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Graduação a distância na UFRN: a configuração do “modelo”

3 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E FORMAÇAO DE PROFESSORES NA UFRN: SOBRE O CONTEXTO DE ADESÃO E O “MODELO”

3.1 Graduação a distância na UFRN: a configuração do “modelo”

Os cursos a distância da UFRN são ofertados na modalidade semipresencial, haja visto que as atividades são desenvolvidas via Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA (Moodle Mandacaru), e nos polos de apoio presencial. Dessa forma, o curso se desenvolve a partir de interações mediadas pela tecnologia e atividades presenciais. No primeiro caso, verificam-se interações e atividades síncronas, que correspondem àquelas em que o aluno, o professor e o tutor estão, simultaneamente, conectados ao AVA, interagindo em tempo real, de forma online, e assíncronas, que são aquelas em que os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem não interagem em tempo real, ampliando a flexibilidade e reduzindo as limitações impostas pelo tempo e espaço geográfico.

A oferta dos cursos a distância da UFRN está ancorada em quatro eixos: (1) Ambiente Virtual de Aprendizagem – AVA; (2) Materiais Didáticos Específicos; (3) Sistema de Tutoria

e (4) Polo de Apoio Presencial a EaD. O AVA utilizado pela UFRN é o Moodle – Modular

Object-Oriented Dynamic Learning Environment, software mundialmente difundido, de livre

acesso, produzido por pesquisadores do mundo todo, que pode se adaptar a diversas necessidades, atualmente, o mais utilizado por instituições de nível superior. A referida plataforma, que foi customizada pela equipe técnica da SEDIS, recebeu a denominação de Mandacaru12, um tipo de cacto (Cereus jamacaru), planta nativa típica da caatinga do Nordeste brasileiro, região onde a UFRN está inserida. O processo de moldagem do AVA objetivou atender às necessidades de professores, tutores e alunos desta IES.

Nessa plataforma, estão presentes as ferramentas de comunicação como fóruns, chats, entre outras, que permitem a interação entre professor, aluno e tutor. Por meio dessas ferramentas, o aluno pode conhecer e interagir com os colegas utilizando instrumentos de comunicação disponíveis no Ambiente Virtual de Aprendizagem, dinamizando e enriquecendo os contatos dos alunos entre si e dos alunos com tutores e professores, aumentando o vínculo e reduzindo o risco de evasão. Outrossim, o Moodle Mandacaru dispõe de recursos que possibilitam a avaliação contínua e pontual da aprendizagem, tais como tarefas ou atividades que podem ser realizadas online e offline.

O uso do Moodle Mandacaru é sistematicamente avaliado pela equipe técnica da SEDIS, a quem cabe o desenvolvimento de pesquisas e de estratégias que visem buscar informações junto aos professores, com objetivo de entender as necessidades e dificuldades enfrentadas na perspectiva de aprimorar a plataforma. Além disso, são promovidas oficinas que permitem uma maior socialização de ideias entre professores e equipe pedagógica, sendo esta última encarregada de repassar as informações necessárias ao melhoramento da plataforma à equipe de TI. Esse trabalho de pesquisa sistemática permitiu que a equipe de TI promovesse inovações no AVA e, inclusive, adotasse novas versões. A modificação mais recente ocorreu em junho de 2017, quando foi implementada a 3° versão do AVA.

Um exemplo de modificações feitas na plataforma em 2017 se deu no layout da tela inicial do Mandacaru a partir da constatação de que era considerada simples e pouco atrativa. Assim, foi criada uma versão com imagens que dizem da realidade de polos de apoio presencial, com fotos de alunos da EaD UFRN (Figura 2 e 3).

12 De acordo com a definição do Dicionário Caldas Aulete, mandacaru significa “cacto (Cereus jamacaru) nativo

do Brasil, de porte arbóreo, ramificado, com flores grandes que se abrem à noite, típico da caatinga, onde serve de alimento ao gado, e também cultivado como ornamental e por propriedades terapêuticas”. Compondo a família das cactáceas, o mandacaru também é conhecido pelo nome de cardeiro. Sua maior ocorrência se dá na região nordeste do país, onde seu nascimento de suas flores simboliza o “fim da seca” em áreas muito áridas Disponível em: https://www.infoescola.com/plantas/mandacaru/. Acesso em: 20 ago. 2018.

Figura 2 – Imagem antiga da plataforma Figura 3 – Imagem atual da plataforma

Fonte: SEDIS/UFRN (2018). Fonte: SEDIS/UFRN (2018).

Ainda a respeito das inovações no AVA da UFRN, constata-se que a mudança na página inicial não foi apenas estética. A equipe empenhou-se em facilitar a funcionalidade interna da plataforma, suprimindo links que não tinham funcionalidade prática e reposicionando itens que são mais utilizados para adquirirem maior visibilidade, como é o caso do calendário, que permite situar o aluno quanto ao prazo das atividades (Figura 4).

Figura 4 – Visão de usuário conectado no Ambiente Virtual Mandacaru

Fonte: https://mdl.sedis.ufrn.br/course/view.php?id=194. Acesso: 20 out. 2018.

O segundo eixo de sustentação da EaD na UFRN é o material didático. Essa modalidade de ensino é compreendida como um diálogo mediado por objetos de aprendizagem, os quais são projetados para substituir a presencialidade do professor. Esses materiais e objetos didáticos tornam-se fundamentais na oferta de cursos a distância. Os materiais didáticos produzidos e utilizados pela UFRN podem ser impressos, com versões para web, vídeos (tendo como autores

os próprios professores) e ainda materiais digitais interativos disponibilizados no Ambiente Virtual de Aprendizagem. A escolha das mídias a serem utilizadas pode interferir no aprendizado do aluno, se não for levada em consideração a sua realidade socioeconômica.

Para a produção desses recursos, tem-se uma equipe de professores, responsável pelo conteúdo dos materiais, sejam esses impressos ou em outras mídias; uma equipe de revisores, responsável pela avaliação do formato de escrita para EaD e pela revisão gramatical; e uma equipe de edição, responsável pela formatação gráfica dos materiais impressos e dos materiais para web. Todo esse processo de produção e edição do material didático é gerenciado pela Coordenadoria de Produção de Material Didático. Já a reprodução e distribuição desse material é feita por uma equipe de profissionais das coordenadorias Pedagógica e Administrativa e de Projetos e do Almoxarifado, que atua de forma integrada de forma a assegurar que, logo no início das aulas, o material didático já se encontre nos polos de apoio presencial à disposição dos alunos.

O terceiro eixo de sustentação da EaD na UFRN é o sistema de tutoria, que tem se mostrado importante não somente como elemento motivador, mas também como estratégia de diminuição da evasão. Na UFRN, adotam-se dois tipos de tutoria: a distância e presencial. A tutoria a distância tem como prerrogativa orientar e acompanhar os alunos/grupos de estudos no AVA e em atividades presenciais do curso; acompanhar os alunos em atividades previstas em situações de Estágio Supervisionado/Práticas Laboratoriais; auxiliar o docente ministrante do componente curricular no processo de planejamento geral da disciplina, na organização e na atualização da página no Moodle, na proposição e no acompanhamento de atividades no ambiente virtual e na correção de avaliações; acompanhar os alunos no ambiente virtual, considerando os diferentes meios utilizados para favorecer a comunicação, a interação e os processos de aprendizagem e avaliação, tais como: fóruns, chats, entre outros; auxiliar o professor no desenvolvimento de estratégias inovadoras de ensino, visando diminuir a evasão e a reprovação na disciplina; Auxiliar o professor no desenvolvimento de atividades inovadoras para uso do ambiente virtual de aprendizagem, visando recuperar desempenhos insuficientes no decorrer da disciplina; dentre outras atribuições (UFRN/SEDIS - Edital nº 08/2017).

A tutoria presencial se realiza nos polos de apoio presencial por professores da rede básica de ensino, com formação na área em que realizam tal função. Suas atribuições são: orientar o aluno em seus estudos, dar o suporte necessário à sua aprendizagem, motivar, encaminhar suas dúvidas e questões ao professor regente durante todo o trajeto acadêmico. Acrescenta-se ainda a orientação e o acompanhamento dos alunos sob sua responsabilidade, inclusive em atividades de estágio supervisionado e/ou práticas laboratoriais; organização de

grupos de estudos; intercâmbio com os professores e demais tutores, além de auxiliar a coordenação do polo no processo de organização, fiscalização e aplicação das avaliações presenciais; dentre outras funções (UFRN/SEDIS - Edital nº 06/2017).

Por fim, os polos de apoio presencial também se colocam como eixo de sustentação da EaD na UFRN. Nesse contexto, contribuem para a fixação do aluno no curso, a construção de uma identidade com a universidade e o fortalecimento da importância do papel do município como centro de integração dos alunos (MORAIS, 2018). Na atualidade, o Polo de Apoio Presencial é vinculado a UAB, podendo ser mantido por instituições de ensino superior, estado ou município. Dessa forma, um polo pode atender a cursos ofertados por diferentes universidades e, mesmo aquele que é mantido por uma IES, pode ofertar cursos de outras instituições.

Os primeiros polos de apoio presencial mantidos pela UFRN foram inaugurados oficialmente em dezembro de 2005. Nessa conjuntura, três polos foram instalados em Campi da própria universidade, localizados no interior, quais sejam: Polo Macau, instalado no Campus Prof. Benito Barros/Cidade de Macau; Polo Nova Cruz, instalado no Núcleo de Ensino Superior do Agreste – NESSA/Cidade de Nova Cruz; e Polo Currais Novos, instalado no Centro de Ensino Superior do Seridó – CERES/Campus de Currais Novos (UFRN, 2006).

A escolha dos lugares para abertura dos três primeiros polos de apoio presencial da UFRN atendeu aos seguintes critérios: 1. Distância média de 155 km da capital Natal; 2. Localização estratégica no território e com melhor acesso, relativamente, à sede da UFRN; 3. Atende três regiões, economicamente importantes, desde o comércio diversificado às fábricas de alpargatas e mochilas, até produção de sal marinho (uma das principais do Brasil), petróleo, pescados e mina de scheelita da América do Sul (IBGE, 2010). Infere-se desse contexto que a escolha dos municípios para instalação dos primeiros polos não foi aleatória e sua observância permiti dizer que a possibilidade de o Polo de Apoio Presencial poder colaborar com o desenvolvimento regional, uma vez que pode ofertar atividades diversificadas, como cursos de extensão, atividades culturais e consultorias para a comunidade, influenciou nessa decisão.

Em 2018, os polos de apoio presencial onde a UFRN atua estão localizados em 15 cidades (Figura 5), “[...] distribuídos de forma difusa pelas diferentes regiões do estado, revelando uma desconcentração espacial da oferta do ensino superior, antes concentrada na capital, Natal” (DANTAS; TROLEIS; MORAIS, 2012, p. 123).

Figura 5 – Polos de atuação da UFRN na modalidade a distância

Fonte: Elaborada por Bruno Lopes da Silva, baseada em fontes do IBGE (2010) e SEDIS/UFRN (2018).

Os polos de apoio presencial onde a UFRN atua dispõem de infraestrutura que compreende: salas de estudo, microcomputadores conectados à internet, supervisão acadêmica, laboratórios didáticos, biblioteca, recursos audiovisuais, serviço de distribuição de material didático (Figuras 6 e 7).

Figura 6 – Laboratório do Polo de Apoio

Presencial de Currais Novos

Figura 7 – Biblioteca do Polo de Apoio

Presencial de Caicó

Além da estrutura oferecida aos alunos, os polos de apoio presencial servem ainda como local de realização de provas presenciais e encontros com a tutoria presencial. A regularidade da frequência dos alunos nos polos constitui um importante processo formativo, visto que nos encontros presenciais eles têm a oportunidade de encontrar o tutor para receber orientações relativas aos componentes curriculares que está cursando, além de participar, junto com os colegas de curso, de atividades disciplinares, socioculturais e de práticas experimentais em laboratórios.

A experiência de EaD da UFRN, que tem sustentação nos quatro eixos mencionados, baseia-se em uma proposta pedagógica na qual o aluno assume a centralidade do processo. Para isso, conta com diferentes atores: coordenador de tutoria, coordenador do polo, coordenador do curso, professor, tutor presencial e tutor a distância. Quanto à tutoria, a Resolução nº 26, de 5 de junho de 2009, do CD/FNDE13 define que as “atividades de coordenação de tutores dos cursos implantados no âmbito do Sistema UAB e no desenvolvimento de projetos de pesquisa relacionados aos cursos”.Não obstante, a partir dessa resolução, a UFRN define em seus editais de seleção o elenco de atribuições dos tutores, por tipologia (presencial e a distância).

As atribuições do Coordenador do Polo de Apoio Presencial são regidas pela Portaria nº 153, de 12 de julho de 2018, e correspondem a atividades típicas de gestão e administração do polo de apoio presencial implantado no município no âmbito do Sistema UAB. De acordo com o Art. 2° da citada portaria, cabe ao Coordenador de Polo “administrar, zelar pela infraestrutura física do polo e dar suporte nas atividades de ensino, no acolhimento e manutenção dos alunos, assegurar o bom funcionamento do polo e manter diálogo com o mantenedor” (BRASIL, 2018, p. 11).

Com relação ao Coordenador de Curso de Graduação, suas competências estão descritas no Artigo 62, da Seção V, do Regimento Geral da UFRN:

I - convocar e presidir as reuniões do colegiado, com direito a voto, inclusive o de qualidade; II - representar o colegiado junto aos órgãos da Universidade; III - cumprir e fazer cumprir as determinações do Colegiado de Curso, exercendo as atribuições daí decorrentes; IV – submeter, ao Colegiado de Curso, na época própria, o plano das atividades a serem desenvolvidas em cada período letivo, incluindo a lista e o plano de ensino das disciplinas; V - promover a supervisão e a avaliação didática do Curso; [...] IX - estabelecer harmoniosa articulação entre o Diretor do Centro e os Chefes de

13 A resolução/CD/FNDE nº 26, de 5 de junho de 2009 estabelece orientações e diretrizes para o pagamento de

bolsas de estudo e de pesquisa a participantes da preparação e execução dos cursos dos programas de formação superior, inicial e continuada no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB). Disponível em: http://www.fnde.gov.br/acesso-a-informacao/institucional/legislacao/item/3320-resolu%C3%A7%C3%A3o-

Departamento, no sentido de garantir melhor qualidade de ensino no Curso sob sua responsabilidade; [...] XIII - manter atualizados os dados cadastrais dos alunos vinculados ao Curso, encaminhando essas informações ao Departamento de Administração Escolar (DAE) da Pró-Reitoria de Graduação (UFRN, 2012).

Quanto ao professor que participa da preparação e execução dos programas de formação superior no âmbito do Sistema UAB, a Resolução nº 8, de 30 de abril de 2010 classifica em: Professor-pesquisador conteudista e Professor-pesquisador. Neste caso, os incisos IV e V da mesma resolução atribuem ao primeiro a função de atuar “nas atividades de elaboração de material didático, de desenvolvimento de projetos e de pesquisa, relacionadas aos cursos e programas implantados no âmbito do Sistema” (BRASIL, 2010) e, ao segundo, atuar “nas atividades típicas de ensino, de desenvolvimento de projetos e de pesquisa, relacionadas aos cursos e programas implantados no âmbito do Sistema UAB” (BRASIL, 2010).

No que tange ao ingresso de alunos nos cursos a distância da UFRN, verifica-se que os editais de seleção destinam 50% das vagas aos portadores de certificado de conclusão do ensino médio (ou curso equivalente) e 50% para professores em exercício nas redes públicas de ensino. Além desses pré-requisitos, os candidatos aos cursos nessa modalidade de ensino precisam ter um perfil compatível as especificidades dessa modalidade.

Nesse sentido, espera-se desses alunos determinadas características para que possam se adequar às peculiaridades da EaD. Algumas dessas características são: autonomia, uma vez que o aluno determina as horas que dedica ao estudo e, apesar de contar com a tutoria, ele é responsável por solicitar essa ajuda; disciplina, uma vez que o curso é ministrado a distância, majoritariamente, mesmo que conte com momentos presenciais, o que demanda do aluno um compromisso maior no que diz respeito ao acesso aos conteúdos e feitura de trabalhos; e criatividade, pois precisa buscar formas de aproveitar todo o conteúdo ofertado na plataforma para elaborar um trabalho final.

4 FORMAÇÃO DE PROFESSORES A DISTÂNCIA NA UFRN: A LICENCIATURA

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