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Tendo em atenção a maior proximidade territorial do poder decisório ao cidadão, em que este assume o papel de munícipe/ freguês, surge o conceito de local e-government, ou Governo Electrónico Local. Este conceito aplicar-se-á às estruturas locais de descentralização do governo: as autarquias locais (municípios e freguesias). Inspirado no conceito de e-government, sendo uma consequência natural deste, herda as suas características, mas consideradas no âmbito local, mais associado ao território e de maior proximidade das comunidades. O elemento diferenciador deste conceito face ao de e- government é, portanto, a proximidade territorial ao indivíduo, tendo em atenção que as comunidades têm extrema importância no desenvolvimento da SIC. É um conceito que passa pelos mesmos princípios que os enunciados para o e-government, tanto mais que o poder local, também é estado, embora que local. No entanto, as diferenças entre poder local e poder central terão de se reflectir no tipo e operacionalidade dos serviços prestados. Tal como o conceito de e-Government, o conceito de local e-government não é um fim em si mesmo, referindo-se antes à utilização das TIC no sentido de proporcionar aos cidadãos e às organizações de um dado território serviços e condições para o fomento da democracia e da qualidade de vida, recorrendo à troca de informações de base electrónica.

De acordo com Gouveia (2004: 26), em diversos países, as iniciativas de local e- government são vistas como oportunidades de mudança e dinamização para a democracia local e para a transformação dos serviços prestados pela Administração Pública Local. As iniciativas tomadas a nível local, devem ser consideradas como um complemento das medidas tomadas a nível central, sendo que o e-government e o local e-government podem e devem, desejavelmente, estar associados, fazendo parte de uma mesma tendência em que o objectivo comum é o de prestar serviços de qualidade ao cidadão, de modo a conseguir-

se facilitar a sua relação com o poder decisório, no âmbito da participação pública, e da Administração Pública, enquanto cidadão que exerce direitos e deveres, incluindo os deveres contributivos. As iniciativas de local e-government são o complemento local, assegurando a participação da comunidade e a conscencialização da mesma para as potencialidades da comunicação electrónica com a Administração Pública. Os cidadãos, e as organizações, poderão aceder a serviços que lhes permitem, não só proceder ao pagamento de impostos, mas também aceder a todos os serviços que necessitem no âmbito da sua actividade, permitindo-lhes, pelo menos, poupança de tempo no contacto com as entidades públicas. O local e-government, complemento do e-government, “facilita as actividades dos cidadãos e das organizações, na criação de riqueza, na oferta de valor e no desenvolvimento das iniciativas que promovam o território e a sociedade como um todo” (Gouveia, 2004: 26). Ambos têm o mesmo objectivo de assegurar maior proximidade ao cidadão, mas o local e-government propicia um enquadramento do cidadão e das organizações com o território local e a comunidade.

A responsabilidade no desenvolvimento do local e-government é de quem governa e gere o território da comunidade, ou seja, é da responsabilidade do poder local.

Logo, para um desenvolvimento estruturado do local e-government será necessário considerar a existência de e-autarquia, ou de autarquia digital, e da iniciativa cidades digitais (Gouveia, 2004: 24). Este é um conceito mais localizado e está intimamente ligado ao funcionamento da infraestrutura de decisão e acção do poder local.

Enquanto conceito de autarquia digital, deverá a preocupação centrar-se no funcionamento da infra-estrutura de decisão e acção do poder local e não numa lógica de integração da circulação de informação (Gouveia, 2003). A este nível, o papel do cidadão está mais associado aos equipamentos e às facilidades públicas, geridos localmente, sendo que o impacte da transparência de informação e do acesso à mesma e a potenciação da interacção do cidadão/munícipe, mais que as ferramentas, muda fundamentalmente as atitudes para as quais o munícipe deve estar preparado.

A Autarquia Digital presta, pois, no âmbito do poder local, a este e aos seus órgãos, facilidades associadas ao uso das TIC, as quais permitem mediar com base digital as relações entre o cidadão, ao nível da região (Gouveia, 2004: 24).

A Contribuição das Freguesias para a divulgação da Sociedade da Informação e do Conhecimento

O conceito de Cidade Digital, para além da autarquia, envolve todas as outras instituições do território, associadas de modo a partilharem informação e envolvendo todos os agentes numa prática que permite a livre circulação e criação de informação de suporte à interacção (Gouveia, 2003).

As cidades digitais são, então, entendidas como “suporte e estratégia para estruturas sociais cujos membros artilham necessidades, interesses, experiências ou hábitos, e recorrem ao digital para suportar a interacção” (Gouveia, 2004: 29).

De acordo com Serrano, Gonçalves e Neto (2005: 79), “a expressão cidade digital é frequentemente utilizada para representar diversas formas de intervenção num dado território com particular ênfase em dois aspectos específicos: a interacção entre os diversos agentes e actores locais e o recurso às TIC como facilitadoras e propiciadoras dessa mesma interacção”.

O objectivo último das cidades digitais é agregar a informação dos diferentes “stackholders” do território, de forma a partilhar serviços e funcionalidades.

De acordo com o discurso do Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior numa cerimónia relativa ao 7º aniversário do projecto «Cidades Digitais», em 1 de Julho de 2005, as cidades digitais são “iniciativas cujo objectivo é mobilizar pessoas e organizações para se articularem e comunicarem, para agirem em rede, para se abrirem para fora do espaço restrito das suas práticas tradicionais. As cidades ou as regiões digitais olham, escutam e falam para fora, reconstroem-se num espaço alargado de experiências, chamam os outros. O que as tecnologias permitem e estimulam só se realiza na motivação e nas práticas das pessoas e na mudança social concreta. (…) Uma Cidade Digital com sucesso terá conseguido que os mais velhos, os mais pobres, os que tiveram menos instrução escolar sejam chamados à motivação e ao uso efectivo dos meios de informação e comunicação apropriados. Mas esse objectivo é apenas um indicador para o resultado mais exigente de ter conseguido que esses mesmos tenham decidido voltar a estudar, que a cidade tenha sabido refazer a escola e as estruturas de formação para acolher essa vontade.”

A cidade digital têm, então, objectivos comuns ao local e-government, existindo uma complementaridade entre ambos. Tal como refere Gouveia (2003), os projectos de cidades digitais têm como objectivos fomentar uma maior aproximação entre a administração local,

os munícipes e os demais utilizadores dos serviços autárquicos, as instituições de desenvolvimento regional e de promoção de actividades culturais e desportivas, bem como os estabelecimentos de ensino do território, as organizações de todos os sectores de actividade, os prestadores e utilizadores de serviços de saúde, turistas e visitantes do território, em geral, todos os que possam ser utilizadores da informação, ao mesmo tempo que fomentam o uso das TIC.

Com a criação do Programa Cidades Digitais, pretendeu-se obter um grande impacto territorial, de forma a contribuir para a modernização das regiões e do governo local, da actividade económica e de todos os parceiros envolvidos.