• Nenhum resultado encontrado

5. AS EMPRESAS MONTADORAS E SEUS RELACIONAMENTOS

5.1. Análise dos Relacionamentos da Volvo

5.1.1. Governo e Associações

O primeiro grupo a ser apresentado é formado pelo governo, seja ele federal, estadual ou municipal, e por associações empresariais e profissionais. A opção de agrupar governo e associações decorre da identificação de que muitos contatos e relações da Volvo com o governo são feitas por meio de associações empresariais, portanto não faria sentido apresentá-las separadamente. Os relacionamentos são discutidos de acordo com a importância dos relacionamentos a partir dos dados obtidos nas entrevistas.

Segundo as entrevistas, o relacionamento considerado mais importante e no qual, por conseguinte, existe maior participação da empresa, é com a ANFAVEA, Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. O relacionamento com a ANFAVEA ocorre em dois níveis: direção e operacional. No nível da direção a Volvo tem um assento de Vice-Presidente, como todas as outras montadoras. Ocorrem reuniões semanais, mas devido à distância a empresa procura escolher bem de quais reuniões vai participar. Segundo um dos entrevistados “nós não temos a mesma freqüência de participação nessas reuniões que as outras empresas associadas, cujas sedes administrativas e financeiras são na capital paulista. Como nós estamos distantes, dependemos de aeroporto etc., selecionamos bastante bem, somos exigentes na seleção das reuniões de que participamos”. Os assuntos de maior interesse no relacionamento com a ANFAVEA apontado nas entrevistas são as relações governamentais (por exemplo, questões tributárias, financiamento com

BNDES, legislação ambiental e negociações internacionais). Essa maior ênfase no relacionamento com a ANFAVEA, segundo um dos entrevistados, se dá pelo business, pois lá são discutidos assuntos de interesse direto, do dia-a-dia das montadoras. O responsável pelas relações externas da empresa classificou como low profile o comportamento da Volvo frente à ANFAVEA. Comparando a atuação da Volvo com a das outras montadoras participantes, ele afirma que as outras têm uma “condição de representatividade muito maior”, ou seja, são muito mais atuantes. O trabalho da Volvo é feito a partir de Curitiba e se pauta pelo The Volvo Way, que são os princípios e valores da organização. Ela busca transparência, perenidade e consistência no relacionamento e também que ele “transite efetivamente pela questão da confiança mútua”.

No nível operacional, a Volvo participa das comissões da ANFAVEA para assuntos técnicos veiculares, fiscais e tributários, energia e meio-ambiente e negociações internacionais de comércio. Um dos representantes da Volvo nessas comissões diz que as reuniões são regulares e que a participação tem como principal objetivo a troca de informação. Ele afirma que por meio dessas reuniões na ANFAVEA é que eles fazem o monitoramento sobre a legislação ambiental em praticamente toda a América Latina. No nível operacional também foram citadas duas outras organizações similares à ANFAVEA, mas em outros países: a ADEFA, da Argentina, e outra do Peru, cujo relacionamento tem o objetivo de complementar as informações que por acaso não sejam conseguidas por meio da ANFAVEA.

Diversas outras associações são citadas como possuindo algum tipo de relacionamento com a Volvo, mas em nenhuma delas esse relacionamento foi considerado importante ou expressivo o suficiente para merecer ser mais bem descrito. De acordo com o responsável pelas relações externas da empresa “do ponto de vista institucional nós temos um relacionamento de qualidade com todas as entidades de forma totalmente igual”.

No Paraná, segundo o responsável pelas relações externas, destaca-se o relacionamento com a FIEP – Federação das Indústrias do Estado do Paraná, em especial no que se refere à representação política frente ao Governo do Estado e aos Governos Municipais, “quando os objetivos são comuns, quem representa as indústrias do Estado do Paraná, no Palácio Iguaçu é o presidente da FIEP. Uma empresa da importância da Volvo não poderia deixar de estar presente nas

discussões da FIEP”. Mas novamente descreve-se a ação da Volvo como low profile não participa ativamente, mas sempre que exista interesse ou que seja solicitado estão presentes. Além disso, acrescenta que a empresa possui um trânsito “bastante bom (...) [com] acesso direto às principais lideranças da FIEP”. Aqui novamente a associação empresarial funciona como um intermediário das relações entre a empresa e o poder público, visto que ao responder sobre as informações trocadas no relacionamento foram enfatizadas as informações ligadas ao poder público. Em complemento são citados interesses na área de treinamento, desenvolvimento de pessoas e desenvolvimento tecnológico. Além da FIEP são citadas a AECIC – Associação das Empresas da Cidade Industrial, “que defende os interesses dos empresários que investiram nesta região da cidade” (Cidade Industrial de Curitiba) e a Associação Comercial do Paraná, que “é um relacionamento mais institucional”, mas nenhum aprofundamento sobre esses relacionamentos foi feito.

O relacionamento com os Governos, Federal, Estadual e Municipal está, aparentemente, muito vinculado ao relacionamento com a ANFAVEA e a FIEP, pois nos comentários sobre esses dois foram sempre enfatizados os papéis dessas associações como intermediárias entre empresa e poder público. Ao descrever o relacionamento direto com o poder público, o responsável pelas relações externas classificou-o novamente como low profile. Em suas palavras: “nós não temos estrutura de lobby em Brasília, em Buenos Aires ou em Santiago, diferente de outras empresas que têm uma estrutura enorme nestas localidades, para estarem mais próximas da estrutura do poder destes países”. Ele cita novamente o The Volvo Way, princípios e valores da empresa, como balizador do relacionamento. Outras entrevistas no nível operacional também demonstraram essa característica low profile, ao descrever o relacionamento com o Governo Federal, mais precisamente o IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis e o DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito, como um relacionamento de troca de informação e trabalho em cooperação, inclusive citando que a empresa recebe consultas dos órgãos governamentais sobre a legislação em outros países. Mesmo no nível operacional a participação da ANFAVEA é destacada no relacionamento governamental, pois um dos entrevistados ao ser perguntado sobre o relacionamento com outras organizações além da ANFAVEA, no que diz respeito à segurança e ao meio ambiente, afirma que existe primeiro uma discussão entre a

Volvo e demais associados na ANFAVEA “no sentido de formar uma opinião única e levar essa opinião para a discussão na mesa com o governo”.

Apesar de não ser objeto da pesquisa aqui realizada, pois é uma relação fornecedor-cliente, tendo a Volvo como fornecedor, é importante ressaltar mais um relacionamento que a Volvo mantém na esfera pública, que é com o Governo Municipal da cidade de Curitiba. Esse relacionamento decorre da atuação da Volvo na área de transporte coletivo, especificamente a produção de ônibus urbano. Como a prefeitura de Curitiba, por meio do IPPUC – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, promoveu muitas inovações na utilização do ônibus no transporte urbano. Nesses últimos 20 anos, ela acabou aproveitando a presença física da Volvo na cidade para estreitar o relacionamento e ambas trabalharem em conjunto no desenvolvimento de novos produtos. Nas entrevistas com o presidente do IPPUC e com o engenheiro especialista em transporte urbano de passageiros e responsável pela pré-venda de ônibus, dois projetos de colaboração foram destacados. O primeiro foi o desenvolvimento do ônibus “ligeirinho”14. Devido à peculiaridade na abertura das portas, seria necessário o desenvolvimento de um projeto para a implantação dessas portas especiais nos ônibus. Como as empresas de transporte urbano já haviam encomendado uma grande quantidade de ônibus para uma concorrente da Volvo, a prefeitura viu-se pressionada a oferecer para essa empresa a parceria no desenvolvimento do protótipo do projeto. A empresa se recusou a participar e só então a Volvo foi chamada e aceitou o desafio. O projeto foi implementado com sucesso e devido à parceria firmada e à tecnologia desenvolvida, atualmente todos os ônibus “ligeirinho” do transporte urbano de Curitiba são Volvo. O segundo projeto é o desenvolvimento do ônibus biarticulado15. O projeto também surgiu da necessidade de aumentar a velocidade no transporte de passageiros. Segundo entrevista na Volvo esse projeto trouxe a necessidade de desenvolvimento de outras partes mecânicas do ônibus devido ao aumento do peso transportado, tais como potência do motor e capacidade da caixa de câmbio e sistema de transmissão. Ambos os projetos trouxeram benefícios para os dois lados, segundo as entrevistas.

14

É um ônibus diferenciado, pois as portas abrem como as de metro, aumentando a velocidade no embarque e desembarque de passageiros, e param apenas em estações especiais chamadas estação tubo.

15

É um ônibus especial com uma capacidade de transporte de passageiros maior que os ônibus convencionais devido ao seu tamanho, 270 passageiros contra 110 de um ônibus convencional. Ele é dividido em três partes, com duas articulações fazendo a ligação entre elas, e portas de entrada e saída iguais às de metro. Utilizam estações tubos da mesma maneira que os “ligeirinhos”.

Para a cidade houve o aumento no número de passageiros transportados, aumentando a eficiência do transporta coletivo. Para a empresa houve o aumento da participação dela no número de ônibus na cidade, pois todos os ônibus biarticulados são fornecidos pela Volvo, aproximadamente cem unidades, bem como a maior parte dos ônibus “ligeirinho”.

Além das relações institucionais com as associações patronais como ANFAVEA e FIEP, a área de Recursos Humanos, por meio de diversos dos seus funcionários, participa de alguns grupos para troca de informações e experiências. As informações trocadas em geral envolvem cargos e salários e trocas de experiência em gestão de recursos humanos, mas também podem envolver conhecimento específico, como é o caso do grupo de administradores de expatriados. A definição sobre a participação nesses grupos faz parte das estratégias da área de recursos humanos, e é institucional, não é decisão pessoal dos funcionários participar.