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6   ANÁLISE DE DADOS 85

6.3   Inquérito sobre o Serviço Educativo nas Bibliotecas Nacionais 119

6.3.1   Respondentes 119

6.3.1.19   Gráfico 15: Relevância atribuída à possibilidade da BNP alargar a

literária e científica.

Na vigésima e última pergunta97 os inquiridos foram questionados, de forma aberta, sobre a possibilidade de implementação de um novo serviço na BNP – o Serviço Educativo – e que poderia materializar as sugestões enunciadas nas perguntas anteriores. Verificou-se uma forte adesão à ideia. A maioria dos inquiridos considerou que a BNP deve ser um espaço promotor de inclusão, de desenvolvimento intelectual aberto e disponível, tanto à comunidade, como à realização de parcerias, confirmando assim a posição de Ventura (2002) que avança que as bibliotecas públicas devem ultrapassar as problemáticas técnicas comuns que lhes são próprias e adotar uma postura de valoração da herança conceptual da modernidade e na sua própria construção social.

Algumas das respostas dão também enfoque à abertura deste sistema em relação à comunidade, através de uma melhoria na partilha de informação, considerando que a mesma pode construir lógicas de familiaridade entre a sociedade e este ator cultural, bem como criar alicerces para uma comunidade democraticamente mais informada. Clarificando, um Museólogo afirmou: “Muito favorável, fazer diferente de forma a obter resultados e impactos diferentes. Ao encetar este novo                                                                                                                 97Vide Anexos. Muito   interessante,   56,70%   Interessante,   38,80%   Pouco  

Interessante,  2%   Interessante,  Nada   3,00%  

processo certamente que as transformações terão lugar também na BNP e nos técnicos envolvidos”.

Houve quem se tivesse mostrado, porém, mais radical na sua abordagem, demonstrando incompreensão quanto ao facto de esta instituição não possuir esta lógica como oferta de serviços. Um bibliotecário da administração pública central respondeu desta forma: “É interessante a possibilidade, mas ao mesmo tempo estranho que a BNP ainda não tenha em funcionamento um Serviço Educativo. Uma instituição com a dimensão e os recursos como a BNP já deveria ter contemplado esta vertente dos serviços de biblioteca.” Esta resposta reforça a posição de Peacock (2001), quando se refere, no seu caso, à formação de utilizadores, e onde afirma que não basta transferir recursos de um serviço para o outro - dos serviços técnicos para a referência como exemplifica - pois esta opção não garante qualidade das experiências educacionais fornecidas aos leitores. Antes, afirma, é necessário que se reflita sobre os meios de apoio à formação de utilizadores tendo em conta que o novo paradigma educativo supõe o desenvolvimento de competências assentes na reflexão sobre objetivos de aprendizagem institucionais.

Das respostas favoráveis aferidas, pode-se retirar, também, algumas direcionadas exclusivamente para a educação. Tal como afirma Caraça (2002), aquando da referência à conquista da liberdade que pressupõe um desenvolvimento continuamente crescente de todas as qualidades do homem, seja a nível físico, intelectual, moral e artístico, um professor declara: ”A educação é indubitavelmente o maior pilar da nossa sociedade, seja em que área for. Como tal, é de louvar, apoiar e fomentar tudo o que tenha a ver com a multidisciplinaridade educativa, de modo a formar melhores pessoas”; ou, então, a partilhada por uma professora: “Um serviço educativo com a dimensão cultural da BNP só quando se tornar acessível ao maior número de pessoas independentemente da idade, formação académica ou origem social, é que cumprirá plenamente a função a que foi destinado: formação cultural, inclusão social e cidadania.” Reforça-se a visão de Nóvoa (2009) quando este tenta mostrar que as causas do atraso estrutural de Portugal se centram - assentes no ciclo por si definido como modernização tecnocrática - em fatores estruturais e quantitativos, tais como a taxa de abandono escolar, ou a taxa de analfabetismo e literacia, e fatores pedagógicos e qualitativos como os maus resultados dos alunos.

implementação deste tipo de serviço. Pode-se confirmar este facto através da voz de uma investigadora: “A BNP deve ser essencialmente uma biblioteca documental, direcionada principalmente para investigadores. Caberá a outras bibliotecas (municipais, etc.) assegurar uma vertente familiar e de inclusão social”; da de um investigador: “O grande objetivo da BNP é ser uma melhor Biblioteca. A produção de eventos não é uma prioridade”; ou mesmo de um empresário: “A BNP deve ser apenas um arquivo de livros de consulta livre para todos os cidadãos. Qualquer iniciativa além desta função primordial já é secundária e desnecessária. Existem outras instituições, públicas e privadas, que garantem todas essas iniciativas propostas”. Esta visão confirma as afirmações de Azevedo (2002) quando aponta as causas para o atraso estrutural se basear não tanto numa questão económica, mas mais numa questão cultural e política. Diz este autor também, e assim se pode comprovar, que o frágil capital cultural da população adulta continua a dificultar a qualidade de ensino dos mais novos que poderiam socorrer-se de mecanismos capazes de gerar mais qualidade e envolvimento. Esta visão, porém, tem de ser acompanhada pela de Fernandes (1993) que afirma que a emancipação económica, o desenvolvimento multilateral da personalidade e, consequentemente, o cerne da democratização do homem, não se coaduna com uma cultura elitista. A visão de Azevedo (2002) sai reforçada pelo relatório da UNECO sobre educação (2006) que expõe de forma clara que as instituições culturais (como a BNP) devem reforçar o papel da escola, fugindo da limitação do seu papel de centros de investigação e conservação patrimonial e permitindo uma cooperação forte entre professores e agentes culturais através de projetos inovadores.

Resta ainda dar enfoque a inquiridos que não estão profissionalmente, à partida, diretamente relacionados com o universo da BNP. Pode-se constatar pelas suas respostas que são maioritariamente de acordo. Assim, um cozinheiro avança: “Seria positivo porque seria sinónimo de uma sociedade interessada e culta.”; uma

designer réplica: “Dado a situação cultural atual do país, qualquer iniciativa dentro

deste âmbito, é de valorizar.”; uma funcionária de uma organização intergovernamental defende: “Muito boa ideia, especialmente se chegar a pessoas mais desfavorecidas da sociedade.”; e, por fim, uma atriz responde: ”Muito importante a BNP poder abrir as suas portas a outros públicos pelo riquíssimo património que dispõe, pela qualidade da sua equipa e pelas excelentes condições do seu equipamento.”. Confirma-se, assim, as ideias que Ventura (2002) avança sobre a

esfera pública só poder existir dentro da criação de fóruns de discussão independentes, política e economicamente, na busca da promoção de um debate racional, generalizado e livre entre cidadãos com interesses comuns; assim como, se confirma as de Sá (1983) quando afirma que a biblioteca pública deve garantir aos seus utilizadores uma educação permanente e liberal que possa ser garante de um usufruto, por parte destes, de uma democracia plena.

Posto isto, pode concluir-se que, para além da formulação da hipótese de implementação de um Serviço Educativo na BNP ser relevante e necessária, o que se pode provar com este inquérito é que ele também é desejável, pelo menos, por uma fatia apreciável da comunidade que esta serve, não podendo, pelo tipo e dimensão da amostra proceder-se a uma generalização de dados à população portuguesa.

7 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES