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Governança segundo os princípios do IBGC

3 GOVERNANÇA NA PERSPECTIVA DO IBGC E DA IFAC

3.3 Governança segundo os princípios do IBGC

Para o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2004), a preocupação da Governança Corporativa é “criar um conjunto eficiente de mecanismos, tanto de incentivos quanto de monitoramento, a fim de assegurar que o comportamento dos administradores esteja sempre alinhado com o melhor interesse da empresa”.

Ainda segundo o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2004), a governança pode ser aplicada a qualquer tipo de organização, independente do porte, natureza ou tipo de controle, de modo que instituições pertencentes ao primeiro, segundo e terceiro setor, são capazes de aderirem e adaptarem-se às boas práticas de governança corporativa.

Em 2009, o IBGC emitiu um Guia das Melhores Práticas de Governança para Fundações e Institutos Empresariais, um dos instrumentos que serviram como base para a elaboração do questionário estruturado utilizado na presente pesquisa – tratado, mais adiante, na seção de metodologia.

Reginato e Nascimento (2010) e o próprio Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009a) abordam os principais órgãos de monitoramento das práticas de Governança Corporativa e de outros instrumentos que a tornam um sistema cujo conjunto pode levar os envolvidos na empresa à segurança quanto à qualidade da gestão.

Reginato e Nascimento (2010) classificam os órgãos de monitoramento da Governança Corporativa em internos e externos, sendo órgãos externos o Conselho Fiscal e a Auditoria Externa e os órgãos internos, o Conselho de Administração, a Auditoria Interna e a área de Controladoria.

O Conselho Fiscal, na visão do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009a) tem como objetivos:

a) fiscalizar, por qualquer de seus membros, os atos dos administradores e verificar o cumprimento dos seus deveres legais e estatutários;

b) opinar sobre o relatório anual da Administração, fazendo constar do seu parecer às informações complementares que julgar necessárias ou uteis a deliberação da Assembleia Geral;

c) opinar sobre as propostas dos órgãos da Administração, a serem submetidas à Assembleia Geral, relativas a modificação do capital social, emissão de debêntures ou bônus de subscrição, planos de investimento ou orçamentos de capital, distribuição de dividendos, transformação, incorporação, fusão ou cisão;

d) denunciar, por qualquer de seus membros, aos órgãos de Administração e, se estes não tomarem as providencias necessárias para a proteção dos interesses da companhia, a Assembleia Geral, os erros, fraudes ou crimes que descobrir, além de sugerir providencias úteis à companhia;

e) analisar, ao menos trimestralmente, o balancete e demais demonstrações financeiras elaboradas, periodicamente, pela companhia; e

f) examinar as demonstrações financeiras do exercício social e sobre elas opinar. O Conselho Fiscal, sob a visão de Reginato e Nascimento (2010) obedece às normas constituídas e os titulares de ações preferenciais sem direito ou mesmo com voto restrito, terão direito a eleger, em votação em separado seus membros. Do mesmo modo terão, os acionistas minoritários, desde que representem, conjuntamente, 10% ou mais das ações com direito a voto. O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009a) define esta questão como a preservação do principio da representatividade de todos os sócios no Conselho Fiscal.

Já para Slomsky et al (2008), o objetivo do Conselho Fiscal, dentro da estrutura de governança de uma companhia, é fiscalizar os atos dos administradores, verificando o cumprimento de seus deveres legais e estatutários, devendo denunciar erros, fraudes ou crimes que descobrir e sugerir providências úteis aos órgãos da Administração.

Os mesmos autores (SLOMSKY et al, 2008) destacam as restrições impostas aos membros do Conselho Fiscal, sendo a principal evidência deste fato a particularidade de que não podem pertencer ao conselho membros do órgão de administração – este último será tratado adiante.

O Conselho Fiscal exerce uma função importante na promoção da governança corporativa para as entidades aderentes à essa prática, de modo que, apesar de possuírem o poder de atuação individual – mesmo sendo um órgão colegiado – deverá ter o direito de fazer consultas a profissionais como advogados, auditores e outros tipos de especialistas.

Quanto à independência dos conselheiros integrantes do Conselho Fiscal, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009a) deixa claro que a responsabilidade dos conselheiros é com a organização, independentemente daqueles que, porventura, os tenha indicado.

Outro órgão externo abordado na classificação de Reginato e Nascimento (2010) é a Auditoria Independente ou Auditoria Externa. Attie (2011) destaca que o surgimento da auditoria externa está associado à necessidade das empresas de captarem recursos de terceiros, constituindo uma resposta à necessidade de independência do exame das transações da empresa em relação aos seus dirigentes.

Gil (1999), por sua vez, define auditoria externa como aquela executada por profissionais ou empresas que não possuem vínculo ou subordinação à empresa auditada, com o objetivo de trazer uma opinião independente sobre a entidade.

Há diversas normativas acerca da obrigatoriedade da submissão das demonstrações contábeis a um parecer de um auditor externo. As principais são: a Lei Federal

6.404 de 15 de dezembro de 1976, que determina que as companhias abertas devem ser auditadas por auditores independentes registrados na CVM; a Lei Federal nº 11.638 de 28 de dezembro de 2007, que alterou a lei 6.404/76, que determina que as empresas de grande porte, ainda que não instituída sob a forma de sociedade por ações, devem ser auditadas por auditores independentes registrados na CVM; o Banco Central, determinando que as instituições financeiras, independente do porte, sejam auditadas por auditores independentes; e a CVM, que obrigou que as demonstrações consolidadas de controladoras e controladas sejam submetidas à auditoria independente. (BRASIL, 1976, 2007)

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009a) destaca que os auditores devem comparecer às reuniões do Conselho Fiscal e que os conselheiros devem acompanhar o trabalho dos auditores independentes, analisar demonstrações contábeis e outras informações capazes de demonstrar o resultado econômico e financeiro da entidade. Ainda sob a ótica do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009a), este recomenda que a auditoria independente reporte ao Conselho de Administração a discussão das principais políticas contábeis; deficiências relevantes e falhas significativas nos controles e procedimentos internos; tratamentos contábeis alternativos; casos de discordâncias com a administração; avaliação de riscos e análise de possibilidade de fraudes.

A auditoria externa deve confirmar, através de sua análise, se as demonstrações financeiras da entidade, apresentadas pela Diretoria, estão em conformidade com as Normas de Contabilidade e se representam, adequadamente, a posição patrimonial, financeira e física da organização.

Reginato e Nascimento (2010) destacam que o trabalho da auditoria externa, além de garantir informações, controle e transparência das informações, pode auxiliar o Conselho de Administração da empresa garantindo, através de seus trabalhos, a transparência e lisura das informações de âmbito interno e externo, abrangendo também aspectos financeiros, éticos, estratégicos, executivos, corporativos, do ambiente, de inovação e desenvolvimento e do gerenciamento de processos.

Em complementação, como órgãos internos de monitoramento da Governança tem-se: o Conselho de Administração, a Auditoria Interna e a Controladoria, segundo a classificação de Reginato e Nascimento (2010).

O Conselho de Administração, segundo a Comissão de Valores Mobiliários (2002), deve atuar para proteger o patrimônio da entidade, perseguir a consecução de seu objeto social e orientar a diretoria a fim de maximizar o retorno do investimento, agregando

valor ao empreendimento, devendo ser formado por, no mínimo, três membros, eleitos por meio da assembleia geral de acionistas.

Para o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009a), o Conselho de Administração deve discutir, aprovar e monitorar:

a) as políticas de alcance dos fins organizacionais e práticas de governança; b) o orçamento da organização e sua execução;

c) a gestão patrimonial dos ativos da organização;

d) o direcionamento estratégico (cabendo o planejamento estratégico aos executivos);

e) a reorganizações societárias e alterações estatutárias;

f) a contratação, avaliação, remuneração e dispensa do principal executivo e dos demais executivos, sob proposta do primeiro;

g) a escolha e avaliação da Auditoria Independente;

h) o processo sucessório dos conselheiros (nas fundações, quando previsto no Estatuto Social);

i) o processo sucessório de executivos;

j) o relacionamento com partes interessadas; e

k) o sistema de controles internos, incluindo políticas e limites de alçada.

Segundo Reginato e Nascimento (2010) a Assembleia pode, a qualquer tempo, destituir qualquer um dos membros que compõem o Conselho de Administração. Os membros do Conselho de Administração não poderão exercer seus mandatos por um prazo superior a três anos.

Com relação ao rodízio entre os membros do Conselho de Administração, Carioca (2008) retrata que tal fenômeno se deflagrou em virtude da adequação às boas práticas de Governança e visou o maior comprometimento dos conselheiros com os interesses dos acionistas.

Já na visão do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (2009a), o Conselho de Administração é o órgão colegiado que faz o elo entre a gestão e os proprietários e é encarregado do processo de decisão de uma organização em relação ao seu direcionamento estratégico, sendo o principal componente do sistema de governança. O Conselho também deve garantir o cumprimento da missão da organização, valorizando-a e buscando o equilíbrio entre os anseios das partes interessadas.

Já os órgãos de controle interno como Auditoria Interna e Controladoria podem contribuir com: melhoria dos processos, aumento da transparência, aumento da proximidade com os órgãos externos da Governança e acompanhamento da gestão e mitigação dos riscos.

Para Slomsky et al (2008), a Auditoria Interna e a Controladoria, como parte da estrutura de governança, envolvem a responsabilidade pela eficiência e eficácia dos sistemas de controles internos, objetivando a integridade, a transparência e a confiança nas informações e operações, eliminando atividades que não agregam valor à empresa.