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Para entendermos a complexidade da criação do IBAC e suas novas instituições, devemos retomar o fim da primeira FUNARTE.

Sua extinção ocorreu durante o governo Collor em 17 de março de 1990, dois dias após a posse do Presidente.

Pode-se dizer que a extinção não aconteceu espontaneamente, dentro de uma trajetória natural histórica, sem motivos expressivos. Extinguiu sim por uma construção gradativa1 de episódios confluentes, iniciada depois criação do Ministério da Cultura em 15 de março 1985 no governo de José Sarney. Vejamos estes episódios para entendermos todo o processo de extinção.

Em 1982 depois das eleições diretas para os governos estaduais ocorreu a disseminação e um fortalecimento da área cultural através da criação das secretarias estaduais de cultura que antes eram apenas departamentos vinculados às Secretarias de Educação. Ocorreu também o Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Cultura inaugurando uma ampla discussão sobre a questão cultural no país, criado oficialmente em 12 de novembro de 1983. Os secretários eram liderados pelo Deputado José Aparecido de Oliveira, naquele momento, o Secretário da Cultura de Minas Gerais.

Aproveitaram o momento de abertura política para divulgar ideias que acreditavam serem verdadeiramente democráticas. Excluíram totalmente de seus discursos durante o fórum, as medidas culturais positivas já iniciadas pela Secretaria de Cultura do MEC (Ministério da Educação e Cultura) e citavam a necessidade de criá-las naquele momento, excluindo o fato de já estarem em andamento. Criavam assim um debate necessário, mas com a clara intenção de negar as pioneiras ações das instituições do regime militar do período de abertura.

O principal assunto dos fóruns foi à necessidade da criação de um Ministério da Cultura. Os líderes acreditavam que sua existência traria maiores recursos para a área e colocaria a questão cultural em destaque dentro das ações do governo. Isto ia totalmente

1 Esta é uma concepção desenvolvida pelos raros pesquisadores da área cultural no Brasil, principalmente pela

Dra. Isaura Botelho que demonstrou isso minuciosamente em seu livro Romance de Formação: FUNARTE e Política Cultural – 1976-1990. Além de ter pesquisado o assunto, também trabalhou na Assessoria Técnica da direção executiva da FUNARTE de 1982 a 1985 onde acompanhou de perto todos os eventos, inclusive a criação do Ministério da Cultura.

contra o pensamento de Aloísio Magalhães que sempre afirmou do alto de sua vasta experiência bilateral que preferia uma Secretaria da Cultura forte a um Ministério fraco criado às pressas.2

Podemos nos questionar. Como seria a atuação de Aloísio Magalhães nestes fóruns diante da solicitação da criação do Ministério da Cultura se não tivesse falecido precocemente em 13 de junho de 1982? Não sabemos ao certo, mas por seus procedimentos e conhecimentos na área acredito que seria contra porque entenderia que a criação precoce do ministério resultaria em uma máquina administrativa sobreposta, cara e ineficiente. Claro isto é uma conjectura.

A morte prematura de Magalhães foi um duro golpe, contribuindo como um dos principais fatores de enfraquecimento da defesa da FUNARTE e instituições adjacentes perante a opinião dos novos articuladores da área cultural. Devemos recordar sua figura influente, articulada que transitava nas diversas esferas do poder e cujo trabalho responsável e admirado ecoa até os dias de hoje. Tanto por políticos e diversos outros profissionais da esquerda como da direita.

Precisamos relembrar a conjuntura política no período de nascimento do Ministério da Cultura que foi criado em 15 de março de 1985, já com uma indicação prévia feita por Tancredo Neves e estabelecida por José Sarney para ocupar o cargo de ministro da cultura, o deputado José Aparecido de Oliveira3 que viria já em maio de 1985 abandonar irresponsavelmente o cargo para assumir o governo do Distrito Federal, utilizando-o como trampolim político, prática comum entre os nossos.

Com estas práticas de abuso de cargo público e total falta de compromisso, a criação precoce do Ministério da Cultura não teve condições de gerar nenhuma política cultural autêntica e unificadora, ao contrário, foi uma sucessão de desrespeito com a coisa pública. Para termos uma idéia do giro político, em seus primeiros quatro anos o Ministério teve cinco ministros, que inclui a ida e a volta do Ministro José Aparecido de Oliveira4.

Antes de convocar José aparecido novamente, o Presidente Sarney havia colocado na pasta da Cultura o economista Celso Furtado que reduziu drasticamente o processo burocrático e cargos desnecessários mas, mesmo assim, não conseguiu aliviar o Ministério inchado e pesado. Celso Furtado pediu demissão do cargo em 28 de julho de 1988.

2 Este discurso do Aloísio Magalhães é citado inúmeras vezes na obra da Dra. Isaura Botelho e em diversas

reportagens e entrevistas da época com o Secretário de Cultura do MEC.

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Foi governador do Distrito Federal de 1985 a 1988, ministro da Cultura do governo do ex-presidente José Sarney e também embaixador do Brasil em Portugal.

Toda a situação se agrava ainda mais com devido a dois outros importantes fatos que agilizaram a condução da FUNARTE rumo à extinção, ambos de 1986. A criação da primeira lei de incentivos fiscais, a lei Sarney e o convênio exclusivo com os estados da federação (ANDRIANI, 2010, p. 77-78).

A FUNARTE passa todo o período do Ministro Celso Furtado, atrelada a problemas internos que podem ser resumidos simplificadamente à redução comprometedora de seu orçamento e disputas internas entre altos funcionários. O leitor interessado obterá maiores detalhes de todo este processo, primeiramente lendo todo o excelente trabalho da Dra. Isaura Botelho ou visitando nosso texto de mestrado.Alí também narramos a demissão da artista plástica Iole de Freitas da diretoria do INAP (Instituto Nacional de Artes Plásticas), fato importante e colaborador para o aumento negativo da imagem da FUNARTE (ANDRIANI, 2010, p.83-93).

Para traçarmos comparações entre estas informações diversas de todos os fatores levantados que levaram a primeira FUNARTE à extinção por Collor, na época do nosso mestrado solicitamos uma entrevista com o então senador, Fernando Collor de Mello. Transcrita em sua totalidade em Andriani (2010) podemos analisar, assim, o principal e mais elucidativo trecho deste contato:

André Guilles: Qual era a imagem que o Senhor tinha do Ministério da Cultura e da FUNARTE antes de eleito?

Fernando Collor de Mello: O formato existente contrariava o que, sempre, pensei para a área cultural do Governo. No seu texto, você fala que, para muitos, seria melhor uma Secretaria forte, com recursos, do que um Ministério fraco. A briga entre os vários setores da área cultural imperavam, naquela ocasião. A mudança de formato não solucionaria isto. Não acredito na dissociação da Cultura com a Educação. Uma é conseqüência da outra. Como termos uma área cultural desenvolvida, em um país em que os índices na área de Educação não sejam pífios. A preservação da Cultura de um povo tem de estar associado a um patamar educacional elevado. A extinção do alfabetismo, por exemplo, é fundamental para que, em números atuais, 14 milhões de brasileiros tenham acesso a ela e conhecimento de nossas origens culturais. A distribuição de recursos, nesta área, deve ser canalizada para as produções de qualidade indiscutível e não sinecuras de poucos amigos daqueles que estão no Poder. Para isto, seria necessária uma ampla consulta a todas as áreas: cênicas, literárias, cinematográficas e assim por diante, antes de qualquer

mudança de modelo. Enfim, mudanças eram imprescindíveis, se quiséssemos fazer uma radical transformação no setor.

André Guilles: Esta imagem sofreu alteração depois que o Senhor foi eleito Presidente da República e teve acesso ao que ocorria no Ministério da Cultura e suas instituições?

Fernando Collor de Mello: Não. O quadro existente era o que eu imaginava que fosse.

André Guilles: O Senhor acredita que o Ministério da Cultura foi criado imaturamente, como acreditava o falecido Secretário Geral do Ministério Educação e Cultura, Aloísio Magalhães?

Fernando Collor de Mello: Sim. Deveria ter havido um debate mais amplo e qualificado, antes da alteração feita.

André Guilles: O Senhor poderia comentar a afirmação de Aloísio Magalhães de que a FUNARTE era um ―grande transatlântico ancorado na rua Araújo Porto Alegre‖.

Fernando Collor de Mello: Não sei o que o Dr. Aloísio quis dizer, na ocasião. Caso se referisse a decisões centralizadas em poucas pessoas, sem ampla discussão da Sociedade organizada e dos vários setores culturais, concordo com ele. Ancorado no continente, nenhum transatlântico, flutua... (ANDRIANI, 2010, p.135-136)

É comentado no meio artístico e acadêmico que o apoio dos artistas5 ao adversário Luiz Inácio da Silva durante sua campanha eleitoral teria influenciado Fernando Collor em sua iniciativa futura de fechar a FUNARTE e outros órgãos da cultura. Discordamos desta colocação. Depois de ver o descaso, a situação financeira deplorável em que se encontrava a FUNARTE e as crenças do ex-presidente Fernando Collor em relação à questão cultural. Consideramos pouco provável um político vingar-se desta maneira, ainda mais se ponderarmos o apoio que o seu adversário Luiz Inácio recebeu, na campanha eleitoral, não pode ser interpretado com uma unanimidade, representando a totalidade da classe artística brasileira, complexa e heterogênea.

A primeira FUNARTE foi extinta em março de 1990 durante a gestão do ministro Ipojuca Pontes, através da Lei nº 8.029 extinguiu, também, a FUNDACEN, FCB, Fundação Nacional Pró-Leitura, Fundação Nacional Pró-Memória e EMBRAFILME. Reformulou outros órgãos da área cultural, cessando abruptamente excelentes projetos, alguns com mais de dez anos de atividade. Criada em 1975, inicialmente voltada para a música (popular e

5A campanha eleitoral, veiculada em rede nacional, foi marcada pela participação de diversos artistas,

erudita) e para as artes plásticas e visuais, em paralelo com o Instituto Nacional de Folclore (INF) e outras duas fundações, a Fundacen (Fundação Nacional de Artes Cênicas) e a FCB (Fundação Nacional do Cinema Brasileiro), conectadas à Secretaria de Cultura do antigo MEC (Ministério da Educação e Cultura), posteriormente transformada em Ministério da Cultura. Por mais de uma década estas quatro instituições atuaram em todo o país acumulando uma grande experiência, criando quadros especializados em cultura e através de cursos, seminários, oficinas, projetos e ações em comum, expandindo essa experiência aos estados e municípios. Até mesmo com ajuda financeira para que se criassem quadros e projetos pelo país. Em março de 1990 logo no seu primeiro dia de governo, o Presidente Collor de Mello extinguiu, de uma só vez, a FUNARTE, a Fundacen, a FCB e o próprio Ministério da Cultura. Outros órgãos do mesmo Ministério também foram eliminados do histórico cultural do Brasil, sendo eles: a Fundação Pró-Memória, a Fundação Pró-Leitura e o Instituto Nacional do Livro (INL).

Em dezembro de 1990, Collor criou um novo e único órgão, que foi denominado IBAC, vinculado à Secretaria de Cultura da Presidência da República que posteriormente tornou-se novamente o Ministério, e passou a englobar a FUNARTE, a Fundacen e a FCB. Todo o campo artístico seria compreendido pela nova instituição que iria abranger o teatro, a dança, a ópera, o circo, as artes plásticas, as artes gráficas, a fotografia, a música popular e erudita, o folclore, o cinema e vídeo com o apoio estatal.

Somente o Instituto Nacional do Livro voltou como um departamento da Fundação Biblioteca Nacional, chamando-se Departamento Nacional do Livro. Através de uma medida provisória, no período de Ferreira Gullar, em setembro de 1994, a sigla IBAC deixou de existir e foi reaplicada a antiga sigla FUNARTE, sendo oficializada em setembro de 1997 depois da publicação de lei que também aprovou o novo estatuto da renascida FUNARTE e revogou as alterações criadas pelo Governo Collor.

Como exposto no Relatório de Atividades Culturais do triênio 1995-1998, o decreto assinado pelo Presidente Fernando Henrique Cardoso, tendo como ministro da Cultura o professor Francisco Weffort e o escritor Márcio Souza como presidente da FUNARTE, trouxe de volta o hábito de dividir os departamentos não mais por função, mas por grupos temáticos.

Administrativamente ocorreram as seguintes as alterações: a nomeação e exoneração dos diretores passam a ser de competência do presidente da FUNARTE, e não mais do Presidente da República; e as reuniões extraordinárias da diretoria a partir do decreto

podem ser convocadas com a maioria dos diretores, em qualquer tempo, e não apenas pelo presidente da FUNARTE (FUNARTE, 1999, p. 8-11).

Legalmente a FUNARTE foi instituída pela Lei nº 6.312, de 16 de dezembro de 1975, vinculada ao Ministério da Educação e Cultura, com duração indeterminada, com a finalidade de promover, incentivar e amparar, em todo o território nacional, a prática, o desenvolvimento e a difusão das atividades artísticas, resguardada a liberdade de criação, nos termos do Art. 179 da Constituição. Esta lei foi regulamentada pelo Decreto nº 77.300, de 16 de março de 1976. Na sua estrutura básica, estavam subordinados os seguintes órgãos: Instituto Nacional de Artes Plásticas (INAP); Instituto Nacional do Folclore; Instituto Nacional de Música; e Instituto Nacional do Teatro.

O Ministério da Cultura (MinC) do Brasil foi criado em 15 de março de 1985 pelo Decreto nº 91.144, no governo de José Sarney. Pelo mesmo decreto a FUNARTE foi transferida do Ministério de Educação e Cultura para o Ministério da Cultura. Em 12 de abril de 1990, no governo do presidente Fernando Collor de Mello, o Ministério da Cultura foi transformado em Secretaria da Cultura, diretamente vinculada à Presidência da República.

Não temos dúvidas de que apesar de todo o descaso e descompasso da instituição este foi o pior caminho, desprezado toda sua rica história e conhecimentos profundos acumulados. Inicia-se assim o período mais sombrio da história da FUNARTE.

Antes de adentrarmos a criação do IBAC gostaríamos neste momento de interregno, entre a existência das duas instituições, de registrar uma constatação histórica curiosa, uma sincronicidade como alguns gostam de chamar. Trata-se da ação do artista multimídia Xico Chaves, aquele que viria a ser um dos agentes mais atuantes dentro da segunda FUNARTE. Sua obra Olhos na Justiça, de 1992. Interferência, instalação e performance, realizadas na escultura ―A justiça‖6

, 1961 de Alfredo Ceschiatti, na Praça dos Três Poderes (DF). No período do impeachment de Fernando Collor, Chaves aplica sobre a venda da escultura que representa a imparcialidade, dois olhos estrábicos elaborados com papel simples e caneta hidrográfica escolar. A ação foi projetada secretamente durante três meses e aconteceu coincidentemente no mesmo dia em que eclode em todas as principais capitais as manifestações de rua dos caras-pintadas. Xico Chaves foi detido pelas Forças Especiais do Palácio do Planalto. Esta ação de baixíssimo investimento teve repercussão internacional.

6 A Justiça é uma escultura localizada em frente ao prédio do Supremo Tribunal Federal, em Brasília. Foi criada

em 1961 pelo artista plástico mineiro Alfredo Ceschiatti, em um bloco único de granito. Trata-se de uma das esculturas brasileiras mais divulgadas internacionalmente por estar em evidência dentro do conjunto arquitetônico de Brasília mais visitado turisticamente.

Obtivemos acesso à série de imagens inéditas que registram a ação de Chaves, coloridas e em preto e branco realizadas pelo fotógrafo Arnaldo Lobato, o que nos foi gentilmente intermediado e cedido por sua amiga e designer Lu Martins através de contato por e-mail.

Figura 2: Sequência fotográfica original da escalada de Xico Chaves na escultura de Alfredo Ceschiatti para

É simbólico, observarmos que Xico Chaves, ex-servidor da primeira FUNARTE e atual gestor na segunda, presente nos quadros de funcionários da instituição desde 1979, tenha sido o artista que executou a obra mais contundente contra o governo Collor no ano de 1992. Isto define o caráter da atuação político-artística expressiva de Chaves, assinalando inteligentemente um fato histórico para a política e para as artes. Em exclusivo depoimento para nós, Chaves revela que também utilizou sua ação como exemplo para suas aulas na UnB (Universidade de Brasília):‗Um olha para o Palácio do Planalto, outro olha para o Congresso Nacional onde tramitava o processo de impeachment. As fotos não revelam por causa do ângulo‘7

.

Sim, prometi aos meus alunos do Seminário de Artes Visuais da UnB, para o qual fui convidado para ministrar um curso sobre produção e intervenção artística, que era possível realizar um evento de grandes proporções e repercussão internacional só com o valor de uma passagem de ônibus (naquela época era 1 real em Brasília). Usei xerox do curso na UnB, papel e caneta hidrográfica preta para realizar 6 pares de olhos. Se o vento levasse algum olho seria substituído imediatamente durante a intervenção. Enfim, cumpri minha promessa aos alunos e assim que fui solto fui recebido pelo público e alunos no auditório. Missão cumprida.8

Depois de consolidado o impeachment de Fernando Collor, foi durante o governo do Presidente Itamar Franco que o poeta maranhense José Ribamar Ferreira, Ferreira Gullar, aos 62 anos assumiu em meados de novembro de 19929 a presidência do IBAC. Sua nomeação foi precedida pela recriação do Ministério da Cultura e pela escolha do escritor e filólogo Antônio Houaiss como ministro da Cultura (SÉRIE Funarte, 1992-1995).

O poeta que por destino e opção esteve sempre em oposição ao poder vigente no Brasil ocupava agora um cargo no IBAC. Depois de todo aquele confronto em torno do Salão Nacional com Iole de Freitas com sua postura tradicional baseada na arte moderna, mais próxima a Picasso que a Duchamp e relutante com as novas manifestações da arte brasileira contemporânea, postura esta que mantem até hoje invariavelmente. Vejamos um trecho da entrevista que nos cedeu em seu apartamento em Copacabana para compreendermos suas concepções sobre as artes visuais que irradiaram para a sua atuação na gestão pública:

André Guilles: O Senhor poderia sobre as suas disputas e posições divergentes no

entendimento da arte contemporânea e a diretoria do INAP de Iole de Freitas?

7

CHAVES, Xico. Depoimento. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <andreguilles@hotmail.com> em 5 jul. 2015.

8 CHAVES, Xico. Depoimento. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <andreguilles@hotmail.com> em

4 jul. 2015.

9 Todos os documentos analisados citam que Gullar assumiu a presidência do IBAC em meados de novembro de

Ferreira Gullar: Olha, eu não tenho. Nunca tive nenhuma disputa pessoal Iole de

Freitas, eu não. Isso aí, ela era.

Guilles: É talvez eu tenha me expressado mal. A disputa eu digo é no sentido de

ideias mesmo.

Gullar: Não, eu. Mas eu não entendi a sua pergunta?

Guilles: Ideias na gestão cultural, na gestão.

Gullar: Como eu disse pra você. Eu antes de eu ir para a FUNARTE eu não tinha

atividade nenhuma ligada a FUNARTE.

Guilles: Ah sim.

Gullar: Eu nunca fui ligado a instituições. Então eu discutia o problema da arte

contemporânea, eu era crítico de arte. Então não era por causa de Iole, nem por causa de FUNARTE, por causa de nada. Eu discutia como eu discuto até hoje, até hoje eu escrevo sobre esses assuntos. Porque são assuntos que me interessam. Compreende? Então havia alguma divergência, quer dizer. Então o fato dela ter acabado com o Salão, compreende? O que é? Era para é, é ajudar a extinguir a cultura naquela altura aquilo que era considerado a arte tradicional.

Guilles: Entendi.

Gullar: Então era um absurdo, uma bobagem porque que você queira inovar queira

criar um novo caminho pra arte. É correto é legítimo, eu não tenho nada contra isso! Agora não tem que acabar com o outro! Quer dizer, então eu acabo com o Salão pra poder calar a voz dos outros que tão, são divergentes da minha posição. Não tem cabimento isso. Tanto que o salão quando eu o reabri ele não só estava acessível ao gravador, ao pintor, escultor, como aos artistas contemporâneos! Todo mundo mandava seu trabalho pra lá e era aceito de acordo com a qualidade que tivesse. Não tinha discriminação. Não aqui só entra arte tal! Que é isso! Sobretudo uma instituição oficial do Estado que é feito com o dinheiro de todo mundo. Então traz uma pessoa lá e discrimina. Só entra aqui artista assim, artista tal não entra! Que é isso! Não. Essa não é a função do gestor oficial, do gestor né, de um órgão público. Ele tem que respeitar as tendências de tudo quanto é ordem porque aquilo é uma coisa da coletividade, não é uma coisa dele. Não é a opinião deles que vai