, 2003; TRIPATHI, 2007); ser um meio de participação para a mudança social (THOMAS, 2009).

Segundo Mello (2009), a governança eletrônica é, geralmente, considerada como um conceito mais amplo do que o governo eletrônico, uma vez que pode levar a uma mudança na maneira como os governos e os cidadãos referem-se uns aos outros. Enquanto o governo eletrônico implica uma entrega de informações e serviços governamentais por meios eletrônicos, a governança eletrônica permite a participação direta dos eleitores na gestão das atividades. (MELLO, 2009, p. 42). O estudo das Nações Unidas, intitulado Benchmarking E- government: a global perspective (UNITED NATIONS, 2002), propôs a “estrutura de governança eletrônica”, que se inicia pelo e-governo, passa pela e-administração e chega, num estágio final, à e-governança. Nessa linha de raciocínio, Ortolani (2005, p. 3-4), elucida que o

e-governo é caracterizado pelo relacionamento inter-organizacional responsável pelas

políticas de coordenação, políticas de implementação e entrega de serviços aos cidadãos. Inclui desenvolvimento de programas centrados no cidadão, promoção e desenvolvimento da

participação dos cidadãos, avaliação e gestão da entrega de serviços online contra outras formas de entrega de serviços do governo. A e-administração, por sua vez, define o relacionamento intra-organizacional do governo e consiste no planejamento estratégico da transição de serviços para dispositivos eletrônicos, medição e avaliação de custos e desempenho dos serviços eletrônicos e gerenciamento dos recursos humanos necessários para a nova forma de atuação do governo e a e-governança consiste na adoção pelo setor público das modernas TICs para entregar a todos os cidadãos: serviços melhorados, informação confiável e conhecimento para facilitar o acesso ao processo de governo e encorajar a participação ativa do cidadão. Resulta no comprometimento dos tomadores de decisão no estreitamento da parceria entre o cidadão e o setor público.

Araújo e Laia (2004, p. 1) trazem a seguinte contribuição, para as organizações públicas, as TICs representam a possibilidade de um novo foco na prestação de serviços públicos. A temática de Governança Eletrônica insere-se exatamente no contexto de transformações da sociedade da informação no qual as TICs permitem, por um lado, a melhoria na eficiência da prestação de serviços públicos e, por outro, incrementam a capacidade estatal de fornecer informações públicas aos diversos públicos-alvo que delas necessitam. Wilson Gomes (2011) enfatiza que os estudos sobre o tema continuam a demonstrar que os usuários da rede não são demasiadamente interessados em participação política. Segundo Gomes (2011, p. 39), nem sequer estão particularmente interessados em política, em bases normais. Entretanto, Sampaio (2011) acredita que a Internet potencializa e facilita ações na esfera civil, exerce pressões sobre o sistema político, coordena ações de movimentos sociais, realiza mobilizações, troca material político e cria banco de dados. A Internet facilita processos que podem fomentar valores democráticos como accountability, participação política, mobilização social, discussão política e deliberação pública. Contudo, adverte o pesquisador, a Internet por si só não consegue solucionar os diversos problemas da democracia. Apesar de não existir um consenso sobre o uso das NTICs na promoção da participação cidadã democrática, o debate entre as perspectivas pessimistas e otimistas está superado. (ARAÚJO, PENTEADO e BURGOS, 2012).

Chahin et al. (2004, p. 12) apontam para o impacto esperado do governo eletrônico nos seguintes aspectos: melhoria da qualidade e inovação nos serviços prestados ao cidadão; transparência e acesso à informação pela sociedade; reestruturação organizacional, com o realinhamento de estruturas e processos; planejamento, avaliação e controle da ação

governamental, com base nos resultados esperados, na elaboração de indicadores de desempenho e na identificação da clientela-alvo; fortalecimento da capacidade de formulação, implementação e controle sobre as políticas públicas; redução de custos e na qualificação e mudança de perfil do servidor público. Para tanto, Chahin et al. (2004, p. 65) complementam, o Estado tem que se organizar para prestar serviços aos cidadãos, não para ser conveniente aos burocratas nos seus silos13 hierárquicos nem aos intermediários que vivem em simbiose com eles. O governo eletrônico muda a interface entre o Estado e o cidadão, e isso pode levar à reforma das estruturas que sustentam a interface. Nesse sentido, a administração eletrônica – e-administração, é definida pelas relações intra-organizacionais que são os relacionamentos internos e incluem: a) o planejamento estratégico na transição da entrega do serviço eletrônico; b) a quantificação da relação custo-eficácia da prestação do serviço eletrônico; c) o benchmarking e a medição do desempenho; e d) a questão da gestão dos recursos humanos, como formação, recrutamento, implantação de pessoal e maximização de recursos existentes. (UNITED NATIONS, 2002, p. 55).

Alguns autores (Ferguson, 2002; Sanchez, 2003; Jardim, 2004; Cunha, 2005; Borges e Silva, 2006), definem a administração eletrônica como sendo a prestação eletrônica de serviços que busca por meio eletrônico, maior eficácia, eficiência e qualidade nos serviços do governo e das instituições públicas.

13 Termo utilizado na agricultura, que significa uma construção impermeável para armazenar cereais ou forragem verde. No contexto, representa a Administração pública, que comumente é organizada em compartimentos estanques.